A BOLHA

 


Ellen Pietra

 

ANTECEDENTES:

Falamos diuturnamente sobre a trama golpista bolsonarista, momento nefasto, mas não temos memória sobre a história do Brasil desde seu descobrimento até os anos 30, período mais racista da nossa história. A trama golpista é muito antiga, fomos a última nação a abolir a escravidão e fomos o país que mais importou escravos no mundo, sem ter havido qualquer política de integração social, e essa população, embora liberta de seus algozes, continuou excluída, e o que fizeram com esse povo a não ser abandoná-lo?

Foi Hitler que possibilitou a oligarquia dessa burguesia brasileira, os ancorou em movimentos de massas à direita. Assim, tivemos a primeira família de cafajestes, antes da familícia Bozo, a família Rocha Miranda, a consolidar a elite burguesa brasileira, e esses eram integralistas e nazistas. Também Getúlio Vargas flertou com os regimes fascistas da Europa, tinha acordos econômicos com a Alemanha, e o Brasil teve o maior partido nazista, depois da Alemanha, e essa elite brasileira tem seu berço aí (assistam ao documentário INFÂNCIAS PERDIDAS NO BRASIL-Youtube). Os primeiros golpeados foram índios e negros, escravizados e/ou assassinados. O golpe da elite é um vírus maligno antigo!

Num quadro mais atual, em 2016, quando Aécio pediu recontagem dos votos, e não conseguindo a pilantragem prevista, essa elite descendente do vírus maligno deu o golpe na presidente Dilma, uma mulher firme contra os ratos do Congresso; por não concordar em fazer o que queriam, lhe fizeram o impeachment.

NÓS NA BOLHA:

Atônitos, continuamos assistindo ao que foram reduzidas as nossas instituições, parece mais uma luta de pirraça contra pirraça (o Judiciário e Parlamento estão longe do equilíbrio de poderes, há uma degeneração profunda dessas instituições).

Estamos dentro desse inferno e paralisados nessa BOLHA, contendo qualquer gesto, mas nos tornando outra identidade que não tem solução. Mas, se a gente escapa em direção à compreensão da bolha em que estamos, a gente compreende a bolha. Compreender isso é já estar fora da bolha, num espaço livre que vê os mundos e as diversas identidades que têm uma naturalidade dentro da bolha. Fora dela, a gente ganha uma liberdade adicional e é capaz de analisar as próprias identidades. Então vem a renúncia, que deixa de ser uma renúncia de atitudes nossas, mas uma renúncia a essa bolha, renúncia à nossa ignorância de ficarmos presos. Essa é a melhor forma de renúncia, a renúncia da ignorância. A própria identidade olha para si mesma e não gosta, e isso leva a uma renúncia, mas como é uma renúncia de uma identidade, ela segue e tenta se reformatar, ela tenta melhorar e essa melhora nunca resolve. Isso é considerado um antídoto, e um antídoto é como um remendo, é como um curativo, que não é a cura do corte. Portanto, essa renúncia ainda é orientada pelo ego, ou seja, essa identidade está querendo virar uma identidade GOLDEN, mas essa renúncia se conecta com uma tênue experiência de que algo possa dar certo. E pensamos que estamos no caminho. Assim, buscamos uma muleta qualquer (religião, psiquiatra, psicólogo etc.), e o que nos sobra é a busca por alguém que nos diga o que fazer, o que é certo e o que é errado, mesmo tendo o obstáculo da ignorância, preso às vezes em coisas positivas e às vezes negativas, e essa busca de alguém que possa retirar, extirpar aquilo que em nós nos desagrada, é mais uma ignorância.

Caímos então na questão do PERTENCIMENTO, que leva essa identidade ao sentimento profundo de fazer parte de algo, e que nossa presença é relevante para nós e para os outros, mesmo que esse refúgio seja nesse ambiente maligno bolsonarista, ou de qualquer outra ideologia que nos faça sentir pertencentes.

Com esse entendimento, podemos ver a bolha totalmente, estando do lado de fora!

Enquanto estamos todos defendendo a soberania nacional, a não anistia e o PL da Dosimetria (anistia disfarçada), a mídia usa uma estratégia diversionista pra manter o hipnotismo da boiada, e enquanto as pessoas estão comemorando o Bozo na cadeira, por trás desse parque de diversão está rolando o COLONIALISMO DIGITAL, que é a atual e mais perigosa perda da SOBERANIA BRASILEIRA, com esse monte de data center vindo pra cá, e nossos bancos de dados sensíveis sendo hospedados nas nuvens desses provedores, sediados nos ESTADOS UNIDOS. A própria ABIN, em relatório do final de ano, já apontou para esse perigo.

Estamos defendendo a soberania ilusória, enquanto a soberania real está sendo carcomida por debaixo dos panos.

Enquanto isso, o Lula, o Xandão, o Tarcísio, essa maçaroca, se confraternizam na inauguração do SBT News, na casa do titio Sílvio Santos, comemoram o fim dos sansões contra Xandão, o relator da trama golpista (nisso ele tem mérito). Sílvio Santos foi apoiador da ditadura, apoiou Bozo fazendo de seu genro um ministro. Assim, a mídia vai criando divertimento, para o povo prestar atenção numa coisa e não prestar atenção em outra, que é uma cena muito grave e perniciosa nesse Brasil que se tornou uma COLÔNIA DIGITAL. Estamos na cara dura, perdendo a verdadeira soberania. E comemorem, viva: o Trump voltou atrás na taxação, nos sansões contra Xandão!, mas.... a qualquer momento Trump pode pedir para as Big Techs, para os provedores, os sigilos das nuvens brasileiras, isso ninguém está anunciando nem discutindo, porque é ABSTRATO demais. As pessoas foram para as ruas para protestar contra o PL da Dosimetria, contra o feminicídio, e por que esse tipo de comoção não ocorre contra a morte dos favelados pela PM em SP, por que não ocorre contra o BANCO CENTRAL com juros mais altos do planeta, contra o financismo, contra esse colonialismo digital, que terão repercussão muito mais sérias? A forma de divertimento agora para a grande mídia, é dizerem que está ocorrendo um surto de feminicídio, tendo sido ela mesma a maior responsável por isso. Está aí um paradoxo, esse machismo renitente, onde tudo é resolvido pelo macho na base da porr@d@, que psiquicamente envenenou o brasileiro, através da diversão televisiva.

Baudrillard argumenta que: "há a extrema forma de profanação de valores que fascina a todos, a vulgaridade e bizarrice e atingem de forma certeira o segredo da hegemonia. Ocorre a onipotência explícita sem o menor pudor ou cuidado, e não chegamos a uma síntese final, mas a uma implosão onde os polos dialéticos (guerra/paz, verdade/mentira, real/virtual) colapsam uns sobre os outros, perdendo oposição".

A ESCULHAMBAÇÃO DENTRO DA BOLHA:

-  A ESQUERDA cada dia mais com esse discurso neoliberal progressista, intelectualizado, tentando atingir esse homem branco sem cultura, que é explorado, que acorda às 4 da manhã para pegar o ônibus; mas esse se sente mesmo é aliado do patriarcado, e o pastor o faz sentir que o pertencimento é que interessa.

