A
Copa da FIFA já chega ao fim e deixa um grande legado para a cidade: com o Mineiraço 2014 (Brasil 1 X 7 Alemanha), Belo Horizonte entra para os Anais da História do Futebol.
Enquanto a cidade faz história e os torcedores correm desnorteados, estou fazendo minha despedida desse torneio, postando uma crônica escrita em 24 de junho.
Tudo
na vida permite diferentes leituras. Talvez seja baseado nesse princípio que um
advogado se vê no direito de defender um réu, considerado culpado aos olhos da
maioria.
Sábio
é aquele que revê seus conceitos e reconhece os erros de juízo que cometeu;
mais sábio é aquele que sabe aceitar um pedido de desculpas e sabe perdoar.
A
religião cristã nos mostra as grandezas do arrependimento e do perdão, através
dos relatos do filho pródigo e do bom ladrão.
Nos
jogos da Copa da FIFA, quando vi o jogador Luis Suárez, a primeira avaliação
que fiz foi a de considerá-lo um mau caráter, por causa de suas declarações
racistas; depois, no jogo entre Uruguai e Inglaterra, achei que se tratava de
um artista, um Freddie Mercury da bola. Da última vez, no jogo com a Itália, lá
estava o Luisito, agora não fazendo gol, mas dando uma mordida no ombro de um
adversário, o jogador Chiellini.
Como
já é a terceira vez que ele toma tal atitude, a de morder seus adversários, já
ia eu correndo para pregar-lhe uma nova condenação. Foi quando pensei: Por que
não buscar uma leitura diferente para o que ele fez? Encontrei duas opções:
uma, de natureza genética; a outra, de caráter mais existencial e filosófico.
Aceitando
a teoria evolucionista, não tenho como esclarecida a composição de nossos
genomas. Olhando a morfologia de Luis Suárez, fica a impressão de que carrega
uma herança genética das famílias dos castores e dos esquilos. Os membros
dessas famílias necessitam estar sempre roendo alguma coisa, pois, se não
fizerem assim, seus dentes crescerão tanto que poderão lhes ocasionar a morte.
Dada
esta explicação científica, não tem como condenar o jogador, como estão alardeando
alguns apressados. Luis Suárez é inocente e sua mordida fica por conta dos
antepassados.
Acredito
que ele sempre procura estar roendo algo, mas, naquelas circunstâncias de um
jogo de copa, ele ficou receoso de levar um petisco para dentro de campo. A
necessidade de roer, somada à pressão do jogo, deu no que deu.
A
outra explicação, existencial e filosófica, chega a ser mais completa que a
alegação genética.
Diante
da vida, existem aqueles que sempre se sentem enfarados, como se tivessem
comido cinco quilos de feijoada. Você olha para eles e percebe como estão
empanzinados. Tais pessoas se sentem acomodadas, satisfeitas e nada de novo
lhes interessa.
Ao
contrário, pessoas como Luis Suárez, sempre se mostram famintas, nunca estão
acomodadas. Assim é Luis numa partida de futebol: ele corre, dribla, gesticula,
vibra com um gol. Quando está difícil, quando ele não consegue fazer suas
jogadas, seja por estar em jornada infeliz, seja pela marcação ferrenha dos
adversários, ele faz o inusitado: morde o que vê pela frente, mas não por
maldade, simplesmente porque quer ganhar a partida, porque tem fome de vitória.
Ah,
se as pessoas fossem assim diante da vida! O mundo deixaria de ser opaco e
sombrio para se tornar algo luminoso e radiante.
Etelvaldo
Vieira de Melo
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