Ivani Cunha |
FOI BOM, MUITO BOM!!
Depois de algumas doses, os pensamentos ficam tão profundos quanto o pratinho de tira-gostos.
ANO NOVO, MORADA DE SONHOS E FANTASIAS, DE DESEJOS E ESPERANÇAS
Imagem: mensagens-iluminadas.blogspot.com |
Chegou dezembro e, com ele, a retrospectiva do que ansiei e desejei para
o ano que está prestes a terminar.
Surgem também novas expectativas para o ano que se inicia. Paro, penso, e
analiso: espero que apenas seja melhor que o ano que está prestes a terminar.
É isso que acontece sempre, esse renovar-se de esperança. No entanto, com
o tempo, passamos a perceber que somos eternamente insatisfeitos e querendo
sempre algo mais, diante de sonhos muitas vezes desfeitos. Mas o que seria de
nós, pobres mortais, se perdêssemos a capacidade de querer sempre um mundo
melhor, não apenas para nós, mas sim para todo o nosso planeta?
Chego á conclusão que quero um mundo melhor para todos; que possamos nos
amar mais e ser capazes de demonstrar mais amor ao próximo.
(Antônio Silva – Cabeleireiro,
antoniosilva5182@gmail.com)
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Todos
os anos acontece a mesma coisa. No dia 31 de dezembro, seja por tradição,
consideração ou amor mesmo, as pessoas desejam umas às outras um Feliz Ano
Novo. Muitos se afundam na bebida e tentam desesperadamente se iludir, achando
que no primeiro dia do ano, como em um passe de mágica, tudo se
transformará, as dívidas e os problemas desaparecerão, os conflitos serão
resolvidos e o caos dará lugar a harmonia e a paz. Ledo engano: o que nós
precisaremos no ano que se iniciará em breve será uma mudança de atitude em
relação a nós mesmos e a todos que nos cercam, principalmente em relação à
família - que é o nosso porto seguro. Deveremos deixar de lado o egoísmo, a
soberba, a indiferença, tentando realizar os nossos sonhos e ideais, partindo
para ações concretas, como a realização daquela viagem que nunca saiu do papel,
fugindo do comodismo e nos voltando para atitudes de fato relacionadas à
melhora da nossa saúde física e mental, quem sabe até mesmo com a troca daquele
emprego que nos sufoca há anos. Deveremos também ser mais tolerantes e
respeitar as diferenças. Não espere, com isso, que a sua vida será uma bênção,
pois vivemos em sociedade, e o ser humano é complexo, mas você terá dado um
passo importante para superar obstáculos, crescer, e ser mais realizado. FELIZ
2018.
(Geraldo M. Santos Uzac – Uzac & Borges – Advogados –
geraldomsuzac@yahoo.com.br)
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Ponderando sobre o final do ano de 2017, espero
2018 sem expectativas. Que o ano que se inicia nos surpreenda. Muitas das
mazelas que as pessoas sofrem são as expectativas frustradas. Então, não espero
nada de extraordinário de 2018. Quem sabe, terminarei o ano mais feliz? Se as
pessoas criarem menos expectativas, vivendo plenamente sua realidade, claro que
batalhando todos os dias e buscando sempre o melhor, acredito que terão mais a
comemorar. Boas festas!!!
(Júlia Mara da Costa Melo – Médica
Cirurgiã Plástica)
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Começa
o ano de 2018. Conforme Manuel Bandeira, os cavalões correndo e os cavalinhos
não comendo. Reforma trabalhista, reforma previdenciária, a onda aonde vai? A
sereníssima república dos políticos continuará a ter em Gilpoça um Papai Noel
presente? Certamente. Lulá lá na cadeia ficará uns dois dias? Utopia.
O
ano velho se foi, o ex-ano velho também. A cada etapa, todo mundo acredita em
novidades futuras. Desde Cabral, permanece a crença de que o navegante a se
aproximar é deus argênteo e promissor. Entretanto, o ídolo branco dizima os
indígenas e carrega as riquezas nacionais. D. Pedro II, amantíssimo imperador,
não deixou por menos. Antes de partir, retirou dos cofres do Banco do Brasil,
que ele próprio criara, o ouro e o ferrolho. Deodoro, à morte, em cima de um
cavalo, não conseguiu tornar pública a abolição da escravatura econômico-social
em que vivia o pobre habitante pobre da Pátria. O restante são anos se
renovando e a situação de penúria mais e mais se agravando. Corrupção, crime,
droga, sexo desnaturado, assim caminha a humanidade daqui...
