Folheando uma
revista de dois anos atrás, li uma nota curiosa. Uma atendente de caixa de um
supermercado na Inglaterra se recusava a vender uísque para uma senhora de 92
anos de idade. O motivo? A senhora não portava documento que comprovasse sua
idade. A velhinha disse para a moça: “Filhinha
da vovó, olhando pro meu rosto e minhas rugas, não dá para perceber que tenho
mais de 18 anos?” Ao que a moça retrucou, singelamente: “Aparências são como rótulos de uísque, muitas
vezes enganam”.
Diante
de tal notícia, lembrei-me daquela máxima latina “Dura Lex, sed Lex” – a lei é
dura, mas é lei – que era do domínio popular, mas que, diante de tantos abusos,
tornou-se artigo de museu, perdeu seu sentido. Não foi aqui no Brasil onde
alguém disse que temos excesso de leis, que o problema é aplicá-las? Isso me
faz considerar que uma nova versão dessa máxima, MD/Br2014, poderia ser: “A lei
é dura, é lei, mas podemos negociar”. Fernando Sabino, comentando sobre essa
máxima, dizia: “Para os pobres, é
dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei. Para os ricos, é dura lex, sed
látex. A lei é dura, mas estica”.
Depois,
considerei que não disponho de neurônios suficientes para entender outras
culturas, notadamente a inglesa. Aqui no nosso país tupiniquim, qualquer
garoto, assim que aprende a soletrar algumas palavras, pode ir a um boteco
comprar uma garrafa de cachaça.
Numa
terceira consideração, lembrei-me de um amigo que, estando em visita ao Museu
do Louvre, foi logo dispensado de entrar na fila, sem ter que apresentar
documentação, ele que dispunha de pouco mais de 60 anos. Chego a considerar que
essa dificuldade em reconhecer a idade das pessoas seja mais próprio das
mulheres. Eu mesmo, que, absolutamente, não aparento meu tempo de vida –
especialmente quando estou de boné – nunca tive que comprovar nada para
usufruir de algum benefício. Observo, entretanto, que isso ocorreu quando era
atendido por um representante do sexo masculino. Quando era uma mulher a me
atender, muitas vezes tive que reclamar meu direito. Tudo isso me faz
perguntar: será que idade é um problema na cabeça das mulheres?
Sei
não. Sei que essa história de que as aparências enganam tem um fundo de
verdade.
Quando
estudava num internato, observava adolescentes com hormônios explodindo por
todos os lados. É o que acontecia com Doroteia, sobrenome do José e com o qual
era conhecido. Foi ele que, querendo dar uma de esperto, aproximou-se de
Geutiliano Amendoeiras, conhecido como Maria Mole – numa alusão àquele doce
tremeliquento, tido e havido como um bocó, um palerma – e, julgando que seria
moleza, lhe propôs que fizessem “aquilo”.
O
outro concordou, com a condição de que ele fosse primeiro. Quando chegou a hora
de inverter os ponteiros, Maria Mole não quis de jeito nenhum.
A
partir de então, Doroteia perdeu o moral frente os colegas, virando motivo de
chacota. Todos diziam:
-
Que vergonha, Doroteia! Logo para o Maria Mole...
Tem
razão a moça lá do supermercado inglês. O cinema não mostrou Brad Pitt
velhinho? Com essa história de plástica, vai que uma mulher queira ter uma
aparência mais idosa... Estou vendo que, neste mundo doido de hoje, tudo é
possível.
Qual
bólido de Fórmula 1 (mas sem ser pilotado por um desses brasileiros de
ultimamente), aproveitando carona no vácuo desta história inglesa - agora que
estamos em período eleitoral e minha caixa de correio anda cada vez mais entupida
de “santinhos”, cada qual mais angelical que o outro – fico imaginando um
possível diálogo com um político:
-
Vim pedir seu voto – fala ele, apertando minha mão com a sua cheia de dedos,
dando-me um tapinha nas costas.
-
Mas como posso dar o meu voto para você, assim no escuro?
-
Ora, eu passei pela lei da Ficha Limpa...
-
Essa lei da Ficha Limpa está uma verdadeira peneira furada. Tem político de
passado tenebroso e respondendo a processo, liderando intenção de votos para
governador em vários estados.
-
Mas, então, o que posso fazer para ganhar seu precioso voto?
-
Por acaso você dispõe da CH, Carteira de Honestidade?
-
Xiii..., obter essa carteira está mais difícil do que o Brasil se recuperar
moralmente da derrota para a Alemanha por sete a um no futebol.
- Já
que é assim, você pode brigar até a morte por uma reforma política em nosso
país?
-
Meu querido, se for atender a seu pedido, estarei cortando em minha própria
carne. Veja que a classe política é formada por raposas velhas, a maioria de
fato e outros por vocação; assim, como macacos velhos, não vão querer meter a
mão nessa cumbuca de uma reforma. Mas qual é mesmo o seu nome?
- Eu
me chamo Ingenaldo.
-
Pois, então, seu Intrevaldo, nem que você cozinhe a galinha e beba o caldo. Só
quero lhe dizer uma coisa, mas que fique entre nós: como político, estou lá no
Congresso para defender o meu e os
interesses daqueles que injetaram dinheiro em minha campanha, grandes corporações - na verdade. Além
disso, o sistema que aí está atende os nossos interesses, sem contar os urubus e as hienas, que também levam seus petiscos.
- É
lamentável ouvir suas palavras – concluiu Ingenaldo, com voz embargada. –
Contudo, tenho que continuar correndo atrás de meu sonho, ou então terei que
mudar meu nome. O slogan de minha campanha será: Ou o Brasil faz uma reforma
séria, acabando com esse Sistema Político – e isso é uma verdade inegável - ou
esse jeito de fazer política vai comprometer o futuro do Brasil de maneira
irrevogável. E o meu nome é In-ge-nal-do.
Etelvaldo Vieira de
Melo
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