LADY NO AR

                                    
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  Vestiu-se o burro
                     de leão.
            Os bichos assustados
            morreram de medo
                      e então
            proclamaram-no rei
            na lei da floresta.

            A besta ( veja esta! )
            subiu ao palanque
            para agradecer  do alto
            as homenagens.

           Começou o discurso
           cheio de lustro
           imitando o tom
           de sua majestade
           o Senhor da Mata.

           Relinchos e zurros
           fazia o burro
           em conferência.

           Os animais
                  doidos
doídos 
           diante da eloquência
                 do imbecil
           arrancaram-lhe a pele
           de leão
 e a própria.

           O burro num urro
           zoeirou o sem motivo
           para tanto apanhar
           e louvou a sabedoria
           de seu nobre falar.

           Se o leitor atento
           vir alguma semelhança
           na televisão
           saiba que as asneiras
           não são do  leão.

  

DISSECAÇÃO A PARTIR DE “CIFRAS E CONSTELAÇÕES EM AMOR COM UMA MULHER”, DE JOAN MIRÓ


Antes de qualquer coisa, devo dizer que não fujo de minhas responsabilidades, assumo integralmente a autoria de meus atos, não tenho medo de cair no ridículo, não me escondo por detrás de nomes falsos ou pseudônimos, nem faço delação premiada (só faço gratuita).
Assim sendo, quero dizer que meu nome é Nestor da Zefinha, conhecido como Nestor do Tamborim – isto mesmo: aquele que “anda na corda bamba e que na escola de samba toca cuíca, toca surdo e tamborim” – também autor e protagonista do relato a seguir.
Hoje tive que sair da cama mais cedo que o normal – que é, em geral, tarde. Por isso, posso dizer que meus olhos se abriram de vez quando já estava na cozinha e, automaticamente, por reflexo condicionado, abria a parte de vidro da porta. Por isso, posso dizer com certeza, sem medo de estar cometendo um erro, que foi o cão lá de casa o primeiro ser vivo que vi.
Temos o costume lá em casa, e não sei se tal costume é costume em outras casas, de conversar com nosso cão. Tive esta rápida conversa com Teteo:
- Uuummm... – falei, tentando me aproximar da linguagem canina. O resmungo quis dizer: - Olá, Teteo, bom dia! Passou bem a noite?
- Uuummm... – respondeu Teteo, esforçando-se ao máximo para uma comunicação mais próxima.
Geralmente, os cães fazem comunicação visual. É o que acontece com Teteo, que dificilmente se comunica por latidos.
- Tudo bem, e você? – falou com os olhos, enquanto abanava o rabo (sintoma de que estava feliz em me ver).
- Dormi bem, só acordando umas duas ou três vezes, assustado com meu próprio ronco – falei, recorrendo da mesma forma à comunicação visual.
- Você precisa cuidar disso. Se, até aqui de minha casinha, sua ronqueira incomoda, imagina o que devem sentir sua esposa e filha.
- Nem te conto, Teteo; tem vez que meus braços e costas ficam roxos de hematomas, tantos os cutucões que levo à noite – falei um tanto quanto magoado. – Teve dia em que até pensei em ir a um posto policial registrar um BO.
- Pois cuida de resolver esse embrulho – falou o cachorro, olhando para meus olhos com olhar intenso. – Procure um otorrinolaringologista.
Surpreendi-me com a fluidez com que ele pronunciou tal palavrão.
- É o que vou fazer esta semana. Já fiz a audiometria, a videoendoscopia nasossinusal e a videofaringolaringoscopia.
Enquanto tentava desenrolar minha língua, Teteo perguntou:
- Tem os resultados parciais?
- A audiometria acusou uma leve perda auditiva, coisa que eu já sabia por exames anteriores. Teve um otorrino que, ao se informar de minha idade, comentou: “Por seus quilômetros rodados, você quer o quê? Conforme-se: está bom demais do jeito que está”. Conformar até que me conformo; o problema é as pessoas no meu entorno aceitarem isso. Estou pensando seriamente em andar com uma placa com os dizeres: “Por favor, tenha paciência comigo. Sou portador de uma leve perda auditiva”.
- Eu é que estou numa boa – falou Teteo, com os olhos dando risadas. – Além de escutar muito bem, converso com as pessoas usando de comunicação visual. Além disso, por causa desse “olhos nos olhos”, liberamos oxitocina, o chamado hormônio do amor. É por isso que cães e humanos se amam cada vez mais. Por que você não faz o mesmo?
- Taí, gostei de sua sugestão. Meu temor é de que as pessoas não entendam assim. Imagina o que pode acontecer: “- O que foi, ficou lerdo de vez?”; “- Por que está me encarando? Não gosto de homem, não. Sai pra lá!”; “- O que você está querendo com esse olhar pidão?”. Sei lá, definitivamente, não dá pra seguir seu conselho. Os riscos de ser mal interpretado são muitos.
Minha conversa com Teteo foi interrompida bruscamente. Isso acontece nas vezes em que não consigo manter os olhos nos olhos e acabo desviando os meus, ou dou uma piscadela. Nesses momentos de perda de sincronia, o olhar de Teteo fica perguntando: “O que você está querendo? Fiz alguma coisa errada? Em que posso lhe ajudar?”.
Por essa e por outras, o cão é o primeiro na lista dos melhores amigos do homem.
Agora, para você que duvida disso, que julga ser eu uma pessoa exagerada, que tem parafusos a menos no cérebro por dar tanto valor à espécie canina, faço uma simples pergunta: Quando você se dignou ter uma conversa tão afetuosa assim comigo?
         Etelvaldo Vieira de Melo 

