Este
mês também é chamado “Novembro Azul”, com campanhas de prevenção do câncer de
próstata espocando através dos veículos de comunicação.
Sendo
assim, nada mais natural do que recorrer ao tema em dose dupla, antecipando
minha Black Fraude. O primeiro texto analisa uma visita ao urologista do ponto
de vista filosófico, mostrando como na vida tudo é relativo. Já o segundo texto
tal visita é analisada do ponto de vista da Física. Creio estar apresentando
uma ótima sugestão para os representantes do sexo masculino não se intimidarem
com o toque retal. Através de uma técnica simples, eles vão passar pela
experiência sorrindo, na mais pura abstração.
TUDO
É RELATIVO, ATÉ O PRONOME RELATIVO
Hoje estou vivenciando uma situação que
mostra a relatividade das coisas. Palavras mal ditas podem tornar um momento
maldito, enquanto que, em outras circunstâncias, essas mesmas palavras podem
ser aceitáveis.
Será isso que estaria querendo dizer
Einstein com sua famosa Teoria da Relatividade? Se for, estarei fazendo
fenomenal descoberta, ainda que ao cruzar o Cabo das Tormentas! Se não, caso o
tema exija cálculos e teorias da Física, sendo assim, deixa pra lá, que já não
disponho de neurônios suficientes para tais elucubrações.
Do que foi dito, depreende-se a
necessidade de que tudo na vida deva ser contextualizado.
Exemplos:
Na Idade Média, era sinal de devoção a
Deus uma pessoa ficar sem tomar banho, coberta de sujeira. Chegava às raias da
santidade ser infestada por piolhos.
Ser comedido às refeições é sinal de boa
educação? Depende. Os chineses são extremamente barulhentos, arrotando à mesa.
Para eles, isso é uma forma de demonstrar que a comida está boa.
O povo iraniano é conhecido por sua
gentileza, e ela tem um nome (taarof). Por isso, em alguns estabelecimentos,
acontece dos lojistas recusarem o pagamento de um cliente. Mas que os
brasileiros tomem cuidado quando forem ao Irã: isso não quer dizer que devem
deixar de pagar a conta...
No Tibete, se um velhinho cumprimentar
você mostrando a língua, não leve a mal. Uma crença diz que o diabo tem a
língua azul; o velhinho só quer lhe mostrar que é uma pessoa de bem.
Tudo é vaidade, dizia o Eclesiastes.
Tudo é relativo, digo eu.
Vejam vocês um caso que, em outra
circunstância, provocaria a minha maior indignação, com o risco de levá-lo às
últimas consequências. Estou me preparando para uma consulta médica com um
urologista. Você pode, agora, e tão somente agora, falar para mim: “Vai
tomar no ***. Dentro do contexto, eu não me sentirei ofendido.
SER
OU NÃO SER JÁ NÃO É MAIS A QUESTÃO
Um
pensador da Antiguidade, para quem eu nutria certa dose de consideração e
respeito, dizia que o ser é e o não ser não é, que um não pode – sob nenhuma
hipótese – ser o outro. Dia desses, um fato banal veio jogar por terra tão alta
construção metafísica.
Estava eu no ponto de ônibus, aguardando esse transporte coletivo e socializante para me deslocar até um consultório médico-urológico. Para desviar meus pensamentos do triste fim que me aguardava, procurei algo que tomasse minha atenção. Em um poste ao lado do ponto havia um aviso de:
Durante
muito tempo, fiquei pensando naquelas garotas, imaginando a ansiedade com que
procuravam a cadela, que atendia pelo nome de Suzy. Achei aquele gesto bonito,
fiquei torcendo para que fossem bem sucedidas na procura e que a história
tivesse um final feliz.
Enquanto
digeria lentamente essas considerações (para não pensar naquela outra coisa),
comecei a vislumbrar um pensamento diferente, de igual intensidade e de sentido
oposto. Considerei que aquelas garotas agiam de maneira errada, estampando em
postes aquele tipo de anúncio, já que ali não é local apropriado para esse tipo
de coisa. Imagina se todas as pessoas inventarem de colocar anúncios em postes!
