FOI BOM, MUITO BOM!!

Depois de algumas doses, os pensamentos ficam tão profundos quanto o pratinho de tira-gostos.
Ivani Cunha

ANO NOVO, MORADA DE SONHOS E FANTASIAS, DE DESEJOS E ESPERANÇAS

Imagem: mensagens-iluminadas.blogspot.com
Chegou dezembro e, com ele, a retrospectiva do que ansiei e desejei para o ano que está prestes a terminar.
Surgem também novas expectativas para o ano que se inicia. Paro, penso, e analiso: espero que apenas seja melhor que o ano que está prestes a terminar.
É isso que acontece sempre, esse renovar-se de esperança. No entanto, com o tempo, passamos a perceber que somos eternamente insatisfeitos e querendo sempre algo mais, diante de sonhos muitas vezes desfeitos. Mas o que seria de nós, pobres mortais, se perdêssemos a capacidade de querer sempre um mundo melhor, não apenas para nós, mas sim para todo o nosso planeta?
Chego á conclusão que quero um mundo melhor para todos; que possamos nos amar mais e ser capazes de demonstrar mais amor ao próximo.
(Antônio Silva – Cabeleireiro, antoniosilva5182@gmail.com)
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Todos os anos acontece a mesma coisa. No dia 31 de dezembro, seja por tradição, consideração ou amor mesmo, as pessoas desejam umas às outras um Feliz Ano Novo. Muitos se afundam na bebida e tentam desesperadamente se iludir, achando que no primeiro dia do ano, como em um passe de mágica, tudo se transformará, as dívidas e os problemas desaparecerão, os conflitos serão resolvidos e o caos dará lugar a harmonia e a paz. Ledo engano: o que nós precisaremos no ano que se iniciará em breve será uma mudança de atitude em relação a nós mesmos e a todos que nos cercam, principalmente em relação à família - que é o nosso porto seguro. Deveremos deixar de lado o egoísmo, a soberba, a indiferença, tentando realizar os nossos sonhos e ideais, partindo para ações concretas, como a realização daquela viagem que nunca saiu do papel, fugindo do comodismo e nos voltando para atitudes de fato relacionadas à melhora da nossa saúde física e mental, quem sabe até mesmo com a troca daquele emprego que nos sufoca há anos. Deveremos também ser mais tolerantes e respeitar as diferenças. Não espere, com isso, que a sua vida será uma bênção, pois vivemos em sociedade, e o ser humano é complexo, mas você terá dado um passo importante para superar obstáculos, crescer, e ser mais realizado. FELIZ 2018.  
(Geraldo M. Santos Uzac – Uzac & Borges – Advogados –
geraldomsuzac@yahoo.com.br)
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Ponderando sobre o final do ano de 2017, espero 2018 sem expectativas. Que o ano que se inicia nos surpreenda. Muitas das mazelas que as pessoas sofrem são as expectativas frustradas. Então, não espero nada de extraordinário de 2018. Quem sabe, terminarei o ano mais feliz? Se as pessoas criarem menos expectativas, vivendo plenamente sua realidade, claro que batalhando todos os dias e buscando sempre o melhor, acredito que terão mais a comemorar. Boas festas!!!

