POR QUE DEVEMOS CONTINUAR USANDO MÁSCARAS

 

Nos últimos tempos, vimos isso: o cínico sendo contra o uso de máscara, porque ele gosta mesmo é de ostentar seu ar de deboche, rindo da desgraça alheia. Agora, com o fim da pandemia, fica a pergunta: devem as pessoas de bem, as legítimas, descartar suas máscaras, mesmo as reutilizáveis? Eu acredito que não.

Se a gente for pensar bem, o uso de máscaras apresenta outras vantagens, além da prevenção contra o danado do coronavírus. Vejamos:

Primeiro de tudo, o uso de máscaras foi uma ótima experiência para as pessoas que se acham feias e que têm uma autoestima baixa. Outro dia, estávamos, Percilina e eu, fazendo compras num supermercado. Na hora de passar pelo caixa, fomos atendidos por uma moça gordinha, loquaz e simpática. Como lhe demos trela (esse Português ainda vai acabar comigo!), ficamos ali “trocando figurinhas”, jogando conversa fora, enquanto eu passava as compras, a moça fazia o registro e Percilina acomodava tudo em outro carrinho. A conversa fiada foi bem até o momento em que a atendente, cansada de falar e digitar, deu uma pausa para tomar um gole d’água de uma garrafa que estava à mão. Aí, ela teve que abaixar a máscara. E aí, como se diz, “a vaca foi pro brejo”. Ao ver nossa cara de espanto diante de sua feiura, a pobre moça se recolheu toda constrangida e não abriu mais o bico. E, antes que você venha implicar comigo, adianto: se fosse eu que tirasse o boné e a máscara, seria a atendente de caixa quem ficaria penalizada.

Está vendo como é bom o uso de máscaras?

Tem um jogador de vôlei do time que se sagrou agora vice-campeão da Copa Brasil, que era razoavelmente bom, não mais que isso. Quando passou a usar máscara durante os jogos, tornou-se excepcional, com cortadas e saques violentíssimos. A explicação para isso? Penso que ele tem o cacoete de fazer caretas quando dá suas cortadas. Sem máscara, ele ficava constrangido, reprimido, sem poder soltar o braço. Só mesmo tal explicação para ele ter se transformado da água para o vinho. Com máscara, ele pode fazer quantas caretas quiser.

Tempos atrás, tinha uma atriz que se apresentava num programa de TV “utilizando uma lingerie preta, máscara e chicote sadomasoquista. A jovem realizava jogos com os garotos da plateia, nos quais eles tinham que responder corretamente as perguntas ou pagar a prenda estipulada por ela – que ia desde algumas chicotadas até depilar alguma parte do corpo do rapaz” (créditos para Wikipédia). Ela se apresentava com o nome de Tiazinha e fez muito sucesso, especialmente entre os homens. Com o sucesso, começou a dar entrevistas daqui e dali, sem máscara. Foi daí, acredito eu, ela passou a perder seu encanto e magia, até que o programa foi extinto.

Não sei se você já leu “As Mil e Uma Noites”, uma coletânea de contos persas. As histórias são narradas por Xerezade, esposa do rei Xarier. Esse rei, contrariado por ter sido traído pela sua primeira esposa, decidiu desposar uma noiva diferente todas as noites, mandando matá-las no dia seguinte. Xerezade consegue escapar a esse destino, contando histórias maravilhosas sobre diversos temas que captam a curiosidade do rei, fazendo com que ele fosse adiando a decisão de matar sua esposa, já que as histórias iam emendando umas com as outras. Tendo lido “As Mil e Uma Noites” faz tempo, guardo a impressão de que Xerezade conseguiu engambelar o monarca porque estava usando daqueles véus próprios do Oriente. Se ela tivesse tirado o véu, teria sido decapitada na mesma hora. É o que penso.

Na minha adolescência, fui fã de revistas em quadrinhos. Duas delas estavam entre as favoritas: Zorro e Fantasma, que narravam as aventuras de dois mascarados.