Considero
que, se tem algo de bom acontecendo nas cidades brasileiras, esse bom é
justamente a recuperação da dignidade dos postes. Tempos atrás, era ali que
cartazes se sobrepunham, em disputa acirrada, notadamente por políticos em
véspera de eleição (agora, por exemplo, eles estariam sendo disputados a tapas).
Novas legislações foram criadas, punindo com multa os infratores. Entre os
teimosos e sobreviventes, visualizo somente um ou outro anúncio de videntes e
cartomantes, que devem estar “matando cachorro a grito”, prometendo mundos e
fundos: livrar a pessoa de olho gordo, trazer de volta a pessoa amada, ter
sucesso nos negócios, tudo a troco de uma simples consulta.
Falando
em cachorro, vejo que eles se constituem também uma ameaça à integridade física
dos postes. Pensando nisso, vou tentar convencer um conhecido candidato à
vereança nestas eleições, a apresentar um projeto de instalação de sanitários
para cachorros em parques e jardins. Os proprietários de cães estão
mal-acostumados com a higiene pública. Ontem mesmo um técnico, que veio fazer
um serviço em minha residência, dizia, tomado de orgulho, que, assim que chega
em casa do serviço, tem que levar seu cachorrinho de estimação para um passeio
na rua, onde ele faz suas necessidades fisiológicas. Duvideodó que esse senhor se dê ao trabalho de levar consigo uma
pazinha e um saco plástico, para recolher os possíveis dejetos sólidos ou
pastosos despejados em via pública pelo seu amiguinho de coração!
Associei
os postes aos cachorros e, agora, vejo que os cachorros se ligam aos políticos que,
por sua vez, estão engavetados, tal como numa situação de trânsito, aos juízes
do STJ. Esses juízes, vira e mexe,
inventam ou trazem à tona novos termos para serem incorporados ao nosso
vocabulário. Não sei por quê, estou me lembrando da Teoria do Domínio do Fato,
quando da Ação Penal 470, afetuosamente apelidada de Mensalão. Depois, inventaram um tal de Embargo
Infringente, que vem a ser um recurso impetrado pelo acusado, quando não há
unanimidade no julgamento de apelação. Tal embargo nos mostrou que uma coisa
não só pode ser outra coisa, como também pode ser várias outras. Assim, ele
pode se desdobrar em Embargo Absorvente, Solvente, Emoliente, Detergente,
Repelente. Agora, a discussão é sobre prisão preventiva e condenação em segunda
instância. A continuar desse jeito, todos os brasileiros irão se tornar
bacharéis em Direito.
Quando
penso nisso tudo que anda acontecendo no país, fico cada vez mais convencido de
que a nossa Justiça até pode ter seus olhos vedados, mas que tem um olfato
apuradíssimo, isso tem, principalmente quando existe cheiro de dinheiro
circulando no ar. Depois, parece, nossa legislação apresenta mais furos que as
lonas de circos que frequentavam minha cidade natal.
Estava
pensando nos desdobramentos de tais considerações, quando me vi ajeitando a
calça e me despedindo do médico urologista. Também parece que o exame
transcorreu normalmente, mas nem me dei conta, com o pensamento voltado para
Suzy, os postes, os cachorros, os políticos e juízes. De maneira intuitiva,
entrei naquele estado que os iogues chamam de Alfa. Acabei usando um princípio
da Física, que diz não ser possível dois objetos ocuparem o mesmo espaço ao
mesmo tempo: pensando numa coisa, deixei o constrangimento de ter o pensamento
voltado para outra, desagradável e dolorosa.
Aproveito
a ocasião para lhe repassar esse aplicativo gratuito, útil em várias situações
de vida, quando você poderá fingir que está, não estando; estando em outra,
deixará de estar naquela em que não quer estar.
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