A VIDA POR UM CELULAR

 

Na tarde daquela segunda-feira, Tertuliano Firgufino foi até um depósito de material de construção, em bairro vizinho, comprar uma emenda de mangueira para que Jovelina Fufucas, sua esposa, pudesse aguar as plantas do quintal de casa.

Chegando ao balcão, o vendedor lhe perguntou o que desejava. Tertuliano não disse nada; simplesmente abriu o fecho da bolsa que trazia ao ombro, retirando dali um pedaço de mangueira. Depois falou:

- Estive aqui semana passada, comprando uma emenda de mangueira. A parte de ¾ deu certinho, mas a de ½ não encaixou de jeito nenhum. Trouxe até um pedaço da mangueira pra você ver.

Dando um suspiro, o vendedor falou:

- Puxa vida! Quando você abriu a bolsa, pensei que ia tirar lá de dentro um trabuco e me dar um tiro no meio da testa! Pensei comigo: - Adeus, Joventino, que você vai bater a caçuleta!

- Pois seria a última coisa que eu iria tirar de dentro da bolsa, uma arma – comentou Tertuliano, rindo bastante.

O vendedor continuou:

- Talvez eu esteja traumatizado com a notícia que vi na TV.

- O que você viu na TV que te deixou todo tremiliquento? – quis saber Tertuliano.

- Um ciclista, em São Paulo, parou sua bicicleta junto ao meio-fio. Enquanto consultava, distraído, o celular, acabou levando um tiro no meio da testa. O ladrão o matou para roubar um celular!

- Que coisa mais horrorosa!

- É por isso que digo: chegou às seis horas da tarde, é tempo da gente se recolher, ficando quietinho em casa.

- Tem razão – ponderou Tertuliano. – Além disso, penso eu, nunca é bom uma pessoa ficar consultando celular na rua. O que acho difícil, já que estamos todos acometidos de aphonosia.

- O que é isso, aphonosia?

- Uma doença terrível, uma compulsão que as pessoas adquirem de tanto manusearem um celular. Já vi caso em que uma pessoa começou a suar frio, a ter convulsão e vertigem, tudo porque estava sem celular. Só quando colocaram um em suas mãos é que ela se acalmou.

- Como as pessoas não desgrudam de seus celulares, os ladrões deitam e rolam – falou o vendedor, ele mesmo sofrendo um calafrio.

- Falando em coisa ruim, ficou sabendo daquele jovem de 17 anos do Rio de Janeiro, que ateou fogo num homem em situação de rua?

- Não, essa aí eu não sei.

- Parece que o jovem participa de um grupo de Internet, onde usa o codinome de “Eu Odeio Favela”; também participa de outras comunidades de cunho nazista.  Diz a notícia que ele fez uma aposta para ganhar R$2 mil.  Daí, pediu para um amigo gravar a cena dele atirando dois coquetéis Molotov num homem que dormia sob uma marquise. A gravação foi transmitida ao vivo por um aplicativo de troca de mensagens muito popular entre jovens, também usado para propagação do ódio.  Fez muito sucesso, gerando muitos “likes”.

- É, meu amigo – concluiu o vendedor, passando a mão sobre sua cabeça calva e reluzente: - Fico pensando o que rola nessas redes e aplicativos. Definitivamente, não sei onde vamos parar. O celular, essa caixinha venenosa, é certo que trouxe muita coisa boa, mas também tirou do “armário” muita coisa ruim e perigosa, que se espalha feito tiririca.

- Na década de 50, o Brasil, especialmente o Planalto Central, foi infestado por formigas saúvas. Daí, surgiu o ditado: “Ou o Brasil acaba com as saúvas ou as saúvas acabam com o Brasil”. Parodiando esta frase, ouso dizer: - Ou o Brasil regulamenta as redes sociais ou as redes sociais acabam destruindo o Brasil.

Etelvaldo Vieira de Melo


MÍDIA: O CÃO DE GUARDA DA ELITE, DA OLIGARQUIA E DA DIREITA GOLPISTA

 
Imagem: racismoambiental.net.br

Lembrando Paulo Henrique Amorim, ferrenho defensor da Democracia, autor da sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista) e que nos deixou em 2019, vitimado por um infarto, certamente em decorrência dos muitos golpes que recebeu.

Olá, tudo bem?

Difícil explanar sobre a história da mídia brasileira golpista em um pequeno texto.

Os conluios foram tantos, desde 1964 - com o golpe da ditadura, mas o texto da mídia nunca muda, ela continua o braço direito da direita, que só diferencia da extrema-direita, no item violência extrema, porque também são violentos.

A nação que a mídia finge proteger é para os pobres, negros e índios (a maior parte da população brasileira)?

Só falta agora a mídia defender a internacionalização da Amazônia, porque sua pauta diária sempre foi de apoio ao estilo da ‘privataria tucana’, juros altos do Copom, seguindo a máxima de que o MERCADO é quem manda.

Para falar da mídia, é preciso falar da Ditadura, de Color, de FHC, de Aécio, do impeachment de Dilma, da prisão de Lula e de Sérgio Moro, que elegeu Bolsonaro.

DITADURA

A mídia apoiou os ditadores, torturadores, bandidos, estupradores e assassinos da ditadura, que ficaram impunes, nem um “pio” – a não ser elogios. A cultura da impunidade e do apoio silencioso da mídia pariu Bolsonaro, que elogiou o Cel. Brilhante Ustra no dia do impeachment de Dilma (Ustra torturava as mulheres com rato na vagina, e que mulheres são essas hoje que votam nesse monstro?). A sorte dessa quadrilha de golpistas, torturadores e planejadores de assassinatos, é que estamos numa democracia, senão seus corpos já teriam sumido. Os generais ensinaram a Bolsonaro o que ele tentou reproduzir agora – um golpe como o de 1964.

COLLOR

Toda a mídia chamou o bandido de “Caçador de Marajás”, a Globo montou um teatro no dia do debate dele com Lula (Boni confessou rindo, anos depois: "Todo aquele debate foi produzido por nós, mas o conteúdo era do Color mesmo... tiramos a gravata do Collor, botamos um suor com glicerinazinha, e colocamos várias pastas, algumas vazias e outras com papel em branco, pra simular supostas denúncias contra Lula"). Depois do impeachment, por seus crimes de toda sorte, Color virou um braço direito de Bolsonaro.

