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Era uma vez um tempo em que
caçadores de preciosidades iam para as cidadezinhas do interior em busca de
tesouros: móveis rústicos, oratórios e imagens, utensílios antigos, peças de
artesanato. Hoje, tal como numa praga de gafanhotos, tais cidades estão
infestadas de bugigangas da China. Imagine você que uma amiga, quase nas
beiradas do sertão nordestino, foi comprar um chapéu feito com fibras de coco
(por mim, caso fosse responsável pela reforma ortográfica da língua portuguesa,
botava acento circunflexo no primeiro “o”, para evitar mal-entendidos, i.e.,
para diferenciar de coco, com “o” aberto, do verbo cocar). O coco e sua
referida fibra são típicos da região. Pensei comigo: “Não tem como isto ser
produzido fora”. Quando fui conferir a etiqueta, lá estava escrito: “Made in
China”. “- Putz grila!” – exclamei.
Por
esses dias, aconteceu algo parecido: ao comprar um pacote de alho frito, nem me
dei ao trabalho de verificar a procedência, já que a marca era conhecida.
Quando fui ler as informações, qual não foi minha surpresa ao ver estampado o
dizer: “Made in China”. “Puta merda!” – exclamei, então.
Também
hoje, os caçadores de tesouros têm até programa de TV, de modo que as raridades
estão cada vez mais raras, quase que só se tornou possível garimpá-las em
“ferros velhos”, esses depósitos de sucatas que pululam nas grandes cidades
(“pulular” é um termo esquisito, dá ideia de milho de pipoca; se eu fosse
responsável pela reforma da língua portuguesa – um cocô, como estou vendo -
esta seria uma das palavras que iria riscar dos dicionários).
Alguém
me contou que, num desses “ferros velhos”, apareceu um conjunto de pratos,
aparentando serem eles de metal. Estavam sujos, e alguém os arrematou por uma
bagatela. Tempos depois, a polícia baixou no local em busca dos referidos
pratos, já que eram peças raríssimas, de ouro.
Imagine
se aquilo viesse parar em minhas mãos, e não viesse a polícia farejar pra cima
de mim. A esta altura do campeonato, estaria fazendo turismo pelo mundo afora,
postando no Facebook fotos de paisagens paradisíacas (outra palavra que iria
riscar dos dicionários).
Enquanto
o senhor turismo não vem, ando percorrendo os “ferros velhos” - atrás de
raridades, e puxando conversa com as pessoas - em busca de histórias raras.
Hoje
pesquei um peixe grande, desses bem graúdos, tão grande que quase arrebenta
minha linha. Foi o seguinte:
Em
conversa com um conterrâneo, falávamos de nossa cidade natal, de como tudo ali
era dividido entre as castas dos ricos e dos pobres.
Esse
conterrâneo, que eu considerava de uma família remediada, que não era nem tanto
ao mar, nem tanto à terra, desmentiu-me categoricamente, dizendo que jogava no
meu time, isto é, o time dos pobres, dos párias da cidade.
Foi
então que ele me contou fato inusitado, de deixar qualquer um arrepiado, e que
eu repasso para os anais da História, sem medo de sofrer um processo judicial.
Se for mentira, será mais um boato a envolver a figura de famoso que, como
famoso, deve se guiar pela máxima de “falem mal, mas falem de mim”; se for
verdade, estaremos desmascarando a biografia de um “metido a besta” e que
jogava no time dos ricos de minha cidade. (Se o famoso já se sentir entupido de
fama, espero que tenha atingido o patamar da beatitude da fama, quando se torna
pessoa de “grande generosidade”, não se importando que um mísero mosquito
Namous venha compartilhar um pouco de seu sucesso).
Roberto
Carlos, sim, ele mesmo, embora eu não tenha certeza de nada, estando em início
de carreira, foi se apresentar lá na cidade (devia estar “matando cachorro a
grito”, devia estar na “pindaíba”, que deve ser a periferia de
Pindamonhangaba). Usava cabelos compridos, calças “boca de sino”, “era uma brasa,
mora”.
Nada
disso impressionou “I*”, que era presidente do clube aonde Roberto iria se
apresentar. (Em honra da verdade, “I*” era um dos poucos ricos com quem “eu se
me dava bem”).
De
qualquer modo, achou um absurdo aquele rapazinho, com cabelo de mulher e
vestido de maneira tão estranha, ter a ousadia de se apresentar no “seu” clube:
assim que Roberto foi fazer sua entrada no palco, “I*” deu-lhe um senhor chute
na bunda, o que fez com que a referida entrada do cantor no palco se desse
“catando cavaco”.
Meu
conterrâneo jura que tal fato assim se sucedeu. Mas eu me pergunto se ele foi
testemunha ocular e auricular do ocorrido, de ver com os próprios olhos e ouvir
com os próprios ouvidos. Acho que não, pois Roberto Carlos em inicio de
carreira deve ser do tempo de Matusalém ou dos tempos em que Noé projetava sua
famosa arca. Meu conterrâneo não é tão matusalêmico assim.
Tudo
pode ter sido uma fanfarronice do “I*”, pra mostrar aos pobretões da cidade o
que um rico era capaz de fazer.
Havia
alguém lá perto para juramentar com a mão sobre a Bíblia que aquilo era
verdade?
Sinceramente,
não sei de nada. Mas vai que tal caso tenha sucedido. Vai ser o maior furo
histórico, maior do que o rombo que o ser humano está fazendo na camada de
ozônio, provocando esse calor de esturricar a moleira de qualquer um.
Etelvaldo
Vieira de Melo
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