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Nesse vira,
mexe e remexe de produção de textos, a gente acaba igual àquelas refeições que
preparo em casa. Minha esposa e filha, assim que as chamo para almoçar, se
aproximam do fogão, destampam as panelas e, invariavelmente, vêm com o
diagnóstico fatídico: “Já te vi”.
Engulo em
seco minha vergonha, enquanto penso – em francês, para “dourar a pílula”, amenizar
o desconforto -: “C’est La vie!”.
Quando, ao
longo de minha produção literária, recorro a muitas citações e casos “já te
vi”, bem que poderia buscar uma justificativa naquele humorista de TV que
dizia: “Foi sem querer, querendo!”. Seus programas são tão repetidos que até a
expressão “já te vi” aparece esmaecida, apagada na mente do telespectador.
Os donos
das emissoras, diante de um sucesso, suga-o até o último caldo, como se fosse
uma laranja que é deixada no bagaço. Para não contrariar a Lei de Lavoisier de
que “nada se perde”, o bagaço é transformado em vídeo, vídeo que irá lhes
proporcionar mais alguns dividendos (muitos, se não fosse a sanha assassina dos
“piratas”).
Outro “já
te vi”, e que vem a propósito, é aquela frase estampada na camiseta de um
ex-presidente em suas corridas em torno de sua casa, com os repórteres,
esbaforidos, tentando acompanhá-lo: “O tempo é o senhor da razão”. Caso
continuasse na presidência por mais tempo, um repórter que, mais tarde,
adquiriu certa fama, teria tido um infarto. Estou exagerando, Alexandre?
Esta frase
é lembrada a propósito de algo que andei lendo em uma revista antiga. Lá estava
escrito que a História é particularmente movimentada, citando uma frase
atribuída a Napoleão de que “nada muda mais do que o passado”.
Ao ler esta
citação, senti-me reconfortado, eu que nunca fui muito chegado ao estudo de História.
O tempo veio me dar razão, quando percebo como fatos e datas passadas são
manipulados de acordo com as tendências da moda e do modo de olhar do
historiador.
Nunca levei
a sério o estudo da História, justamente porque ela me pareceu uma obra de ficção,
e não relato de fatos reais. Somado a isso, havia o ojeriza em ter que decorar
nomes e datas.
Se Napoleão
também considera que a História seja um conjunto de mentiras sobre as quais se
chegou a um consenso, quero manifestar de público minha reprovação.
Quando
entro no terreno lodoso da política (a do Brasil em 2017 está detestável, vergonhosa,
de provocar náuseas), faço-o para que futuras gerações (os leitores das
“nuvens”) não tenham que lidar com uma mentira a mais, mas se vejam frente a um
testemunho singelo, sincero, honesto de quem quer contribuir para uma
redefinição da História, não como um somatório de mentiras, mas de verdades –
somente verdades, não mais que verdades.
Etelvaldo
Vieira de Melo
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