(Júlia Mara da Costa Melo – Médica Cirurgiã Plástica)
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Começa o ano de 2018. Conforme Manuel Bandeira, os cavalões correndo e os cavalinhos não comendo. Reforma trabalhista, reforma previdenciária, a onda aonde vai? A sereníssima república dos políticos continuará a ter em Gilpoça um Papai Noel presente? Certamente. Lulá lá na cadeia ficará uns dois dias? Utopia.
O ano velho se foi, o ex-ano velho também. A cada etapa, todo mundo acredita em novidades futuras. Desde Cabral, permanece a crença de que o navegante a se aproximar é deus argênteo e promissor. Entretanto, o ídolo branco dizima os indígenas e carrega as riquezas nacionais. D. Pedro II, amantíssimo imperador, não deixou por menos. Antes de partir, retirou dos cofres do Banco do Brasil, que ele próprio criara, o ouro e o ferrolho. Deodoro, à morte, em cima de um cavalo, não conseguiu tornar pública a abolição da escravatura econômico-social em que vivia o pobre habitante pobre da Pátria. O restante são anos se renovando e a situação de penúria mais e mais se agravando. Corrupção, crime, droga, sexo desnaturado, assim caminha a humanidade daqui...
No dia primeiro de janeiro, comilança, foguete e artifício. No dia dois, a luta e a rotina do trabalho. Os servidores esperam o aumento miserável que o governo não quer dar. Os desempregados entram na fila do INSS, sabendo que há carência de remédios. Os alunos se matriculam na Universidade prestes a ser privatizada. No entanto, nutrem grandes esperanças. Os fatos hão de mudar. Em breve, uma revolução deterá os poderosos usurpadores do nosso suor. Os criminosos estarão nas celas. O povo brasileiro respira, desde já, o ar puro dos muros da nova era que a hera daninha não destruirá. Navegar é preciso, viver não é preciso.
(Graça Rioswwwbbcr.blogspot.com)
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Mais um ano que caminha para o seu desfecho e, se Deus quiser, outro que virá substituí-lo. Deixemos as nossas frustrações do velho, principalmente a crise que tentam incutir em nossas mentes, se esvaírem, e vamos procurar pensar positivo as nossas expectativas para o ano vindouro, acreditando nas possibilidades de uma família mais unida e um povo menos sofrido. Digamos “não” àqueles que querem nos manipular através da persuasão da mídia e dos interesses de grupos inescrupulosos que conduzem a nossa política. Façamos do nosso voto uma verdadeira transformação em 2018 e sonhemos com um futuro melhor!  Feliz Ano Novo!

(Marcos Geraldo Soares – Professor, mgeraldosoares@yahoo.com.br)
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2017 tá indo pro brejo. 2018  vem vindo, bêbado, despirocado, despreparado, desesperado. Devo me mudar pra Pasárgada? Mas é nesse país trôpego que vivo. Que nós vivemos. Não dá pra cancelar o amanhã ou botar uma plaquinha “fechado para reforma”. Mesmo porque, não há planos para reforma, pelo menos em curto prazo. Baita problema.
Todo mundo sabe, nós nos perdemos, mas como disse Clarice Lispector, perder-se também é caminho. Mesmo nesse emaranhado, urge encontrar uma direção. Sabemos o que não queremos. Já é um começo. Abrimos as gavetas. Tem lixo de montão. Alhos e bugalhos. Tudo junto e misturado. O país tá no CTI. Não sabemos o que fazer. Mas precisamos fazer. Que periga jogarmos fora o bebê junto com a água do banho. É o que temos feito até agora. Vamos matando o doente que precisa de cuidados.
O novo ano chega com um tsunami de ódio, disfarçado com várias denominações: racismo, pedofilia, justiça social, ética, moral. Não importa. E isso tudo vem embrulhado em papel celofane, luzes natalinas, Papai Noel. E, anestesiados pelo jingle Bell, evitamos nos implicar na busca de uma direção.
A coisa é meio assim: não tenho nada com isso. O mundo tá lá fora. Certo? Mentira. Estamos enterrados na porcaria do ano que finda e no ano que se aproxima. Ele não vai cair do céu por descuido de São Pedro enquanto gozamos o sono dos justos. Somos parte desse lixo. Esse mundo, esse país é a nossa casa.
E dito isso, ouso acrescentar que não vejo luz no fim do túnel. Mas também sei que não adianta me esconder debaixo da cama. Lá vem 2018 em rota de colisão.
Pode vir. Estaremos aqui. E, Deus queira, dispostos a limpar os escombros, tratar os feridos e construir novos rumos. Somos brasileiros. Se o amarelo é desespero, o verde é esperança.
(Maria Solange Amado Ladeira - www.versiprosear.blogspot.com.br)
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Perspectiva e Esperança: duas palavras que se entrelaçam na busca de um amanhã mais sorridente, menos estressante e deveras prodigioso, já que o vivido até agora só retratou o inverso. O que se vê são políticos sob o jogo do poder, criminalidade, desamor e uma educação deteriorada, em face dos professores mal remunerados ou incompetentes, devido à sua má formação. O ideal é que se supere tudo isso, extirpando esses cânceres que tentam nos atingir. E é simples: basta que se promovam ações positivas, em prol de uma política justa, elegendo-se cidadãos conscientes, que realmente se preocupem com o bem estar do seu país, a educação bem valorizada. Assim, o índice de pobreza será também corrigido. É isso que tenho em mente e que, espero, seja 2018. QUE DEUS NOS ABENÇOE. FELIZ ANO NOVO!
(Regina Ângela Rios Fonseca – Professora)
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Nas alturas dos meus 72 anos, considero-me um septuagenário cheio de
vitalidade, com  muitos  sonhos e projetos ainda a realizar.
Indo devagar, para que o andor não caia, registro minhas expectativas para 2018.
No plano pessoal, além de viver um novo ano em pleno gozo de saúde, quero retornar às minhas origens,  mudando-me de Uberaba para a região metropolitana de BH. Assim, poderei estar mais próximo de familiares e de velhos amigos.
Como animal político, peço aos Deuses que nos inspirem para que possamos escolher - se for possível... - iluminados representantes para os  altos comandos do nosso País, a fim de resgatarmos  valores éticos, morais e culturais perdidos na história de nossa Pátria.
Por fim, para não fugir ao meu propósito de ir "por partes", o que pode  me estripar de vez, externo minha expectativa  para que o trio blogueiro - cronista Etelvaldo, poeta Graça e cartunista Ivani - possa continuar me brindando com o seu trabalho de elevado nível cultural e que me traz momentos hilários, sobretudo com o humor saudável que permeia as crônicas postadas.  Olhe, que a simbiose está dando certo!!! 
Vamos em frente, porque o meu caminho eu faço caminhando! Muita Luz e Paz no coração de todos.
(Vicente Melo vicentemelo@mednet.com.br)
 FIM

