Tomado de orgulho e de vaidade, Didi era um gato que em
si não cabia. Ele se achava. Quando olhava pro espelho – pelo menos sete vezes ao dia –
ficava todo arrepiado e dizia:
- Como sou lindo! Eu me amo! Não há pela redondeza, com certeza,
gato de pelo mais macio, de voz mais maravilhosa, de tamanha beleza.
Para se certificar do alcance de seu sucesso, foi visitar o Gato
Vitalino, artesão que fazia em argila esculturas de famosos. Didi colocou
óculos escuros, um chapéu, uma capa e um par de botas, para passar por anônimo. O mestre
mostrou-lhe várias estátuas. Lá estavam Garfield, Tom e Frajola, todos
reconhecidamente famosos. Mas Didi não viu a sua estatueta.
- Por acaso tem a escultura de um gato angorá? – perguntou como a
despistar.
- Angorá está com cotação baixa. Não vale a pena fabricar.
- Não tem a do Gato Didi?
- Ah, essa aí, nem bem é produzida, logo fica esgotada! A procura
é tanta, que mal dou conta das encomendas. Sucesso igual nunca vi.
Estufando o peito de orgulho, afastou-se o Didi.
E o tempo passou: 1, 2, 3, 4, 5 anos...
Didi ainda se olhava no espelho, às vezes incomodado por uma ou
outra ruga, um ou outro pelo branco.
Certo dia, resolveu voltar à oficina de Mestre Vitalino. Desta
vez, havia várias estátuas suas. Perguntou o preço do Gato Felix:
- Cinco latas de sardinha!
- E a Anabelle?
- Três latas de atum!
- E quanto é desta ali? – perguntou, apontando para a sua.
Ao que o Mestre respondeu com desdém:
- Bah! Esta não vale um vintém. Levando as outras, desta eu lhe darei duas de brinde!
Moral: Se você é de levantar voo com o sucesso, não se esqueça de levar
consigo um paraquedas!
Etelvaldo Vieira de Melo
5 comentários:
Maravilhoso!
Gostei demais!
Muito criativo!
Etevaldo B Dias (via WhatsApp)
…(…) O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória; a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.
A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada...(…)…
Odes de Ricardo Reis- Fernando Pessoa
Pergunta: Quem mais mal fez ao mundo?
O nazifascismo, a religião, os bancos, as mineradoras, a extrema direita?
Resposta: A ÂNSIA POR PRESTÍGIO, O EGOÍSMO! E isso não cessa….
“O que nos interessa é o meu emprego, o emprego do meu marido ou esposa e meu filho, o pequeno canto que vivo, a conquista de uma posição de prestígio e privilégios pra nossa família”
É nisso que está interessada essa massa de gente doente mentalmente!
Numa sociedade tão corrupta, violenta e estúpida, a educação nos ensina a competir… e são criadas esses seres deformados pelo medo de ser ninguém!
São muitas máscaras para tentar ser “alguém”… pomos uma máscara, quando convém, e a retiramos quando se torna mais vantajosa e conveniente usar outra máscara… e nesse anseio cria-se a mentira… a farsa do Zé ninguém.
Abraço Etevaldo!
Todo o meu esforço canalizo para a vida.
Não para o equilíbrio, não para as certezas. Caminho suportando nas costas todo o peso da desesperança, pois que a esperança, é ridículo, dramático, que a humanidade ainda precise de tê-la. Esperança em quê? Em remédios que curem?… Em poemas que se dão de mão em mão?
E as cartas sem resposta?
E os becos sem saída?
E a nova hipocrisia?
E o deus-dinheiro que nos espreita a cada esquina?… e a África?
E a América Latina?…
E todas essas universidades e tantos analfabetos?…
Toda gente sabe a extensão da verdade: surpreendendo a paisagem esfomeada, o gatilho já não precisa do dedo de ninguém. (Cruzeiro Seixas)
Quanto maior o conhecimento, menor o ego; quanto maior o ego, menor o conhecimento.
Albert Einstein
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