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O palavrão é assim
chamado não pelo tamanho (ele pode ser pequenininho), mas por ser ofensivo e
feio, já que mexe com a moral e, frequentemente, com a sexualidade. Quando é
feio demais, é tido também como cabeludo.
O palavrão não
frequentava o cotidiano das pessoas, era usado com parcimônia, já que seu
conteúdo é explosivo, de consequências imprevisíveis. Isso até surgir aquela
operação chamada Lava Jato (Lava PaTo, seria melhor dizer). Ouso afirmar que a
proliferação do palavrão no país é uma consequência da Lava Jato e seus
vazamentos.
Como não sou de acusar
e condenar baseado em suposições, vou arrolar uma série de razões que
fundamentam minha tese. Ao final, quero ver você dizer se estou mentindo, se
tudo que afirmo não passa de absoluta verdade.
No início, os
vazamentos da Lava Jato eram seletivos, pois pretendiam colocar “lenha na
fogueira”, inflamar os ânimos de parcela da classe média raivosa, fornecer
subsídios para denúncias da chamada “grande” imprensa e abrir caminho para
ações do Judiciário e do Congresso.
Os vazamentos logo
deixaram de ser seletivos, não por vontade do meritíssimo e dos procuradores
que respondiam pela operação, mas em decorrência de extrema pressão (leia-se:
denúncias de corrupção), fazendo a mangueira espirrar para quase todos os
lados. Só não espirou pros lados do PSDB porque juízes e promotores cuidaram de
tapar os buracos com os dedos (eu me pergunto: aonde foi parar a delação do
“fim do mundo” da Odebrecht, aquela que deixava todo mundo morrendo de medo?).
Lá em São Paulo, por exemplo, tem um afrodescendente que, se jogasse noutro
time, teria provocado um enorme número de prisões.
Mas não estou aqui,
agora, para fazer esse tipo de acusação. Só quero observar que, com o
vazamento, passamos a ouvir gravações de políticos e afins reclamando de
propinas. O vocabulário desses, na intimidade, revelou-se uma coisa horrorosa, cheia de palavrões. Como
exemplo, veja a compilação que fiz de uma fala de determinado político:
- P*, fala praquele
fdp* arrumar o dinheiro logo, senão eu vou f* com ele. C*!
Depois que essas
gravações se espalharam qual tiririca (não estou me referindo ao palhaço, mas a
uma planta da família das ciperáceas), todo mundo passou a se achar no direito
de também soltar suas baboseiras. Conclusão daí: os jornais e as redes sociais
ficaram entupidos de palavrões, cada qual mais cabeludo. Estou inventando?
Quem mais se achou no
direito de aproveitar da situação foi a extrema direita. Ela, que vivia no
armário até a eclosão do golpe de 2016, acabou se sentindo livre e solta para
falar do jeito que era capaz: com truculência, agressividade, cinismo, e
vocabulário pobre. Também pudera. Se formos arrolar suas lideranças, quem
haveremos de encontrar? Uma delas, por nada, atuava como ator de filme pornô.
Quero dizer, e este é o
sentido de minha tese, que a atuação da Lava Jato, especialmente quando
espalhou as gravações, tornou possível juntar “a fome com a vontade de comer”
de uma parcela significativa da população brasileira. O Brasil se tornou um
país impróprio para menores de 16 anos. Onde está o Conselho de Censura para
afastar nossas crianças e adolescentes de tanto vocabulário chulo?
Confesso que me sinto
incomodado, pois não gosto de pronunciar e de ouvir palavrões. Com orgulho,
ainda carrego comigo muito de inocência. Este texto, além de refletir sobre o
que está aí, também é uma forma de protesto contra o vocabulário que as pessoas
empregam.
O tempo de vida me
pedia um texto leve, solto, bem-humorado. Isso não foi possível, pois acabei me
dando conta de que vivemos um momento perigoso: o Brasil está montado sobre uma
farsa, com mentiras sendo plantadas e espalhadas irresponsavelmente. As pessoas
não se dão conta de avaliar as consequências de palavras mal ditas, já que nem
querem saber da verdade. O pior de tudo é que, por trás da onda de palavrões,
está algo mais explosivo: o ódio. A pergunta que fica é: até onde ele poderá
nos levar?
Etelvaldo
Vieira de Melo
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