FHC

Globo, Estadão, Veja, Folha de São Paulo usaram, como pano de fundo para sua eleição, o Plano Real do governo Itamar, plano projetado por Ricupero, mas repetiam diariamente que FHC era o seu artífice. Lula era o favorito, após o impeachment de Collor, mas a Globo panfletava diuturnamente o milagre do Real, como se fosse de FHC o projeto (Plano Real é esse espiral sem fim de juros moldado pelo FMI na época). Seu vice, do PFL, foi trocado com o silêncio da mídia, devido a escândalos de corrupção com empreiteiras. Foi trocado por Marco Maciel (apoiado pela classe dominante e ruminante). FHC desgovernou, jogando milhões de trabalhadores na sarjeta, elevando a taxa de desemprego, mais inflação e juros que chegavam a 45%, dívida externa bilionária e ‘privataria’ criminosa dos bens públicos. Tudo com apoio geral e irrestrito da mídia, com aplausos efusivos quando da criação do PROER (o BOLSA-BANQUEIRO - para salvar da falência os maiores agiotas do país). FHC era a “vaca sagrada” da mídia de direita.

AÉCIO

A revista VEJA estava no auge, com seus exemplares espalhados por consultórios, clínicas, escritórios etc.; o público era o alvo das fake News da revista. Suas capas eram panfletagem descarada. Uma das capas tinha o Aécio com a famosa camisa da seleção, camisa verde e amarela, com uma urna eletrônica, onde estava escrito: “CONFIRMA”, e o título era: “O PODER DE AÉCIO”. Dentre várias capas da VEJA, os títulos eram: “A VEZ DE AÉCIO”, “AÉCIO - O FATOR SURPRESA”, etc.  Três dias antes da eleição, o golpe da VEJA: confeccionou e distribuiu (até́ mesmo de graça), milhares de exemplares com a capa de fundo preto, COM DILMA E LULA, que dizia: ELES SABIAM DE TUDO! (sobre os roubos na Petrobras). Era fake News o tempo todo, tendo a Globo para dar a dimensão nacional à matéria. A Globo, Estadão, Veja e a Folha estavam apenas cumprindo seus papéis no processo de destruição da esquerda, dando voz a Aécio, quando esse questionou a veracidade das urnas e pediu recontagem de votos. Sim, foi aí que o novelo maligno da extrema- direita iniciou a chamada dos fascistas para as ruas, usurpando a bandeira e a camisa da seleção como propriedades suas, para os primeiros atos de burrice e ignorância toscas.

DILMA

A lógica econômica de Dilma era o fortalecimento das empresas nacionais, mas a FOLHA, na época, tinha matérias diárias sobre o "plano de expansão da AMAZON NO BRASIL".  A Globo, Veja, Estadão, Folha de São Paulo se aliaram ao corrupto Eduardo Cunha para a queda de Dilma. A VEJA se incumbia das fake News, e a Globo dava dimensão nacional à matéria falaciosa, sem sujar as mãos. Dilma caiu por não ter cedido ao apoio a Eduardo Cunha em seus crimes, e não impedir os golpistas da Lava Jato de seus futuros crimes. Ela insistia no combate à corrupção, nisso ela era implacável (bem como na inabilidade política para lidar com os ratos de direita golpistas do Congresso e Senado).

PRISÃO DE LULA

Lula estava à frente nas pesquisas em 2018, iria ganhar as eleições. Eis que, de repente, surge um juiz que iria enfrentar a corrupção fazendo corrupção. Moro, em conluio com procuradores, como Dallagnol, condenaram Lula com um powerpoint. Aquilo não era Operação Lava Jato, era um PROJETO DE PODER POLÍTICO, instrumentalizando o Poder Judiciário e a Procuradoria da República. A MÍDIA os tornou semideuses ("Arre, estou farto de semideuses" - FERNANDO PESSOA). O juiz parcial e seus comparsas procuradores foram responsáveis pela instalação do fascismo no país, porque foram eles que pariram Bolsonaro, junto com a mídia de direita golpista. O juiz parcial de Curitiba prendeu Lula e, ainda com a toga, teve a desfaçatez de se tornar ministro da Justiça daquele que ele elegeu juntamente com a MÍDIA.

SÉRGIO MORO

Hoje ainda temos as viúvas da Lava Jato na mídia. A Confederação Nacional de Justiça, tardiamente, publicou: "Moro, Dallagnol e Gabriela Hart se uniram a empresas americanas para fazer corrupção, peculato e prevaricação. Conluio com autoridades americanas, inclusive na feitura de uma fundação privada, onde 2,5 bilhões seriam usados por esses procuradores para fazer política".  A MÍDIA se debruçou sobre essas denúncias da CNJ? O Jornal Nacional e a Veja bateram 24 horas por dia? A CCJ da Câmara dos deputados pediu investigação por esses crimes contra a Pátria e pessoas?    Digo-lhes que a Lava Jato não acabou. Só́ vai acabar quando a sociedade realizar o que não fez com os assassinos e torturadores da ditadura, uma investigação rigorosa para efetuar a devida justiça. 

BOLSONARO

O BOZO causou uma guerra de facções... Quem era a Globo para competir com a ALIANÇA do Bozo com a Record (do bispo mais honesto do ‘brazel’) e SBT (do sogro do ministro das Comunicações de Bozo)? Acusou a eleição de fraudulenta, com bate bumbo diário das mídias com as quais tinha conluio (Record e SBT). Agora, a PF conseguiu as trocas de mensagens em que o Ministério da Justiça do Bozo combinou de usar a PRF para bloquear estradas em cidades em que Lula era favorito. Tudo que Bozo ou seus comparsas acusam - TSE, STF e LULA -, na verdade eles é que tentaram: ROUBAR AS ELEIÇÕES de forma criminosa, impedindo os eleitores de votar. Curriculum do Bozo, segundo a PF: Crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado, dano qualificado pela violência e ameaça, deterioração de patrimônio tombado. No entanto, Bozo é responsável por um grande feito pelo Brasil. Ele estabeleceu o atestado à MISERABILIDADE DE CARÁTER e a PODRIDÃO DA ALMA de seu eleitor. Sintetizou nessa gente tudo que existe de mais desprezível e abjeto entre os humanos.