No
dia primeiro de janeiro, comilança, foguete e artifício. No dia dois, a luta e
a rotina do trabalho. Os servidores esperam o aumento miserável que o governo
não quer dar. Os desempregados entram na fila do INSS, sabendo que há carência
de remédios. Os alunos se matriculam na Universidade prestes a ser privatizada.
No entanto, nutrem grandes esperanças. Os fatos hão de mudar. Em breve, uma
revolução deterá os poderosos usurpadores do nosso suor. Os criminosos estarão
nas celas. O povo brasileiro respira, desde já, o ar puro dos muros da nova era
que a hera daninha não destruirá. Navegar é preciso, viver não é preciso.
(Graça Rios – wwwbbcr.blogspot.com)
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Mais um ano que
caminha para o seu desfecho e, se Deus quiser, outro que virá substituí-lo.
Deixemos as nossas frustrações do velho, principalmente a crise que tentam
incutir em nossas mentes, se esvaírem, e vamos procurar pensar positivo as
nossas expectativas para o ano vindouro, acreditando nas possibilidades de uma
família mais unida e um povo menos sofrido. Digamos “não” àqueles que querem
nos manipular através da persuasão da mídia e dos interesses de grupos
inescrupulosos que conduzem a nossa política. Façamos do nosso voto uma
verdadeira transformação em 2018 e sonhemos com um futuro melhor! Feliz Ano Novo!
(Marcos Geraldo Soares – Professor, mgeraldosoares@yahoo.com.br)
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2017 tá
indo pro brejo. 2018 vem vindo, bêbado,
despirocado, despreparado, desesperado. Devo me mudar pra Pasárgada? Mas é
nesse país trôpego que vivo. Que nós vivemos. Não dá pra cancelar o amanhã ou
botar uma plaquinha “fechado para reforma”. Mesmo porque, não há planos para
reforma, pelo menos em curto prazo. Baita problema.
Todo
mundo sabe, nós nos perdemos, mas como disse Clarice Lispector, perder-se
também é caminho. Mesmo nesse emaranhado, urge encontrar uma direção. Sabemos o
que não queremos. Já é um começo. Abrimos as gavetas. Tem lixo de montão. Alhos
e bugalhos. Tudo junto e misturado. O país tá no CTI. Não sabemos o que fazer.
Mas precisamos fazer. Que periga jogarmos fora o bebê junto com a água do
banho. É o que temos feito até agora. Vamos matando o doente que precisa de
cuidados.
O novo
ano chega com um tsunami de ódio, disfarçado com várias denominações: racismo,
pedofilia, justiça social, ética, moral. Não importa. E isso tudo vem
embrulhado em papel celofane, luzes natalinas, Papai Noel. E, anestesiados pelo
jingle Bell, evitamos nos implicar na busca de uma direção.
A coisa
é meio assim: não tenho nada com isso. O mundo tá lá fora. Certo? Mentira.
Estamos enterrados na porcaria do ano que finda e no ano que se aproxima. Ele
não vai cair do céu por descuido de São Pedro enquanto gozamos o sono dos
justos. Somos parte desse lixo. Esse mundo, esse país é a nossa casa.
E dito
isso, ouso acrescentar que não vejo luz no fim do túnel. Mas também sei que não
adianta me esconder debaixo da cama. Lá vem 2018 em rota de colisão.
Pode
vir. Estaremos aqui. E, Deus queira, dispostos a limpar os escombros, tratar os
feridos e construir novos rumos. Somos brasileiros. Se o amarelo é desespero, o
verde é esperança.
