ANTES DE ANTES DO LIVRO SE ABRIR

Desenho de Mãe levando o bebê pintado e colorido por Betamarcus o ...
Imagem: galeria.colorir.com
(Prelúdio do Livro 'À Sombra das Damas em Flor')
Serenô, eu caio. Espero. Caio. Súbito, me levanto. Olho. Sinto no enovelado tempo ele molhado. Chora em teor de dor? Vigio o vagido nas fraldas da hora. Bico da noite, consola meu bebê o seio cheio de escumosa imagem. Vem mamando amando sobras de sonho do sono maternal, afinal. Cirando a criança na penumbra, já trocada e limpa do colostro. Canto a sabiá embalos na antecâmara acomodado pio. Passarinhos sonoros, adormeço     ... e a babá deu-lhe chá. Seu nome, Ísis (‘Eu nasci de mim mesma, não venho de ninguém’); Mário (mar rio riso ar, ‘homem de excelência’), inscrevo-o no manto cálido mel serão meus braços. Onde tresanda lágrima, ando. Mal olhado, vento virado, benzo-os. Divagando vagando devagar, fio os dias, desfio necessários diversos paninhos. Viróis acessórios, depois. Arco-irisando coloridas horas passo lavados lenços de arroto sobre vomitados ombros. Brancos enxovais. Travesseiro ligeira uma porção de ideias com brandos bichinhos: ponto nó, laçada, ponto de entremeio. Agulhas próprias, tesoura de aparar arestas, invento. Crio. Bordando com fina verde clara linha a camisa primeira, aveludo-me pensamentos. Nino lençóis ideais em seda pura. Beija-me rosto e colo, a nívea sideral cambraia. E sigo cosendo fronhas cozendo papinhas mornas, ansiosas. Alado sapatinho vislumbra comigo todos os brinquedos de armar em voltas ao mundo. Mãe adotiva de um talco procurado sem perfume, sinto seu corpúsculo lasso.  Aéreo riso sorriso fita, enfeita e bruma o berço comprado... onde? Lá. Nas sombras da memória. E se incerta vez ele pensar... Quiser vê-la, a biológica... Verei verá - veremos - em que foto cueiro tricô - a face do por vir? E se... Quando o leite nutriz surgir de outra mulher, serei eu a concebê-lo em contrações mentais? Busco, brusco susto, papéis e leis. Assinei, leio. Sou autora. Ninguém duvidará desses escritos em cartório. Há testemunhas. Entre cólicas, reconheço: O parto é meu. É legítima, a minha obra! Algum farfalho de asa na lã do leito inda vazio falará no vento, ensinando a este ventre sem luz, que hoje o ser começa a lhe dar à alegria e à cruz.

Graça Rios

4 comentários:

Unknown disse...

Criando e "bordando"Maria traça com graça, fios mágicos...! São eles , linhas e pontos.Em cada linha um conto ,em cada ponto,encanto!
Somente sabios para entender seu"canto".
Mas, o tempo poderá mostrar,após com ela confabular,para os que a arte não conseguem soletrar,a clareza de seu "cantar".É preciso no entanto ouví-lo e buscar este entendimento ,que só o intelecto pode ajudar.Só se sabe,no interpretar,ser algo sublime pairando no ar!

Unknown disse...

Parabéns texto muito bonito faz a gente lembrar de quando a gente era crianca

Tânia Maria disse...

Delícia de texto! Memórias! Graciosa Graça, sutil e doce! Sensações que nos trazem de volta a maternidade, a infância e o vôo primeiro da vida!

Lopes al'Cançado Rocha, o Cristiano disse...

Muito lindo mesmo, esse também! Final contundente.

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