CONCLUINDO

Os alemães NÃO CHAMARAM de nazistas somente os que eram nazistas, mas também todos que APOIARAM Hitler.

A MÍDIA de direita golpista, silenciada hoje pelos seus mantenedores, agronegócio e empresários bolsonaristas, não toca no nome de quem FINANCIOU a TENTATIVA DE GOLPE, pois são também seus financiadores. Um golpista só pode ser condenado por TENTATIVA de golpe. Se tem sucesso no golpe, ele vira ditador, nenhum tribunal consegue condená-lo. O plano era ASSASSINAR LULA E ALKIMIM, e ministro do STF, MORAES. MORTOS!!! Essa seria a realidade de hoje!

A MÍDIA nunca levou o Brasil a sério, nem os brasileiros, ela só́ quer dinheiro e poder. Bozo teria sido cassado, se a MÍDIA tivesse batido o bumbo 24 horas do dia, como faz com Lula há 32 anos, teria que ter sido cassado no dia que EXALTOU, em rede nacional, o torturador assassino Brilhante Ustra, no dia do impeachment de uma mulher honesta.

A opinião pública não existe, ela é MOLDADA pela MÍDIA, as pesquisas são feedbacks das pautas midiáticas.

A MÍDIA já está em campanha política e o objetivo é SANGRAR o atual governo, e já estão conseguindo. E, como tubarões, já sentiram o cheiro do sangue na água e estão no CIO.

A grande mídia tem hoje os maiores especialistas em destruir a esquerda, é um mercado de notícias a serem vendidas para anunciantes de qualquer estirpe, desde que paguem bem.

E, assim, a MÍDIA vai criando a CRISE, batendo o bumbo 24 horas por dia, vez ou outra colocando seu candidato na tela, e fazem como aquela experiência da Coca-Cola, que no cinema inserem, vez ou outra, uma garrafa da Coca-Cola e, no final do filme, todo mundo sai para comprar uma Coca-Cola.

E o PT não tem outro discurso, senão “Ah, mas a verdade sempre prevalece, não importa as fake News!”. E, assim, a MÍDIA, paga pela elite burra e niilista, fez o impeachment da Dilma, a prisão do Lula... e continuará escondendo Aécio e Sérgio Moro, para o bem geral da nação midiática.

SOPHIA FLORA


COM-SENTIR, O SENTIMENTO QUE NOS FALTA



Mal o Ano Novo começara e já estava eu ligando para o amigo Tião, pedindo-lhe um favor. Tião é um pedreiro aposentado, mas que, uma vez ou outra, costuma me prestar pequenos favores. Dessa vez, era um vazamento ocasionado pela chuva, infiltrando pelo muro com o vizinho e saindo exatamente dentro de um armário em área coberta junto à casa.

Antes de falar sobre o problema, quis saber como havia passado o Natal e a entrada do Ano Novo.

- Correu tudo bem.

- E aí, animado para o ano que começa? – continuei o pingue-pongue da conversa.

- Estou bem animado.

- Bom, Tião. Espero que tenha um ano com muita saúde, paz e alegrias.

- Obrigado. Também espero que todo mundo, todas as pessoas tenham também um ano assim.

- Como assim? – eu quis saber.

- É que não faz sentido eu ser feliz sozinho. Todo mundo merece ser feliz. E tudo irá ficar melhor se todos forem felizes.

De maneira simples e direta, Tião acabara de tocar em um ponto essencial e que deveria ser a preocupação de todos: tornar a Terra um lugar de felicidade para todas as pessoas.

Quando olhamos para as manchetes dos jornais que circulam no dia a dia, ficamos assustados com o egoísmo, a irresponsabilidade, a ganância e a insensatez das pessoas e, especialmente, dos governantes que teimam em plantar a discórdia, o ódio, a destruição da Natureza. Parece até que a felicidade individual só é possível em cima da desgraça dos outros!

Tal consideração me faz lembrar o que disse Simone de Beauvoir em um de seus textos. Ele diz mais ou menos assim:

Pergunto para certa pessoa, que demonstra um ar de preocupação:

- Está preocupado com as milhares de crianças que morrem de fome no interior do Sudão do Sul, ou com as que morrem em Gaza?

- Que nada! – ela me responde. – Minha preocupação é com um sapato que está me apertando o pé!

Mas existe alguém que se preocupa com as crianças que morrem de fome no interior do Sudão do Sul, com as que morrem em Gaza. Se eu disser para ela:

- Por que você se preocupa? Você não passa fome?

Ela irá me responder, quase com raiva:

- Como posso ser feliz vendo outras pessoas sofrendo?

Está aí um propósito a ser cultivado neste ano novo: o de sempre nos colocarmos junto dos outros, buscando sentir seus sentimentos, “com-sentindo” com suas alegrias e tristezas. Penso que, se as pessoas e os governantes buscarem a felicidade própria na felicidade dos outros, certamente o mundo todo será bem melhor. Esta é minha intenção para o novo ano, que já caminha a passos largos: ter o cuidado de enxergar pelo menos um palmo à frente de meu próprio nariz.

Etelvaldo Vieira de Melo


ONTEM O JOGO DAS CADEIRAS, HOJE O JOGO DOS BONÉS



Quem não tem colírio usa óculos escuros.

(Raul Seixas) 

Assim caminha a política no Brasil. Com meias palavras e sem reticências começo este texto. Como tudo muda hoje, importa o uso do boné. Cada partido político deve criar o seu boné – escolher a cor, o designer e a confecção. A partir daí, estará estabelecida a marcha para o vazio – nova dieta da política brasileira. Mais ainda: dois lados para bom uso – esquerda ou direita (sem direito a árbitro). Assim, o boné cumpre sua missão – agasalhar opiniões. Numa época aberta ao ilusório, o boné é o triunfo do devaneio. Nesse sentido, uma nova fábula está sendo editada – “A cigarra e o boné”. Detalhe: uma fábula sem moral. Na realidade, o boné vai-se tornando o centro da vida política, pois Descartes foi descartado e a máxima filosófica moderna ganhou outra métrica: “Tenho boné, logo existo”. As fake news e o marketing são os novos fermentos políticos e viraram o carro-chefe dos discursos em defesa da vida e da moral. Assim, o cantochão do sertanejo universitário e do funk adormece as consciências, no cenário nacional e no calendário das cidades, com performances, flashs mobs, shows, espetáculos, festas. Sem falar do Big Brother e do futebol com seus heróis. Com isso posto, a indiferença e a resignação são fofas almofadas que nem alcançam os bonés.