(Maria Solange Amado Ladeira - www.versiprosear.blogspot.com.br)
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Perspectiva e
Esperança: duas palavras que se entrelaçam na busca de um amanhã mais
sorridente, menos estressante e deveras prodigioso, já que o vivido até agora
só retratou o inverso. O que se vê são políticos sob o jogo do poder,
criminalidade, desamor e uma educação deteriorada, em face dos professores mal
remunerados ou incompetentes, devido à sua má formação. O ideal é que se supere
tudo isso, extirpando esses cânceres que tentam nos atingir. E é simples: basta
que se promovam ações positivas, em prol de uma política justa, elegendo-se
cidadãos conscientes, que realmente se preocupem com o bem estar do seu país, a
educação bem valorizada. Assim, o índice de pobreza será também corrigido. É
isso que tenho em mente e que, espero, seja 2018. QUE DEUS NOS ABENÇOE. FELIZ
ANO NOVO!
(Regina Ângela Rios Fonseca –
Professora)
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Nas alturas dos meus 72 anos,
considero-me um septuagenário cheio de
vitalidade, com muitos sonhos e projetos ainda a realizar.
vitalidade, com muitos sonhos e projetos ainda a realizar.
Indo
devagar, para que o andor não caia, registro minhas expectativas para 2018.
No
plano pessoal, além de viver um novo ano em pleno gozo de saúde, quero retornar
às minhas origens, mudando-me de Uberaba para a região metropolitana de
BH. Assim, poderei estar mais próximo de familiares e de velhos amigos.
Como
animal político, peço aos Deuses que nos inspirem para que possamos escolher -
se for possível... - iluminados representantes para os altos comandos do
nosso País, a fim de resgatarmos valores éticos, morais e culturais
perdidos na história de nossa Pátria.
Por
fim, para não fugir ao meu propósito de ir "por partes", o que
pode me estripar de vez, externo minha expectativa para que o trio
blogueiro - cronista Etelvaldo, poeta Graça e cartunista Ivani - possa
continuar me brindando com o seu trabalho de elevado nível cultural e que me
traz momentos hilários, sobretudo com o humor saudável que permeia as crônicas
postadas. Olhe, que a simbiose está dando certo!!!
Vamos
em frente, porque o meu caminho eu faço caminhando! Muita Luz e Paz no coração
de todos.
(Vicente Melo – vicentemelo@mednet.com.br)
FIM
NATAL: ADVENTO DA PAZ
Imagem: juazeiro.ce.gov.br |
Há
quem diga que o fim do mundo está próximo. Alguns fanáticos esperam reunidos
por um disco voador (e se suicidam por não vê-lo). Outros afirmam com muita
ciência que o Messias repousa nas nuvens, prestes a descer para levar os fiéis.
Muitos maldizem o estado do planeta, que em breve será destruído pela bomba
nuclear, fome e peste.
O
tetravô de cento e dez anos presenciou catástrofes terríveis. A primeira
guerra, a segunda, a Inquisição e suas fogueiras, os tsunâmis, os cadafalsos,
os juízes da Inconfidência, a Revolução Industrial. Julgou a cada acontecimento
que os anjos realmente se indignaram e logo decretariam ponto final a qualquer forma
de existência. No entanto, viu multiplicado em todo Natal o número de
habitantes da terra. Considerou a chegada do Menino como uma eclosão de
felicidade nos lares universais. Observou que os meios tecnológicos e
midiáticos fizeram dos continentes uma aldeia global. Longe da propagação das
doenças, o avanço da medicina lhe pareceu sobremaneira ampliar a vida das
diferentes espécies. As crianças adquiriam paripasso o conhecimento precoce das
funções do corpo, da matéria, das artes. As viagens interestelares prenunciaram
para ele a ascensão ao infinito.
Então,
nesse próximo dia vinte e cinco de dezembro, saudemos a renovação do sagrado.
Acreditemos que o futuro se abre para experiências ímpares do próprio eu. Há de
reinar sobre todos a influência divina, decorrente do fluxo natal mais
inteligente e sensível que nunca. Discordemos dos pessimistas alienados que
preveem sofrimento e ódio para o homo sapiens.
Enfim,
neste país a justiça triunfará sobre o crime e a iniquidade política e social.
Aleluia, pois o desemprego e a miséria fenecerão. O sol abençoará os filhos do
céu. A colheita de trigo e fé propiciará a união entre os seres de boa vontade.