NATAL: ADVENTO DA PAZ

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Imagem: juazeiro.ce.gov.br
Há quem diga que o fim do mundo está próximo. Alguns fanáticos esperam reunidos por um disco voador (e se suicidam por não vê-lo). Outros afirmam com muita ciência que o Messias repousa nas nuvens, prestes a descer para levar os fiéis. Muitos maldizem o estado do planeta, que em breve será destruído pela bomba nuclear, fome e peste.   

O tetravô de cento e dez anos presenciou catástrofes terríveis. A primeira guerra, a segunda, a Inquisição e suas fogueiras, os tsunâmis, os cadafalsos, os juízes da Inconfidência, a Revolução Industrial. Julgou a cada acontecimento que os anjos realmente se indignaram e logo decretariam ponto final a qualquer forma de existência. No entanto, viu multiplicado em todo Natal o número de habitantes da terra. Considerou a chegada do Menino como uma eclosão de felicidade nos lares universais. Observou que os meios tecnológicos e midiáticos fizeram dos continentes uma aldeia global. Longe da propagação das doenças, o avanço da medicina lhe pareceu sobremaneira ampliar a vida das diferentes espécies. As crianças adquiriam paripasso o conhecimento precoce das funções do corpo, da matéria, das artes. As viagens interestelares prenunciaram para ele a ascensão ao infinito.
Então, nesse próximo dia vinte e cinco de dezembro, saudemos a renovação do sagrado. Acreditemos que o futuro se abre para experiências ímpares do próprio eu. Há de reinar sobre todos a influência divina, decorrente do fluxo natal mais inteligente e sensível que nunca. Discordemos dos pessimistas alienados que preveem sofrimento e ódio para o homo sapiens.
Enfim, neste país a justiça triunfará sobre o crime e a iniquidade política e social. Aleluia, pois o desemprego e a miséria fenecerão. O sol abençoará os filhos do céu. A colheita de trigo e fé propiciará a união entre os seres de boa vontade. Assim seja!    
                                                             Graça Rios



