IGREJA DE ALEIJADINHO

Imagem: folhadoindaia.blogspot.com




         A mão ferida fabrica o altar. Enquanto se esvai no sonho, renasce um anjo bom.
        
         Aleijadinho morrendo e as santas rejuvenescendo, brancas, em pedra-sabão.

         O coto do artista se esfumaça, magoado de negras manchas, mas o Cristo vai se formando, ressurrecto e cicatrizado.

         As pernas do Aleijadinho estão cobertas de chagas, daí os cinzas das vestes, porém os soldados fortes supliciam a Cruz.

         O feio artesão se esconde e as figuras resplandecem, em vermelhos azuis ofuscantes.

         Olhos oblíquos saem da pedra para verem o rosto acabado. Aleijadinho é o monstro inconfidente que produz cataclismos em Minas Gerais.

         Vede essa Virgem sorrindo e as cores de seu vestido. Olhai os laços doirados que enlaçam finas cinturas.

         A cabeça de Aleijadinho está magra e suarenta, mas os anjos esbanjam gordura e bebem no céu estrelado.
                  
         É de nimbos a boca do artista; de cúmulos, a dos santos.

         Suspirai por essas coroas, não mireis os esboços da vida. Belas são as faces dos anjos, triste a carapinha do artista.

         Entretanto é o caminho espinhoso que conduz aos roseirais.

         Ide por essas rendinhas, subi pelas falas dos púlpitos, contemplai essas dores franjadas que compõem o cenário barroco.

         Esquecei as mazelas do homem que, terminada a sua obra, também estará terminado.

2 comentários:

´Mário Cleber disse...

Como sempre, esgrimindo divinamente as palavras. "vermelhos azuis", anjos de cara gorda e a magreza de Aleijadinho. Belíssimo.

Anônimo disse...

Cleber.
Obrigada pelas suas palavras.São seus olhos sempre bons que admiram o meu poema.Vou ligar para você.

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