Assim seja!
Graça Rios
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SONHO DE NATAL
Imagem: velhosabio.com.br |
SONHO DE NATAL
Toda esperança guarda um
segredo.
“Estamos
próximos do Natal: teremos luzes, festas, árvores luminosas e presépio. Tudo
falso: o mundo continua fazendo guerras. O mundo não entendeu o caminho da
Paz!”
(Papa
Francisco)
As cores eram tão vívidas
que a cena parecia real; por outro lado, o absurdo da imagem fazia crer que
aquilo não passava de um sonho.
Passava
eu em frente a uma loja de artigos religiosos. As vitrines estavam decoradas
com motivos natalinos. Estranhamente, vi vários produtos colocados à venda.
Aproximei-me
de um funcionário e quis saber o sentido de uma decoração específica: um casal
e vários animais em torno de um bebê acomodado numa manjedoura. Tudo levava a
crer que o local onde estavam era um curral, um estábulo. Estranhamente,
associei aquela imagem com a representação de um Natal, tal como eu conhecia.
-
Por acaso você é um extraterrestre? – quis saber o vendedor, mais irritado que
curioso. – Isto que está vendo é um presépio e representa o nascimento de Nosso
Senhor em condições de extrema pobreza.
-
Como existem vários modelos de presépio, queria saber o preço, já que estão à
venda – falei, quase me desculpando.
- O
preço está a partir de R$1 850,00. Em oferta, temos este aqui – disse,
apontando um deles – que custa R$6 256.40, mas tem desconto de 30%.
Ao
ouvir aquilo, senti que havia algo muito errado, a começar pela representação
do Natal, que não era bem aquela ali exposta. Depois, havia aquele preço
astronômico para algo que não poderia estar à venda.
Corri
em busca de uma Cápsula do Tempo. Por sorte, havia uma disponível num jardim
que ladeava uma igreja, um local bem próximo da loja. Entrei na cabine e
digitei a data de mais de dois mil anos atrás, mais o nome da cidade: Belém,
localizada na Judeia, na Antiga Palestina.
Eu
sabia quem deveria procurar. Por isso, consciente que estava agindo contra o
tempo, vasculhei as estalagens da cidade, quase todas apinhadas de hóspedes,
por causa de um censo demográfico ordenado pelo rei Herodes. Não encontrei o
casal que procurava.
Dando
um tempo à procura e querendo me esconder do sol causticante, acerquei-me de um
curral e que dispunha de coberta. Surpreso, vi que ali estavam o homem e a
mulher que eu queria encontrar. Estavam sentados em um monte de feno,
aparentando ar de cansaço.
-
Ainda bem que encontrei vocês – fui falando, sem me dar ao trabalho de uma
apresentação.
- O
que aconteceu, meu filho? – perguntou o senhor, que identifiquei como sendo
José.
-
Aconteceu que estou vindo do tempo futuro e lá eles desvirtuaram todo o sentido
deste momento que vocês estão passando.
-
Querido – agora foi a mulher quem falou. Sua voz era suave, apesar do suor que
escorria pelo rosto, devido ao cansaço e ao estado avantajado de sua gravidez.
- As estalagens da cidade estão praticamente todas tomadas. Só restam as mais
caras e não dispomos de dinheiro suficiente para a hospedagem. Chegamos até a
pensar em pernoitar aqui mesmo.
- De
forma alguma – falei, quase atropelando as palavras. – Estou trazendo para
vocês um dinheiro para que tenham uma boa acomodação. Se vocês fizerem o que
pensam, o sentido da História será todo deturpado.
Enquanto
falava, passei às mãos de José um valor correspondente a R$1.850,00. Depois,
ajudei os dois a se levantarem, enquanto colocava em minhas costas os seus
pequenos pertences. Caminhamos em direção a uma estalagem de aparência
agradável.
Deixei
ali os dois, acomodados em um quarto confortável. Depois, eu me encaminhei em
direção à Cápsula do Tempo. De longe, ouvi o choro de uma criança. Imaginei a
cena: deitada na cama, Maria, com a criança nos braços, e José, solícito,
passando em seu rosto um pano umedecido.