METAMORFOSE

Ivani Cunha


SONHO DE NATAL

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Imagem: velhosabio.com.br


SONHO DE NATAL
Toda esperança guarda um segredo.
“Estamos próximos do Natal: teremos luzes, festas, árvores luminosas e presépio. Tudo falso: o mundo continua fazendo guerras. O mundo não entendeu o caminho da Paz!”
(Papa Francisco)

    As cores eram tão vívidas que a cena parecia real; por outro lado, o absurdo da imagem fazia crer que aquilo não passava de um sonho.
    Passava eu em frente a uma loja de artigos religiosos. As vitrines estavam decoradas com motivos natalinos. Estranhamente, vi vários produtos colocados à venda.
    Aproximei-me de um funcionário e quis saber o sentido de uma decoração específica: um casal e vários animais em torno de um bebê acomodado numa manjedoura. Tudo levava a crer que o local onde estavam era um curral, um estábulo. Estranhamente, associei aquela imagem com a representação de um Natal, tal como eu conhecia.
    - Por acaso você é um extraterrestre? – quis saber o vendedor, mais irritado que curioso. – Isto que está vendo é um presépio e representa o nascimento de Nosso Senhor em condições de extrema pobreza.
    - Como existem vários modelos de presépio, queria saber o preço, já que estão à venda – falei, quase me desculpando.
    - O preço está a partir de R$1 850,00. Em oferta, temos este aqui – disse, apontando um deles – que custa R$6 256.40, mas tem desconto de 30%.
    Ao ouvir aquilo, senti que havia algo muito errado, a começar pela representação do Natal, que não era bem aquela ali exposta. Depois, havia aquele preço astronômico para algo que não poderia estar à venda.
    Corri em busca de uma Cápsula do Tempo. Por sorte, havia uma disponível num jardim que ladeava uma igreja, um local bem próximo da loja. Entrei na cabine e digitei a data de mais de dois mil anos atrás, mais o nome da cidade: Belém, localizada na Judeia, na Antiga Palestina.
    Eu sabia quem deveria procurar. Por isso, consciente que estava agindo contra o tempo, vasculhei as estalagens da cidade, quase todas apinhadas de hóspedes, por causa de um censo demográfico ordenado pelo rei Herodes. Não encontrei o casal que procurava.
    Dando um tempo à procura e querendo me esconder do sol causticante, acerquei-me de um curral e que dispunha de coberta. Surpreso, vi que ali estavam o homem e a mulher que eu queria encontrar. Estavam sentados em um monte de feno, aparentando ar de cansaço.
    - Ainda bem que encontrei vocês – fui falando, sem me dar ao trabalho de uma apresentação.
    - O que aconteceu, meu filho? – perguntou o senhor, que identifiquei como sendo José.
    - Aconteceu que estou vindo do tempo futuro e lá eles desvirtuaram todo o sentido deste momento que vocês estão passando.
    - Querido – agora foi a mulher quem falou. Sua voz era suave, apesar do suor que escorria pelo rosto, devido ao cansaço e ao estado avantajado de sua gravidez. - As estalagens da cidade estão praticamente todas tomadas. Só restam as mais caras e não dispomos de dinheiro suficiente para a hospedagem. Chegamos até a pensar em pernoitar aqui mesmo.
    - De forma alguma – falei, quase atropelando as palavras. – Estou trazendo para vocês um dinheiro para que tenham uma boa acomodação. Se vocês fizerem o que pensam, o sentido da História será todo deturpado.
    Enquanto falava, passei às mãos de José um valor correspondente a R$1.850,00. Depois, ajudei os dois a se levantarem, enquanto colocava em minhas costas os seus pequenos pertences. Caminhamos em direção a uma estalagem de aparência agradável.
    Deixei ali os dois, acomodados em um quarto confortável. Depois, eu me encaminhei em direção à Cápsula do Tempo. De longe, ouvi o choro de uma criança. Imaginei a cena: deitada na cama, Maria, com a criança nos braços, e José, solícito, passando em seu rosto um pano umedecido.
    Quando cheguei em casa, meu filho já estava dormindo, mas minha esposa me recepcionou com um interrogatório: Onde estava até tarde? O que andava fazendo? Por que aquele aspecto de cansaço?
Eu não sabia como responder. Deixei suas perguntas no ar e fui para o quarto. Nem consegui trocar a roupa, tal a minha fadiga.
    Na manhã seguinte, assim que acordei, vi que minha esposa se dera ao trabalho de trocar minha roupa por um pijama.
    Depois de tomar um reconfortante banho, arrumei-me para sair.
    Meu filho estava brincando lá na marcenaria. Chamei-lhe a atenção para ter cuidado e não se machucar.
    - Pode ficar tranquilo, papai, só vou usar uns toquinhos de madeira para fazer uma casinha – falou ele.
    Minha esposa deixou sua recomendação:
    - José, não se esqueça de trazer os produtos daquela lista que está no seu bolso da calça.
    - Está bem, Maria, não vou me esquecer.
    Chegando ao centro da cidade, não resisti à curiosidade de passar na loja que, aparentemente, havia chamado minha atenção no dia anterior.
    Foi com surpresa que não vi nas vitrines nenhum daqueles presépios. Quando quis saber do vendedor, aquele mesmo que fora ríspido, ele comentou, em tom de brincadeira:
    - Você é um extraterrestre? Não existe presépio. O que damos para as pessoas é esta moldura, relembrando o nascimento do Nosso Senhor. E ela é doada gratuitamente, porque não há preço que possa pagar a esperança que representa.
    Pegando a moldura nas mãos, vi aquela cena que estava viva em minha memória: no mesmo quarto daquela hospedaria, Maria, com o filhinho nos braços, enquanto um solícito José cuidava de passar um pano úmido em seu rosto.
Etelvaldo Vieira de Melo

