RECICLAGEM

Resultado de imagem para imagens de reciclagem
Imagem: mixlar.com.br
De vez em quando, uma luzinha amarela acende na minha cabeça. Ela diz que está na hora de me reciclar, incorporando sentimentos de humanidade (porque, no fundo, no fundo, sou um humanista). Sentimento de humanidade, hoje, mal consegue cumprir o prazo de validade legal e, logo, fica estragado, queimando a placa eletrônica. Como o conserto da placa fica quase o custo de um aparelho, fica melhor adquirir outro novo.
Tenho observado que, no meu caso, o sentimento de humanidade estraga mais facilmente quando exposto à política. A política no país anda tão suja que, só de falar dela, você acaba se sujando.
Hoje, a luz amarela pisca insistente na minha cabeça: está na hora de incorporar novos sentimentos humanitários. Os sintomas de minha carência são três, ou seja:
1º) Estive lendo uma revista de 2011 (ultimamente, além de latir no terreiro, para economizar cachorro, só leio revista antiga, doada graciosamente). Como dizia, estive lendo numa revista antiga, de 2011, uma reportagem sobre gastos na preparação das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Lá estava escrito que bilhões e bilhões de reais seriam injetados no Estado até a realização do evento. Agora, o intrigante da notícia: os maiores investimentos seriam... da Petrobrás que, junto a par-cei-ros, despejaria ali, até 2014, R$172 bilhões.
Está entendendo onde quero chegar? Todo o escândalo de corrupção que atormenta o país tem como pivô a Petrobrás! A Lava Jato é a força-tarefa que, até aqui, responde pela apuração dos fatos. Pois, aqui e agora, a sugestão: a de se criar um departamento para leitura de notícias antigas. Muita sujeira vai vir à tona (sem ter que se contar e contentar com a ajuda dos dedos-duros, através das chamadas delações premiadas). Outro dia, li outra reportagem antiga, que acusava um aumento brutal no faturamento da Belgo Mineira; tempos depois, assistimos ao vazamento de dejetos em Mariana. É a Lei da Causa e Efeito.
2º) Você pode estar achando que o que falo não tem nada a ver com essa história de sentimento de humanidade. Calma. Leia o que escrevo e tire suas conclusões, depois.
Um político, em campanha para reeleição como vereador, apregoa em cartaz publicitário: salário 100% de filantropia.
O slogan se presta a várias leituras:
A – Que o salário do vereador é mantido 100% com verbas de impostos e taxas (entendidos como “filantropia do eleitor”). Aí, falei: - Calma lá! Não pago imposto pra manter mordomia, não!
B – O salário de vereador é tão insignificante (para seus padrões), que ele, vereador, prefere dispensá-lo, o salário, preferindo ficar com o “resto”. Aí, eu disse: - Calma lá! Tá na hora de abrir essa “caixa preta”, que é quanto ganha mesmo um vereador!
C – Filantropia é um termo genérico, mas que não tem o preço de um medicamento genérico. Com quem se faz filantropia? Um vereador pode fazer filantropia consigo mesmo, com seus parentes, com seus cabos eleitorais... Aí, eu não falei nada (engoli o desaforo).
3°) Ainda não entendeu como meu sentimento de humanidade anda azedo?
Pois, andando pela avenida principal do bairro, esbarrei numa igreja evangélica, reformada, com vidros espalhados e espelhados para todos os lados. Pensei, maliciosamente: - Também, pudera! O dízimo dos incautos deve estar correndo solto!
Foi, a partir daí, que a luzinha amarela desandou a piscar mais intensamente. Pensei: - Nossa, como minha mente anda poluída! Preciso tomar tenência!
Foi o que fiz. Poucos metros à frente, esbarrei com um borracheiro, onde estava indo levar um pneu de carrinho de mão, furado. O borracheiro falou que o problema era na válvula (ai!), que não tinha como consertar (ai, ai), que eu deveria comprar um pneu novo (ai, ai, ai)... que o preço era...  R$20,00.
- Ufa! – pensei. – Obrigado, borracheiro, por não ter me “enfiado a mão”. Obrigado por ter me ajudado a incorporar novos sentimentos de humanidade. Obrigado por não me ver obrigado a, além de latir para economizar cachorro, ainda ter que abanar o rabo para as pessoas!
E agora, José? Agora, estou em pé, pronto e aprumado pro que der e vier. Com sentimento humanitário zerinho em folha!
Etelvaldo Vieira de Melo



 

0 comentários:

Postar um comentário