Quando
cheguei em casa, meu filho já estava dormindo, mas minha esposa me recepcionou
com um interrogatório: Onde estava até tarde? O que andava fazendo? Por que
aquele aspecto de cansaço?
Eu não sabia como responder. Deixei suas
perguntas no ar e fui para o quarto. Nem consegui trocar a roupa, tal a minha
fadiga.
Na
manhã seguinte, assim que acordei, vi que minha esposa se dera ao trabalho de
trocar minha roupa por um pijama.
Depois
de tomar um reconfortante banho, arrumei-me para sair.
Meu
filho estava brincando lá na marcenaria. Chamei-lhe a atenção para ter cuidado
e não se machucar.
-
Pode ficar tranquilo, papai, só vou usar uns toquinhos de madeira para fazer
uma casinha – falou ele.
Minha
esposa deixou sua recomendação:
-
José, não se esqueça de trazer os produtos daquela lista que está no seu bolso
da calça.
-
Está bem, Maria, não vou me esquecer.
Chegando
ao centro da cidade, não resisti à curiosidade de passar na loja que,
aparentemente, havia chamado minha atenção no dia anterior.
Foi
com surpresa que não vi nas vitrines nenhum daqueles presépios. Quando quis
saber do vendedor, aquele mesmo que fora ríspido, ele comentou, em tom de
brincadeira:
-
Você é um extraterrestre? Não existe presépio. O que damos para as pessoas é
esta moldura, relembrando o nascimento do Nosso Senhor. E ela é doada
gratuitamente, porque não há preço que possa pagar a esperança que representa.
Pegando
a moldura nas mãos, vi aquela cena que estava viva em minha memória: no mesmo
quarto daquela hospedaria, Maria, com o filhinho nos braços, enquanto um
solícito José cuidava de passar um pano úmido em seu rosto.
Etelvaldo Vieira de Melo
CONSERTO DAS HORAS
Imagem: estilo.uol.com.br |
As
luzes acesas
e
a noite calada
Os
rostos colados
e
a valsa de Strauss
Onde
os olhos pausados
pousados
na orquestra
Satúrnio
devora
seus
filhos
Kronos
o assiste
em
concerto
Espero
parti
Cansado
vieste
ao
encontro das trompas
No
more evermore
Dois
solos
caminhos
Há
mais
Graça Rios
FÁBULA NEBULOSA: UM CACHORRO, A MULHER, UM HOMEM
FÁBULA
NEBULOSA 2: UM CACHORRO, A MULHER, UM HOMEM
(Do
Livro “Totó, Teteo e os Outros")
Havia
uma mulher que tinha um homem e um cachorro. No princípio, ela se dava bem com
os dois, mas, aos poucos, seu afeto foi ficando cada vez mais com o cachorro.
Pequenos gestos demonstravam isso: o bife
especial com a ração especial, a água filtrada e gelada no bebedouro, o
ventilador junto à casinha nos dias em que o calor era mais intenso, os
ossinhos e brinquedos trazidos da cidade.
O homem percebia o que estava acontecendo,
que estava sendo jogado pra escanteio. Procurou analisar o comportamento do
animal, para que pudesse imitá-lo. Quem sabe assim trazia de volta o amor da
mulher! Anotou: 1 - quando quer chamar a atenção, ele quase não late – mais
resmunga; 2 - tem o olhar intenso e direto; 3 - abana freneticamente o rabo,
quando a dona está perto.
O homem foi
colocar em prática o que havia estudado. A primeira lição foi a de resmungar
para chamar a atenção da mulher. Ao ouvir aquilo, ela foi logo falando:
- O que aconteceu, por acaso está com dor de
barriga?
O olhar intenso (que libera oxitocina, o
chamado “hormônio do amor” – pesquisou na Internet) foi a segunda lição. A
mulher reagiu assim:
- Que aconteceu agora? De onde tirou esse
olhar de lerdeza?
Abanar freneticamente o rabo ele não deu conta,
mas cuidou de ficar ao lado do cão, balançando a bunda de lá para cá, de cá
para lá, assim que a mulher se aproximava. Ela, no entanto, o ignorava, só
tendo olhos para o cãozinho do coração.
