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Outro ponto que corrobora (a língua
portuguesa é incrível) minha tese tem a ver não com um possível descrédito para
com sua opinião, estimado, iniludível leitor. Prezo-a em profusão (sua
opinião), mas prezo ainda mais a verdade. Não foi aquele gregoriano quem disse
“Amicus Plato, sed magis amica veritas”? Pois,
então, vamos resgatar a verdade pros anais da História.
O tema em questão é: mito ou realidade?
– quase havia me esquecido. Especificando: nos meus tempos de adolescência,
anos que há muito se passaram, era corrente a versão de que se usava um pozinho
em sucos e nos leites (fornecidos, os leites, pela Aliança para o Progresso – acordo de ajuda e de exploração entre
Brazil e USA), com o objetivo de reprimir, os pós, a libido dos seminaristas,
aqueles estudantes para padres. Todos sabem ou deveriam saber que, na
adolescência, há uma explosão hormonal. João Mohama, sexólogo e escritor, dizia
que era devido à produção da testosterona. Resumindo: é uma época de
pensamentos estranhos, libidinosos (olha o português aí), sonhos eróticos e
lençóis molhados (João Mohama esclarece: poluções noturnas).
Afinal, retomando o fio da meada, quase
a ponto de arrebentar: usavam-se ou não os famosos pozinhos?
Procurei um amigo da época,
ex-seminarista, para prestar o esclarecimento devido. Seu nome, para efeitos
legais, permanece anônimo, e não vai ser nenhuma condução coercitiva que me
forçará a nomeá-lo. No entanto, para facilitar a narrativa, vamos dizer que ele
se chama Antônio Doroteia da Luz.
Doroteia diz que o tal pozinho é mito,
boato. Não garante que seja 100% boato, pois considera a possibilidade de que
existiu e de que sua data de validade estivesse vencida. Como todo
ex-seminarista, não consegue discorrer á vontade sobre esse tema de sexo, fica
vermelho feito pimentão maduro e se enrola com as palavras (para preservar a
originalidade de sua declaração, vou usar dos recursos gráficos dos três
pontinhos (...) e do asterisco (*), quando tiver de usar termos relativos a
sexo).
Doroteia garante: - No meu tempo de
Seminário, havia muito “troca-troca”, alguns colegas davam mais do que galinhas
no cio. Como dormíamos em dormitórios, durante muito tempo, minha cama ficava
ao lado da de um colega, Antônio Silvestre, que, toda noite, invariavelmente,
se ajeitava sob os lençóis (como se estivesse armando um circo) e batia uma (*).
Só faltava mesmo um serviço de alto-falante percorrer as fileiras de camas,
anunciando: Hoje tem espetáculo? Tem, sim
senhor! Eu ficava muito irritado, pois, querendo dormir, tinha que ouvir
durante certo tempo um nhec-nhec-nhec.
-
Bom – falei, procurando dar um desfecho para seu depoimento, sem ter que levar
meu amigo pra República de Curitiba, nem querendo abusar em demasia da
paciência dos leitores. – Quer dizer, então, que a teoria do pozinho é lenda.
-
Como já falei, não tenho absoluta certeza para afirmar isso. Agora, é preciso
considerar que existiam outros tipos de pressão, às vezes, de poder até mais
coercitivo.
-
Como assim?
-
Ideias religiosas eram incutidas em nossas mentes, associadas a culpa, pecado,
inferno, castigo eterno. Enquanto almoçávamos, talvez tomando sucos com aqueles
famosos pozinhos, ouvíamos leituras “edificantes”, leituras que nos deixavam
com “a pulga atrás da orelha”, ou estarrecidos, ou sujeitos a pesadelos. Uma
das tais leituras dizia que, só pelo pensamento, um homem é capaz de engravidar
uma mulher. Estou exagerando, mas o relato dizia que uma determinada mulher se
engravidou, estando apenas deitada ao lado de um homem. Eles não tiveram (...).
Fiquei pensando: Nossa! Eu não sabia que (*) podia sair voando! Esse danado é
perigoso mesmo!
Outra leitura deixou na minha cabeça o
sentimento de ser um verme desprezível. Um seminarista lia, enquanto nós outros
“forrávamos o estômago”: Um santo mártir estava amarrado num poste, com as mãos
às costas e completamente nu. Uma mulher, linda e também completamente nua, foi
colocada à sua frente. Enquanto ouvia a narrativa, errei por diversas vezes o
garfo em direção à boca; quando acertava, chegava a engasgar, pois engolia sem
mastigar. E agora? – pensei, angustiado. – Vai o santo perder a virgindade?
Comecei a torcer, vendo a narrativa caminhar perigosamente para a pornografia
pura. Que nada! Quando a mulher foi se insinuando em direção ao santo, ele
mordeu violentamente a própria língua e cuspiu um pedaço ensanguentado no rosto
daquela enviada de Satanás! Ao final da leitura, pude notar em muitos colegas
um olhar de beatitude, mas em outros o que havia era indisfarçável sentimento
de frustração.
Etelvaldo Vieira de Melo
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