RAPOSAS E CEGONHAS OU OS SEM-VERGONHAS

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Comadre Raposa
Convidou a cegonha
Para um jantar.

 E a cegonha, foi não foi?
Vou não vou.

Madame Raposa
Serviu a ceia
No prato raso.

Que ceia real
Está à espera
De dona cegonha!

No entanto a plumosa
Provar não pode
Do lauto manjar.

O bico pontudo
Batendo no prato
Fere e se fere.

A rainha Raposa
Com a faixa de gala
Morre de rir.

Aí, a cegonha
Convida a matreira
Para a sua comida.

Quem resiste
A tal festim?

Muito satisfeita,
A cegonha serve sopa
Na ânfora.

Vem a Raposa
Com fome de leão.
Assenta-se no trono
E manda o comer.

Mas o jarro de vidro
Destina-se à Midas
Senhora cegonha.

Luta a Raposa
E a sopa de milho
Faz estribilho
No fundo da ânfora.

De que adianta
Um nobre focinho
E faixa de seda?

Assim, as raposas
Nos ministérios
Trocam tortas
Direitas e esquerdas
Entre bicos e focinhos.



              

OS PERIGOS DO SECTARISMO

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           Coisa chata é você “bater o pé”, defendendo uma ideia que tem como certa, mas que, depois, descobre ser errada, tendo que “dar o braço a torcer”. Isso dói.
            Quando surgiram os Beatles, eu achava que o Paul era o John e o John era o Paul, simplesmente porque o Paul tinha cara redonda de John e o John tinha o rosto afilado de Paul. Foi duro casar Paul MacCartney e John Lennon com suas respectivas identidades físicas.
            Foi por esta época dos Beatles, mais ou menos, que surgiu o chamado western spaghetti, ou bangue-bangue à italiana, com destaque para “Um Dólar Furado”, com Guilliano Gemma, que tinha cara de tudo – menos de cowboy americano. Nesta trilha, apareceram Sergio Leone em dobradinha com Clint Eastwood, Franco Nero e outros. Franco Nero foi protagonista do clássico “Django” (o que inspirou Quentin Tarantino na criação de “Django Livre”) e que rendeu sequências com outros atores, entre eles, Anthony Steffen, um brasileiro. Cismei que Steffen era o Django genuíno; chegava a ter discussões homéricas com um colega, que defendia o nome de Franco Nero (discussão homérica = aquela em que você, perdendo o controle, manda o outro “tomar na odisseia”). Nessa discussão, eu não dava o “braço a torcer”. Mais tarde é que descobri meu engano. Peço desculpas, Ivani.
            Se em questões menores incomoda o sectarismo, imagina como deve ser naquelas maiores, que envolvem questões religiosas, ideológicas ou políticas. Acho que o sectarismo só vale mesmo no futebol, pois futebol sem fanatismo é o mesmo que amor sem paixão, tutu sem feijão, banho sem sabão.
            O sectarismo religioso, ou pseudo religioso, está levando o mundo à beira de uma guerra mundial. São de um absurdo inominável as atrocidades cometidas em nome da fé. É esta mesma fé que permite consciências ingênuas e fanáticas serem manipuladas por líderes religiosos aproveitadores que, em nome de Deus, surrupiam dinheiro dos incautos.
            E adianta você discutir com esses pobres coitados? Escoimados (saiu sem querer) em textos bíblicos, provam por a+b que estão certos e você está condenado.
            É no plano ideológico que o sectarismo aparece de forma mais sutil e letal. Como somos bombardeados por informações e deformações de toda natureza, temos que usar filtro para decantar tudo e formar nossa opinião. A opinião sedimentada é o que se chama de ideologia, o que vem a ser aqueles princípios que orientam nosso agir. Esses princípios devem ser flexíveis o suficiente para que uma pessoa possa aceitar críticas, questionar e rever seus conceitos, admitir os erros.
            Os sectários ideológicos se fecham em suas crenças e princípios, se arvoram como donos da verdade, destilam suas críticas e seus dogmas contra qualquer opinião que não seja a sua.
            Quer saber como identificar um sectário ideológico? Quando não usa da agressão verbal, esconde-se atrás da ironia. A ironia é a principal arma do fanático ideológico. Contra ela não há argumento, pois não está fundada em bases racionais. Eu corro desse tipo de gente, os cínicos.
            Estive lendo livro de um desses, e foi difícil passar por páginas de puro pedantismo, com o autor se achando o tal, com direito de atirar pedras de ofensa moral em seus desafetos. O mesmo acontece com um analista de noticiário de TV. Fica difícil aceitar suas críticas, pois elas sempre vêm acompanhadas de um sorriso cínico. Para mim, o sorriso cínico destrói qualquer opinião, por mais sensata que seja.
            O acesso às redes de comunicação dá direito a qualquer um de expor suas opiniões. Entretanto, elas não podem vir na forma de agressão gratuita. O ideal seria que viessem em forma de argumentação: premissas (fundamentos) > conclusão (aonde você quer chegar).
            O país está vivendo momentos de turbulência, com opiniões sendo atiradas para todos os lados. Seria ótimo, caso estivessem fundadas em argumentos. A população teria oportunidade para um rico aprendizado político. Infelizmente, tal não acontece: a maioria do que é dito nas redes e na imprensa não é argumentação, mas achismo, não vale um dólar furado. Além disso, quem tem compromisso com a verdade?
Etelvaldo Vieira de Melo
           


