O DIA EM QUE ROBERTO CARLOS LEVOU UM CHUTE NA BUNDA

Imagem: minilua.com
Era uma vez um tempo em que caçadores de preciosidades iam para as cidadezinhas do interior em busca de tesouros: móveis rústicos, oratórios e imagens, utensílios antigos, peças de artesanato. Hoje, tal como numa praga de gafanhotos, tais cidades estão infestadas de bugigangas da China. Imagine você que uma amiga, quase nas beiradas do sertão nordestino, foi comprar um chapéu feito com fibras de coco (por mim, caso fosse responsável pela reforma ortográfica da língua portuguesa, botava acento circunflexo no primeiro “o”, para evitar mal-entendidos, i.e., para diferenciar de coco, com “o” aberto, do verbo cocar). O coco e sua referida fibra são típicos da região. Pensei comigo: “Não tem como isto ser produzido fora”. Quando fui conferir a etiqueta, lá estava escrito: “Made in China”. “- Putz grila!” – exclamei.
Por esses dias, aconteceu algo parecido: ao comprar um pacote de alho frito, nem me dei ao trabalho de verificar a procedência, já que a marca era conhecida. Quando fui ler as informações, qual não foi minha surpresa ao ver estampado o dizer: “Made in China”. “Puta merda!” – exclamei, então.
Também hoje, os caçadores de tesouros têm até programa de TV, de modo que as raridades estão cada vez mais raras, quase que só se tornou possível garimpá-las em “ferros velhos”, esses depósitos de sucatas que pululam nas grandes cidades (“pulular” é um termo esquisito, dá ideia de milho de pipoca; se eu fosse responsável pela reforma da língua portuguesa – um cocô, como estou vendo - esta seria uma das palavras que iria riscar dos dicionários).
Alguém me contou que, num desses “ferros velhos”, apareceu um conjunto de pratos, aparentando serem eles de metal. Estavam sujos, e alguém os arrematou por uma bagatela. Tempos depois, a polícia baixou no local em busca dos referidos pratos, já que eram peças raríssimas, de ouro.
Imagine se aquilo viesse parar em minhas mãos, e não viesse a polícia farejar pra cima de mim. A esta altura do campeonato, estaria fazendo turismo pelo mundo afora, postando no Facebook fotos de paisagens paradisíacas (outra palavra que iria riscar dos dicionários).
Enquanto o senhor turismo não vem, ando percorrendo os “ferros velhos” - atrás de raridades, e puxando conversa com as pessoas - em busca de histórias raras.
Hoje pesquei um peixe grande, desses bem graúdos, tão grande que quase arrebenta minha linha. Foi o seguinte:
Em conversa com um conterrâneo, falávamos de nossa cidade natal, de como tudo ali era dividido entre as castas dos ricos e dos pobres.
Esse conterrâneo, que eu considerava de uma família remediada, que não era nem tanto ao mar, nem tanto à terra, desmentiu-me categoricamente, dizendo que jogava no meu time, isto é, o time dos pobres, dos párias da cidade.
Foi então que ele me contou fato inusitado, de deixar qualquer um arrepiado, e que eu repasso para os anais da História, sem medo de sofrer um processo judicial. Se for mentira, será mais um boato a envolver a figura de famoso que, como famoso, deve se guiar pela máxima de “falem mal, mas falem de mim”; se for verdade, estaremos desmascarando a biografia de um “metido a besta” e que jogava no time dos ricos de minha cidade. (Se o famoso já se sentir entupido de fama, espero que tenha atingido o patamar da beatitude da fama, quando se torna pessoa de “grande generosidade”, não se importando que um mísero mosquito Namous venha compartilhar um pouco de seu sucesso).
Roberto Carlos, sim, ele mesmo, embora eu não tenha certeza de nada, estando em início de carreira, foi se apresentar lá na cidade (devia estar “matando cachorro a grito”, devia estar na “pindaíba”, que deve ser a periferia de Pindamonhangaba). Usava cabelos compridos, calças “boca de sino”, “era uma brasa, mora”.
Nada disso impressionou “I*”, que era presidente do clube aonde Roberto iria se apresentar. (Em honra da verdade, “I*” era um dos poucos ricos com quem “eu se me dava bem”).
De qualquer modo, achou um absurdo aquele rapazinho, com cabelo de mulher e vestido de maneira tão estranha, ter a ousadia de se apresentar no “seu” clube: assim que Roberto foi fazer sua entrada no palco, “I*” deu-lhe um senhor chute na bunda, o que fez com que a referida entrada do cantor no palco se desse “catando cavaco”.
Meu conterrâneo jura que tal fato assim se sucedeu. Mas eu me pergunto se ele foi testemunha ocular e auricular do ocorrido, de ver com os próprios olhos e ouvir com os próprios ouvidos. Acho que não, pois Roberto Carlos em inicio de carreira deve ser do tempo de Matusalém ou dos tempos em que Noé projetava sua famosa arca. Meu conterrâneo não é tão matusalêmico assim.
Tudo pode ter sido uma fanfarronice do “I*”, pra mostrar aos pobretões da cidade o que um rico era capaz de fazer.
Havia alguém lá perto para juramentar com a mão sobre a Bíblia que aquilo era verdade?
Sinceramente, não sei de nada. Mas vai que tal caso tenha sucedido. Vai ser o maior furo histórico, maior do que o rombo que o ser humano está fazendo na camada de ozônio, provocando esse calor de esturricar a moleira de qualquer um.
Etelvaldo Vieira de Melo

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