Os bonés de direita, extrema direita como também os católicos evangélicos e os evangélicos católicos aplaudem a nova cartilha política. Assim, a junção dos tempos se converte em unção dos tempos. Em um quadro com essa moldura de bonés, “tudo que é sólido desmancha no ar”. E informar de forma líquida é o caminho seguro, pois significa “impor forma”. Na realidade, a promiscuidade já alcança os bonés. Por ser escandalosa, abafa e mascara os ataques “chupetinhas”, sob pretexto de denúncia e em defesa de Deus, da Pátria e da Família. As mídias, particularmente os canais de televisão, receitam sucesso, lucro e prestígio com sofisticação e pinceladas sensíveis. Sem a arca de Noé, restam “Jeremias sem chorar”.

No jogo das cadeiras, todas ficam na mesma ordem. Com os bonés é diferente, podem ficar virados para trás ou para frente, para a esquerda ou direita, como no regime democrático. No entanto, na política nunca se produziu ‘tantos menos’ – menos cuidado, menos respeito, menos diálogo, menos direitos, menos ação, menos política, menos ética, menos educação, menos humanidade, menos tolerância, menos alegria, menos liberdade, menos futuro, menos sonhos. Na visão de Chesterton: “Os governos lutam por colônias ou direitos comerciais; por portos ou tarifas; por uma mina de ouro ou uma pesca de pérolas. Parece suficiente responder que os governos não lutam de fato.” (*)

Não obstante, os políticos correm cada vez mais rápidos para votarem cada vez menos. Muitas coisas não mudam, só os políticos mudam de partido, mas com o mesmo boné. E permanecem no mesmo lugar, como também os partidos, as instituições, as religiões e as leis. Difícil é saber que tipo de político o cidadão brasileiro quer ter. Com boné ou sem boné? Concluindo: use colírio antes de comprar o boné.

 

(*) CHERSTON, G. R. O homem eterno. São Paulo: Principis, 2020, p. 171.

(Prof. Mauro Passos)

O HOMEM QUE SOLTAVA PIPA

 
Benjamin Franklin e o cronista, pouco antes deste retornar à Cápsula do Tempo
 ("Foto": Sophia Flora)


Já disse que escrever neste espaço tem me proporcionado diversas alegrias. Uma delas tem sido a possibilidade de viajar no tempo e “entrevistar” pessoas que admiro. Caso que aconteceu há pouco tempo, quando estive na Rússia, por volta de 1910, e conversei longa e amigavelmente com Leon Tolstoi. Desta vez, a tarefa que me impus foi a de entrevistar Benjamin Franklin, outra figura por quem tenho profunda admiração.

Mas não foi fácil fazer tal empreitada. Por estarmos vivendo um momento político conturbado, não via como entrar no espaço aéreo dos Estados Unidos, sem minha cápsula do tempo ser destroçada por um míssil teleguiado. Por outro lado, o bom senso recomendava que o combustível a ser usado fosse suficiente tanto para a ida como para a vinda da capsula, o que iria atrasar em muito o deslocamento até Boston, no ano de 1788. Confesso que cheguei a cogitar as possibilidades de pedir a ajuda de Jair Bolsonaro, ele que se diz amigo de Donald Trump, e de Eduardo Pazuello, especialista em Logística.

Por fim, foi assim na cara e coragem que me aventurei nessa viagem que, afinal, correu bem, já que aproveitei o ponto cego do tempo nos Estados |Unidos, que ocorre entre as 23 e a Zero horas. O resultado você pode ler, a seguir. A entrevista se deu em um descampado próximo da residência de Benjamin, enquanto brincávamos de soltar pipa. Antes, alguns dados sobre o entrevistado.

 

Benjamin Franklin é natural de Boston, Massachusetts, e viveu de 1706 a 1790. Talvez por causa das limitações financeiras, frequentou a escola até os dez anos de idade (sua família era constituída de 20 irmãos, sendo ele o 17º, frutos de dois casamentos do pai, Josiah Franklin). Benjamin começou a trabalhar cedo como aprendiz na gráfica de seu irmão. Aos 17 anos, fugiu para a Filadélfia em busca de novas oportunidades. Daí, viajou para Londres, onde continuou a trabalhar como impressor. Voltando à Filadélfia, montou sua própria gráfica, onde publicou jornais e anuários influentes (“Almanaque do Pobre Ricardo” e “O sermão do pai Abraão”, este hoje considerado o texto mais famoso da literatura produzida na América nos tempos coloniais). Além de sua carreira como impressor e escritor, Franklin foi também um notável cientista e inventor. O experimento de soltar pipa durante a tempestade o levou à invenção do para-raios. Também inventou os óculos bifocais, o fogão Franklin e o odômetro. Somando a tantas atividades, ele também se destacou no serviço público e da diplomacia, ajudando a fundar a primeira biblioteca pública da América, a Universidade da Pensilvânia e a primeira companhia de seguros contra incêndios. Como político, desempenhou papel crucial na formação dos Estados Unidos, sendo signatário da Declaração da Independência e de sua primeira Constituição, além de ocupar o cargo de primeiro embaixador na França.  Enfim, Benjamin Franklin é essa figura impoluta que faz jus a um aforismo de sua autoria: “Cedo na cama, cedo no batente. Faz o homem saudável, próspero e inteligente”.

 

- Para início de conversa, uma questão que me preocupa muito. Em minha época, foram criadas umas chamadas “redes sociais”, que dão vez e voz para muitos imbecis. Como tratar essa gente?

- Bom, eu penso assim: “é falta de educação calar um idiota, e crueldade deixá-lo prosseguir”.

- Mas tem como argumentar com tais pessoas?

- “Quando você quiser convencer alguém, fale de interesses em vez de apelar à razão.”

- Ainda sobre as redes sociais, enquanto o governo não toma medidas para a sua regulamentação: como me posicionar diante das discussões e debates?