NÃO LIGA NÃO

               
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                Estava a cigarra
                combinando uma canção
                no violão.

               Estava a formiga
               trabalhando um celeiro
               de dinheiro.

               Chega o inverno
               cobre  a floresta
               acabou-se a festa.

               A cigarra faminta
( e violeira)
               morre à brasileira
               cantando.

              A formiga
política
                moralítica
                            veste-se em Paris          
               tem contas na Suíça
problemas com a polícia                            
               a&          foge para Cuba

         and      bye bye Brazil.

RECICLAGEM

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De vez em quando, uma luzinha amarela acende na minha cabeça. Ela diz que está na hora de me reciclar, incorporando sentimentos de humanidade (porque, no fundo, no fundo, sou um humanista). Sentimento de humanidade, hoje, mal consegue cumprir o prazo de validade legal e, logo, fica estragado, queimando a placa eletrônica. Como o conserto da placa fica quase o custo de um aparelho, fica melhor adquirir outro novo.
Tenho observado que, no meu caso, o sentimento de humanidade estraga mais facilmente quando exposto à política. A política no país anda tão suja que, só de falar dela, você acaba se sujando.
Hoje, a luz amarela pisca insistente na minha cabeça: está na hora de incorporar novos sentimentos humanitários. Os sintomas de minha carência são três, ou seja:
1º) Estive lendo uma revista de 2011 (ultimamente, além de latir no terreiro, para economizar cachorro, só leio revista antiga, doada graciosamente). Como dizia, estive lendo numa revista antiga, de 2011, uma reportagem sobre gastos na preparação das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Lá estava escrito que bilhões e bilhões de reais seriam injetados no Estado até a realização do evento. Agora, o intrigante da notícia: os maiores investimentos seriam... da Petrobrás que, junto a par-cei-ros, despejaria ali, até 2014, R$172 bilhões.
Está entendendo onde quero chegar? Todo o escândalo de corrupção que atormenta o país tem como pivô a Petrobrás! A Lava Jato é a força-tarefa que, até aqui, responde pela apuração dos fatos. Pois, aqui e agora, a sugestão: a de se criar um departamento para leitura de notícias antigas. Muita sujeira vai vir à tona (sem ter que se contar e contentar com a ajuda dos dedos-duros, através das chamadas delações premiadas). Outro dia, li outra reportagem antiga, que acusava um aumento brutal no faturamento da Belgo Mineira; tempos depois, assistimos ao vazamento de dejetos em Mariana. É a Lei da Causa e Efeito.
2º) Você pode estar achando que o que falo não tem nada a ver com essa história de sentimento de humanidade. Calma. Leia o que escrevo e tire suas conclusões, depois.
Um político, em campanha para reeleição como vereador, apregoa em cartaz publicitário: salário 100% de filantropia.
O slogan se presta a várias leituras:
A – Que o salário do vereador é mantido 100% com verbas de impostos e taxas (entendidos como “filantropia do eleitor”). Aí, falei: - Calma lá! Não pago imposto pra manter mordomia, não!
B – O salário de vereador é tão insignificante (para seus padrões), que ele, vereador, prefere dispensá-lo, o salário, preferindo ficar com o “resto”. Aí, eu disse: - Calma lá! Tá na hora de abrir essa “caixa preta”, que é quanto ganha mesmo um vereador!
C – Filantropia é um termo genérico, mas que não tem o preço de um medicamento genérico. Com quem se faz filantropia? Um vereador pode fazer filantropia consigo mesmo, com seus parentes, com seus cabos eleitorais... Aí, eu não falei nada (engoli o desaforo).
3°) Ainda não entendeu como meu sentimento de humanidade anda azedo?
Pois, andando pela avenida principal do bairro, esbarrei numa igreja evangélica, reformada, com vidros espalhados e espelhados para todos os lados. Pensei, maliciosamente: - Também, pudera! O dízimo dos incautos deve estar correndo solto!
Foi, a partir daí, que a luzinha amarela desandou a piscar mais intensamente. Pensei: - Nossa, como minha mente anda poluída! Preciso tomar tenência!
Foi o que fiz. Poucos metros à frente, esbarrei com um borracheiro, onde estava indo levar um pneu de carrinho de mão, furado. O borracheiro falou que o problema era na válvula (ai!), que não tinha como consertar (ai, ai), que eu deveria comprar um pneu novo (ai, ai, ai)... que o preço era...  R$20,00.
- Ufa! – pensei. – Obrigado, borracheiro, por não ter me “enfiado a mão”. Obrigado por ter me ajudado a incorporar novos sentimentos de humanidade. Obrigado por não me ver obrigado a, além de latir para economizar cachorro, ainda ter que abanar o rabo para as pessoas!
E agora, José? Agora, estou em pé, pronto e aprumado pro que der e vier. Com sentimento humanitário zerinho em folha!
Etelvaldo Vieira de Melo