Como último recurso, notou que o cachorro
corria ao encontro da dona (cuidadora, melhor dizendo), assim que ela chegava
da rua. Foi fazer o mesmo, mas acabou tropeçando no tapete, caindo em cima da
mulher e a jogando no chão.
A mulher, exasperada, talvez aproveitando o
pretexto, dirigiu-lhe estas palavras cruéis e fatais:
- A partir de agora, trate de sumir desta
casa. Não quero ver você nunca mais.
Assim, assim mesmo, o homem foi sua mala
arrumar, para, logo depois, partir e nunca mais voltar.
Moral
Anote aí: quem nasceu pra
ser homem nunca chega a ser cachorro.
Etelvaldo Vieira de Melo
ESSAS COISAS
Imagem: super.abril.com.br |
Vem comigo, amor
viver
na hora
a
genital palavra
por
onde perpassam tempo
e
mortos.
Vem
a mim, e ardamos
e
calemos
o
ambíguo desamparo.
Tua
boca exasperada
encontrará
meu beijo
calidamente
molhado.
Então,
um só
escreveremos
juntos
tudo
aquilo que sonhamos
olvidar.
Graça Rios
TOTÓ, TETEO E OS OUTROS
TOTÓ, TETEO E OS OUTROS
Histórias de relacionamentos nem sempre amistosos
com cães e outros bichos
Prepare-se
para viver momentos de riso, choro e encantamento!
“Anote aí: quem nasceu
pra ser homem nunca chega a ser cachorro.”
“Quando me
viu, ele abanou o rabo, sorrindo. /Constrangido, passei na sua cabeça a mão /
como a demonstrar arrependimento. / Ao que ele respondeu, latindo: / Amar é jamais ter que pedir perdão.”
“Agora,
para você que duvida disso, que julga ser eu uma pessoa exagerada, que tem
parafusos a menos no cérebro por dar tanto valor à espécie canina, faço uma
simples pergunta: Quando você se dignou ter uma conversa tão afetuosa assim
comigo?”
Já
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Faça assim: *Acesse: www.amazon.com.br
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Totó, Teteo e os outros / *Depois, siga os procedimentos recomendados. / Ou, então, clique
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“História do
cotidiano de humor, fantasia e amor do filósofo Etelvaldo que nos levam à
reflexão” (Felipe Fonseca Oliveira Rodrigues).
“Divertido,
dinâmico. Li com meu neto Caio e nos divertimos muito. Foi uma noite muito
agradável” (Neuza Maria de Lima).
“Adorei a
experiência da leitura” (Felipe Fonseca Oliveira Rodrigues).
“Nós gostamos muito
mesmo!” (Neuza Maria de Lima).
O autor:
Etelvaldo V Melo
é natural de Santo Antônio do Amparo, cidade da mesorregião do Oeste de Minas
Gerais. Ainda adolescente, mudou-se para
Belo Horizonte, onde se formou em Filosofia. Por muitos anos, dedicou-se ao
magistério. Atualmente, destina parte de seu tempo a experimentos literários,
resgatando um prazer que ficara descuidado. O bom humor, marca da maioria dos
textos, é a maneira que encontra para entender e lidar com a vida.
O ENSAIO
Imagem: bhdicas.com |
- Professor, o
que anda fazendo?
- Um ensaio para
a morte.
- Mesmo? Qual o
tema?
- A doença do
pâncreas.
- Título?
- A última
Viagem.
- Ah, filosofia! Baseia-se
em algum livro?
- Sou eu próprio
o autor na próxima encadernação.
- O texto então é
biográfico?
- Lógico. Estou
partindo para o outro mundo.
- Que mundo?
- O das ideias, onde
as letras são C-É-U ou I-N-F-E-R-N-O.
- O artigo tem
bons argumentos?
- O sofrimento
justifica a prosa.
- Influências
estrangeiras?
- Os alemães
bebem demais. Cirrose.
- E o estilo?
- Geométrico.
Estou na reta final.
- Pontuação...
- Muitas
interrogações.
