CEIA DE NATAL
A panela ferve salsas e cebolas.
Rainha de Copas milmata-me
os olhos vermelhos,
sonhando com este alvo pelo preso ao pescoço.
Entoando vassoura, limpa-me Carollina
o último lírico cocô.
Trágico destino o de bichos condenados!
Gato-maravilha se anuncia
jantar nietzschiano:
- O Coelho está morto!
- Branco, Amarelo ou o Cinza?
Alice ri da tolice:
- País dos Pathos & Pratos!
Arganaz, El Matador, já bem comido,
beberica, livre, licores.
Afinado, Chapeleiro Louco executa
ao pistom afiado
o 'Réquiem de Mim menor'.
Grios
DANDO ASAS PARA A COBRA
Era uma vez quatro amigos. Três
deles haviam se tornado eruditos, tanto tinham estudado; o quarto não gostava
de estudo, era tido pelos demais como bocó, mas dispunha de bom senso, coisa
que os outros não tinham.
Andavam, certo dia, pela floresta, quando avistaram os
restos mortais de um leão. Um dos eruditos, o mais velho, disse:
- Vamos testar nossos conhecimentos, trazendo esta
criatura de volta à vida. Sou capaz de unir os ossos e reconstituir de novo seu
esqueleto.
E assim ele fez com perfeição.
O segundo, mostrando aptidões invulgares, acrescentou
carne, couro e sangue ao animal.
Quando o terceiro erudito ia insuflar-lhe o sopro da vida,
o bocó o interrompeu, dizendo:
- Tenham cuidado, amigos, pois estão fazendo um leão e,
se tudo der certo, ele pode comer a gente.
No entanto, ninguém levou a sério sua ponderação. O
insuflador chegou a falar, indignado:
- Como se atreve a questionar meu saber, seu bocó?
- Está bem – falou este. – Mas, então, espere um
pouco para que eu suba nesta árvore.
Assim, o leão reviveu e, no mesmo instante, atacou e matou
seus criadores. Só mais tarde, o bocó desceu da árvore e, guiado pelo seu bom
senso, tomou o rumo de casa.
Leitura: Esta fábula vem mostrar que sabedoria não se confunde com erudição:
muitos bocós podem ser sábios, enquanto muitos eruditos não passam de
ignorantes.
A fábula faz lembrar também o que aconteceu em país
distante.
Aproximava-se a época da eleição. Preocupados com o que
poderia acontecer, um banqueiro, um dono de TV, um deputado, um pastor
evangélico, um general, um juiz e um cidadão comum reuniram-se numa padaria da
cidade. Enquanto lanchavam (comendo pastéis e tomando Q-Suco), discutiram
acaloradamente, buscando uma alternativa para que determinado candidato,
conhecido como “Sapo Barbudo", não viesse a ser eleito presidente.
O banqueiro falou: - Meus lucros têm caído
assustadoramente. Ano passado, eles ficaram em míseros 700%. Por isso, estou
disposto em emprestar algum para tirar essa ameaça do caminho.
O deputado disse: - O Congresso vai fazer o que for
possível para impedir a eleição do Sapo. Sugiro a gente apostar as fichas no
candidato Jaboró, ele que fala muita besteira, mas que pode ser controlado.
O general falou: - Vou soltar uma nota dizendo que, se o
Barbudo for eleito, não sei não...
- Boa! – falou o pastor. – De minha parte, vou
propagar nas igrejas que Jaboró é o Messias e o Barbudo é enviado do Capeta.
O juiz falou em falsete, em tom parecido com o de marreco: -
Vou encomendar umas delações e botar o "Big Mac", na cadeia, tornando-o
inelegível. Depois, vou me aproximar do tal Jaboró e negociar um cargo no
governo. Sendo ele muito bronco, quem vai mandar vai ser eu mesmo.
O dono de TV disse: - Vou dar toda cobertura pra você,
mostrando no jornal das oito que o governo do Barbudo é um cano de esgoto.