    

CONSERTO DAS HORAS

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Imagem: estilo.uol.com.br

As luzes acesas
e a noite calada
Os rostos colados
e a valsa de Strauss

Onde os olhos pausados
pousados na orquestra

Satúrnio devora
seus filhos
Kronos o assiste
em concerto

Espero
parti

Cansado vieste
ao encontro das trompas

No more evermore
Dois solos
caminhos
Há mais
Graça Rios



AGROPECUÁRIA

Vida boa tem o bezerro.
Ivani Cunha

FÁBULA NEBULOSA: UM CACHORRO, A MULHER, UM HOMEM


FÁBULA NEBULOSA 2: UM CACHORRO, A MULHER, UM HOMEM

(Do Livro “Totó, Teteo e os Outros")

    Havia uma mulher que tinha um homem e um cachorro. No princípio, ela se dava bem com os dois, mas, aos poucos, seu afeto foi ficando cada vez mais com o cachorro.
    Pequenos gestos demonstravam isso: o bife especial com a ração especial, a água filtrada e gelada no bebedouro, o ventilador junto à casinha nos dias em que o calor era mais intenso, os ossinhos e brinquedos trazidos da cidade.
    O homem percebia o que estava acontecendo, que estava sendo jogado pra escanteio. Procurou analisar o comportamento do animal, para que pudesse imitá-lo. Quem sabe assim trazia de volta o amor da mulher! Anotou: 1 - quando quer chamar a atenção, ele quase não late – mais resmunga; 2 - tem o olhar intenso e direto; 3 - abana freneticamente o rabo, quando a dona está perto.
O homem foi colocar em prática o que havia estudado. A primeira lição foi a de resmungar para chamar a atenção da mulher. Ao ouvir aquilo, ela foi logo falando:
    - O que aconteceu, por acaso está com dor de barriga?
    O olhar intenso (que libera oxitocina, o chamado “hormônio do amor” – pesquisou na Internet) foi a segunda lição. A mulher reagiu assim:
    - Que aconteceu agora? De onde tirou esse olhar de lerdeza?
    Abanar freneticamente o rabo ele não deu conta, mas cuidou de ficar ao lado do cão, balançando a bunda de lá para cá, de cá para lá, assim que a mulher se aproximava. Ela, no entanto, o ignorava, só tendo olhos para o cãozinho do coração.
    Como último recurso, notou que o cachorro corria ao encontro da dona (cuidadora, melhor dizendo), assim que ela chegava da rua. Foi fazer o mesmo, mas acabou tropeçando no tapete, caindo em cima da mulher e a jogando no chão.
    A mulher, exasperada, talvez aproveitando o pretexto, dirigiu-lhe estas palavras cruéis e fatais:
    - A partir de agora, trate de sumir desta casa. Não quero ver você nunca mais.
    Assim, assim mesmo, o homem foi sua mala arrumar, para, logo depois, partir e nunca mais voltar.
Moral
Anote aí: quem nasceu pra ser homem nunca chega a ser cachorro.
Etelvaldo Vieira de Melo