BARATOS POLÍTICOS

Imagem: blogdaprofflor.blogspot.com


A barata caiu
Num copo de cachaça.
Começou a nadar,
Mas viu que iria
Morrer sem taça.

Passou o gato
E a barata berrou:
“Excelentíssimo gato,
É tempo de Olimpíadas.
Se me tirar daqui,
Ganhará o ouro
E poderá me comer.

Dou-lhe minha palavra
Pode crer”.

O gato, encantado,
Virou o copo no chão.
O líquido escorreu.

E ENTÃO...

A danada saiu às pressas
E escondeu-se no buraco.

“Como assim, senhora?
Você deu sua palavra
De que eu iria manjá-la
Naco a naco”.

Sabedoria de leitor:

“FIQUE ALERTA, GATO.
Por que foi confiar
Numa barata bêbada?

A palavra da safada
Só serviu para enganá-lo”.

História e moral:

O povo brasileiro,
Confiando nos políticos,
Vai-se embora igual à pinga
Pelo ralo.



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A BANANEIRA

Imagem: pomaresemvasos.blogspot.com
(Composição Infantil)
A bananeira é uma planta frutífera. O fruto da bananeira é a banana.
Minha avó, Dindinha Dilica, conta que nos tempos dela novinha, existia uma simpatia que dizia: quando uma bananeira não quer dar banana, ela deve ser abraçada por um homem; então, ela passa a dar bananas.
Minha avó Dilica conta também que, nos tempos de jovem, os meninos e as meninas faziam muitas coisas atrás das bananeiras de casa. Eu imagino que deveriam ser brincadeiras de casinha, de doutor, de circo, já que naqueles tempos, coitados, não havia esses brinquedos de hoje, os videogames e smartphones.
Vovó dá um sorriso espertinho, com sua boquinha sem dentes. Então, eu passo a acreditar que pode ter sido bom aquele seu tempo, apesar de todo atraso e da falta de um videogame e de um smartphone.
Minha avó faz questão de esclarecer que tudo se aproveitava das bananeiras, além das bananas, é claro. O caule, por exemplo, servia para fazer petecas. E não havia peteca melhor do que aquela feita com os caules de bananeira. As folhas verdes e grandonas eram usadas para um mundo de coisas: serviam para forrar o assoalho, quando um porco era sacrificado; serviam como lonas para os circos montados no quintal, telhados para as casinhas de brinquedo; quando secas, eram usadas para sapecar a pele do porco sacrificado. O coração (ou umbigo) da bananeira dava um cozido todo especial.
Naqueles tempos de antigamente, o preço da banana era baratinho; por isso, quando alguém queria falar de algo que custou pouco, dizia:
                - Ah, aquilo ficou a preço de banana!
Agora, Dindinha Dilica não sabe explicar porque uma pessoa moleirona, palerma, boba, é chamada de banana.
Tudo isso que estou falando foi minha vó Dilica quem contou. Para falar da fruta banana, eu mesmo sou capaz.
A banana é uma fruta muito apreciada, pois é saborosa, fácil de descascar e de comer. Sei que existem muitas espécies de banana. Eu não gosto muito da caturra, pois acho que ela tem um gosto enjoativo. Minhas preferidas são a prata, a maçã e a ouro. Como mais da prata, mas aprecio mais a ouro, que é doce feito mel.
