COM MUITO MIMIMI, A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS NO REINO ANIMAL

 

Quando a ira dos céus desabou

foi na forma de uma peste, terrível mal

fazendo mil estragos por onde passou.

 

Muitos e muitos animais tiveram destino fatal

Outros se arrastavam em dor

sob efeito da moléstia ou entorpecidos de pavor.

 

Para deliberar sobre a questão

de padecimento tão cruel

propôs uma assembleia sua majestade o leão.

 

Disse ele: - Súditos amados

Certamente por termos cometido uma ofensa ferina

por um flagelo de Deus estamos sendo açoitados.

É urgente que aplaquemos a ira divina.

 

A princípio, na ideia de jejum pensamos

Entretanto, em abstinência todos já estamos.

Depois ocorreu-nos a proposta de uma confissão geral

Assim poderemos descobrir o responsável por tamanho mal.

 

Posto em votação,

o parecer do rei foi aprovado por aclamação.

 

Prosseguiu o monarca: - Não quero privilégio a mais

Se for o criminoso, com prazer pelo meu povo morrerei.

Confesso que, nas horas da fome, não respeitei a vida dos animais:

da corça, da ovelha e nem mesmo dos humanos racionais.

Se julgueis que são esses os crimes que o céu está clamando

dizei-o francamente que pelo bem de todos me imolarei.

 

Tigre, hiena, lobo, javali e outros aplaudiram:

- Vossa majestade está zombando! – e riram.

Crime, isso que praticou? Nem pecadinho venial seria!

Se comeu ovelhas, veados, pastores, muita honra lhes fazia.

 

O mesmo aconteceu com cada animal feroz em sua confissão:

em vez de ser condenado, recebia palmas e perdão.

 

Quando foi a vez do burro falar, ele só pode com voz embargada dizer:

- A única desfeita pela qual peço perdão

aconteceu certa manhã em que me encontrava sem comer:

Quando vi a pastagem do mosteiro e sua relva verde e orvalhada

fui incapaz de resistir à tentação.

 

Todos clamaram diante de tal confissão:

- Que sacrilégio! Que aberração!

Que cinismo! Que atrevimento!

É por causa deste miserável todo nosso sofrimento.

 

E o burro foi cumprir a sua sina

sendo imolado à justiça divina.

Moral:

É por isso que burro tem olhar desconfiado

Sempre sobra pra ele quando há algo errado.

 

Etelvaldo Vieira de Melo

2 comentários:

Geraldo Uzac disse...

Coitado do burro, digo do povão.

Unknown disse...

Coitado do burro. Entre tantos existe um ditado que cavalo que procura curral quer servico. Podemos aplicar ao burro também.kkk

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