- A EXTREMA DIREITA, DIREITA e CENTRÃO (nome dado pela mídia para esconder os partidos de criminosos que aí estão incluídos), estão visivelmente aliados com o crime organizado, PCC e CV, fazendo do Congresso o Primeiro Comando, que insiste em fazer política para garantir a bandidagem, crimes de toda ordem, inclusive só trabalhando em causa própria. Projetos para o povo, votam contra descaradamente. O PL da Dosimetria relatado pelo cafajeste Paulinho da Força, CONTRA a decisão LEGAL do STF, contra a democracia e a favor do golpismo (com extensas provas da tentativa de golpe e assassinato do presidente da república, seu vice e o ministro do STF), mostra que o CENTRÃO (União Brasil, PP, PSD, Republicanos, MDB, PL, Podemos, Avante, Solidariedade, PTB e PSC) e mais Bolsonaro e seus áulicos foram os artífices dessa trama.

- A GRANDE MÍDIA, insatisfeita com Toffoli do STF, que mexeu na caixa amarela do Sérgio Moro e mandou a Polícia Federal para a Vara de Curitiba a fim de levantar os crimes do “Marreco”, o semideus da Globo, começa a destroçar o ministro. Bem sabemos que essa Grande Mídia nunca se preocupou quando esses mesmos ministros do STF estavam nas festas com FHC, com João Dória, nos jatinhos de empresários que tinham processos no STF. Ninguém sabia nada do Toffoli, essa figura errática, mas agora a MÍDIA está preocupada com a falta de ética dos ministros do STF.

- JUDICIÁRIO: Um Desembargador no RJ avisou o deputado Barcelar (candidato do Bozo a governador do Rio), sobre operação da PF contra o CV, e esse desembargador era o responsável pela investigação; por sua vez,  Barcelar avisou o deputado TH Joias, mediador do CV (Comando Vermelho). Portanto, bandidos estão infiltrados em todos os setores de poder.

- RELIGIÃO: Ninguém vê os bilhões de Malafaia e Edir Macedo, de fontes duvidosas e de exploração da fé, mas essa gente de direita e extrema direita VÊ o Padre Júlio Lancelloti, essa figura que cuida dos abandonados e famintos nas ruas. O deputado mineiro Júnio Amaral, milico bozofascista, mandou documentos para o Vaticano, acusando o padre de crimes. Já o tal Dom Odilo, aquele que queria - junto com o João Dória - DAR AOS POBRES RAÇÃO FEITA DE RESTOS, esse se incumbiu de cancelar integralmente o padre Júlio Lancelloti , justo o único a se dispor a fazer o serviço proposto por Jesus, cuidar e alimentar dos pobres sem teto.

- ARTE: Zezé di Camargo - o sertanojo que recebe milhões de prefeituras bolsonaristas, nas cidadezinhas que não têm nem rede de esgoto, nem carteira e giz nas escolas - chamou as filhas do Sílvio Santos de prostitutas, e escancarou o machismo estrutural. Usou ofensa moral para medir o valor das mulheres, justo ele que tinha amante quando casado. Essa incitação de ódio teve como pretexto a presença do Lula no lançamento do SBT News, mas Tarcínico estava lá também e não o incomodou, e isso revela que o patriarcado de extrema direita ainda tenta naturalizar o ódio e o desprezo pela mulher.

- MARCO TEMPORAL: "Só tem direito a terras indígenas povos que estavam já fixados ou disputando terras quando foi promulgada a constituição de 1988". O STF formou maioria votando contra essa excrescência chamada MARCO TEMPORAL por ser inconstitucional. As pressões do AGRONEGÓCIO e do CAPITAL exigem o marco temporal, porque legaliza para eles terras indígenas ROUBADAS, GRILADAS, TOMADAS e com muito sangue nas mãos. O que está escrito na Constituição sobre os direitos dos índios é suficiente para desbancar esses cafajestes do Agro, da Mineração e do Capital. Esse interesse do povo brasileiro, mais do que interesse dos povos indígenas, deveria provocar uma manifestação de rua, pois isso diz respeito ao clima do planeta, a economia do Brasil e ao patrimônio da União (terras onde vivem o povo indígena não têm dono, são da união, e isso é o que os índios defendem, a terra é de todos).

- COP30: As MINERADORAS patrocinaram a COP30, quer mais hipocrisia que isso? A exploração da margem equatorial da Amazônia para extração de petróleo não entrou na COP30. Houve protesto massivo dos indígenas contra a festa da COP30, festa dada para os países metropolitanos, e os povos indígenas, os protetores das florestas e rios, não tiveram espaço na agenda fundamental. Isso é o máximo da hipocrisia.

- SÉRGIO MORO (União Brasil): Material achado pela PF no vasculhamento da 13a Vara de Curitiba, mostra que Moro grampeou autoridades ilegalmente, usando delatores para fazer os grampos, grampos esses usados para chantagear juízes, desembargadores e políticos. O grande canalha, que não vale nada mesmo é esse sujeito, que é responsável direto por todas as desgraças deste país, inclusive pelo fascista burro Jair Bolsonaro.

VENDO DE FORA DA BOLHA:

Estamos discutindo sobre Fake News, mentirada dessa gente abjeta de direita e extrema direita, enquanto deveríamos estar discutindo sobre as REGRESSÕES INTELECTUAL E COGNITIVA PROFUNDAS que nesse país se instalou. As pessoas passam os olhos na tela do telefone e se acham informadas.

Se seguirmos numa perspectiva de identidade, tentando melhorar simplesmente por agregar qualidades e também pertencer a outro grupo, então a gente não vai a lugar nenhum.  Temos uma potencialidade e não precisamos de ajuda externa, de grupo externo, de pertencimento a o que quer que seja, pois a natureza incessantemente presente não precisa ser construída, ela só precisa ser observada em si. Não é opção de um lado ou de outro que nos vai garantir alguma coisa, mas a sustentação, o reconhecimento e a visão do que acontece que nos leva a atingir algum resultado.  Devemos avaliar o processo constantemente, ver esse movimento e onde ele nos leva, sem nos entregar ou deixar desaparecer a nossa consciência sobre o fato, sobre a VERDADE. Nessa luta interna, algum tipo de hipocrisia pode surgir também, pois mesmo na liberdade, na vontade de se tornar um e não um fragmento de um grupo, posso me adornar e pensar evoluir ainda mais que outros, e isso é o caminho pra outra BOLHA!

VER o que importa é o que interessa, OBSERVAR essa nossa identidade criando outras identidades incessantemente, buscando nos tornar felizes, mesmo que estivermos sofrendo, não passa de uma busca pelo MATERIALISMO ESPIRITUAL. Quando nós olhamos a realidade tal como é, fazendo parte dela, mas sem pertencer a ela, essa é a bem-aventurança, sem esperança, mas além da ilusão da identidade em ser o que quer que seja, QUE NÃO SEJA A VERDADE.

SIMONE WEIL argumenta:  "A atenção perfeitamente pura, a atenção que é apenas atenção, é a atenção voltada para Deus, porque ele está presente apenas na medida em que há atenção".

Dá-se então a quebra da BOLHA .... É preciso acordar sozinho(a)....


O POVO É A FORÇA DA MUDANÇA

 




Quero apenas ver o direito brotar como fonte, e correr a justiça qual regato que não seca.

(Amós 6, 24)

(11/12/2025)

Vamos fazer nosso grito ecoar. Domingo “a rua é do povo como o céu é do avião”. O nosso direito há de dar brotos! Vamos dar as mãos ecoando nossas vezes, entrelaçando a esperança e abraçando a solidariedade.