O cidadão comum não disse nada, mesmo porque era tido como bocó. Mas ele tinha bom senso, sabia que Jaboró não era flor que se cheire, que seus colegas estavam dando asas para uma cobra. Por isso, pensou: - Estamos fudidos!
Etelvaldo Vieira de Melo
PAIS E FILHOS BONS OU MAUS
Filhos se tornam
pais, assim como pais o foram no passado. Algum dia uns herdarão os mesmos
sentimentos dos outros. Estes viverão hoje as mesmas alegrias e tristezas que
lhes proporcionaram aqueles. Alegrias representadas pelo amor, dedicação e
felicidade. Virtudes alimentadas pela educação, regras de convivência, saudável
ambiente familiar e condições ideais de vida. Tristezas pela inconsciência,
inconstância e desprezo ao sentido da vida. Houve tempos em que imperavam os
princípios que exornam a personalidade. Seriedade e honestidade. Apego familiar.
Amor ao próximo. Auxílio aos desamparados. Respeito aos pais. Temor a Deus.
Dignidade humana, enfim. Infelizmente, os tempos mudaram. Há quem admita que
para melhor. Um progresso constante. Conceitos evoluídos. Avanço da ciência e
da tecnologia. Melhores condições de vida. Mas, neste contexto, imperam os que
pensam o contrário. Os mais realistas. Infelizmente, em muitas situações e
ocasiões o que se observa é, realmente, falta de responsabilidade e, de
sensibilidade, seriedade, apreço, abnegação, respeito e consideração. E, em se
tratando de filhos, a tristeza ou infelicidade costuma se sobrepor à alegria
que deveria ser uma dádiva constante dos pais. Há filho que perde a consciência
do mal causado. Vangloria-se de suas atitudes. Considera ultrapassados os
princípios conservadores. Critica os pais e o semelhante. Não se dá ao
respeito. Depaupera-se. Uma criatura que pode ter cultura, mas desprovido da
pureza da educação. Enquanto se sente satisfeito assim agindo, causa a
infelicidade de outrem. Uma lástima para os pais e, porque não dizer, para a
sociedade. Felizes os pais, cujos filhos os enchem de encantamento e que, pelas
suas qualidades intrínsecas e nobreza de caráter, conduta ilibada e
irreparável, despertam para um futuro próspero e proeminente. Um sonho que se
torna realidade. Abençoados serão. Ao contrário, ai dos filhos que desagradam
os pais e semelhantes com sua conduta indesejável. Jamais serão decantados e
admirados por seus feitos. O desprezo e o descaso podem ser o que os espera. O
seu destino. Tomara que não. Exaltados serão, no entanto, os que, em tempo,
conseguem se redimir e reverter essa situação. A verdade é que existe um outro
ângulo a ser considerado. Os filhos, não raro, costumam seguir o exemplo dos
pais, até mesmo profissionalmente. Tudo girando em torno e em função dos pais.
É preciso, então, que, reconhecidos da inconveniência de seus hábitos, cuidem
em que se tornem pais exemplares, dignos de serem seguidos. O orgulho de seus
próprios filhos. Assim seja!
Sebastião Rios Júnior
RIPA NA CHULIPA!
O presente texto não quer mandar ninguém dar
porretada (ripa) em gente preguiçosa (chulipa). Ele quer tão somente mostrar a
beleza, a profundidade e o toque sutil de comentários aparentemente simples de jogadores e dirigentes de futebol, esse esporte apaixonante, motivo
de alegria e felicidade para bilhões de brasileiros. (A propósito do título
“Ripa na Chulipa”, trata-se de um jargão popularizado pelo narrador
futebolístico Osmar Santos, que o usava quando jogadores se preparavam para
chutar um pênalti ou uma falta durante a partida. “Ripa na chulipa” seria um
grito de força e determinação ao jogador. Outra expressão que o “Pai da
Matéria”, o Osmar, usava era “pimba na gorduchinha”, representando o acerto do
chute na bola, que era apelidada de “gorduchinha”.) Vamos a eles, os
comentários.