ESSAS COISAS


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Imagem: super.abril.com.br

Vem comigo, amor
viver na hora
a genital palavra
por onde perpassam tempo
e mortos.
Vem a mim, e ardamos
e calemos
o ambíguo desamparo.
Tua boca exasperada
encontrará meu beijo
calidamente molhado.
Então, um só
escreveremos juntos
tudo aquilo que sonhamos
olvidar.

Graça Rios

ERA UMA BRASA, MORA?

O "Rei" adora fazer amigos, mas isso também tem limites...
Ivani Cunha

TOTÓ, TETEO E OS OUTROS

TOTÓ, TETEO E OS OUTROS
Histórias de relacionamentos nem sempre amistosos
  com cães  e outros bichos

Prepare-se para viver momentos de riso, choro e encantamento!



“Anote aí: quem nasceu pra ser homem nunca chega a ser cachorro.”
Quando me viu, ele abanou o rabo, sorrindo. /Constrangido, passei na sua cabeça a mão / como a demonstrar arrependimento. / Ao que ele respondeu, latindo: / Amar é jamais ter que pedir perdão.”
Agora, para você que duvida disso, que julga ser eu uma pessoa exagerada, que tem parafusos a menos no cérebro por dar tanto valor à espécie canina, faço uma simples pergunta: Quando você se dignou ter uma conversa tão afetuosa assim comigo?”

Já à venda na Amazon por R$7,74

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“História do cotidiano de humor, fantasia e amor do filósofo Etelvaldo que nos levam à reflexão” (Felipe Fonseca Oliveira Rodrigues).
“Divertido, dinâmico. Li com meu neto Caio e nos divertimos muito. Foi uma noite muito agradável” (Neuza Maria de Lima).
“Adorei a experiência da leitura” (Felipe Fonseca Oliveira Rodrigues).
“Nós gostamos muito mesmo!” (Neuza Maria de Lima).

O autor:
Etelvaldo V Melo é natural de Santo Antônio do Amparo, cidade da mesorregião do Oeste de Minas Gerais.  Ainda adolescente, mudou-se para Belo Horizonte, onde se formou em Filosofia. Por muitos anos, dedicou-se ao magistério. Atualmente, destina parte de seu tempo a experimentos literários, resgatando um prazer que ficara descuidado. O bom humor, marca da maioria dos textos, é a maneira que encontra para entender e lidar com a vida.