Reduzir a pena de políticos envolvidos em trama política é aprisionar a democracia. É vergonhoso anistiar golpistas. Com isso, os políticos agrediram o país. Queremos justiça e ética na politica. Queremos limpar o Congresso e o Senado de tanta transgressão. Política precisa de normas válidas para todos. Sem isso, a política é intolerável - submete e perpetua a situação de dominação. Diante do que está acontecendo no Brasil, é hora de retomar, em nível nacional, o “Movimento pela Ética na Política”, a exemplo do que fez Betinho na década de 1990. Temos que provar nas eleições, em 2026, o quanto essa ideia é boa e pode ecoar. Assim, a mudança pode ser feita. E teremos outros políticos assumindo os caminhos da nação. A democracia precisa respirar. É preciso recuperar o sentimento de respeito, responsabilidade e seriedade na política brasileira. “O Brasil está aí para ser criado e recriado”, com outros políticos no Congresso Nacional. Essa criação precisa ser começada. O começo pode ser com nosso grito - fonte de energia e força que contagia. A canção de Chico Buarque é uma bandeira para o futuro - o futuro de Hugo Motta: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia. Você vai se dar mal, etc. e tal”. Para não esquecer: “O Brasil está aí para ser criado e recriado”.




(12/12/2025): DERROTA DOS GOLPISTAS... DERROTA DE HUGO MOTTA

Ideias pré-fabricadas são 

muito mal fabricadas.

(Maurice Druon, “O menino do dedo verde”, p. 15)


Alexandre de Moraes anulou decisão da Câmara  e determinou cassação imediata de Zambelli. As ideias mal pensadas (na calada da noite) foram mal fabricadas pelos golpistas. Daí a “importância do ato de ler”. Esse foi o problema dos deputados golpistas para manter o mandato da Zambelli. Não sabem ler a Constituição Brasileira. Só para lembrar - ler é interpretar. Ler é refletir. Exercício exigente e diferente de ideias pré-fabricadas.

(Mauro Passos)

A CONSCIÊNCIA NEGRA ABRIGA O SOM DA ESPERANÇA

 


 

Só o desejo inquieto, que não passa,

Faz o encanto da coisa desejada.

(Mário Quintana)

 

É bom lembrar que só existe uma raça: a raça humana que forma uma grande família. Muitas questões, conceitos e preconceitos estão presentes na história dos povos e nos becos do Brasil. O som da cor acompanha as versões e interpretações da nossa cultura. No trilho de vozes, nas mãos calejadas pelo trabalho duro e no brilho de rostos que canta e encanta, a raça negra construiu o Brasil. Forçados a migrarem para o Novo Mundo, várias nações e tribos africanas fizeram o Brasil. As gerações que se seguiram colheram os frutos dessa gente sofrida. Entre tantos líderes, permanece viva a figura de Zumbi dos Palmares. Encarna e lembra outros líderes que “fizeram o brasil, Brasil” e que "fazem o Brasil", trazendo lições de trabalho, arte e afeto. No final do século XVII, o padre Antônio Vieira afirmou: “O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África”. O que foi acontecendo, ao longo dos séculos, com nossa brasilidade e maneira de perceber a história? A afirmação da “consciência negra” foi-se sedimentando com lutas, dor, coragem, arte e esperança. Não se pode esquecer que o racismo, como ideologia elaborada, é fruto da cultura moderna a serviço da dominação. O combate ao racismo acontece no interior da luta social, através de um processo de “descolonização cultural”. Segundo a filósofa Angela Davis: “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Tudo que degrada a pessoa é injusto, fere a alma e rebaixa o ser humano. As diferenças culturais, religiosas, de raça e gênero, como outras, são reais e históricas. Diante da “ordem burguesa” ou do “branco moderado e morno”, somos convidados a abrir propostas solidárias como também estimular trabalho e luta por uma causa humana, social e cultural. Como tornar real a democracia? O problema não é novo. É de todos os tempos (desejo inquieto). Nossa brasilidade é construída com cores e dores. O tema “Consciência Negra” é um convite à reflexão para um amplo debate que abra caminhos de humanização. Concluo com o pensamento de Martin Luther King em sua “Carta a colegas de bom senso”: “Chegamos agora ao momento de elevar nossa política nacional, da areia movediça da injustiça racial, ao rochedo inabalável da dignidade humana”. Não importa quão duro seja o presente, precisamos reinventar o futuro para não deixar a democracia emagrecer.

(Mauro Passos)


PARA QUEM ACHOU QUE PIMENTA É COLÍRIO

Imagem: Freepik


A passagem de Jair Messias Bolsonaro pelos tribunais de Justiça do país tem se arrastado mais que novela mexicana dos tempos de antigamente. Está se tornando uma verdadeira agonia aguardar o desfecho dessa trama tropical, com don Jair assistindo ao “sol nascer quadrado” por detrás das grades de uma penitenciária qualquer.

Nunca, em tempo algum, vi tanta gente empenhada em livrar a cara de um réu tão comprovadamente confesso, como é o caso do Jair. Agora, com os tribunais decidindo que a justiça deve ir para os finalmentes, cria-se um alvoroço, quase chegando ao estado de comoção nacional, com as ‘inteligências pensantes’ se perguntando qual o presídio digno da receber tão ilustre visitante.

De Brasília, o governador Ibaneis, com aquela sua carinha de boneco Chucky – o brinquedo assassino, diz candidamente desconhecer o estado de saúde do ex-presidente, se ele é capaz de aguentar os “trancos & barrancos” de sua Papuda. De outras partes, vozes indignadas dizem que não existe no país presídio algum digno de receber tão ilustre hóspede.

Todo esse script encaminha a novela para três saídas - primeira: o ex-presidente ser anistiado, sofrendo punição alguma; segunda: ser condenado a uma prisão domiciliar de faz de conta: terceira: ficar “preso” em uma colônia de férias do Exército.

Temendo que alguma dessas hipóteses venha a acontecer, gostaria de refrescar a memória desses paladinos humanitários, lembrando o que Jair Bolsonaro aprontou nos tempos da Covid no país. Já se esqueceram de como ele ridicularizava as pessoas sendo mortas, sufocadas pela falta de ar? Ou, então, como ele se gabava de sua formação militar, que não lhe permitia ser derrubado por uma gripezinha qualquer? Qual é? Ele não se declarava o coisa e tal? Nunca vi tanto mimimi.

Espera lá – você pode me interromper. – Não tem você nenhum sentimento de humanidade?

Tenho, tenho até demais, que posso passar por bobo. Mas prefiro usar esse sentimento para com aqueles menos favorecidos. Para gente como Jair Messias Bolsonaro, o que eu quero é Justiça. Chega de impunidade, ela que só faz corromper a Democracia.

Etelvaldo Vieira de Melo

 

 

O BEIJO DE JUDAS E O LUGAR DA UTOPIA

 

A gente quer viver todo respeito

A gente quer viver uma nação

A gente quer é ser um cidadão.

