EMPURRANDO COM A BARRIGA

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Antônio Carlos Jobim já disse que as palavras são enganadoras: digo “Maria” e penso que conheço Maria. Além de pretensiosas, elas podem atender a propósitos menos nobres, como o de camuflar a verdade, induzindo as pessoas ao erro e à mentira.

Sempre procuro tratar as palavras com respeito. Tenho por elas muita admiração e cuidado. Não penso que sejam simplesmente voláteis. A Bíblia diz que, no início de tudo, a Terra era informe e vazia, até que surgiu o Verbo, isto é, a Palavra. A partir de então, tudo passou a ter sentido.

Quem já sentiu o peso da palavra sabe muito bem da sua força. Os elogios e as críticas sinceras calam fundo no coração de uma pessoa, deixando marcas que nem o Tempo consegue apagar.

Se eu for olhar para minha história de vida, vejo que ela está marcada por palavras significativas e devastadoras. Na minha adolescência, por exemplo, fui vítima de bullying só por ter pronunciado, tal como se escreve, a palavra “Firestone”. Traumatizado, a partir de então, passei a fugir - como o diabo foge da cruz - de toda expressão em língua estrangeira. Tal medo fez com que evitasse sorveterias, já que acalentava o sonho de consumo de saborear um tal de “sundae”, que pressentia ser agradável, mas cujo nome eu não arriscava dizer.

Ainda adolescente, fui surpreendido por um colega de escola que, a pretexto de não sei o quê, me chamou de “cínico”. A princípio, julguei aquela expressão bonita, acho que cheguei até a agradecer a deferência, deixando o colega abilolado, assombrado. Quando fui buscar o significado no “Pai dos Burros”, o Dicionário, é que fui ficar aperreado, enfezado.

E assim tive a vida pontuada - ora de forma amistosa, ora de conflito - com a dita palavra. Foi essa deferência que me permitiu ser o orador da turma, quando da formatura de oitava série. Foi o descuido que me fez sofrer uma reprimenda vexatória do vigário lá de minha terra natal. Ele me pediu para colocar uma carta no Correio, destinada a um tal de Juneaux. Não sei por qual “carga d’água” (taí uma expressão que preciso pesquisar sua origem), ele me pediu para que lesse o nome do destinatário. Descuidado, falei: “Juneaux”, tal como é escrito. Em tom professoral, o padre falou: - Não sabe você que, em francês, “eaux” se pronuncia “ô”? O nome, portanto, se pronuncia “Junô”, seu “cabeça de bagre” (outra expressão que devo pesquisar a origem). 

Antigamente, quando uma pessoa queria deixar para depois de amanhã o que podia fazer hoje, usava-se a expressão que ele estava “empurrando com a barriga” (também preciso pesquisar a origem disso). Com os tempos modernos, tal expressão foi substituída por um terno, que tenho na conta de exótico: procrastinação. Assim, quando alguém está adiando uma decisão, não se diz mais que ele está “empurrando com a barriga”, mas procrastinando. Fica mais bonito e sofisticado. Tal qual o termo outlet, que veio substituir a vulgar “ponta de estoque”.

Penso que tal termo, procrastinar, é perigoso, pois pode se constituir uma forma camuflada de escamotear o “empurrando com a barriga”. Dizer, por exemplo, que um juiz está “empurrando com a barriga” uma decisão é uma acusação grave, pois significa que ele está adiando, fugindo de sua responsabilidade. Agora, se digo que ele está procrastinando uma decisão, aí vou ter que pensar duas vezes, para não incorrer no risco de ofender sua excelência.

Falando em juiz, de tanto “empurrar com a barriga”, estamos vendo nossos magistrados e políticos deixando para depois, adiando uma decisão que precisam tomar com urgência: botar na cadeia o excelentíssimo senhor Jair Messias Bolsonaro. Porque, quanto mais adiarem a decisão, quanto mais procrastinarem, mais difícil ela vai se tornar. E aí, quando, por acaso, forem fazer alguma coisa, a “Inês já é morta” (mais uma expressão para meu rol de pesquisa), “a vaca já foi pro brejo” (outra), a ditadura vai voltar a todo vapor e nada mais poderá ser feito. Hoje mesmo andei lendo um dito filósofo dizer que “é preciso reconciliar o país, e que para isso seria importante que Bolsonaro seja poupado de uma prisão que poderia radicalizar o ânimo de seus apoiadores”. Que bonito, hein? Nessa ótica, eu posso dizer que o chefe do PCC deve ficar solto e tratado a pão de ló para não radicalizar o ânimo de sua quadrilha. Não tem jeito, parece que o Brasil tem vocação para ser o “país da impunidade” (dos poderosos). Não é por acaso que Fernando Collor foi condenado à prisão e, até hoje, anda por aí leve, livre e solto.

Fico pensando assim: se no tempo em que era usual a expressão “empurrar com a barriga”, nossos magistrados e políticos não tinham escrúpulos em tal prática, imagina agora com a tal da procrastinação... Aí, a decisão de botar o golpista no xilindró vai ficar para o Dia de São Nunca, e tudo vai terminar em pizza muçarela, regada a leite condensado.

Bom, vou ficando por aqui. Sei que você está doido para que eu continue, mas preciso de tempo para pesquisar a origem das expressões citadas acima. Essa vida de cronista dá uma canseira, que só você vendo.

Etelvaldo Vieira de Melo

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Só lembrando que quem começou essa m3rd@ toda foi o Aécio, quando questionou as urnas…. Que mesmo questionada, o fez deputado pelos fdps e atuais eleitores do inelegível ladrão de joias e mais umas dezenas de crimes ( por tantos crimes diversos, representa tantos canalhas, é só dar uma pesquisada na vida dessa gente que se descobre pq Bolsonaro é a projeção deles).
Seu discurso fascista, que fala o tempo todo em corrupção…acusa, insulta e agride, como se fosse puro e honesto. Mas é apenas um criminoso comum, que fez carreira na política com a quadrilha dos filhos.
Essa gente não hesita em torturar, estuprar e roubar sua carteira, sua liberdade e
seus direitos…. e se escondem atrás de alguns gestos de caridade pra se pensarem bons!Mais do que a corrupção, essa gente toda pratica a MALDADE".
Eu só peço a Deus que eu não morra antes de ser deflagrada a fakeada!

Anônimo disse...

Milly Lacombe © @millylacombe
Bolsonaro é um sociopata psicótico fascista que fala sem olhar no olho do interlocutor.
É uma figura que causa arrepios. É um ser humano grotesco, pavoroso, asque-roso. Eu posso viver quatro mil anos e nunca vou entender como alguém conseguiu votar nesse homem repulsivo.

Anônimo disse...

Quanto mais se prova que o Bolsonaro não presta, mais seus eleitores se identificam com ele.

Anônimo disse...

Faltavam as baleias dizerem que foram importunadas pelo Bolsonaro para que ele fosse preso. Kkk Vão empurrando com a barriga!!!

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