- Veja bem, para que tenha uma visão bem clara sobre essa questão. “Se você me coloca sua opinião de maneira dogmática, diretamente oposta ao meu modo de pensar, e não me deixa espaço para negociação, eu sou obrigado a concluir – para proteger a mim e a minha autoestima - que você está errado, e imediatamente vou me empenhar em provar que você está errado. Por outro lado, se você coloca a sua opinião como uma hipótese, evidenciando boa vontade para discuti-la e explorá-la, na maioria das vezes eu vou me empenhar em comprovar que você está certo”.

- Considera a religião importante para a vida de uma pessoa?

- Considero a religiosidade importante. Quanto à religião, é preciso tomar cuidado, pois “andar somente pela fé é andar cegamente”.

- Afinal, religião é um bem ou um mal?

- “Se os homens são tão maus com a religião, como seriam sem ela?”

- Como provar a existência de Deus?

- “Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia.”

- Você se considera um democrata?

- Sem dúvida. Mas, se não tomarmos cuidado, muitas das vezes “democracia são dois lobos e uma ovelha decidindo sobre o que comer no jantar”.

- Lá no Brasil, tem muitas pessoas que, em busca de segurança, sonham com a volta da Ditadura. Tem razão essa gente?

- "Qualquer sociedade que renuncie um pouco da sua liberdade para ter um pouco mais de segurança, não merece nem uma, nem outra, e acabará por perder ambas."

- Quer dizer que você condena os regimes autoritários.

- “Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria.”

- No meu tempo, uma tal “Lava Jato” inaugurou um movimento político de muita mentira e de muito ódio.

- Pois escreva aí: “Tudo o que começa com raiva acaba em vergonha”.

- Mudando de assunto. Tem algum conselho para o dia a dia?

- “Não antecipe os problemas, nem se preocupe com o que talvez nunca aconteça. Aproveite a luz do sol.”

- Certamente, trata-se de um bom conselho: não antecipar problemas, nem se preocupar com o que talvez nunca aconteça. Mas a vida costuma pregar peça, não?

- “A tragédia da vida é que ficamos velhos cedo demais. E sábios tarde demais.”

- A vida deve ser conduzida pela emoção, pela paixão, concorda?

- “Se a paixão conduz, deixe a razão segurar as rédeas”.

- Um grande valor da vida.

- A amizade. “Um irmão pode não ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão”.

- Mas não podemos, como se diz, misturar alhos com bugalhos, envolvendo, por exemplo, dinheiro e amizade...

- Bem verdadeiro. "Aquele que empresta a um amigo, perde o dinheiro e o amigo".

- Falando em dinheiro, é ele o bem mais importante?

- “Se queres saber o valor do dinheiro, tenta pedi-lo emprestado”. Agora, “aquele que acreditar que o dinheiro fará tudo pode bem ser suspeito de fazer tudo por dinheiro”.

- Um outro conselho, agora para um casamento feliz.

- “Antes do casamento os olhos devem estar bem abertos; depois do casamento, semicerrados.”

- Uma distinção entre tolice e sabedoria.

- “O coração de um tolo está em sua boca, mas a boca de um sábio está em seu coração.”

- O que dizer da Esperança?

- ‘Quem vive de esperanças morre em jejum.”

- Três coisas difíceis na vida.

- “As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo.”

- Agora, uma questão que irá agradar especialmente aos enólogos: para você, o que representa o vinho?

- “O vinho é a prova constante de que Deus nos ama e deseja nos ver felizes.”

- Todavia, contudo, entretanto...

- “Toma conselhos com o vinho, mas toma decisões com a água.”

- Concluindo nossa breve conversa, um conselho para o Ano Novo que acabamos de iniciar.

- “Esteja sempre em guerra contra seus vícios, em paz com o próximo, e deixe que cada ano traga uma versão melhor de você mesmo.”

- Muito obrigado, meu grande amigo.

- Não tem de quê. Disponha sempre. E lembre-se sempre daquele famoso ditado: “Neste mundo nada pode ser dado como certo, à exceção da morte e dos impostos”.

Etelvaldo Vieira de Melo


EXPECTATIVA

 


"Existem certas vantagens em não saber" é uma frase da escritora brasileira Clarice Lispector.

A frase completa é: "Existem certas vantagens em não saber.

Como um território virgem, a mente está livre de equívocos.

Tudo o que não conheço constitui a maior parte de mim: esta é a minha dádiva.

E com esse não saber, eu entendo tudo."

Expectativa: qual o verdadeiro sentido dessa palavra, baseada na esperança do que ainda não existe e em pressupostos, promessas e probabilidades?

Talvez seja melhor compreender primeiro, o que seja o contrário de expectativa: imprevisível, incalculado e inesperável?

E quem quer a dúvida? Nós queremos mesmo é a certeza!

Mas qual o sentido de ter expectativa ou não ter expectativa, se a natureza do cosmo como um todo é a IMPERMANÊNCIA, e a tendência do ego é sempre repetir os medos existenciais, busca do prazer e afastamento da dor.  No palco da vida, estamos realmente nos identificando com a máscara que usamos ou temos medo de abandonar o papel que estamos desempenhando?

O que temos feito, além de práticas diversas como oração, yoga, meditação etc., para alcançar algo espiritual que na verdade é parte da construção do ego? O que temos feito, além de práticas diversas como busca de conhecimento e intelectualidade, reconhecimento, autovalorização, se esquecemos o que somos e nem sabemos que esquecemos?

Podemos fazer nossa modelagem facial, botox, preenchimento e o diabo, mas seremos sempre um desconhecido para nós mesmos, e por mais que tentemos manipular a imagem refletida no espelho, seremos sempre a fonte da imagem no espelho.

Então, qual o sentido de TER EXPECTATIVA, se tudo pode ser colocado em dúvida, incluindo todo o conteúdo da nossa mente e sentidos?

Sinto informar que não há em mim nenhuma expectativa para 2025 e nem para nenhum ano seguinte, pois, se tivesse, estaria condenada a rolar essa pedra eternamente, assim como Sísifo, tentando encontrar um significado nessa existência absurda, onde se trabalha sem parar, consumidos por um amanhã que nunca chega e finalmente morremos.

Creio que a LIBERDADE e a QUIETUDE são o que fazem sentido para mim nesse momento.

E essa liberdade não pode depender de eventos exteriores, e nem da expectativa em o que quer que seja, pois aceitar a realidade como "ela é" e não como eu gostaria que fosse parece-me mais lúcido. 

