CUIDADOS PÓS-PARTO THEMERIANO

Resultado de imagem para imagens de plutocracia
Imagem: sarauxyz.blogspot.com
Ingenaldo é de uma ingenuidade de todo tamanho. Não sabe ele que, no mundo da “política”, acontecem coisas que a gente nem é capaz de imaginar? Reconhece que até pode ser ingênuo, mas que não chega a ser otário. Adianta que não é eleitor da presidente deposta, nem o que chamam de “petralha”. Por isso, sente-se confortável para declarar seu desconforto e indignação diante do atentado à democracia e do desrespeito para com milhões de eleitores. Segundo ele, tudo perpetrado por uma elite rancorosa, aliada a uma imprensa hipócrita e indecente (sem decência, sem ética), a uma “justiça” sem vendas nos olhos e um Congresso sem estofo moral para julgar e condenar quem quer que seja, usando como “massa de manobra" uma parcela insatisfeita da população, ela que não soube digerir a derrota nas urnas. Diante do circo armado com o processo de impeachment, considera que o povo é chamado a fazer papel de palhaço. Conclui seu desabafo, dizendo que é até capaz de fazer duas premonições, caso não surja um fato novo para reverter o “andar da carruagem”: 1ª) a água do Lava a Jato vai ser cortada; 2ª) o ex-presidente da Câmara deposto, no máximo, vai receber uma punição “pra inglês ver” (nada dos “rigores da lei” – que isso é coisa pra inimigo – com prisão e risco de delação, fazendo com que todo mundo saia correndo de medo).  Puxa, como está indignado o moço! Deixa o Ingenaldo falar:   
Como existe um ditado popular que diz “há males que vêm para bem”, e como sou uma pessoa que dá muito crédito à sabedoria popular, tento vislumbrar algum bem por detrás da maldade que foi perpetrada no país, em 2016, com a destituição ilegal e imoral de uma presidente eleita e referendada nas urnas.
Dizem que a História é cíclica. Se for, deve estar reprisando aquilo que aconteceu 52 anos atrás, quando de outro golpe, mas que foi insuflado pelos mesmos grupos sociais (os dois anos de atraso, na comemoração do cinquentenário do golpe militar se deve a essa cultura do brasileiro de não obedecer aos horários – a data correta seria 2014, seis meses antes das eleições).
Se for para pedir coerência dos golpistas, eu acho que eles deveriam abolir de vez esse sistema eleitoral, deixando de lado, desobrigando o povo, os assalariados, de votar. Com isso, o processo de eleição se torna simples, livre do risco de se ficar passando a borracha, para tirar do poder alguém indesejado dos plutocratas.
Está claro que teremos os insatisfeitos nessa jogada. Estou pensando na grande imprensa e nas agências de publicidade, que se locupletam em períodos eleitorais. Nada que uma boa propina e contratos futuros não deem um jeito.
Para manter a consciência popular anestesiada, essa grande imprensa pode alardear, através de seus jornais locais, regionais e nacionais, os acertos acertados e arranjados pelos governantes, eleitos pelos votos da oligarquia plutocrata (esta palavra entrou recentemente no meu vocabulário, mas acho que vai perdurar por um bom bocado de tempo).
Vez por outra, pesquisas de opinião poderão ser encomendadas a agências confiáveis, mostrando que vivemos no melhor dos mundos possíveis.
Nada vai ser fácil. O gérmen da consciência de seres humanos ainda não foi totalmente extirpado. Por isso, cabe aos dirigentes e às elites intelectuais fazer de tudo para que os conflitos sociais fiquem no limite do suportável.
Enquanto membro da ralé social, sinto-me confortável em não ter que compactuar com esse jogo de cartas marcadas. Só pediria um favor: que retirem de vez o povo dos noticiários e das telenovelas globais. Já é demais viver como pária; mais dolorido ainda é ser motivo de riso nas páginas policiais e nas telas de TV.
Assim, poderemos viver em paz. De um lado, aqueles que acreditam que a felicidade está no dinheiro e que o dinheiro pode tudo, como brincava Millôr Fernandes: “O dinheiro é tudo. Ele é a fonte de todo bem. Faz dentes mais claros, olho mais azul, amplia a dignidade individual, aumenta a popularidade, produz amor e paz espiritual e, quando tudo falha, paga o psicanalista”; de outro, estaremos nós, achando que a felicidade está na realização de pequenas coisas, na simplicidade e nas relações humanas fundadas no respeito mútuo, na amizade e no amor.
Etelvaldo Vieira de Melo  

            

0 comentários:

Postar um comentário