Enquanto o Fantasma atua em um fictício país africano chamado Bangalla, tem um lobo treinado, chamado Capeto, e um cavalo chamado Herói, Zorro é retratado como um vigilante mascarado que defende os plebeus e os povos indígenas da Califórnia (Pueblo de Los Angeles durante a era da Califórnia espanhola - 1769/1821) contra funcionários corruptos e tiranos e outros vilões. Sua assinatura de traje todo preto inclui uma capa, um chapéu conhecido como sombrero cordobés, e uma máscara cobrindo a metade superior de seu rosto.

Zorro (“Raposa” em espanhol) era a identidade secreta de Don Diego de la Vega. Ao longo das aventuras, ficamos conhecendo Tornado, seu fiel cavalo negro, Don Alejandro de la Vega, pai de Don Diego, Bernardo, o surdo e mudo servo de Zorro, o sargento Garcia, o capitão Ramon, Lolita Pulido, uma nobre empobrecida que despreza Diego e é atraída para o mascarado. A fim de desviar a suspeita sobre sua identidade, Diego esconde suas habilidades de luta enquanto também finge ser um covarde e um almofadinha.

Os exemplos acima foram arrolados como testemunhas da necessidade das máscaras continuarem sendo usadas, mesmo com o fim da pandemia. Elas, as máscaras, vão assegurar a autoestima daquelas pessoas que se julgam feias e desagradáveis (veja meu exemplo e o da moça do supermercado); vão também salvar muitos casamentos, através das fantasias de Zorro e de Tiazinha. Usando máscara, quem sabe, você poderá se tornar um excepcional jogador de vôlei. Se não bastasse, elas poderão continuar sendo usadas por aqueles que tomaram uma atitude tempo atrás (em 2018) e se arrependeram amargamente, estão sem saber onde enfiar a cara. Também poderão ser usadas por aqueles torcedores que passam pelo vexame de ver seu time de futebol disputando a Segunda Divisão.

Dando ares científicos a essas considerações, estudo realizado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, órgão regulador do Sistema de Saúde dos Estados Unidos) diz que o uso de duas máscaras ao mesmo tempo, sendo uma cirúrgica e outra de pano, pode reduzir o risco de transmissão da covid-19 em 95%. Já pesquisa realizada pelo CEPA (*) conclui que o uso de máscara contribui em 96,3% na melhora da autoestima das pessoas, 91,8% ajudando na preservação dos casamentos e em 98,1% na camuflagem do sentimento de vergonha.

Por fim, a bem da verdade, vejo que sempre estamos usando máscaras, estando mascarados ou não: um juiz usa a máscara da toga; um padre, da batina; um casal, das alianças. Falando em casamento, vejo que muitos fracassam quando “a máscara cai” e o casal passa a viver a rotina, sem magia e sem encanto. Então, é por tudo isso que digo: - Vamos continuar mascarados!

(*) CEPA: Centro Eleuteriano de Pesquisas Aleatórias.

Etelvaldo Vieira de Melo


5 comentários:

Unknown disse...

Vamos ao uso continuado da máscara. Você me convenceu!

Fátima Fonseca disse...

Sim. Por vários motivos vou continuar usando máscaras. Parabéns p crônica.

Unknown disse...

Ainda não estou convencido do uso da máscara. Prefiro usar óculos. O efeito é melhor e fica longe da Tiazinha.
Mauro Passos

Geraldo Uzac disse...

Vou continuar a usar máscara, mesmo depois da vacina. As máscaras, para quem voltou a ser criança, ou seja, entre outras coisas impublicáveis, ficou sem os dentes, ajuda a esconder a boca e a disfarçar o bafo.

Unknown disse...

E lembrar também das máscaras de baile de fantasia. Onde muitos usavam para camuflar sua feiura e muitod até aproveitando para soltar a franga.kkk Voltando nas máscaras serviu para muitos sentirem o bafo que muitos nem imagina que nossa parceira senti sem reclamar.. Aloisio

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