ONDE FOI QUE ERREI?
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Confesso que me sinto tomado de ansiedade. Muitas coisas mexem e remexem
com meu desgastado intelecto, mais minhas combalidas emoções. Uma das coisas
tem tudo a ver com a suposta pergunta que a presidente(a) do país pode estar se
fazendo: “Onde foi que errei?”.
Será que ela faz esse tipo de pergunta, ou tudo lhe parece tão complicado,
fazendo com que perca o fio da meada?
Eu me lembro que, no início de seu mandato, ela ostentava índices de
popularidade que causavam ciumeiras em seu mentor e padrinho político. Ela
parecia como uma delegada que fazia seus subordinados tremerem. Chegou a ganhar
um quadro em programa humorístico da TV, como uma chefe turrona, que mandava,
não pedia. As raposas e os ratos da política se sentiam melindrados, preferindo
andar pelos cantos das paredes, sem encarar a chefona tête-à-tête.
Não estou aqui para fazer análise da atual conjuntura, que isso é atributo
dos cientistas políticos, que devem estar com agenda tão cheia quanto cantores
de sertanejo universitário. No entretanto, algumas considerações me são
possíveis. Vamos a elas.
A embrulhada começou com o fato de ela ser mulher. Calma, que não estou defendendo
uma posição machista. O fato de ela ser mulher gerou um desconforto
morfológico, com as pessoas não sabendo se deveriam chamá-la de presidente ou
presidenta. Na escolha de um desses termos, sempre pairava a dúvida se era correto
ou não.
Pode parecer banal, mas tal indefinição afetava o inconsciente coletivo, e
foi a primeira farofa jogada no ventilador.
Depois, o seu jeito truculento escondia mais uma dificuldade de articular
as palavras do que uma braveza natural. Quando começou a articular frases
completas, elas pareciam sem pé ou cabeça, motivos de chacota. Mais farofa no
ventilador.
Um de seus erros fatais foi a formação de seu time de assessores. Não
podendo contar com Neymar ou Messi, deixou de alugar o passe de Luisito Suárez,
para ficar mordendo as orelhas dos adversários enquanto tocava o barco da
economia. Em vez disso, o que ela fez foi achar que um manteiga derretida podia
dar conta da fazenda. O que ele fez foi levar a economia pro brejo com a vaca e
tudo.
A forma desastrada de levar a economia fez com que tivesse que recorrer a
pedaladas. Se elas melhoraram seu físico, também contribuíram para um pedido de
impeachment.
Sua equipe de sustentação era um arremedo de incompetência, vindo a se
somar a tudo o mais para fazer com que seus índices de popularidade fossem
minguando, enquanto a rejeição ao governo aumentava.
Escândalos de corrupção começaram a explodir, incendiados por uma operação
que tinha como máxima o princípio de que “o
fim justifica os meios”, mesmo que esses meios estivessem à margem da
legalidade.
Outra máxima contrariada pela operação era a que dizia “o pau que bate no Chico também deve bater no Francisco”. A
operação deixou claro que queria bater só no Chico.
Estas são minhas atuais considerações. Tenho outras que ficam para uma próxima,
pois o momento parece um caleidoscópio, tantas são as visões possíveis. Tudo
que falei pode parecer ingenuidade, coisa própria de quem não se dá conta do
vespeiro que é o Poder.
No meu tempo de Escola, um professor, para se dar bem, tinha que demonstrar
competência, firmeza e clareza de propósitos. Quando perdia o controle das turmas,
acontecia de um ou outro chamar o SOE (Serviço de Orientação Educacional) para
ajudar na disciplina. Nesta hora, o moral do professor ficava irremediavelmente
comprometido. Havia caso em que não havia jeito: o professor não tinha
habilidade pro magistério.
Ao final destas considerações, acho que é isto mais ou menos o que acontece
com a presidente(a), agora que ela apela pro seu SOE. Antes de se perguntar “onde
foi que errei?”, ela faria melhor colocando outra questão: “O que estou fazendo
aqui? Onde fui amarrar a minha égua?”.
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DESABAFO
Para você, que demonstra certa simpatia com minha pessoa, quero fazer uma
delação: estou triste, muito triste diante do atual quadro em que vivemos
(Brasil, fins de março de 2016 dC).
Posso contar com você como um leitor paciente e que irá me trazer um
conforto? Quem sabe, ao final do desabafo, as ideias fiquem mais claras,
fazendo com que eu tome atitudes assertivas, ao invés de ficar lamuriando?
São muitas coisas que me causam desassossego. Preciso ter cuidado para pontuar
aquelas mais significativas e que lhe possam ajudar a entender meu estado
febril. Por medida de segurança, esta conversa não está sendo gravada, mas vou
falar dos “milagres” sem mencionar os “santos”, mesmo porque todos eles são do
domínio público.