(Gonzaguinha)

 

As religiões têm expressões de beleza como também falam de utopia, esperança, felicidade, solidariedade. Estamos sempre em busca da felicidade. Existe uma relação histórico-teológica entre a beleza e o sagrado, como está no livro da Sabedoria: “A beleza das criaturas conduz por analogia a contemplar o seu Criador” (13, 5).  Hoje, a velocidade, a pressa, o imediatismo, a eficácia, a produtividade liquidam o cuidado, o afeto. O determinante é o consumo. Caminhar à toa, ouvir uma música ou cuidar de um jardim são crimes de “lesa-agenda”. E, assim, vamos perdendo a sensibilidade, o desejo de mudança, os gestos de gratuidade. E, assim, vamos perdendo a capacidade de contemplação, admiração e encontros. Nesse caminho, qual o lugar da utopia (a solidariedade, os sonhos...)? Em tempos de crise, imaginamos uma realidade diferente: uma cidade harmoniosa em oposição ao caos urbano, a paz em oposição à guerra, a não-violência em oposição à violência, uma religião conectada com a vida, a educação como conscientização e formação humana etc. Esse caminho transformador e utópico pretende resistir à força mantenedora do status quo. Como lembra o poeta Manoel de Barros: “A expressão reta não sonha”. A utopia é uma forma de criticar a realidade para não se permanecer passivo e indiferente diante de uma realidade desumana e de uma estrutura desumanizadora. A utopia é um caminho de busca que propõe outras organizações, outras relações e outras formas de vida. O que a utopia propõe, portanto, é um impulso da ação para o bem de todos. Enfim, a construção da humanidade em todos os aspectos. Confiança e esperança são aprendizes do sonho, da consciência e lucidez. O ser humano é um animal que crê, conquista, sonha e reinventa. O ser humano quer a paz. E paz não se delega, é construção. É respeitar o outro: o pobre, o sem-terra, o morador de rua, o desempregado, o idoso, o mendigo. Como lembra o poeta Pablo Neruda: “É terrível, e ao mesmo tempo comovedor, ser por um instante, o portador da esperança dos oprimidos”. Com tantos contrastes, as religiões têm um papel efetivo de transformação social – plantar a paz, contribuir para dias melhores, principalmente para as camadas populares. O cristianismo deve se mobilizar em forma de ‘Boa Nova’ para responder às necessidades dos povos. Os aplausos ao governador do Rio de Janeiro, em uma Paróquia Católica, fizeram com que ele avaliasse a barbárie? Ou foi uma nova versão do beijo de Judas? Diante do ocorrido, o desafio é pensar, mudar, tornar a pensar, para mudar mais uma vez. A não-violência é o caminho para a paz. Neste contexto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ficou fora do contexto (se fez silêncio). A perda da tradição é sinal de nosso tempo como também a falência das instituições. Construir a paz é acolher (lambuzar-se no outro). É comprometer-se com as causas do povo. Sem humanidade o cristianismo se torna um adorno e perde seu projeto – o amor a Deus e ao próximo. Há muitas religiões, mas só um Evangelho e só um Deus. Se em outras religiões, as pessoas buscam a Deus, no cristianismo é Deus que vai em busca das pessoas: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (João 10, 10). Essa é uma questão norteadora – avivar a utopia do Evangelho para completar a criação da humanidade.

(Mauro Passos)


A NÃO-VIOLÊNCIA É O CAMINHO PARA A PAZ



Não é possível separar a fé do amor pelos mais pobres. 

Se não o fazem, a democracia atrofia-se, torna-se um 

nominalismo, uma formalidade, perde a representatividade.

(Papa Leão XIV)

No Rio, Zema enaltece a ação da polícia e afirma: ‘Não ouvi falar de inocente que foi morto’. Por uma questão de bom senso, não “ouvo” (neologismo criado pelo Zema) governador de Minas. Uma casca de banana tem mais cuidado com o fruto: preserva e cuida. Assim, é também a política. Com educação, ética, justiça e respeito é possível fazer um governo para todos. Violência não é o caminho para a paz. A justiça não pede sangue.

(MauroPassos)


SUJEITO E PREDICADO

 

Quem cultiva a semente do amor

Segue em frente e não se apavora.

(Grupo Revelação)

 

No ginásio, hoje ensino fundamental, a gente aprendia a descobrir o sujeito e o predicado das orações. Por exemplo: “Gandhi pregou a não-violência”; “Dom Helder foi um bispo profeta”. “Paulo Freire é o patrono da educação brasileira”. “Irmã Dorothy deu a vida pela Amazônia”; Zilda Arns trabalhou pela saúde; “Henfil combateu a fome”. Nesses exemplos temos o sujeito das orações: Gandhi, Dom Helder, Paulo Freire, Irmã Dorothy, Zilda Arns, Henfil. Uma pessoa se torna sujeito quando tem capacidade de dialogar, ouvir, conviver e respeitar. O sujeito prioriza a vida, assume desafios, tece relações. Respeita até os menos dignos. Os predicados estão grifados. São predicados que crescem em verdade, cuidado e partilha. Cultivam “a semente do amor”. As palavras dão forma aos sentidos e significados. Detalhe: a arte está no verbo “fazer” – mais ainda, saber fazer com respeito. Considerando a realidade atual e os problemas do cotidiano na política, cultura, educação e religião, sentimos saudades desses líderes. Uma questão: Estamos órfãos de pessoas boas, honestas e do bem? O mundo deu muitas voltas. Como pensar o Brasil no quadro trágico que vivemos hoje? Rubem Alves lembra “o que a memória ama fica eterno”, gera novos líderes, profetas, pastores, políticos, educadores, religiosos. E, hoje, temos no Brasil pessoas que lutam pelo bem, pela justiça, pela democracia, pela ética na política e por uma religião inserida no tecido do cotidiano, por um lado, Por outro, temos pessoas que ocupam cargos, mas não são líderes. Não têm predicados. Fazem silêncio. Emudecem os sentidos e os significados. Em lugar da “não-violência” são a favor do uso de armas; em lugar da profecia são omissos; não trabalham pela educação; não defendem o meio ambiente; não fazem nada pela saúde; não combatem a fome. São pessoas que vão empurrando a democracia. Aqueles líderes, com predicados, conferiam vigor à esperança, renovavam a confiança mobilizando as pessoas e os grupos para a compreensão e mudança da realidade. Essa dimensão não pode ser esquecida em nenhuma área, particularmente na política. É hora de saber o que fazem os atuais deputados e senadores. Que tipo de sujeito é cada um? Qual o predicado deles – o bem-estar da população? O cuidado com a democracia? O fortalecimento do serviço público e da saúde? Boas condições de trabalho e habitação? Educação para todos? Para terminar: Considere os políticos mais votados em sua cidade. Faça um quadro com o nome de cada um e veja se votou a favor ou contra o bem-estar social. Qual o predicado deles para serem deputados ou senadores? É preciso analisar, pensar e avaliar. É um exercício de cidadania, por isso exige lucidez, coragem, vontade de mudar. “Quem cultiva a semente do amor... colhe o que plantar”.

(Mauro Passos)


A CRISE DA VERDADE

Imagem: Shutterstock.com


Falar sobre a VERDADE pode ser algo que incomoda muita gente, mesmo porque dizem que TODO MUNDO MENTE.

Mas, atualmente, a VERDADE perdeu espaço de forma assustadora, pois não é mais a VERDADE que interessa, mas aquilo que VALIDA, CONFIRMA e REPERCUTE.

A VERDADE virou OPINIÃO, e não há mais argumentação e escuta, perdemos a capacidade de construir um debate.

A CRISE DA VERDADE é a CRISE DA DEMOCRACIA, e toda essa falação nas redes sociais virou a CRISE da HONESTIDADE, da SINCERIDADE e da TRANSPERÊNCIA, e nisso todos nós estamos imersos, nessa bolha de excesso da exposição e da busca desesperada por atenção.

