Imagem: eduardoleite.blogspot.com.br |
Amigo Leiturino,
Não sei se por causa de uma crise de tosse renitente que me acometeu,
mas o fato é que tenho andado muito sem inspiração e com muita transpiração (o
que tenho publicado faz parte de uma reserva de emergência e que já se encontra
no final).
Outra coisa que me incomoda tem a ver com um defeito técnico do blog,
que não está permitindo os comentários.
E é assim que me sinto: tossindo desesperadamente e não tendo o
conforto de sua palavra amiga de apoio e de estímulo.
A vida de cronista tem este inconveniente: você tem que dançar conforme
a música. Isto é, não pega bem tratar de
um tema dramático quando o clima é de alegria. Seria como colocar uma blusa de
frio para uma temperatura de 40 graus. Assim sendo, como o clima agora é de
carnaval, vamos colocar nosso bloco na rua, mesmo com tosse e tudo, pular feito
milho de pipoca em frigideira.
Penso em organizar um desfile pelas páginas do blog. Para tanto, primeiro,
teremos que visitar o galpão onde estão sendo produzidos os carros alegóricos e
as fantasias. O galpão está lá em minha terra natal, anos e anos atrás...
Na década de 60, quando a televisão virou artigo popular, ela o fez
provocando uma hecatombe nos costumes. Na minha cidade, por exemplo, os botecos
e a pracinha da igreja matriz eram os locais mais frequentados à noite. Com a
TV, suas novelas e seriados, tais lugares ficaram jogados às moscas e às traças
(acho que estou empregando muita crase – preciso corrigir isso). Cheguei a
pensar: pode o Pedrinho Odorico, o louco-manso da cidade, desfilar nu pelas
ruas que ninguém vai dar conta.
Com seu olhar perspicaz, Chico
Buarque chegou a enxergar a mesma coisa, naquela música que diz: “e a própria
vida ainda vai sentar, sentida, vendo a vida mais vivida que vem lá da
televisão” (Eleutério, que frequenta um curso de redação, diz que essa
repetição – sentar, sentida; vida, vivida – recebe o nome de aliteração).
Estou lembrando tudo isso
agora, quando este blog já completou seus 5 anos de existência. No início de
tudo, havia a participação de leitores atentos, com o amigo Cleber se
posicionando em comentários ferinos e mordazes. O tempo passou, Cleber partiu
para outra, novos inventos surgiram, notadamente um tal de zap-zap, desbancando
a própria TV, jogando este blog no buraco.
Hoje, confesso que tem hora
que dá uma vontade de “chutar o balde”, desistir dessa teimosia. Nos momentos
de tristeza, quando noto somente um ou outro “gato pingado” fazendo comentário
(isso antes do defeito técnico) tento me consolar com a frase que se tornou meu
lema: “escrever é a arte de resistir”.
Está bem, sei que devo
resistir enquanto posso, e é um consolo lembrar já ter feito mais de 260
postagens. Mas tem hora que minha ideia é outra.
Antigamente, mulheres eram
contratadas para velórios, onde deveriam chorar. Eram profissionais, chamadas
de carpideiras. Às vezes penso em contratar pessoas, não para fazerem um
chororô aqui, mas para postarem comentários, aumentando assim o índice de
acessos do blog. Meu ego está precisando disso.
Mas fico tomado de dúvida, em
vista de minha penúria financeira. Depois, quando vejo como as pessoas andam
doentes e viciadas com esse zap-zap, sinto que posso cometer aquela loucura do
Pedrinho Odorico. Estou nesse impasse: neste carnaval, ou contrato um bloco de
carpideiras ou desfilo nu pelas páginas do blog.
Observação: Você está
notando que aproveito da instabilidade física-emocional para fazer um desabafo.
A ideia de desfilar nu pela página do blog é atraente, ainda mais que estamos
em pleno carnaval. Até esbarrar no medo de topar com um leitor acidental do
MBL. Moralista de fachada, pode ele me processar por atentado aos bons costumes.
Ao fim de tudo, estarei, com a tosse renitente, por trás das grades, vendo o
sol nascer quadrado e sem ter nenhum juiz para me conceder o direito a qualquer
tipo de delação premiada, já que não venho ao caso.
Etelvaldo Vieira de Melo
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