Quando o PT surgiu no cenário esportivo da política brasileira, seus
integrantes se autodenominavam paladinos da justiça, da moralidade e da
verdade. Chegavam a ser um pouco arrogantes e tachavam de “alienados” aqueles
que não rezavam pela sua cartilha. Eu concordava com muitas de suas ideias, mas
não todas, principalmente aquelas fundadas no sectarismo ideológico (na
verdade, tenho alergia e medo de todo tipo de fundamentalismo). Achava que o
partido deveria se abrir ao diálogo com outras siglas, caso almejasse o poder.
Eu estava errado. Anos depois, ele fez isso, e deu no que deu. Nosso
sistema político permite que seus quadros sejam ocupados pelo que existe de
mais sujo na sociedade, pessoas despreparadas para lidar com a coisa pública,
mais voltadas para interesses pessoais e menores. Como sempre, é bom considerar
que toda regra tem suas exceções, e na política também existem pessoas honestas
– infelizmente, em número cada vez mais reduzido. Como bem diz Kin Hubbard: “De
vez em quando um homem inocente é escolhido para a legislatura”.
Com os escândalos do Mensalão e da Petrobrás, o PT conseguiu a proeza de se
igualar e até ultrapassar os demais partidos políticos em ruindade; ele que
ajudou a plantar a semente da esperança de um mundo com menos desigualdade,
mais justiça e moralidade, tornou-se o principal responsável por jogar esse
sonho no chão.
O mal que isso faz ao povo, às pessoas mais simples, é de dimensão
incalculável, assemelha-se àquele vazamento de dejetos de minérios, ocorrido em
Mariana e que contaminou as águas do Rio Doce, chegando ao mar.
Pelo que entendo, todo petista, que esteja envolvido em ato de corrupção e
de ilegalidade, deve pagar exemplarmente: ir para a cadeia e devolver aos
cofres públicos o dinheiro roubado. Pelo que estou dizendo, isto também vale
para aqueles outros que se beneficiaram desse esquema de sangria do patrimônio
público.
Nem bem começo a falar de minhas dores, e logo desando a alardear minhas esperanças.
Fiquemos com as dores.
Dói ver como a desesperança permite com que pessoas crédulas se apeguem a
arautos demagogos e a uma imprensa fingida.
Ao longo de minha vida, aprendi a entender as pessoas, julgando-as por seus
atos e também por aqueles que estão em seu redor. Nunca foi tão verdadeiro o
ditado que diz: “Dize-me com quem andas,
e dir-te-ei quem tu és”.
Outra coisa a comentar diz respeito à Operação Lava a Jato, aquela que, em
dois anos, desvendou toda essa onda de corrupção na Petrobrás. Os feitos de tal
operação são extraordinários: não sei quantos foram presos, quanto de dinheiro
foi devolvido aos cofres públicos, quantos anos de prisão foram totalizados.
Questiono o fato de alguns dos principais envolvidos já terem sido
beneficiados com liberdade, graças ao que chamam de delação premiada. Um deles,
condenado a 18 anos de prisão e que tinha como “profissão”, ser lobista do
PMDB, já se encontra em liberdade desde ano passado, podendo usufruir de seu
apartamento de 800 metros quadrados e avaliado em 12 milhões de reais.
Eu me pergunto qual o propósito dessa Operação Lava Jato. Tudo bem que ela
se preocupe só com o Chico, deixando de lado o Francisco. Eu até entendo esse
propósito, quando um delator se oferece para nomear outros nomes presentes e pretéritos,
mas os membros da operação recusaram tomar conhecimento. Entendo que estejam
usando como trunfo a ameaça de prender a esposa do Presidente da Câmara, como
uma forma dele agilizar e tocar em frente o processo de impeachment da
Presidente(a) da República. O que não entendo e não aceito é a máxima de que o
fim justifica os meios, muitos deles à margem da legalidade.
Os diálogos seletivos e jorrados para a imprensa ofendem meus ouvidos e
roubam minha inocência, tal o número de palavrões. Entretanto, proferir
palavrão é mais frequente do que podemos imaginar; basta grampear o telefone de
alguém que esteja sendo pressionado de alguma forma. Nem isso precisa. Tempos
atrás li uma reportagem em que o autor detalhava um tanto de palavrões
indecentes proferidos... por um ministro do Supremo Tribunal Federal recém-empossado.
Em resumo, sem querer abusar ainda mais de sua paciência, quero deixar
claro meu desconforto, vendo o país caminhar perigosamente para um clima de confronto.
Quem vai pagar a fatura por tudo isso?
Vejo muita gente com culpa no cartório: o PT, o Governo, certos
encaminhamentos da Operação Lava Jato, a classe política e o Congresso
Nacional, a Grande Imprensa – que é grande só no nome, pois seus interesses são
sombrios e pequenos.
Meu amigo, estou triste em ver a imagem do Brasil manchada. Não estou preocupado
com a opinião pública estrangeira, nem com o editorial do Financial Times;
estou pensando no sofrido povo brasileiro, que cada vez mais perde boas referências
e vê cada vez mais dificultado seu aprendizado de cidadania.
Etelvaldo Vieira de Melo
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