Meu pai tomava o violino,
afinando-lhe primeiro
as longas cordas.
Deitava-o, a seguir,
na fronha acetinada
Adormentada afinação.
Preparo de ritual.
Meio afobado
triste meio plenilúnio,
prendia sob o rosto
algo redondo e negro:
a queixeira
o queixume.
Maestra gesta mão
virtuose
abria a Caixa,
provava-lhe a carne
revestida a rubro veludo.
Selecionava,
neste console antigo,
as melhores composições
próprias alheias,
murmurando notas
belas harmônicas
carinhosas:
Fá fá fá
mi ré lá
sol si dó.
Cobiçoso olhar febril
elevava o frágil corpo
do instrumento.
Prendia-o ao peito
de meu pai.
Enlaçando o bronzeado
da fêmea perna,
sob a liga da lisa coxa
sobre a suave ave face
daquela amada coisa
inclinava-se, sonhador
amante diamante anterior
dedo médio unhando
nela lento a cava central.
Cerrava, pois, a mente
crente luminosa
ente. Suspirava fundo
incenso de rosa da
mor esbelta flor.
Depois o tempo
depois pausado
pousado movimento
mirava-me entre lágrimas.
Entoava somente
arquejante para mim:
Oh, linda imagem de mulher
menina...
Se eu pudesse...
Poderia?
Tocava, além, ressentido
a singular cintura
desenhada em arabesco
de sua companheira
ela minha obesa eu
essa dama.
E naufragava
madrugada adentro
no canto da sereia
ser hei a
Graça Rios
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