 

HISTÓRIA DO BRASIL

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 Um carneirinho
 Desses bem pequenininhos
                                     Ninhos niños
 Bebia água

Num riacho
   
 O lobo veio indo
Foi vindo
E falou:
“Vou comê-lo, carneiro.”
“Por quê?”
“Você está sujando
O riacho limpo
Com sua baba.”
(Bala de bobo)
“Como posso poluir o ribeiro
Se as águas são corredeiras?”
(De que maneira?)
“Você é um sujo
Asno rato porco.”
“Não sou ou ou.”
Então o bolo
Do lobo bobo embolado
Pulou sobre o inseto
Ninho niño.
“Você não polui o rio
Mas vossos pais e avós
Mancharam a nascente.”

E comeu o brasileiro
       f  u  
               l e  r o
    i n j u s t
                   i  c e r o
ladrão de galinha
      s e m
                  d
                                       i n  h e
                                            rrroooo 



OUTLET LITERÁRIO

FÁBULA PINELIANA
Foi o Gugu da Juriti tirar um corretivo de prequela na ximbucuda do popó da popozuda da Camjebrina. Aí deu um proseau cleboroso, pois o sarado do salão (lá do Caxaprego), ficando na cola do descolado, foi bombando com o babado e dizendo que com ele não tinha esse negócio de carioscopia de selinho, era tudo no revirte. Daí, por causa do lesco-tesco, o Gugu da Juriti ficou trapontado e sem ver o queijo da Lua e nem o siriri dos grilos.

Moral: Quando o pricopó entorta pelos meios, melhor correr pelas beiradas. 


O PAÍS E A ÁGUIA


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A águia
quando velha
recolhe-se no ninho.

Quebra o velho bico
arranca todas as penas
destrói na pedra as garras
pois já não consegue caçar.

Para isso
precisa de dois anos
calmos, pacientes.

Depois desse tempo,
crescem-lhe as penas
nasce o novo bico
e a garras.

Esperemos que o Brasil
após a quebradeira
tenha outros anos
de renascimento
e fim da guerra política.