De Zanata, ex-lateral do Fluminense: “Na
Bahia, é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar”.
Esta citação revela, primeiro, um valioso
informe para aqueles que nunca conheceram ou venham a conhecer pessoalmente
aquele estado brasileiro. Depois, derruba o estigma de uma palavra que,
normalmente, provoca arrepios. As cidades, em geral, possuem regiões
hospitalares; agora, passam a ser chamadas “regiões hospitaleiras”. O povo,
antes hospitaleiro, agora é hospitalar.
De João Pinto, jogador do Benfica de
Portugal: “O meu clube estava à beira do precipício, mas tomou a decisão
correta: deu um passo à frente...”. (É dele também a frase: “Não
foi nada de especial, chutei com o pé que estava mais à mão”.)
A frase pede uma distinção entre o que é
correto e o que é certo. É certo, estando à beira do precipício, dar um passo à
frente? Isso faz lembrar muitas decisões do Judiciário aqui no Brasil: são
corretas, porque amparadas na Lei, mas seriam certas? O certo está no plano da
Ética, enquanto o correto é formalidade; um é questão da Lógica, enquanto o
outro é problema moral.
De Jardel, ex-jogador do Grêmio: “Quando
o jogo está a mil, minha naftalina sobe”. (Também
disse: “Clássico é clássico, e vice-versa”.)
Simplesmente bonito demais, quando uma
pessoa está tomada por fortes emoções, não conseguindo traduzir por palavras
adequadas tudo o que sente. É igual um adolescente tomado pela paixão, tentando
encontrar palavras para traduzir tudo aquilo que pesa em seu peito. Dizer “Eu
te amo?” Isso é tão pouco para o que está sentindo... Em momentos de fortes
emoções, a gente confunde as coisas e acaba até colocando adrenalina no armário,
enquanto é tomado pela naftalina...
De Dunga, ex-técnico da Seleção: “As
pessoas querem que o Brasil vença e ganhe”.
Dizem que o futebol é o esporte em que nem
sempre vence o melhor. Daí, uma das razões do fascínio que exerce sobre as
pessoas: é onde David pode derrotar Golias, o pequeno derrubar o grande, o
pobre esmagar o rico. Entretanto, quando joga a Seleção, é preciso vencer e
ganhar, isto é, vencer e convencer. Essa visão romântica tende a virar poeira
da história, nas lembranças de um Telê Santana, de um João Saldanha. O futebol
deixa de ser poesia, perde seu lirismo, para se tornar algo robotizado e
mecânico. A fala de Dunga parece lembrar essa nova geração.
De Vladimir, ex-Corinthians: “Eu
disconcordo com o que você disse”.
Quando você discorda de alguém, está se
colocando em posição contrária, apelativa, como se estivesse disposto a uma
briga. Isso não fazia parte da índole, da natureza do brasileiro até pouco
tempo atrás (quando surgiram as redes sociais). A nossa história não é
construída com armas, de lutas, de guerras, mas de acordos, sobre e debaixo de
panos, com conchavos e tapinhas nas costas. Este era (até surgirem as redes
sociais) um país onde tudo se ajeitava, era o país do jeitinho (agora, virou o
país da mentira institucionalizada). Se discordar é ir para o outro lado da
rua, disconcordar é - com mil pedidos de desculpas - quase que ficar ao lado.
De Dario, ex-jogador do Clube Atlético
Mineiro: “Não venham com a problemática, que eu tenho a solucionática”.
Está aí uma citação que torna o rugido de
leão um miado de gato. Ou seja, algo que poderia nos causar muita preocupação e
ansiedade não passa de algo banal e insignificante. Problemas, onde? Que
bobagem! Isso não passa de uma problemática, para a qual eu tenho a
solucionática! E tem mais: “o amor é lindo!”
