LEMBRANÇAS DE VIAGEM (VOLUME 6): ENCASTELADOS NUM PALÁCIO

Palácio Real de Madri, Madri, Espanha - Palácio Real de Madri da cúpula da Catedral de Almudena!  A vista é absolutamente espetacular da cúpula.  Você pode até andar por toda a estrutura, vendo Madrid de todos os ângulos!  #Madrid
Imagem: trover.com
Vivendo e aprendendo. Foi o que pensou Eleutério naquela tarde de 17 de setembro de 2019, em Madrid, quando de sua viagem de passeio junto com parentes.
Pela manhã haviam ido até a Plaza Mayor, no coração da cidade. Ali, quis presentear Percilina Predillecta com uma caricatura produzida por artista ambulante, ao preço de 10 euros.
- Pra quê? – perguntou ela. – Já sou uma caricatura ambulante.
Por causa do calor e do sol na moleira, Eleutério não contestou. Mesmo porque sua tirada preferida era dizer que Percilina é um raio de sol em sua vida. Juntando tanto sol, haveria o risco de morrer esturricado.
Depois de uma ida ao Mercado San Miguel, atendendo à sugestão de Genésia Solaris, resolveram todos pegar aquele tradicional ônibus de turismo vermelho e foram conhecer a cidade.
- Acabamos de colocar a coleira de turista –riu Cinisvaldo, enquanto procurava assento no andar superior do ônibus. Ao colocar o fone de ouvido - para receber as informações sobre praças, monumentos e construções - ajeitou a frequência do áudio no número “7”, que correspondia à locução em português.
Pararam em frente ao Palácio Real, uma construção soberba, e que iria se constituir um dos pontos altos de todo o passeio.
Com área de 135.000 metros quadrados e 4.318 quartos, é o maior palácio real da Europa. Sua construção começou em 1738, com as obras internas só terminando em 1764, no reinado de Carlos III. No total, o palácio possui 2.800 divisões. Em algumas delas não se entra há anos.
Trata-se de um exemplo vivo da riqueza e da ostentação da realeza espanhola. Loprefâncio Caparros, deslumbrado em admirar as pratarias, esbarrou num cordão de isolamento e foi, aos tropeções e “catando cavaco”, se estatelar no piso. Para sua sorte, tirando um guarda impassível, ninguém mais pareceu notar seu acidente.
Foi a partir de então que Deusarina Rebelada, já estressada por ter tomado a frente em toda a logística do passeio, passou a implicar com os integrantes da comitiva, especialmente Eleutério e Ingenaldo. Com Loprefâncio ela tinha um pouco de paciência, talvez por ele ser aquele que demonstrava maior sinal de senilidade. Com Ingenaldo, toda hora falava:
- Fecha a boca, Ingenaldo!
Com Eleutério, a implicância era dupla. Primeiro, por causa de sua mania de ficar chupando os dentes depois de comer alguma coisa:
- Que feio, Eleutério! – falava ela. – Pare de chupar os dentes!
Eleutério também tinha a mania de pedir as coisas e responder com gestos.
- Fala com a boca! – era sua reprimenda frequente, enquanto abraçava carinhosa o Loprefâncio.
Na visita ao Palácio Real foram muitas as vezes em que ela mandou Ingenaldo fechar a boca. Também pudera! O local era de tanta riqueza de detalhes que Ingenaldo ficava embasbacado, com lágrimas brotando por detrás das lentes de seus óculos azuis. Sem querer, sua boca ficava aberta, tamanha era sua admiração.
Quem parecia não levar muito a sério tudo aquilo era Cinisvaldo, que ria do deslumbramento de Ingenaldo. Quando chegaram à capela do palácio, vendo que as poltronas reais ficavam na lateral direita do altar e no mesmo nível, comentou:
- Parece que Deus não se importava em dividir o poder espiritual com os reis. Vejam como estão no mesmo nível. Isto quer dizer: a religião era usada para legitimar o poder da realeza, os súditos ora rezavam para Deus, ora para o rei, seu representante na Terra.
Ao final da visita, enquanto se dirigiam para a saída do Palácio, Ingenaldo comentou:
- Como a História, essa sucessão de sucessos sucedidos sucessivamente, é engraçada, capaz de unir coisas do passado com nosso presente...
- Como assim? – quis saber Eleutério.
- Carlos III, de quem ficamos sabendo, além de ser precursor do GPS, era pai de Carlos IV, que o sucedeu quando de seu falecimento, a 14 de dezembro de 1788. Carlos IV contraiu matrimônio com sua prima-irmã Maria Luísa de Parma. Certo dia, Carlos, o filho, comentou com seu pai:
- Bom é ser rei, pois não corre o risco de ser traído pela mulher com outro rei.
- Você é ingênuo, meu filho – falou Carlos III: - Uma rainha também pode ser prostituta.
Maria Luísa esteve grávida por vinte e quatro vezes. Com tanta gravidez, catorze filhos nasceram, sendo que somente sete chegaram à idade adulta. No final da vida, confidenciou ao seu confessor: "Nenhum de meus filhos é de Carlos IV”.
- Que coisa! – falou Cinisvaldo, deveras admirado.
- Diz a História que Maria Luísa era bonita, quando jovem, mas sofreu uma deterioração física clara, devido a seus múltiplos partos, e perdeu a maior parte dos dentes, tendo que usar uma prótese feita de pérolas.
- Mas o que isso tem a ver com nosso momento presente? – perguntou Loprefâncio.
- Maria Luísa foi mãe de Carlota Joaquina que, aos dez anos de idade, veio a se casar com Dom João VI, ele que acabou se tornando nome da principal avenida de nosso bairro.
- Grande coisa! – falou agora Cinisvaldo em tom de deboche. – E quanto a Carlos III ter sido precursor do GPS?
- Isso eu conto pra vocês quando estivermos sentados à mesa naquele restaurante ali da esquina, saboreando uns “tapas” acompanhados de uma cerveja bem gelada. Podem aguardar.
Etelvaldo Vieira de Melo

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