- Espera ser best
seller com a superprodução?
- Venderão meus
órgãos por muito dinheiro.
- E o final do
trabalho?
- Teológico. Encontro
com Deus ou o diabo.
- Seja feliz na grande
iniciativa.
- Serei, num
caixão com flores roxas.
- Até breve, no
lançamento.
- Com certeza. Vamos juntos.
Graça
Rios
CERTAS PALAVRAS
Imagem: lilyneves.blogspot.com |
Certas
palavras são amargas
Muitas
são amenas
Há
as que são amigas
Enquanto
outras são serenas.
Palavras
que fazem feridas
Palavras
que explodem alegrias
Palavras
que aparecem fingidas
Palavras
que espalham poesias.
Palavras
que gritam, que falam e que calam
Palavras
que pisam e cortam e mordem
Palavras
que batem, machucam, matam.
Palavras
soltas ao vento
Semeando
tristeza em vez de alento
Palavras
que ferem feito faca afiada
Assim,
a troco de nada ou quase nada.
O
mundo adoece, pessoas padecem
Palavras
boas se calam.
Enquanto
verdades emudecem
As
mentiras se espalham.
É
por isso que, entre tantas mal ditas
Sempre
falam com emoção
Aquelas
que são bem ditas
E
calam no coração.
Etelvaldo Vieira de Melo
MORANGOTANGO
MorangotangoBlueboletaBlacktEripretozoarinascendodesincendocrescendexcrescendofedendifullgindofodendywoltandofolcandandycalancalangandicalandrexcalandocorrendodirediscordendiubebendonuembebendofalandoanusfala(n)dobrandopirandodesentupirandmijandoredemujandlimpandabundlimpanocujantepirocanddespipicandandondedandosafademisandandlambenparindeparandfodartmommomortimodendmotomomemntomontomatomo
moo o o o
Graça Rios
POR QUE O SENHOR JOÃO "FICOU ENCANTADO"?
Lembrando 19/11/1967, quando João “ficou
encantado”.
A gente tem que ter tenência com o
proseado do João, mastigando as falas bem devagarinho, de forma que não acaba
que nem aquele que come peixe e fica com o espinho entalado na goela.
Numa
papelada de tamanho frouxo sobre Guimarães Rosa, o professor – que era
suspeitosamente também um escritor – foi costurando o texto, colocando uma
palavra atrás da outra, como cambão e cangas de carro de bois, tudo numa certa
ordem e seguimento, com as pontuações convenientes e acertadas, de modo a que o
leitor, desacostumado dos acontecimentos que sucederam realmente ou deixaram de
ser, fosse empurrado para a desduvidosa conclusão de que Guimarães havia sido
derrubado por um enfarte, três dias depois de sua posse na tal da Academia
Brasileira de Letras, tudo por conta de um esgotamento nervoso e que as pessoas
de saber mais comprido chamam de estresse, o qual vinha se arrastando,
rastejando como uma cobra surucucu, por quatro anos. Se você pega quatro anos e
reparte em pedaços de dias, horas, minutos e segundos, vai ver que é tempo pra
danar, inda mais com o coitado sendo exprimido pelo tal do estresse. Vai daí
que aquela sofridão, que começa lá pelos pés, vai subindo, subindo, até chegar
no coração. Aí, ela, a tal de sofridão, dá um aperto de acabar, como uma laçada
de derrubar boi. Pois, veja você se estou explicando direitinho o
acontecimento, tudo nas conformidades do que escreveu o professor, pois, se tem
uma coisa que me deixa injuriado é ser chamado de mentiroso e falastrão. Ora,
vai que alguém lhe promete um presente, um agrado, uma bezerrinha que seja.
Promete, mas fica enrolando, empurrando com a barriga, deixando pra depois. A
bezerra cresce, vira vaca, fica prenhe um tanto de vez; quando vai olhar, já
não tem mais serventia. Foi o que acho que andaram fazendo com esse tal de
Guimarães Rosa. Falaram assim e assado: o senhor ganhou o prêmio, está eleito
pra Academia, mas espera um pouco até a gente preparar a festança; enquanto
isso, vai o senhor se ajeitando, manda fazer o uniforme, que nas nossas
reuniões a gente vem de farda, já que tudo é muito solene como numa missa de
bispo numa igreja. O Guimarães mandou o alfaiate tirar as medidas e costurar
esse tal de fardão, que fico imaginando ser do tipo desses uniformes de
milicos. A farda ficou pronta e acabada, mas neca de quetibiriba da tal posse
acontecer. Foi por aí que o João pensou: “viver é um rasgar-se e remendar-se”.
