Não
sei por quê, parte dos brasileiros e (des)governo andam embirrados com a China.
A população alega que a China é comunista, que ela espalha o corona vírus para
enfraquecer os Estados Unidos e dominar o mundo, com sua vacina fazendo parte
do projeto de extermínio da humanidade. Já o (des)governo desempenha seu papel
de vassalo dos interesses dos ianques, seguindo a máxima de que os Estados
Unidos estão acima de todos e de tudo.
Como
penso que não é bem assim, que precisamos cultivar boas relações com a China
(não fosse ela o maior parceiro comercial do Brasil), sob o risco de não termos
a vacina para nos livrar da covid-19, procuro fazer o possível para amenizar as
tensões. Sei que meu propósito é ínfimo, mas penso que, se tivermos um tanto de
pequenas ações, o somatório final poderá se tornar algo grandioso.
A
parcela da população brasileira que tem ojeriza da China, além da fobia ao
comunismo (entendendo por comunismo tudo aquilo que contraria seu interesse),
também tem ódio por ela ter socializado os bens de consumo a preços módicos.
Como a máxima do Capitalismo é consumo/ostentação, o que fez a China nada mais
foi do que tornar vários bens acessíveis à patuleia ignara. (Em outras
palavras, penso que não existe nada mais capitalista do que a China comunista.)
Talvez esteja aí a razão principal desse preconceito de brasileiros: o que eles
experimentam é raiva de ver a pobrada consumindo produtos que eles julgam ser
os únicos merecedores.
Antes
da pandemia, eu procurava estreitar as relações Brasil X China frequentando os
shoppings populares da cidade. Gastando uma merreca aqui e outra acolá,
pensava: - Fazendo isso e ficando bom para ambas as partes, China e Brasil,
também fica bom para mim.
Com
o alastramento da pandemia – e tendo que me sujeitar a um isolamento
horizontal, vertical, perpendicular, paralelo e oblíquo – acabei restringindo o
consumo ao e-commerce tupiniquim.
Aproximando-se
a Black Friday, e tomando conhecimento de um tal 11/11 – Dia do Solteiro,
resolvi retomar minha relação afetuosa com a China, contribuindo, assim, para
que ela relevasse as baboseiras que conterrâneos e (des)governo falam a seu
respeito, liberando de vez a vacina.
Querendo
adquirir um aparelho eletrônico, chamado de soundbar ou barra de som – para
melhorar o áudio da TV enquanto assisto às minhas séries coreanas – entrei num
site chinês famoso. Quase tive um choque anafilático: eram milhares as
opções e ofertas. Como sou um brasileiro mediano e que gosta de levar
vantagem em tudo, tenho costume da fazer compras usando o processo dedutivo,
procurando primeiro ter uma visão do todo para depois ir para as partes. Isso
significa: ler as informações técnicas de todos os aparelhos, as avaliações
dos consumidores e anotar os diferentes preços.
Meu
cérebro começava a entrar em parafuso, quando tive a ideia de fazer uma triagem
com base na potência dos aparelhos. Julguei que 40 watts estava razoável. Tal
procedimento valeu muito, de modo que logo cheguei a uma resposta satisfatória.
Mas
nem tudo estava resolvido: precisava consultar o Dr. Google em busca de
orientação para uma compra internacional, já que era neófito no assunto. O Dr.
Google, solícito como sempre (preciso me lembrar de comprar um presente de
Natal para ele), despejou na tela do computador dezenas, centenas de vídeos que
ensinavam o beabá de tal compra. Foi lá que fiquei sabendo: além de converter
os míseros reais em prepotentes dólares, tinha também que desembolsar dinheiro
para o pagamento do frete, da taxa de importação (60% do valor da compra,
incluindo o frete), da taxa de correio (R$18,00) e do ICMS (18% de tudo).
Recorrendo
a uma calculadora, made in China, fiz e refiz as contas, chegando à conclusão
que não seria desta vez que iria embarcar numa compra direto da China.
Ao
fim de tudo, preciso dizer: é por essa e outras que chego à conclusão que nossos (des)governantes não têm amor com a população. Eles são mesquinhos, não querem que
outros tenham um mínimo de felicidade.
P.S.
Como meu propósito sempre foi, acima de todos e de tudo, contribuir para uma
relação harmoniosa entre Brasil e China, penso em enviar uma cópia deste texto
para a embaixada chinesa em Brasília. Caso algum leiturino seja expert em
mandarim, poderia ajudar na tradução. Aí, tudo ficaria chique demais, tendo
valido muito a pena as infindáveis horas que fiquei frente ao computador, tentando
comprar um soundbar chinês (ou barra de som) para assistir às minhas séries
coreanas favoritas.
Etelvaldo Vieira de Melo
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