BOM DIA, PROFESSOR!


Como bem diria Cazuza, os dirigentes políticos de nosso país são mesmo EXAGERADOS: na comemoração de 15 de outubro, Dia do professor, em vez de arrebentarem foguetes, soltam bombas; dão balas... de borracha, em vez de salgados; quando todos pensam que irão bater palmas, cantar o “parabéns”, correm atrás da população e batem... com cassetetes. É isso que se chama “amor escrachado, extravagante”.
Falando sério: toda pessoa de bom senso sabe que o desenvolvimento de um país depende de investimentos nas áreas de educação, saúde e infraestrutura. Os políticos ficam por conta da exceção; eles só tratam desses temas em época de campanha eleitoral.
“Bom dia, professor!” é uma maneira simples de prestar homenagem para esses profissionais tão sofridos, mas que, pelo trabalho digno e honesto, são e foram marcos na história de vida de cada um de nós. Nesta homenagem, faço relato de casos bem-humorados acontecidos em sala de aula. 

Técnicos de futebol gostam de jogadores que se adaptam a múltiplas posições. Os  torcedores não pensam assim, considerando-os, no máximo, regulares.
Houve um tempo em que os professores eram polivalentes e, por isso, chegavam a lecionar disciplinas com as quais tinham pouca ou nenhuma afinidade.
Como aquele que, lecionando Ciências, foi encurralado por uma pergunta escabrosa de um aluno. Perguntou, tentando aparentar tranquilidade, ele que se sentia acometido de uma taquicardia:
              - Já estudamos esse conteúdo?
              - Não, ainda não, professor.
            - Pois, então, estudo é como medicamento: você tem que tomar a dosagem certa na hora certa. Se você toma um medicamento fora de hora, ao invés de fazer bem, ele pode lhe causar muito mal.
              - É verdade, professor. Muito obrigado.
O professor riu por dentro, satisfeito com sua esperteza. Mas, logo depois, ele desistiu definitivamente de Ciências, quando outro aluno lhe perguntou:
            - Professor, peixe fecha os olhos quando dorme?
Também teve aquele caso de outro professor, que conseguia a proeza de se relacionar muito bem com os alunos, ao ponto de provocar crise de ciumeira por parte dos colegas. Até que, lecionando Ciências, acabou se dando mal, ao ponto de ser excluído da Escola. Na aula de Educação Sexual, resolveu fazer um teste de espermograma com os alunos. Eles ficaram em fila diante do banheiro, cada qual com um frasco na mão e onde, um por um, faziam a coleta do material a ser classificado. No dia seguinte, diante do avassalador berreiro dos pais, o nobre professor foi colocado no olho da rua.
E teve também aquele caso de outro professor que, durante o período da ditadura militar, lecionou a disciplina Moral e Cívica. Moral era como ele mesmo, tirava de letra, mas civismo... e... dentro daquelas circunstâncias...
Certo dia, para desencargo de consciência (e por medo de desagradáveis consequências), pediu para que os alunos fizessem pesquisa sobre os conceitos de Nação, Povo, Massa, País.
No dia da entrega dos trabalhos, um aluno disse:
               - Fessor, eu fiz um cartaz sobre o tema.
               - Muito bem, pode apresentá-lo.
            - Eu fiz cartaz sobre o tema “Massa” – falou o aluno, enquanto cuidava de colar no quadro seu cartaz.
O professor ficou abismado, quando viu o que estava no cartaz: gravuras de doces, tortas, bolos, pudim... e, mais assustado ficou, quando o estudante explicou o conteúdo do trabalho:
            - Esta aqui é uma massa de bolo, aquela é uma torta, esta outra é um pastel e esta - apontando para o meio das gravuras, onde estava a foto de uma mulher de biquíni, dessas que decoram paredes de borracharias – esta não é massa, mas é da massa!
O professor caiu de costas.
Esse mesmo professor reservava períodos do ano letivo para que seus alunos, livremente, apresentassem trabalhos onde poderiam mostrar suas habilidades: canto, dança, humor, trabalho artesanal, desenho, conto, crônica, poema, curiosidade, teatro... Nos dias das apresentações, o professor entrava em sala apreensivo, pensando: “o que eles vão aprontar hoje?”
Houve uma apresentação de dança espanhola, onde alunos estavam vestidos com roupas típicas. Tudo muito bonito, mas que chamou em demasia a atenção de salas vizinhas, com estudantes indo até as janelas, a fim de acompanharem a apresentação. E o professor, apesar de achar o número bonito, torcia para que acabasse logo e tudo voltasse ao normal. O que ele não sabia é que o grupo havia escolhido uma música de um conjunto chamado Santa Esmeralda (Don’t Let Me Be Misunderstood) e que durava pra lá de 25 minutos... Às vezes, a música baixava o volume e o professor pensava: “Ainda bem...” Mas, logo depois, o volume subia novamente e o pobre do professor quase afundava no chão de desespero.
E foi ele mesmo que, promovendo esse tipo de trabalho, agora para uma turma de curso noturno, em um número de dança, uma moça fez o favor de colocar um biquíni bem provocante. Os rapazes da sala ficavam como que arranhando as paredes, tal a excitação. Depois da aula, o professor, muito sabiamente, disse para o grupo de apresentação, olhando especialmente para a tal moça que, aqui entre nós, dava de 10 a 0 naquelas outras dos calendários de borracharia:
            - Olha, aparentemente o trabalho de vocês foi muito bom. Mas, como tive que ficar controlando os rapazes da sala, não me foi possível fazer uma avaliação correta. Por isso, vocês devem fazer uma apresentação especial só para mim.
            
         - Bom dia, professor! Só mesmo o bom humor e essas situações divertidas para amenizarem um pouco o muito de dificuldade de uma profissão tão pouco valorizada, tão humilhada, tão desprezada em um país onde todos falam de sua importância, mas que - na hora de fazer alguma coisa – cuidam de fechar as mãos!
Etelvaldo Vieira de Melo


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