 

CUIDADOS PÓS-PARTO THEMERIANO

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Ingenaldo é de uma ingenuidade de todo tamanho. Não sabe ele que, no mundo da “política”, acontecem coisas que a gente nem é capaz de imaginar? Reconhece que até pode ser ingênuo, mas que não chega a ser otário. Adianta que não é eleitor da presidente deposta, nem o que chamam de “petralha”. Por isso, sente-se confortável para declarar seu desconforto e indignação diante do atentado à democracia e do desrespeito para com milhões de eleitores. Segundo ele, tudo perpetrado por uma elite rancorosa, aliada a uma imprensa hipócrita e indecente (sem decência, sem ética), a uma “justiça” sem vendas nos olhos e um Congresso sem estofo moral para julgar e condenar quem quer que seja, usando como “massa de manobra" uma parcela insatisfeita da população, ela que não soube digerir a derrota nas urnas. Diante do circo armado com o processo de impeachment, considera que o povo é chamado a fazer papel de palhaço. Conclui seu desabafo, dizendo que é até capaz de fazer duas premonições, caso não surja um fato novo para reverter o “andar da carruagem”: 1ª) a água do Lava a Jato vai ser cortada; 2ª) o ex-presidente da Câmara deposto, no máximo, vai receber uma punição “pra inglês ver” (nada dos “rigores da lei” – que isso é coisa pra inimigo – com prisão e risco de delação, fazendo com que todo mundo saia correndo de medo).  Puxa, como está indignado o moço! Deixa o Ingenaldo falar:   
Como existe um ditado popular que diz “há males que vêm para bem”, e como sou uma pessoa que dá muito crédito à sabedoria popular, tento vislumbrar algum bem por detrás da maldade que foi perpetrada no país, em 2016, com a destituição ilegal e imoral de uma presidente eleita e referendada nas urnas.
Dizem que a História é cíclica. Se for, deve estar reprisando aquilo que aconteceu 52 anos atrás, quando de outro golpe, mas que foi insuflado pelos mesmos grupos sociais (os dois anos de atraso, na comemoração do cinquentenário do golpe militar se deve a essa cultura do brasileiro de não obedecer aos horários – a data correta seria 2014, seis meses antes das eleições).
Se for para pedir coerência dos golpistas, eu acho que eles deveriam abolir de vez esse sistema eleitoral, deixando de lado, desobrigando o povo, os assalariados, de votar. Com isso, o processo de eleição se torna simples, livre do risco de se ficar passando a borracha, para tirar do poder alguém indesejado dos plutocratas.
Está claro que teremos os insatisfeitos nessa jogada. Estou pensando na grande imprensa e nas agências de publicidade, que se locupletam em períodos eleitorais. Nada que uma boa propina e contratos futuros não deem um jeito.
Para manter a consciência popular anestesiada, essa grande imprensa pode alardear, através de seus jornais locais, regionais e nacionais, os acertos acertados e arranjados pelos governantes, eleitos pelos votos da oligarquia plutocrata (esta palavra entrou recentemente no meu vocabulário, mas acho que vai perdurar por um bom bocado de tempo).
Vez por outra, pesquisas de opinião poderão ser encomendadas a agências confiáveis, mostrando que vivemos no melhor dos mundos possíveis.
Nada vai ser fácil. O gérmen da consciência de seres humanos ainda não foi totalmente extirpado. Por isso, cabe aos dirigentes e às elites intelectuais fazer de tudo para que os conflitos sociais fiquem no limite do suportável.
Enquanto membro da ralé social, sinto-me confortável em não ter que compactuar com esse jogo de cartas marcadas. Só pediria um favor: que retirem de vez o povo dos noticiários e das telenovelas globais. Já é demais viver como pária; mais dolorido ainda é ser motivo de riso nas páginas policiais e nas telas de TV.
Assim, poderemos viver em paz. De um lado, aqueles que acreditam que a felicidade está no dinheiro e que o dinheiro pode tudo, como brincava Millôr Fernandes: “O dinheiro é tudo. Ele é a fonte de todo bem. Faz dentes mais claros, olho mais azul, amplia a dignidade individual, aumenta a popularidade, produz amor e paz espiritual e, quando tudo falha, paga o psicanalista”; de outro, estaremos nós, achando que a felicidade está na realização de pequenas coisas, na simplicidade e nas relações humanas fundadas no respeito mútuo, na amizade e no amor.
Etelvaldo Vieira de Melo