Nessa crise de TRANSPARÊNCIA, cito a INVISIBILIDADE da devastação da VALE, crise que só tivemos olhos para ver algo que estava oculto, com as tragédias criminosas de Mariana e Brumadinho. Vale que riscou o Rio Doce do nome, porque do Rio só sobrou o desastre que atingiu ao menos 45 municípios, onde vivem cerca de 2,2 milhões de pessoas. Essa oculta transparência Drumond já chamava de "o trem monstro mineiro" em seu poema! Mas o escravo do capitalismo pensa que pode acabar com esse mundo e criar outro, e isso é a negação da VERDADE.

Na crise da VERDADE, dizem que o agro é POP, que tem a participação mais importante no PIB, mas, se tivermos olhos para ver o que está oculto e SEM TRANSPARÊNCIA, o certo é que o agronegócio está envenenando a terra, acabando com os rios, arrasando com as bacias hidrográficas, destruindo tudo, porque o lucro é o único interesse do capitalismo. A história colonial do Brasil é uma história de genocídio contra o povo indígena..., mas quem quer saber da VERDADE de que o Brasil foi edificado sobre cemitérios indígenas?

Segundo Freud, o EU nega justamente aquilo que o inconsciente afirma e deseja ilimitadamente, ou seja, o ser humano é um ser repartido no consciente e inconsciente, nesse conflito onde o Eu nega aquilo que o inconsciente afirma. Portanto, a TRANSPARÊNCIA é impossível, há uma seleção do que se quer mostrar, e a condição humana é INTRANSPARENTE, a transparência está oculta, ausente no cotidiano. 

Acredito que a MENTIRA passou a ser doença do mundo contemporâneo, não há mais informação confiável, é a doença da confusão, da não diferenciação entre VERDADE E MENTIRA. As pessoas não checam se a informação é factual ou falsa, e isso deixa a pessoa confusa. Fake News atacam a factualidade, desfazem a realidade e são feitas para destruir a credibilidade, o importante é gerar uma bagunça nas redes sociais, de forma que a pessoa se convença com o que mais lhe convém. Veja o caso das vacinas que foram descredibilizadas pelo Boçalnaro, que apesar de ser Fake News, o dano está causado, mesmo que você diga que a vacina é confiável. Temos atualmente um surto de coqueluche em crianças, e várias doenças já erradicadas estão retornando. Aliados ao negacionismo bolsonarista, pastores negacionistas convencem os pais a não vacinarem as crianças. As teorias da conspiração são difíceis de checagens, pois os algoritmos as proliferam, produzindo um impacto sobre a percepção da realidade.

Para Foucault, parhesia é a coragem de dizer a verdade, é um ato de coragem e ética que exige um compromisso vital com a VERDADE.

Sócrates foi um praticante da VERDADE, e essa prática me faz concluir que, a gente sabe se uma pessoa está falando a verdade quando há um risco sobre ela mesma, ao que ela se expõe. As pessoas dizem coisas que nem elas mesmas acreditam, mas elas sabem que aquilo que é dito é conveniente para elas. Esse tipo de pessoa só está ocupado em produzir o melhor resultado para si, mesmo sabendo que é MENTIRA.

Se para Nietzsche "DEUS ESTÁ MORTO", arrisco dizer que "a VERDADE ESTÁ MORTA", "QUE OS MEIOS DE INFORMAÇÃO ESTÃO MORTOS" e que a "NARRATIVA TAMBÉM MORREU".

A DEMOCRACIA PODE EXISTIR SEM A VERDADE?

Observo que as figuras que brotam do submundo digital, nada têm a ver com política, estão saindo do mundo de espetáculos televisivos, como o Tiririca, o palhaço, e figuras bizarras como Cleitinho e Nikolas que saem das lacrações do TIK TOK. Não importa mais o debate, mas a capacidade de oferecer ENTRETENIMENTO. Eles substituíram o discurso político por táticas de impacto, por gestos que buscam viralizar, numa comunicação feita para chocar e não informar, e nesse jogo ganha quem aparece mais, mente mais, e não quem tem um projeto de país. Ainda contam com a grande mídia que levanta a bola na rede para essa gente abjeta de direita e extrema direita dar a cortada. A mídia faz um pano de fundo com o final do mundo com crise climática, meteoro, vulcão, explosões, pois é mais fácil convencer o povo do fim do mundo do que do fim do capitalismo. A mídia normaliza o discurso do milico Tarcísio, substituto do milico ladrão golpista, mas ambos têm a mesma fala diante de tragédias: o Bozo, diante das mortes da Covid, dizia "eu não sou coveiro"; o 'Tarcísio, diante das mortes pelas bebidas com metanol, diz "eu só vou me preocupar quando começarem a adulterar a Coca-Cola". É o máximo da indiferença à dor alheia, e é assim que essa gente, parida pelo Exército, vê a sociedade como um inimigo interno. Aliada a isso tudo, ainda tem a deficiência cognitiva do eleitor de extrema direita, que se torna massa de manobra para vozes desordenadas e sem filtro, sem critérios e que se tornam OPINIÃO, fazendo com que desapareçam a ponderação e argumentação. Precisamos desenvolver meios para combater noticiais falsas ou notícias que distorcem o mundo factual. Uma coisa é se expressar livremente, dizer o que pensa, outra coisa é dizer a verdade, é dizer o que não excede o direito constitucional. A VERDADE tem uma conexão profunda com a DEMOCRACIA, enquanto a MENTIRA tem uma conexão profunda com a DITADURA.

 

PODERÍAMOS ENTÃO DIZER QUE ESTAMOS DIANTE DE UM NOVO REGIME DE PODER?

Se vivemos imersos na confusão de estímulos digitais e perdemos a capacidade da escuta atenta, contemplação e reflexão, podemos dizer que nesse novo regime de poder há liberdade, a tal liberdade que os cafajestes bolsonaristas falam, não há silêncio, ninguém manda calar, pelo contrário, ele incentiva que falem, falem sem parar, falem até morrer, mas que falem SEM FILTRO, falem SEM CRITÉRIO, falem SEM PENSAR e, nesse cenário, quanto mais ruido melhor, porque nesse cenário há dispersão e não há como construir uma VERDADE COMUM.

E COMO ESSE NOVO PODER É EXERCIDO HOJE?

Segundo Byung-Chul Han, um filósofo sul-coreano, radicado na Alemanha e atual professor na Universidade de Berlim, ele diz que saímos da DEMOCRACIA (Poder do Povo) e entramos na INFOCRACIA (Poder da Informação). Um poder não mais centrado na repressão direta, na censura explícita, da violência visível, mas sim através de um excesso de dados, de estímulos e de mensagens, em que todo mundo fala, todo mundo opina, todo mundo expõe, e justamente por isso, o discurso se esvazia, se fragmenta e se perde a profundidade, e com isso o pensamento dilui. Ele nos alerta que substituímos o pensamento pela reação, o saber pela opinião, e isso tem consequências profundas não apenas para a cultura, mas para nossa capacidade de viver em sociedade.