Ele ficou com cara de tacho, de vez em quando experimentando a vestimenta,
olhando prum espelho do guarda-roupa do seu quarto de dormir, “ampliando o
ilusório, mediante nova capa de ilusão”. O espelho. Naquele experimento, foi
tomando gosto, se achando bem aprumado naquele terno. Na maioria do tempo, no
entretanto, o fardão ficava mesmo disposto num cabide do guarda-roupa, com um
tanto de naftalina, usada de jeito a espantar as traças. Enquanto isso, a
sofreguidão, o desconforto e o destempero iam subindo, subindo. E o João
pensava: “afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo. Já devíamos ter
aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios
para chegar a qualquer parte”. Até que chegou o dia da dita posse, depois de
tanto tempo. Na hora do festório, lá estava o Joãozito todo orgulhoso e com seu
fardão engomado. No entretanto, ele estava, como não podia deixar de ser, cheio
de emoção, chegando a falar uma coisa que, na hora, pareceu meio sem pés nem
cabeça: “a gente morre pra provar que esteve vivo”. E foi, então, três dias em
seguida, que aquela angústia represada estourou, e o coração de João parou, ele
morreu, passou desta, “ficou encantado” – segundo alguém me disse que era seu
jeito de falar. Onde tô querendo chegar? Agora, na hora da onça beber água, eu
quero dizer que acho um absurdo sem tamanho o que aqueles velhinhos da Academia
aprontaram com o João. Eles sabem de saber e de sentir na própria carne que não
dá pra brincar, fazer hora, engabelar uma pessoa de mais idade. Lá pras minhas
bandas, que fica pra lá das veredas do sertão, todo mundo sabe que tem quatro
coisa que “mata véio”: emoção, tropicão, pneumonia e caganeira. Se por lá, onde
a ignorância campeia feito o burrinho Sete-de-Ouros ou a mulinha Beija-Fulô
soltos no pasto, isso é mais que sabido, imagino que mais deveriam saber os
doutores cheios de letras, que nem parece que sabem usar de “fala de pobre,
linguagem de em dia-de-semana”. Se eu fosse parente desse senhor, ia até um
cartório de justiça e registrava uma baita queixa. Porque está claro como a luz
de um meio-dia de sol esturricando que o senhor João “ficou encantado” porque
um bando de velhos não deixou ele usar de modo conveniente e demorado o
uniforme que havia preparado com tanto carinho. Agora, pensando de outro jeito,
remexendo meu pensamento, buscando outra ideia, acho também que pode ser que o
acontecido não assucedeu da maneira que eu falei. Vai que o professor, por
implicância, por birra com os outros escritores, tenha usado de “informação
torta”, tenha escrito aquela papelada de tamanho frouxo pra me colocar contra
essa tal de Academia. Como ele sabe que sou um camarada que não leva desaforo
pra casa, que sou de dar uma boiada pra entrar numa briga, como ele sabe ou
pensa que sabe que não sou de medir a compridão das palavras, pode ser que ele
esteja me fazendo de boi de piranha, enquanto ri folgado, tomando sua bebidinha
à base de limão e pitando seu cigarrinho de paia. Sei não, esse Guimarães Rosa
anda remexendo com meus miolos. Já nem sei pra onde apontar minha cartucheira
de cano serrado. Vai que, por desatenção, eu acabo dando um tiro no dedão do
meu pé. Depois, eu tô vendo que estou igualim ao que ele mesmo disse: “eu quase
não sei de nada, mas desconfio de muita coisa”. Melhor mesmo é deixar todo este
dito por não dito. Ou não? O João mesmo dizia: “tudo é real, porque tudo é
inventado”.
Etelvaldo
Vieira de Melo