O ENSAIO

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Imagem: bhdicas.com

- Professor, o que anda fazendo?
- Um ensaio para a morte.
- Mesmo? Qual o tema?
- A doença do pâncreas.
- Título?
- A última Viagem.
- Ah, filosofia! Baseia-se em algum livro?
- Sou eu próprio o autor na próxima encadernação.
- O texto então é biográfico?
- Lógico. Estou partindo para o outro mundo.
- Que mundo?
- O das ideias, onde as letras são C-É-U ou I-N-F-E-R-N-O.
- O artigo tem bons argumentos?
- O sofrimento justifica a prosa.
- Influências estrangeiras?
- Os alemães bebem demais. Cirrose.
- E o estilo?
- Geométrico. Estou na reta final.
- Pontuação...
- Muitas interrogações.
- Espera ser best seller com a superprodução?
- Venderão meus órgãos por muito dinheiro.
- E o final do trabalho?
- Teológico. Encontro com Deus ou o diabo.
- Seja feliz na grande iniciativa.
- Serei, num caixão com flores roxas.
- Até breve, no lançamento.
- Com certeza. Vamos juntos.
Graça Rios


BLACK FRAUDE?





CERTAS PALAVRAS

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Imagem: lilyneves.blogspot.com
Certas palavras são amargas
Muitas são amenas
Há as que são amigas
Enquanto outras são serenas.

Palavras que fazem feridas
Palavras que explodem alegrias
Palavras que aparecem fingidas
Palavras que espalham poesias.

Palavras que gritam, que falam e que calam
Palavras que pisam e cortam e mordem
Palavras que batem, machucam, matam.

Palavras soltas ao vento
Semeando tristeza em vez de alento
Palavras que ferem feito faca afiada
Assim, a troco de nada ou quase nada.

O mundo adoece, pessoas padecem
Palavras boas se calam.
Enquanto verdades emudecem
As mentiras se espalham.

É por isso que, entre tantas mal ditas
Sempre falam com emoção
Aquelas que são bem ditas
E calam no coração.


Etelvaldo Vieira de Melo

MORANGOTANGO

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Graça Rios



AS APARÊNCIAS ENGANAM

Antes de se olhar no espelho e ter um choque, procure um cirurgião.
Ivani Cunha

POR QUE O SENHOR JOÃO "FICOU ENCANTADO"?



Lembrando 19/11/1967, quando João “ficou encantado”.

A gente tem que ter tenência com o proseado do João, mastigando as falas bem devagarinho, de forma que não acaba que nem aquele que come peixe e fica com o espinho entalado na goela.
        