Ele diz que hoje, a caverna pode ser formada pelas redes sociais, pela mídia tendenciosa, pelas bolhas de opinião e pela superficialidade da informação. Estamos cercados por sombras, narrativas distorcidas, que aceitamos sem questionar. Sair dessa caverna exige pensamento crítico, disposição para ouvir diferentes perspectivas e coragem para mudar de opinião e questionar as próprias certezas, aceitar o desconforto do aprendizado, que vai além do interesse em si mesmo e das próprias conveniências. Ele diz que os algoritmos nos entendem mais que nossos pais, amigos, psicólogos. Sabem como a gente se comporta, quais são nossas preferências políticas, nossos hábitos alimentares, religião, enfim tudo! Dar um like na rede social é dizer ao algoritmo o que gostamos, e através do celular ele passa a saber onde entramos, que tipo de lugar frequentamos, quais são as coisas que gostamos, que não gostamos, e às vezes consegue ter dados muito específicos sobre nossa vida.  A exploração total de dados permanentes sobre nossa vida é uma FORMA VIOLENTA DE CONTROLE TOTAL. Diz que somos para o algoritmo um PERFIL que vive numa sociedade controlada pela informação e não mais por um governo. O PRESÍDIO DIGITAL É TRANSPARENTE, ele estuda o indivíduo e aprende o que o indivíduo quer, para mantê-lo na plataforma. Temos nas redes vários comunicadores digitais, mas isso é irrelevante, pois existe o FILTRO principal, que só vai direcionar para o indivíduo o que ele gosta e quer ouvir, sendo impossível entrar com a VERDADE em ambientes que estão contaminados por MENTIRAS. A PRISÃO é tão real, que se abandonarmos as redes sociais, o mundo digital, criaremos um isolamento social, e, portanto, a exposição é voluntária. Há um totalitarismo digital eminente. Não tem como combater a mentira com a VERDADE, e atualmente a MENTIRA influencia o jogo político de forma perversa e de forma instrumentalizada. Hoje, não adianta ouro e arsenal de guerra, é preciso saber como as pessoas estão lidando com as informações e qual o impacto delas em suas emoções.

ENTÃO A DEMOCRACIA VAI MORRER?

A soberania deveria ser revisada, pois soberano é quem detém e dispõe dos dados da rede. Acho assustador saber que as comunicações intragovernamentais acontecem dentro da plataforma da Microsoft, que também é responsável pelos e-mails da suprema corte brasileira e todas as sentenças e e-mails do judiciário que estão hospedados dentro de uma plataforma estadunidense! Devem ter a conversa de horas, dos dispositivos de comunicação, de pessoas chaves do governo e do judiciário brasileiro. Parece então que está tudo na mão do inimigo, pois as Big Techs de governo americano não são amigos de ninguém. Digo assustador porque Israel, no genocídio em Gaza, utilizou esses dispositivos para explodir pessoas. Hoje, não adianta ouro e arsenal de guerra, é preciso saber como as pessoas estão lidando com as informações e qual o impacto delas em suas emoções. Não há espaço para a DEMOCRACIA, a INFOCRACIA te leva a querer o que o grupo do algoritmo quer. Mesmo porque a MENTIRA é mais atraente que a VERDADE, e a democracia não pode subsistir onde houver Fake News. As Big Techs são incompatíveis com o cenário de DEMOCRACIA.

ALGUÉM QUER VER ALÉM DAS SOMBRAS?

As pessoas estão confusas, inseguras, têm medo, e essas emoções surgem do desconhecimento de como a realidade funciona, é mais fácil buscar uma pílula com o psiquiatra que entender O QUE É A REALIDADE DAS COISAS, de nós mesmos, porque não sabemos o papel da mente na construção da realidade, a distinção entre a VERDADE última e relativa, tão fundamental, parece estranha para o povo.

Também nessa confusão e medo, o indivíduo, se não cai na VERDADE do psiquiatra (a pílula mágica da tarja preta), cai na VERDADE do pastor que diz para o seguidor que, apesar dele estar pagando o pecado naquele momento, se ele estiver na igreja, ele garante que o seguidor vencerá aquela maldição. Ambos os casos dessas supostas VERDADES, têm o propósito de DOMINAÇÃO E PODER. Os fiéis católicos acreditavam na VERDADE que, se deixassem seus bens para a igreja, assegurariam um lugar no céu. Também é VERDADE que, para que a classe dominante possa estar no poder, ela precisa PROMETER algum tipo de PROSPERIDADE.

Acredito que para se falar sobre política é necessário estar envolvido com a solidariedade, caso contrário é MENTIRA. Como uma pessoa que só fala de si mesma, que quer mostrar ao mundo uma imagem mentirosa de si mesma, que vive na bolha onde nada é importante a não ser ela mesma e os seus, pode saber o que é a VERDADE? É nessa bolha que os eleitores do Bozo se identificam com ele. As redes sociais são como cavernas platônicas, pois se alguém tenta convencer os prisioneiros sobre a realidade, o chamam de petralha comunista e, se pudessem, até o mataria. Dizer a verdade se tornou um ato revolucionário.

A tal liberdade de expressão reivindicada pela extrema direita nada mais é que uma farsa para compelir a pessoa a falar sobre coisas que ela não entende, e nessa liberdade o estímulo é para falar m3rda, pois nada tem a ver com os estados do fato e as verdades factuais.

A digitalização é um fenômeno patológico que corrói, é a erosão da VERDADE. Hitler disse em seu livro que, para ser bem-sucedida, a MENTIRA tem que ser enorme, de tal forma que coloque o mundo fictício no lugar do real (e o Bozo soube fazer isso: a terra é plana, se vacinar vai virar jacaré, podemos viver sem oxigênio, mas jamais sem liberdade).

A mídia televisiva contribui para o cenário da MENTIRA, pois distrai o povo com crimes, baixarias de toda sorte, romances baratos etc., e isso tem a função de aniquilar com as VERDADES DE FATO, anular a factualidade. OS ALGORITMOS se incumbem de levantar a bola para o centrão e extrema direita cortarem, ou seja, se incumbem de praticar A MENTIRA ACIMA DE TUDO, perpetuando uma realidade ficcional, fatos distorcidos, até que se adeque a realidade de gados bem treinados para dar continuidade à disseminação da MENTIRA. Os bolsominions são treinados para substituir os fatos, por uma nova linguagem que consolide a MENTIRA. A extrema direita cria frases que devem ser repetidas por todo o gado, de forma a consolidar o fato (esquerda comunista, esquerda abortista, esquerda woke etc.). Nuances da língua nem pensar, tem que evitar palavras e pensamentos diferentes das do grupo (O MANTRA É: DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA). O objetivo é também criar uma sociedade de desconfiança geral, insegurança, um lado abençoado, outro assustador.

A INFORMAÇÃO passa a ser a VERDADE, não importa o lixo que seja, e isso é a CRISE DA VERDADE, que na verdade é a CRISE DA SOCIEDADE, pois sem a verdade a sociedade se desintegra, e tudo vira mercadoria, inclusive a vida.

A CRISE DA DEMOCRACIA está profundamente ligada à CRISE DA VERDADE. Quando a VERDADE PERDE SEU LUGAR COMO REFERÊNCIA, o que se instala no lugar dela é o caos, onde a argumentação e a razão viram chacota, e o que vale é a emoção, a performance e a visualização.

Hoje, a caverna pode ser formada pelas redes sociais, pela mídia tendenciosa, pelas bolhas de opinião e pela superficialidade da informação. Estamos cercados por sombras, narrativas distorcidas, que aceitamos sem questionar. Sair dessa caverna exige pensamento crítico, disposição para ouvir diferentes perspectivas, coragem para mudar de opinião e questionar as próprias certezas, aceitar o desconforto do aprendizado, que vai além do interesse em si mesmo e das próprias conveniências. Mas quem quer ver além das sombras?

Nesse novo regime, a informação não liberta, ela distrai, ela não organiza, ela dispersa, e o controle agora é sutil, descentralizado e INVISÍVEL!