Obviamente, quem tem expectativa, vai continuar buscando fora o que deveria buscar dentro, vai continuar mentindo que deseja paz e vota em quem quer guerra, violência, terror. Mentindo que é pelos direitos humanos, mas continua a comprar produtos feitos com trabalho escravo. Mentindo que ama os animais e vai comer seu bife e usar seu sapato de couro. Mentindo que quer proteger o meio ambiente, mas continua a poluir e passar pano para quem destrói a natureza (rios, montanhas, florestas etc.). Mentindo que não quer ficar doente, mas continua com seus hábitos autodestrutivos e vícios, que os torna suscetíveis a doenças. A expectativa parece ser um movimento, da mente inconsciente, da própria INSATISFAÇÃO.

Expectativa de quê, se fomos nós que criamos essa sociedade doente e caótica? Não se iludam, nossa digital está aí nessa confusão.

Nunca tivemos acesso a tanto conhecimento, porém nunca fomos tão limitados e ignorantes como estamos.

Nós criamos o mundo como ele é agora, criamos o sofrimento alheio e o próprio, criamos a competição em todos os níveis e criamos interesses pessoais como meta de vida.  Quanto mais expectativa se tem, mais divididos estamos, e isso cria mais sofrimento.

A solução é ter expectativa ou reconhecer a verdade da divisão que todos nós criamos entre o eu e o outro, o meu e o seu, homem e natureza, interior e exterior?   As crises externas do nosso mundo refletem as graves crises internas, pois não sabemos mais quem somos e estamos completamente identificados e enfraquecidos pelos nossos medos. Raças, religiões, países, afiliações políticas ou qualquer grupo que façamos parte, só servem para reforçar essa divisão, que é uma prisão onde a mente está, onde quer que se vá.

A nossa mente só conhece a continuidade, nem pensamos que vamos morrer, e PERDEMOS O PRESENTE para o que virá a ser.

Dante, na Divina Comédia, escreveu na porta do inferno: "Abandonai toda esperança, vós que aqui estais", e isso deveria estar escrito em toda porta de igreja, templo, meditação etc. Mas abandonar a esperança seria uma humilhação para o ego que vive do pensamento (que é sempre o passado). Abandonar a esperança também é abandonar o medo, pois todo nosso sofrimento é produzido por eles.

Ouvi alguém dizer um dia: "Todos amam o salvador, mas ninguém quer subir na cruz", muito menos encarar o vazio do Buda.

Qual o verdadeiro sentido de ter EXPECTATIVA FUTURA de paz, dinheiro, amor, posses e bem-estar físico, SE A VIDA ACONTECE AGORA, e tornar-se consciente disso é uma realidade possível, enquanto o que virá a ser é apenas expectativa?

Felicidade, paz e bem-estar físico para mim, é ter a capacidade de enfrentar a vida de maneira completa, em níveis diferentes e em todas as ocasiões e intempéries que ela se apresente, em sua magnânima IMPERMANÊNCIA.

Assim, pois, antes da morte, devemos sim descobrir o significado da vida neste instante, pois VIVER é em si a SIGNIFICÂNCIA E A SUA PRÓPRIA FINALIDADE.

Que em 2025 e sempre possamos viver em plenitude, vendo as coisas como são, acolhendo toda experiência, agradável ou desagradável, estando satisfeitos com o que temos, não estando confusos, mas lúcidos, constatando que a REALIDADE só pode ser compreendida no viver e não na fuga dela.

Que em 2025 e sempre a LIBERDADE também seja em si a nossa finalidade, pois nela está contido o nosso começo e fim.

Que em 2025 e sempre tenhamos abundância de amor, de sensibilidade ao silêncio e grande simplicidade!

A desilusão é necessária para se observar a VERDADE.

Abraço fraterno.

Elis Queralt


TRIBUTO AO AMIGO

 

Imagem: Pinterest
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Durante o ano de 2024, fomos contemplados com lindas reflexões através das crônicas e poemas postados no Blog das Belas Coletâneas Ridículas, administrado pelo amigo Etelvaldo. A criatividade e o empenho dele e colaboradores foram essenciais para que pudéssemos acompanhar os destaques do ano. Podemos dizer que inspiração não faltou e, por isso, pudemos estar sempre atualizados com as suas propostas de reflexão.

Em 2024, tivemos as eleições para as prefeituras do nosso Brasil e, como era de se esperar, a esquerda não avançou, deixando que as legendas que representam a classe dominante esmagassem mais uma vez os sonhos de um país mais justo e fraterno. Falta de alertas e boas leituras não faltaram, mas infelizmente nem todos têm acesso às informações e reflexões que circulam por aí, quando não as distorcem.

A crônica intitulada Desabafo Final é esclarecedora. Devemos encarar a realidade: estar no mundo é para se molhar. Cada um de nós tem uma responsabilidade social à qual não se pode fugir. O desabafo é final, mas apela para uma postura mais incisiva com relação ao que está por vir.

Poderíamos citar aqui várias crônicas e poemas que valem a pena reler: sou um colecionador delas. Ficamos aqui agradecidos por tantas oportunidades ofertadas através do Blog e esperamos que no próximo ano estejamos mais atentos em relação ao nosso caminhar neste mundo. Estamos aqui para construir um mundo melhor para se viver, com paz e justiça.

Desejamos a todos os leitores um maravilhoso 2025, e agradecemos ao amigo pela oportunidade de estar expressando a nossa gratidão por tanta dedicação.

Continue brilhando! Tenha sempre muita inspiração em seu trabalho!

Feliz 2025 para todos e todas.

                                                 Leiturino: Marcos G. Soares.

EM DESDOBRAMENTO: 2025



 

Que a fé seja infinita

Que o homem seja livre

Que a justiça sobreviva!