De Vicente Matheus, ex-presidente do
Corinthians: “O difícil, como vocês sabem, não é fácil”. (Autor também das frases: “O Sócrates é invendável,
inegociável e imprestável”; “Jogador tem que ser completo como o pato, que é um
bicho aquático e gramático”).
Não, as pessoas nem sempre sabem que o
difícil não é fácil. Dizendo: “como vocês sabem”, Matheus está convidando para
que façamos um discernimento entre o que é fácil e o que é difícil. Se o
difícil fosse fácil, ele não seria difícil; sendo difícil, ele não pode ser
fácil. O problema da vida humana é que muitos tomam o fácil como difícil,
tornando difícil aquilo que é fácil; de outro modo, outros acreditam que o
difícil é fácil, facilitando aquilo que, por natureza, não é fácil, mas
difícil. Uma frase, aparentemente simples, esconde toda a complexidade de ser e
de não ser.
Falando em complexidade, vamos terminar
lembrando uma frase de Don Shula, tirada das lidas com o futebol: “O
sucesso não é para sempre e o fracasso não é fatal”. Assim é a vida, as conquistas passam e a derrota sempre aponta a
possibilidade de um recomeço.
SOB AREIAS PESADAS
Deixa-me
inflamada
excitada
descarada,
como
se tirasses o véu da mulher mundana.
Oferta-me
uma cor nova
de
falso brilho: lantejoila ouropel farfalho de tafetá ou seda indiana.
Acrescenta-me
alguma variante justaposta
pele
a pele.
Cinge
minha cintura com todos os nós
do
real banal.
Penetra-me
experiente em camas box de luxe,
onde
meus olhinhos
pisquem
pisquem pequem exaustos
de
prazer.
Aprofunda-te
bem aí
nas
raízes passadas.
Por
efeito, eu ouso
por
ébrias injunções
frequentar
segredos
dessa
nossa ausência tentadora, catando
antiguidades
do futuro.
Ai!
GRios
SOBREVIVER OU VIVER CRESCENDO
Viver é flores ser. Só lícito ser é encher-se de virtudes. Florescer é crescer
espiritualmente e preservar a dignidade humana. Ser lícito é dispor na vida de
uma conduta ilibada, marcante. E a palavra significa cumprir o sagrado dever de
amar o próximo. Ter mão a se estender e afagar. Afagar na provação do outro. Estender-se
com senso afetivo. Qualidades exornam a personalidade. Infelizmente, escoam-se no
tempo. Quiséramos feliz voltasse a confraternização, o preocupar-se com o
semelhante, a união entre pessoas.
Lembramo-nos da Copa
do Mundo aos 1950. Lá pelas nossas bandas, raro indivíduo dispunha do rádio. Solidários,
todos os aficionados do futebol se irmanavam e lotavam a casa dos afortunados,
a fim de assistir à partida decisiva. Assim, aquela decepcionante derrota para
o Uruguai passou sem constrangimento. Converteu-se, ao final, em sentimento e
consolo mútuo.
Anjos da guarda desciam na época, surpreendentes, inesperados. Milagres aconteciam. O ensino nas cidades
menores limitava-se ao Grupo Escolar. Internação em colégios de cidades maiores
constituía privilégio dos abastados. Porém, na santa humildade do lar modesto, o
querubim encontrou fórmula de custear nossos estudos. Educação e respeito buscavam-se
a todo custo. Hoje, nada concerne ao amigo, além do jogo de interesse. Onde “Amicus
certus in re incerta cernitur”?
Antigos guardiães quase não se manifestam. Mudaram-se em ideias
conservadoras. O ambiente dominante não os acolhe. Poder, egocentrismo, ambição,
turvam as cabeças. Grassam fome e miséria nas classes desamparadas. Perderam-se,
em grande estilo, a lealdade, a honestidade, a gratidão. Sorte mesmo, apenas
para o meliante inescrupuloso.