Uma dominação que se disfarça de liberdade, que mostra TRANSPARÊNCIA, mas que no fundo anestesia o nosso pensamento crítico. O que tem sentido cedeu espaço para aquilo que viraliza, não porque carrega consigo a VERDADE, mas porque causa IMPACTO. O que importa é se circula, se gera like, se MOVIMENTA OS ALGORITMOS.

Alcançar a VERDADE é a mais ampla possibilidade do viver, mesmo num sistema excludente, predatório e racista, e, para mim, a única meta, o único mundo que é eterno e absoluto, é o MUNDO DA VERDADE.

Minha gratidão ao Etelvaldo por este espaço que me acolhe e me ensina a me escutar. Esse blog de sonhadores, que pensam num futuro em que a VERDADE seja! São dignas páginas que nos possibilitam um encontro, e, quando falo de encontro, é um encontro com nós mesmos. Gratidão!

Ellen Pietra

CALEIDOSCÓPIO

 

EFÊMERA

Fosse tudo e ainda seria pouco

Fosse muito e ainda seria quase nada

Mesmo que fosse ainda não seria

Mesmo que chegasse ainda não estaria perto

Pois o que parte nunca vai chegar

E o que fica não permanece

Já que tudo oscila entre a verdade e o que acontece

Tudo transita entre o desacerto e o correto.

Etelvaldo Vieira de Melo


MEIO AMBIENTE? YES! NÓS TEMOS BANANA"!



 Os tempos são difíceis, são tempos duros,

portanto, mudem as pessoas e

os tempos serão melhores.

(Santo Agostinho)

O Brasil vive atualmente um momento ímpar com a questão ambiental. A degradação do Meio Ambiente decorre, em grande parte, de licenças expedidas pelos poderes públicos – prefeituras municipais e licenças do Estado. Tudo isso acontece em desacordo com a legislação. A caricatura ajuda a entender o retrato do governo de Minas e de muitas prefeituras. Interessante que para comer a banana com a casca, o governador de Minas Gerais consultou uma nutricionista. Isso me dá o direito de perguntar: Por que não consultar a legislação sobre o meio ambiente e os órgãos competentes antes de conceder uma licença ambiental? Essa e outras exigências atravessam a política, pois o momento histórico que estamos vivendo vai além de uma política partidária e exclusivista. Mais que em outros períodos históricos, nossa realidade é diversa e plural. A melhoria moral da política brasileira é a base para que possa existir uma saída desta situação complexa em nível nacional, estadual e municipal. Como lembra o poeta Maurício Segall: “Brasil, país sonhado,/ Brasil inferno vivenciado”. A questão ambiental é grave em Minas Gerais devido ao projeto excludente e corrupto. É bom lembrar a luta pela Serra do Curral, o rompimento de barragens nas bacias do Rio Paraopeba e Rio Doce. Tudo leva a crer que há um consenso geral sobre a necessidade de preservar o meio de vida e salvar o planeta. Um compromisso com esta causa engloba meio ambiente, desenvolvimento e sociedade civil. O pensador Milton Santos dizia: “O território é o chão. O território são as pessoas, a identidade, os fatos e o sentimento de pertencimento”.  Se o desenvolvimento é a meta a ser atingida, é possível alcançá-la com a preservação ambiental. Caso contrário, no futuro não teremos mais o Brasil, mas um pedaço de floresta, um chão batido, uma vala por onde passava um rio etc. Será o “Exílio da canção”, de Gonçalves Dias, somente estampado em calendários e “souvenirs”. A esse quadro, acrescento o desrespeito à vetusta cidade de Ouro Preto, patrimônio cultural da humanidade, recentemente. O governo Zema flexibilizou regras de licenciamento ambiental favorecendo o desmatamento da Serra do Botafogo, comprometendo o clima, a biodiversidade e destruindo esse espaço natural. Quando essa devastação começou, a população gritou, os ambientalistas se movimentaram, vários órgãos e departamentos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) se posicionaram para impedir o cortejo de incidentes nos arredores da cidade. No entanto, nenhuma voz foi ouvida, nenhum documento mereceu um olhar crítico e sério. Tudo foi espezinhado em sua dignidade e em seus mais sagrados direitos. A omissão (e negligência) do Estado não respeitou os direitos da sociedade em relação a esses bens. Era preciso salvar “a casca da banana” que nem deu cacho e, ainda, não sacrificar o altar do capital. O balcão de negócios nos órgãos do governo mineiro é o retrato corrupto dessa história, segundo a operação realizada pela Polícia Federal no dia 17 de setembro deste ano. É um combo nocivo ao meio ambiente. Diante deste cenário, “é preciso estar atento e forte”, pois a questão ambiental é uma questão social. Os setores conservadores e a lógica autoritária defendem a problemática ambiental como sendo uma questão técnica e desenvolvimentista. Não podemos assistir passivamente a este cardápio desidratado dos poderes públicos. Precisamos tirar a ética do exílio e do desterro. O atual sistema político necessita de saneamento. O mundo, a vida, a criação precisam ser preservados. É sempre bom lembrar que o nosso voto em 2026 tem poder de mexer, remexer e inventar outra política. A saída é mudar o atual cenário político: outros deputados e outros senadores. Os políticos que temos são pobres demais, só têm dinheiro. É difícil, mas mobilizar é preciso. É preciso abrir os olhos para as coisas que estão acontecendo. Assim, dialogo com a canção “Clareou (Deus é maior)”, de Serginho Meriti e Rodrigo Leite: “Pode a dor uma noite durar /Mas um novo dia sempre vai raiar / E quando menos esperar, clareou”.

(Mauro Passos)


RACIOCINANDO SOB HIPÓTESES

 
Imagem: Freepik


O sentimento de gratidão é, para mim, uma grande virtude. Quero dizer com isso que nunca devemos cuspir no prato em que comemos. Veja o exemplo de meu caso específico.

Todos sabem que neste país, de praias brancas ensolaradas e de povo heroico, o magistério é a segunda profissão mais destratada, humilhada, vilipendiada, ridicularizada. De tal modo que, quando alguém se declara professor, ele é olhado com sentimento de pena, com alguns mais sensíveis chegando a verter copiosas lágrimas, tamanho o grau de dó. Também é frequente entre os profissionais da Educação aquele ditado que diz “Hei de vencer na vida, mesmo sendo professor”.

Já a profissão mais esculachada é a do político, mas esse - tirando honrosas exceções – não está nem aí, preocupado tão somente em enganar seu eleitor, enquanto amealha em malas montanhas de dinheiro roubado de impostos. Está aí Michel Temer que não me deixa mentir.

Sobre ser professor, declaro em alto e bom som que fui um. Para meus ex-alunos, só peço desculpas por não ter sido um profissional melhor. No entanto, aprendi que o sucesso é relativo, já que sempre procurei ser honesto, e a honestidade sempre traz resultados.

Outro exemplo que me ocorre vem da classe das prostitutas.

Os dicionários dizem que prostituição é a atividade de vender serviços sexuais em troca de dinheiro ou bens. A mulher que faz isso é chamada de puta, cacote, mulher da vida, piranha, vaca, prostituta.

Interessante como um mesmo conceito pode ser expresso com palavras diferentes, sendo umas mais contundentes, enquanto outras “douram a pílula”, amenizam seu significado. Uma coisa é chamar uma prostituta de “marafona” e outra é denominá-la “garota de programa”.

Em Brasília, garotas de programa que fazem seu métier, marcam ponto, nas duas casas legislativas eram chamadas de “marias-emendas”; hoje, com o avanço cibernético, elas são denominadas “influenciadoras do sexo”. Tal negócio é tão próspero que tornou o Congresso Nacional o maior centro de prostituição do Distrito Federal. Quem diz isso não sou eu, mas jornais usados como fontes de pesquisa.