(Ivan Lins e Vitor Martins)

 

Em retalhos, vamos construindo nossa vida. Alegrias, tristezas, esperança, dúvidas compõem essa construção. Assim é a vida. Vários desdobramentos mostram as marcas do tempo e o significado das coisas passadas. O medo e a coragem dão cores a essas marcas. Detalhe: é preciso esconder o medo para avançar. Mas quero jogar o foco em algumas palavras para 2025 – solidariedade, esperança e ousadia. Ousadia é uma forma de cuidar. Precisamos ser ousados para agir no presente, ver a realidade e crer no futuro. O Brasil precisa de cuidado. Ousadia é um exercício de cidadania. Dizer sim à ousadia é direcionar as contradições, respeitar as diferenças e abrir portas para a justiça social. Esse pode ser um mapa para o próximo ano. Desde que a humanidade iniciou sua trajetória pelos caminhos da história, sempre houve grupos de pessoas com uma beleza original – a esperança – acalentando sonhos de justiça, paz, liberdade e confraternização. Os frutos desses sonhos não são improvisados; são ensaiados graças à coragem de pequenos e grandes gestos que marca o tempo, levando esperança de transformação. Ao longo dos séculos, os sonhos, questões amplas e inquietantes têm suscitado diversos movimentos e gestos de solidariedade nas fronteiras do humano. Hoje, poetas, artistas, místicos e várias instituições que envolvem o ser humano se unem para a construção de um novo mundo, mais humano e solidário. A plataforma de uma ação justa e solidária está no exercício sério e transparente da estrutura política, econômica, cultural e educacional. A grande sabedoria do atual momento histórico é o exercício do diálogo para ampliar os laços de solidariedade. Mais ainda: pensar uma nova costura da história, colocando em cena avanços, desafios e criatividade. Um Ano Novo – 2025 – é um ponto de chegada que não termina com shows, festas e celebrações. Começa e continua. O caminho é longo e penoso, mas mobilizar é preciso. Um tempo com dias e meses que se entrelaçam – 365 dias. Como escreveu Charles Chaplin, o Carlito da esperança: “Precisamos de humanidade; precisamos de afeto e ternura”. O desafio do nosso tempo é tronar este mundo melhor. Com ousadia, esperança e solidariedade é possível sonhar, reinventar a história e recriar esse país. Ir para frente (em desdobramentos). Com transparência.

(Mauro Passos)

JAMAIS DESESPERAR

Mafia: Definitive Edition

 

Desesperar jamais, já dizia Vítor Martins há tempos, em música de Ivan Lins. De fato tem razão o letrista, pensa Eleutério, enquanto desce a encosta do morro de sua caminhada pela vida.

Vítor corrobora sua assertiva, detalhando: não faz sentido entregar o jogo no primeiro tempo, já que a vida, via de regra, também permite o segundo tempo e até mesmo a prorrogação. Se você não entende hoje o significado de alguma coisa, não quer dizer que ficará para sempre sem entender; se sente incapacitado de fazer algo, não quer dizer que amanhã ainda continuará incapaz.

Veja o que aconteceu com Percilina Predillecta, amável esposa de nosso amigo.

Por volta de 1980 e alguma coisa, ela ficou conhecendo e tomada de amores por uma música de Mercedes Sosa, intitulada “Volver a los 17”. Desde então, frequentemente ela se surpreendia solfejando aquele estribilho:  Se va enredando, enredando / Como en el muro la hiedra / Y va brotando, brotando / Como el musguito en la piedra / Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Entender a letra ela não conseguia quase nada, com uma parte a deixando especialmente intrigada: “como el musguito em la piedra”. Ela se perguntava: - Que coisa é essa de mosquito na pedra?

Anos depois, com o advento da Internet, assistindo a um vídeo do YouTube, lá estavam Mercedes Sosa, Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gal Costa cantando “Volver a los 17”. Com a tradução simultânea, Percilina ficou sabendo, enfim, que o tal “musguito em la piedra” não significava “mosquito na pedra”, mas musguito, musgo na pedra, brotando como musgo na pedra. Veja você: Percilina conseguiu solucionar uma dúvida que parecia impossível.

Eleutério, por sua vez, foi desprovido de muitas coisas durante sua infância e adolescência, e que lhe acarretaram pequenos traumas. Mas não é que agora, com as folhas do outono a cair, foi presenteado pela filha Deusarina Rebelada com um aparelho de videogame, um Playstation 4, e alguns dos jogos conseguiram curar muitos de seus traumas?

Eleutério nunca aprendeu a nadar. Até pouco tempo, quando ia a passeio em praia, ficava se remoendo de inveja, vendo Percilina boiando de costas no mar, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Ele pensava: - Ah, se eu fosse capaz de fazer isso, minha vida seria pelo menos 4,8% mais feliz!

Com o jogo ABZÛ, Eleutério se viu nadando à vontade em aventura subaquática, realizando acrobacias na pele de mergulhador, interagindo com cardumes de milhares de peixes e predadores.

Outra coisa que Eleutério nunca conseguiu fazer na vida foi andar de bicicleta. Com o jogo DESCENDER, resolveu de vez o problema, conseguindo participar de muitas corridas de bicicleta. Já o TRIALS FUSION o colocou em cima de uma moto, fazendo acrobacias malucas, matando um pouco da saudade dos tempos de infância, com seus circos e o famoso e de arrepiar GLOBO DA MORTE.

Para enterrar de vez os traumas, aprendeu a dirigir carro, trabalhando como chofer de táxi, a serviço da Máfia, em MAFIA: DEFINITIVE EDITION.

Mas não fica por aí tanta alegria proporcionada pelo videogame (*). Eleutério se vê frequentemente praticando dois esportes de sua predileção: jogando sinuca, em HUSTLE KINGS, e pescando, em FISHING PLANET.

A pescaria ele faz questão de lembrar que é de mentirinha, que já não aceita mais uma que seja de verdade. Como precisa acumular crédito para ir cada vez mais melhorando o nível dos equipamentos, Eleutério tem que pescar muito. Para isso, também utiliza os nomes de Percilina e Deusarina. Quando estava usando o seu próprio, Castelo Caudado, a pescaria transcorria sem problema. A coisa ficava ruim quando utilizava os pseudônimos de Percilina ou de Deusarina. Aí, os pescadores masculinos ficavam em cima delas, não as deixando pescar direito, um aborrecimento sem igual. O que fazia Eleutério, Castelo Caudado, deixar o jogo de lado e ficar encarando os atrevidos. Só tempos depois é que ele descobriu que podia pescar usando o modo de “sala privada”.