Talvez frutos do crescimento, do avanço científico e
tecnológico, romperam-se a tradição, a dignidade plural, as condições
existenciais. Devido ao avanço progressivo e destrutivo, contemplamos sozinho o
passado. Havia um enorme equipamento, também chamado holerite, gerador da folha
de pagamento do servidor federal. Ocupava o saguão do velho prédio do Tesouro
Nacional na Avenida Afonso Pena.
Após, víamos chegar gigantescos computadores. Ocupavam o
espaço físico: seletora e leitora de cartões perfurados, gravações de fita em
roldanas giratórias, processadores em paredes inteiras, periféricos. Ao
contrário dos pequenos módulos atuais, acionados por minúsculos chips, toda a
parafernália prosseguia alimentada com planilhas elaboradas pelos usuários. Obrigados, inseriam nas quadrículas as letras
das palavras.
Informações processavam-se em formulários contínuos, submetidos à consistência dos dados. Ah, sim, e também ficavam a cargo dos referidos! Diríamos: consistência da consistência. Se correta, costumava gerar, na avaliação, outra pior. Esse fato ocorria sucessivamente. Sonhávamos com os acertos on-line hodiernos.Lembramo-nos, assustado. Súbito, a seletora e perfuradora de cartões cospe fora, como vento uivante, um bloco que se espalha pelo chão. Deus nos acuda para voltarmos tranquilo ao “statu quo ante”! Agonia, desespero e suor gastamos, embora significantes. Salta-nos à memória, o telefone de boca dos idos 1950, naquela caixa pendurada sobre a parede. Ocorre-nos, pensativo, o telégrafo Morse, amparado pelo rádio, nossa diversão, labor, tristeza. Sendo meios de comunicação sempre utilizáveis, custavam excesso de luta para campeadores.
A pé, mato a dentro, eles acompanhavam e reparavam linhas
telefônicas, fiação, postes caídos, aceiros inibidores de incêndios. Vieram,
mais tarde, então, o telefone sem fio, os pequenos computadores, a TV em preto
e branco e, posteriormente, a colorida. Assistimos à Copa do Mundo/70 numa TV
de dois pavimentos, a cores. Glória e festa!
A princípio, era penoso e oneroso possuí-los. Agora,
celulares circulam lá e cá. Recebemos insistentes convites para assinatura de
telefones fixos, motos, carros de custo a longo prazo, computadores a preços
convidativos. Enfim, acha-se o Universo à disposição, aliviando esforço, aumentando
saber.
Entretanto, a Ciência, ai! A Ciência alia-se à tecnologia. Supera-nos expectativas, desenvolve-se em todos os setores. Por que, dessa maneira, poderá desencadear crise organizacional capaz de comprometer o destino planetário? Dispensamo-nos comentário acerca da possível gravidade. Queira Deus despertemos antes de qualquer tragédia iminente.
Sebastião Rios Júnior
UM PEQUENO DILEMA
Loprefâncio Caparros, como quase
todo brasileiro, já foi apaixonado por futebol. Ainda criança, na década de 50,
começou a torcer pelo Flamengo. Até hoje tem lembrança da formação do time:
- Chamorro, Servílio e Pavão;
Jadir, Dequinha e Jordão; Joel, Duca, Evaristo, Dida e Zagalo.
Depois, quando viu que era mineiro,
passou a torcer pelo Cruzeiro. Na década de 60, acompanhou o despontar de jogadores
que iriam lhe proporcionar as maiores emoções como torcedor:
- Raul, Pedro Paulo, William,
Procópio e Neco; Piaza e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo e Hilton de
Oliveira.
O tempo foi passando, o Cruzeiro
conquistou inúmeros títulos e o futebol começou a perder a graça, com os
dirigentes roubando horrores, os jogadores se vendendo a peso de ouro, radialistas
usando do esporte para conquistar cargos políticos.
Foi quando o Cruzeiro começou a
construir sua derrocada. Em 2019, caiu para a Segunda Divisão do Campeonato
Brasileiro. Em 2021, não conseguiu retomar para a primeira Divisão, ainda
afundado em dívidas praticamente impagáveis.
