FÁBULA NEBULOSA: A PESTE (VERSÃO ANIMAL)

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FÁBULA NEBULOSA 24: A PESTE (VERSÃO ANIMAL) (*)
Quando a ira dos céus desabou
Foi na forma de uma peste, terrível mal
Fazendo mil estragos por onde passou.

Muitos e muitos animais tiveram destino fatal
Outros se arrastavam em dor
Sob efeito da moléstia ou entorpecidos de pavor.

Para deliberar sobre a questão
De mal tão devastador
Requereu uma assembleia sua majestade o leão.

Disse ele: - Súditos amados
Por um flagelo de Deus estamos sendo açoitados
Certamente por termos cometido uma ofensa ferina.
É urgente que aplaquemos a ira divina.

A princípio, na ideia de jejum por alguns dias pensamos
No entanto, pelo abatimento já jejuando todos estamos.
Depois, ocorreu-nos a proposta de uma confissão geral
Assim, poderemos descobrir o responsável por tamanho mal.

Posto em votação,
o parecer do rei foi aprovado por aclamação.

Prosseguiu o monarca: - Não quero privilégio a mais
Se for o criminoso, com prazer pelo meu povo morrerei.
Confesso que, nas horas de fome, não respeitei a vida dos animais:
da corça, da ovelha e nem mesmo dos humanos.
Se julgueis que são esses os crimes que o céu está clamando
dizei-o francamente que pelo bem de todos me imolarei.

O tigre, o javali e muitos outros aplaudiram:
- Vossa majestade está zombando! – e riam.
Crime, isso que praticou? Nem pecadinho venial seria!
Se comeu ovelhas, veados, pastores, muita honra lhes fazia.

O mesmo aconteceu com cada animal feroz em sua confissão:
em vez de ser condenado, recebia só perdão.

Quando foi a vez do burro falar, ele só pode com voz embargada dizer:
- A única desfeita pela qual peço perdão
Aconteceu certa manhã em que me encontrava sem comer:
Quando vi a pastagem do mosteiro e sua relva verde e orvalhada
Fui incapaz de resistir à tentação.

Todos clamaram, ao ouvir tal confissão:
- Que sacrilégio! Que aberração!
Que cinismo! Que atrevimento!
É por causa deste miserável todo nosso sofrimento.

E o burro foi cumprir a sua sina
sendo imolado à justiça divina.
Moral:
É por isso que burro tem sempre olhar desconfiado; sempre está pensando que pode sobrar para ele.

(*) Invento e/ou leitura/releitura de Fábulas Universais
Etelvaldo Vieira de Melo



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