Numa papelada de tamanho frouxo sobre Guimarães Rosa, o professor – que era suspeitosamente também um escritor – foi costurando o texto, colocando uma palavra atrás da outra, como cambão e cangas de carro de bois, tudo numa certa ordem e seguimento, com as pontuações convenientes e acertadas, de modo a que o leitor, desacostumado dos acontecimentos que sucederam realmente ou deixaram de ser, fosse empurrado para a desduvidosa conclusão de que Guimarães havia sido derrubado por um enfarte, três dias depois de sua posse na tal da Academia Brasileira de Letras, tudo por conta de um esgotamento nervoso e que as pessoas de saber mais comprido chamam de estresse, o qual vinha se arrastando, rastejando como uma cobra surucucu, por quatro anos. Se você pega quatro anos e reparte em pedaços de dias, horas, minutos e segundos, vai ver que é tempo pra danar, inda mais com o coitado sendo exprimido pelo tal do estresse. Vai daí que aquela sofridão, que começa lá pelos pés, vai subindo, subindo, até chegar no coração. Aí, ela, a tal de sofridão, dá um aperto de acabar, como uma laçada de derrubar boi. Pois, veja você se estou explicando direitinho o acontecimento, tudo nas conformidades do que escreveu o professor, pois, se tem uma coisa que me deixa injuriado é ser chamado de mentiroso e falastrão. Ora, vai que alguém lhe promete um presente, um agrado, uma bezerrinha que seja. Promete, mas fica enrolando, empurrando com a barriga, deixando pra depois. A bezerra cresce, vira vaca, fica prenhe um tanto de vez; quando vai olhar, já não tem mais serventia. Foi o que acho que andaram fazendo com esse tal de Guimarães Rosa. Falaram assim e assado: o senhor ganhou o prêmio, está eleito pra Academia, mas espera um pouco até a gente preparar a festança; enquanto isso, vai o senhor se ajeitando, manda fazer o uniforme, que nas nossas reuniões a gente vem de farda, já que tudo é muito solene como numa missa de bispo numa igreja. O Guimarães mandou o alfaiate tirar as medidas e costurar esse tal de fardão, que fico imaginando ser do tipo desses uniformes de milicos. A farda ficou pronta e acabada, mas neca de quetibiriba da tal posse acontecer. Foi por aí que o João pensou: “viver é um rasgar-se e remendar-se”. Ele ficou com cara de tacho, de vez em quando experimentando a vestimenta, olhando prum espelho do guarda-roupa do seu quarto de dormir, “ampliando o ilusório, mediante nova capa de ilusão”. O espelho. Naquele experimento, foi tomando gosto, se achando bem aprumado naquele terno. Na maioria do tempo, no entretanto, o fardão ficava mesmo disposto num cabide do guarda-roupa, com um tanto de naftalina, usada de jeito a espantar as traças. Enquanto isso, a sofreguidão, o desconforto e o destempero iam subindo, subindo. E o João pensava: “afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo. Já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte”. Até que chegou o dia da dita posse, depois de tanto tempo. Na hora do festório, lá estava o Joãozito todo orgulhoso e com seu fardão engomado. No entretanto, ele estava, como não podia deixar de ser, cheio de emoção, chegando a falar uma coisa que, na hora, pareceu meio sem pés nem cabeça: “a gente morre pra provar que esteve vivo”. E foi, então, três dias em seguida, que aquela angústia represada estourou, e o coração de João parou, ele morreu, passou desta, “ficou encantado” – segundo alguém me disse que era seu jeito de falar. Onde tô querendo chegar? Agora, na hora da onça beber água, eu quero dizer que acho um absurdo sem tamanho o que aqueles velhinhos da Academia aprontaram com o João. Eles sabem de saber e de sentir na própria carne que não dá pra brincar, fazer hora, engabelar uma pessoa de mais idade. Lá pras minhas bandas, que fica pra lá das veredas do sertão, todo mundo sabe que tem quatro coisa que “mata véio”: emoção, tropicão, pneumonia e caganeira. Se por lá, onde a ignorância campeia feito o burrinho Sete-de-Ouros ou a mulinha Beija-Fulô soltos no pasto, isso é mais que sabido, imagino que mais deveriam saber os doutores cheios de letras, que nem parece que sabem usar de “fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana”. Se eu fosse parente desse senhor, ia até um cartório de justiça e registrava uma baita queixa. Porque está claro como a luz de um meio-dia de sol esturricando que o senhor João “ficou encantado” porque um bando de velhos não deixou ele usar de modo conveniente e demorado o uniforme que havia preparado com tanto carinho. Agora, pensando de outro jeito, remexendo meu pensamento, buscando outra ideia, acho também que pode ser que o acontecido não assucedeu da maneira que eu falei. Vai que o professor, por implicância, por birra com os outros escritores, tenha usado de “informação torta”, tenha escrito aquela papelada de tamanho frouxo pra me colocar contra essa tal de Academia. Como ele sabe que sou um camarada que não leva desaforo pra casa, que sou de dar uma boiada pra entrar numa briga, como ele sabe ou pensa que sabe que não sou de medir a compridão das palavras, pode ser que ele esteja me fazendo de boi de piranha, enquanto ri folgado, tomando sua bebidinha à base de limão e pitando seu cigarrinho de paia. Sei não, esse Guimarães Rosa anda remexendo com meus miolos. Já nem sei pra onde apontar minha cartucheira de cano serrado. Vai que, por desatenção, eu acabo dando um tiro no dedão do meu pé. Depois, eu tô vendo que estou igualim ao que ele mesmo disse: “eu quase não sei de nada, mas desconfio de muita coisa”. Melhor mesmo é deixar todo este dito por não dito. Ou não? O João mesmo dizia: “tudo é real, porque tudo é inventado”.
Etelvaldo Vieira de Melo