Hoje, Loprefâncio pensa igual o Roberto
Carlos, quando diz: “De hoje em diante vou modificar o meu modo de vida, só vou
gostar de quem gosta de mim”. Sentindo que o Cruzeiro não gosta mais dele,
pensou: “A fila anda. Vou torcer para outro esporte”. E passou a acompanhar os jogos de vôlei
feminino.
No entanto, no dia 27 de novembro
de 2021, não resistiu à curiosidade e foi assistir (pela TV, naturalmente) à
decisão da Copa Libertadores entre Flamengo e Palmeiras. O Flamengo era o seu
primeiro time do coração, e uma música diz que “uma vez Flamengo, sempre
Flamengo”. Já o Palmeiras foi conhecido como Palestra Itália, tendo sido
formado pela colônia italiana de São Paulo, fato similar ao que aconteceu em
Belo Horizonte com o Cruzeiro, que no início era também Palestra.
O dilema era aparente, de fácil solução:
entre um e outro, melhor seria torcer por nenhum. Mas Loprefâncio viu pela TV a
figura de Renato Gaúcho, personagem por quem nutre a maior antipatia (por
Renato ser um boslsonarista declarado). Decidiu: vou torcer pelo Palmeiras.
A certa altura (do jogo), entra no
time do Palmeiras um jogador bolsonarista tão nauseabundo quanto o Renato:
Felipe Melo. Aí, Leoprefâncio pensou: “- Vou torcer pelo Flamengo”. Mas, então,
ele notou na camisa do time do Flamengo uma logomarca da “Havan”, uma empresa
nojentamente bolsonarista. Então, Loprefâncio ficou sem saber o que pensar. Mas
aí o jogo acabou, com a vitória do Palmeiras por 2 X 1, deixando nosso amigo
razoavelmente satisfeito.
Quem não deve ter gostado nada foi JB, conhecido como Boslsonaro. Em um desses sítios de notícias, Loprefâncio viu uma foto do cujo, ladeado de militares, puxando saco uns dos outros, diante de uma tela de TV. A manchete da notícia dizia: “O palmeirense Bolsonaro decide torcer pelo Flamengo”.
“Vai ser ‘pé frio’ assim lá em
Dubai dos Emirados Árabes!”, pensou Loprefâncio, sorrindo discretamente.
Nota: Segundo notas de jornais,
Felipe Melo está sendo sondado para defender o Cruzeiro em 2022. Caso isso
aconteça, vai ser a pá de cal para enterrar de vez a vida de torcedor de
Loprefâncio.
Outra coisa: Renato Gaúcho, Felipe Melo,
“Véio da Havan” e Bolsonaro certamente não estão nem aí pra Loprefâncio
Caparros. Caso estivessem, por uma questão de justiça, teriam todo o direito de
ficarem indignados e tomados de nojo para com nosso pobre amigo.
Etelvaldo Vieira de Melo
POR ESTANCAR A FEMEAL SANGRIA
Rastros emergem do embaralhamento Rei de Espadas / Rainha
de Copas.
Blefe e burla, quatro naipes A J Q K formam imagens num
painel iluminado de néon. Quanto ao lance ennui do crupiê, ei-lo pálido, às
vezes; outras, rubro à luz de spots. Mesura, estratégia, voz em off na terceira
posição: Parceiro, saiu o Ás de Ouro para a incógnita loura donzela. Atenção!
Assentada no sexto lugar, ela fera se faz esconderijo. Átimo, às ocultas, a
wildcard passeia-lhe por baixo da anterior quinta saia.’
Arreliada, a infratora conta cuidados: manteve sempre o
olhar voltado para si mesma ao natural ou à selvagem. A seguir, narra sua
história de amor fogoso com o Valete, quando lhe sacou encantos sígnicos. Meio
terapêutica meio glissante meio hipócrita bruxa, confessa: ‘Tomei deveras parte
com o diacho na minha última jogada. A dama de paus nos estava roubando.
Graça Rios