Tocando em frente, vamos supor, raciocinando sob hipóteses, que uma dessas garotas tenha feito programa com determinado político e, ao fim, tendo sido bom para ambas as partes, tenham decido estreitar a relação através dos sagrados laços do matrimônio. Em um segundo momento, vamos supor que esse político, por circunstâncias diversas, tenha subido na escala eleitoral, chegando ao posto de presidente da república.

Chegando a esse ponto, vamos supor que um(a) jornalista venha a público, dizendo que aquela garota tal casada com aquele tal político era uma garota de programa. Diante desse quadro, qual seria a sua melhor reação? Negar, fazer piti, birra, entrar com ação de danos morais contra a denunciante?

Poderia até acontecer dessa ex-garota de programa, agora cercada de todos os lados por políticos profissionais, tenha tomado gosto pela coisa e se aventurado no jogo eleitoral, candidatando-se à presidência do país, apoiada também-e-especialmente por gente que se diz religiosa e que adora misturar política com religião.

Olhando para esse quadro cheio de hipóteses, penso que a melhor resposta da garota a uma possível denúncia de ter sido ela uma garota de programa seria assumir com orgulho seu histórico de vida. Agindo dessa maneira, honrando seu passado, não cuspindo no prato em que comeu por determinado tempo, ela seria vista com outros olhos, merecendo de minha parte não uma pedrada, mas o mais alto elogio e o mais puro respeito, quem sabe, até mesmo meu humilde, discreto e sincero voto. Porque o sentimento de gratidão continua sendo para mim uma grande virtude, uma boa prova de caráter.

Etelvaldo Vieira de Melo




CONGRESSO NACIONAL: BLINDADO E PRIVATIZADO

 


Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína.

(Caetano Veloso)

 

A democracia no Brasil está fora dos trilhos. Por quanto tempo continuaremos com os políticos que hoje são deputados estaduais, federais, senadores? E continuaremos com a mesma sucessão de prefeitos? Há exceções? Pena que são poucas. Diante da desordem e da banalidade política, está ocorrendo um esvaziamento da ordem democrática. Isso que está ocorrendo é um processo de longa duração. A menos que o fim do mundo chegue antes. Portanto, esse quadro político pode continuar, mas sem responder às necessidades da nação. Sua longa duração terá implicações enormes. Será a “Era da crise” (é o termo da moda): crise ambiental, crise ética, crise na educação, crise na saúde, crise urbana, crise energética, crise, crises... É o efeito devastador da atual política no Brasil. A violência política, portanto, é grande e grave. A PEC da Impunidade (PEC 007), votada no Congresso Nacional, aconteceu em poucas horas (eles não adiam o mal). Detalhe: blindagem rima com pilantragem. “Macunaíma”, no seu canto, iria rir dessa situação. O processo de luz e sombra, construção e ruína traça o atual mapa do Brasil. Assim, foi selada a privatização do Congresso. Agora, a prioridade é dos políticos (particularmente dos políticos com fichas sujas). O cidadão foi desalojado de sua cidadania. Como adiar o fim da democracia? É preciso uma mobilização política. Indignar-se e contagiar. Sem um trabalho com as camadas populares, continuaremos com o mesmo congresso, o mesmo senado e os mesmos governadores. Enfim, com os mesmos políticos (ou outros piores). Precisamos dar uma volta por cima e mobilizar grupos e pessoas. É urgente reagir e pensar: como atingir mais grupos, mais pessoas? Usar os espaços públicos, inclusive as Câmaras Municipais para debates, encontros, teatros, projeção de filmes. Com criatividade, lucidez e organização podemos fazer um bom trabalho com o povo, os jovens, os(as) trabalhadores(as). O que mais importa é a redescoberta de um novo horizonte político. Em um país onde a questão política se submerge a cada dia, envolvida num redemoinho de desrespeito, corrupção sem precedentes (pense na corrupção da mineração em Minas Gerais), precisamos ter um verbo como bússola: AGIR. Uma ação organizada e participativa. Para colocar a política brasileira nos trilhos é preciso “consciência política”. Não pensemos duas vezes, três bastam. Sem educação política, participação e mobilização o Brasil não vai para frente. Na antropofagia política que vivemos, para não sermos devorados, é preciso resistir. Juntos podemos mudar o Congresso Nacional com a cor da ética, justiça e respeito nas eleições de 2026. O caminho é encontrar saídas. Este é um sinal de esperança e um programa de ação coletiva, dirigida por solidariedade. Por meio de uma discussão aberta, a população pode se colocar a par dos problemas e partilhar tentativas de solução. Como escreveu Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

 

(Mauro Passos)

ESPERADA RENOVAÇÃO E A DEMOCRACIA EM EXPONENCIAL (4x1)

 


Algum dia dividiremos

a liberdade em fatias

e nos amaremos – sem fome –

em absurda alvorada.

(Bartolomeu Campos Queirós)

 

Na espera da primavera que se aproxima, dou boas-vindas à nova estação já antecipada com o “Prêmio Nobel de Política” para o Supremo Tribunal Federal (STF). Contra os lemas e “zemas” atravessados sinalizo o mérito, a competência, a dignidade e o nível de cada componente do STF que defendeu a democracia, a soberania do país contra a “tentativa de golpe” orquestrada por Jair Bolsonaro. Com uma justa composição de argumentos jurídicos e provas, Alexandre de Morais sustentou os princípios certos e condenou todos os réus que planejaram o golpe contra a democracia. Flávio Dino numa atmosfera de sensibilidade e leveza mostrou conhecimento, lucidez e competência em seu pronunciamento. É um clássico, de palavra mansa, com um dom de cordialidade e simpatia. Como diz o poeta Manoel de Barros: “As coisas desejam ser olhadas de azul”. A Ministra Cármen Lúcia com uma fala livre, sincera e carregada de afeição ponderou: “Ditadura vive da morte. Não apenas da sociedade, não apenas da democracia, mas de seres humanos de carne e osso”. Com um acervo e “habitus” de sabedoria, esta ministra deixou claro o significado de uma ditadura. Não é apenas “uma questão de interpretação” como disse o Zema. Detalhe: Valho-me de uma máxima de Virgílio: "Latet anguis in herba" (A cobra se oculta debaixo da erva). O presidente Cristiano Zanim conduziu as sessões com respeito, diplomacia e elegância. Manteve a ordem, a primazia da verdade e o ético da política, diferente das reuniões conduzidas por Bolzonaro, quando presidente da nação. O Brasil que desejamos deve ter a medida de sua perfeição na riqueza das diferenças e no cuidado das instituições do regime democrático. Unidos com o STF e contra a violência bolsonarista, o favoritismo tarcizista e a manipulação zemista será possível restabelecer a justiça tão ofendida. Assim, podemos sair desta depressão histórica. Mais ainda: fazer valer os direitos humanos, sociais e políticos. É bom lembrar que a tolerância anda de mãos dadas com a verdade e a justiça. Isso nos convida a interrogar os fatos e o cenário sombrio do mundo contemporâneo (do Brasil contemporâneo). Outro Brasil é possível. E com renovação. Sua exponencial está no exercício da união, diálogo, coragem e interpretação dos acontecimentos. Utopia ou sonho? Sonho e utopia para descobrir a verdadeira extensão do mundo e da vida. E, assim, “nos amaremos em absurda alvorada”.

(Mauro Passos)