Mas nem todos os traumas o Playstation IV conseguiu dar conta. Só que Deusarina acaba de presentear Eleutério com um neto. Aí, nosso amigo começa a fazer seus planos de comprar muitos brinquedos, especialmente aqueles que passaram distantes de sua infância. Sonha com o dia em que irá comprar um ferrorama. Não vê a hora em que irá montar o brinquedo na sala e se deliciar vendo o trem deslisando pelos trilhos. Só espera que Theo, o netinho, não seja egoísta e o deixe brincar nem que seja um pouquinho. Eleutério tem certeza de que irá recuperar uns 5,2% da felicidade que havia ficado para trás.

Para terminar, ele pede aos leiturinos não julgarem que tudo isso que experimentou com o videogame seja divagação, fantasia, faz de conta. Ele sente que, agora, sabe mesmo nadar, andar de bicicleta, dirigir. Para os incrédulos, ele lembra que até recebeu mensagens pelo celular sobre sua CNH. Na primeira, estava dito assim: “Atenção, Eleutério! Sua CNH pode ser cancelada. Consulte ww1...”. Já a segunda, falava: “NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL: Suspensão da sua CARTEIRA DE MOTORISTA em andamento...”. Está vendo como a fantasia acaba se tornando realidade?

Etelvaldo Vieira de Melo

DESABAFO FINAL

 



Ellen Pietra

Estamos cercados de IDIOTAS, querendo ditar as regras da vida em sociedade. Este texto se propõe explicar quem são tais indivíduos, ao mesmo tempo em que reflete sobre duas questões pertinentes. Esta é minha contribuição, na busca de entendimento do que seja o Brasil em fins de 2024.

Quem pariu Bolsonaro?

Quem pariu Bolsonaro foi o juiz parcial de Curitiba, que fez um trabalho sistemático de desmoralização dos políticos e da política, tendo como aliados a Globo e o Estadão.

Sem a Globo o Moro não existiria. Foi a Globo que desmoralizou os políticos, bons são os economistas da Faria Lima que a Míriam Leitão entrevista.

Quem pariu os bolsominions (eleitores do Bozo)?

Quem pariu os bolsominions foi a guerra cultural de extrema direita, aproveitando-se do desconforto emocional cognitivo de seu público; investiram nos fatos e ações que lhe faziam entrar em conflito com as suas crenças. Esses perdidos passaram então a aceitar qualquer explicação chinfrim que os fizesse sair desse estado de dissonância cognitiva e que os remetesse à crença original. Se alguém da sua bolha oferecesse uma justificativa pra seus bandidos de estimação, que permitia sustentar a crença sem conflito, esses indivíduos aceitavam com prazer. Sabe qual a crença dessa gente, independente de igreja e pastor? A Teologia da Prosperidade, só querem manter-se no pedestal, precisam manter a imagem falsa de que são competentes, inteligentes, porque não são! Suas competências sempre foram usurpadas e com empurrão de político, amigo ou parente. Só enxergam o pequeno mundinho falso em que vivem, sendo que em sua maioria vieram de classe pobre, e, mesmo sem compreender, são classe trabalhadora e não o patrão. 

Por que se identificam com o ladrão de joias sem escrúpulos e com linguajar e ações nefastas, com distúrbios emocionais gritantes?

Porque lhes interessa a MENTIRA, pois sempre pautaram suas vidas nela, na falsidade e na ganância pessoal e familiar. O que nos conforta é que a maioria está medicada.

Finalizo, explicando a malfadada EXTREMA DIREITA:

A extrema direita chega ao poder conquistando corações e mentes, e chega por eleições livres e democráticas.

Criaram uma guerra cultural, inventando inimigos imaginários, cuja existência gera um pânico social, medo e receio. E a resposta usual a esse medo, a esse pânico social, é o ÓDIO que é direcionado contra esse inimigo imaginário, que se torna assim uma máquina eleitoral muito poderosa, porque não existe combustível mais inflamável que o ÓDIO.

Fazem uma produção contínua de narrativas, polarizadoras, que têm como base fake news e teorias conspiratórias, sendo a finalidade dessas narrativas a criação constante de inimigos imaginários. Sem inimigos imaginários, a guerra cultural da extrema direita não prospera. Na Europa, o inimigo imaginário são os imigrantes; nos Estados Unidos, os ticanos (imigrantes), e nos outros países, de uma forma geral, o comunismo. O Pablo Marçal dizia que entrou na eleição somente para impedir que o comunismo dominasse o Brasil. A guerra cultural da extrema direita tem uma linguagem bélica, e com predominância na eliminação do outro, com uma linguagem própria que é a retórica do ÓDIO.

É um movimento poderosíssimo de massas, que tem como sustentação o desequilíbrio emocional de seus aliados.

As maiores inteligências brasileiras subestimaram essa massa de gente doente, como se o bolsonarismo não fosse nada, fosse apenas um espasmo que passaria sozinho.

Estamos em 2024, as eleições acabaram, e cada vez mais o bolsonarismo se fortalece, em todos os níveis da sociedade brasileira, e será tanto mais forte, quanto mais se afaste de Bolsonaro, pois tem a massa que se identificou com ele. A mídia é a alma da perversidade de um Brasil saqueado, esfolado e cooptado por uma iniciativa privada extremista e cruel, destruidora de ecossistemas e de vidas de toda espécie. O representante bolsonarista para as próximas eleições, o tal Tarcísio, está à frente de uma POLÍCIA SELVAGEM E VIOLENTA, ele também é militar, mas a mídia corporativa o trata como moderado.

Não nos conhecemos mais como parte de um mesmo povo. Mas não me permito mais sofrer por isso, sei que o posicionamento político e como quer que a sociedade seja, define o caráter de um indivíduo. Ao observar a existência vazia e mesquinha, onde a sensibilidade é substituída pela superficialidade, e o que resta é a IDIOTICE, disfarçada de sofisticação, faço das palavras do Vickye Vieira as minhas:

"Quando Freud diz que a fuga é um instrumento mais seguro para se cair prisioneiro do que se deseja evitar, ele nos ensina que não há para onde fugir. A vida é um caminho só de ida, qualquer tentativa de retroagir ou escamotear o percurso, pagamos um preço muito alto por isso.  Se refugiar no imaginário, infantiliza o sujeito. Abrigar-se totalmente na fantasia, entorpece o sujeito. Recalcar tudo o que é indigesto, coloca o sujeito em pulsão de morte. A fuga é muito mais dramática do que o enfrentamento da realidade. Não há antídoto contra a vida. Estar no mundo é pra se molhar."