Pra dizer a verdade, não sei de onde veio a banana. Acho que ela é daqui mesmo, pois ouvi meu tio Eleutério dizer que os políticos pensam que vivemos num país de bananas.
Falando assim, eu vejo que preciso esclarecer as palavras, para que não haja mal-entendidos.
Por exemplo: dar uma banana pra alguém não quer dizer agrado, mas ofensa. A pessoa balança o punho da mão direita fechada, presa pela esquerda e voltada para o outro, dizendo:
                - Aqui, ó!
Tal gesto costuma trazer briga. Vovó Dilica conta que, nos seus tempos de jovem, os meninos se juntavam na rua, alguém riscava o chão separando os briguentos, e mandava cuspirem um na direção do outro. Depois, era soco que voava pra tudo quanto é lado.
                (Estou vendo que, continuando a dar ouvidos à minha avó Dilica, vou acabar achando que seu tempo de criança foi melhor do que está sendo o meu, de videogame e smartphone.)
Outra coisa que preciso esclarecer: plantar bananeira não significa necessariamente o que a frase está dizendo. Pode significar aquele gesto da pessoa se projetar no chão, ficando de cabeça para baixo e apoiado nas mãos. Quanto mais tempo uma pessoa se equilibra assim, melhor ela está plantando uma bananeira.
Eu já estava chegando ao fim desta composição, bem satisfeito com a ajuda de minha avó, Dindinha Dilica, quando meu tio Eleutério falou que também queria dar seu palpite.
Ele acha que a bananeira deveria ser o símbolo da classe política do país. Todo dia de reunião no Congresso (que é muito pouco toda semana), uma bandeira com o símbolo da bananeira deveria ser hasteada. Para os políticos, aquele gesto pode simbolizar o descaso que têm para com o povo, para quem vivem dando bananas, eles que são iguais a folhas de bananeira, estão sempre virando para onde sopra o vento. Para o povo, aquele símbolo representa a lembrança de que o mandato de um político deve ser como uma bananeira: só tem validade enquanto dá fruto. Depois, tem que ser cortado, pois é bananeira que já deu cacho.
Joãozinho
Nota: Quero agradecer à vovó, Dindinha Dilica, e ao tio Eleutério pelos conselhos e pela correção do texto sobre bananeiras e bananas.  A propósito, aceita uma banana?
Etelvaldo Vieira de Melo



O LEÃO E O RATO

Um camundongo
Ia pelo caminho.
O leão, ao vê-lo,
Prendeu a pata
No seu rabinho.

O rato chorou
E implorou ao leão
Compaixão.

O rei da floresta
Sorrindo, disse:
“Vá em paz, amigo,
Volte para casa,
E eu prossigo.

Passados uns meses
O grande animal
Viu-se preso nas redes
Que lhe pusera
O mau.

Imagem: sermais.blogspot.com
O leão lutava
Com a garra afiada,
Mas quanto mais luta
F icam as redes
Mais apertadas.

O camundongo
Lá vem assobiando
Livre e feliz.
Vendo a tragédia,
Diz:

“Vou soltá-lo das redes.
Meu salvador”.

E começa a roer
O tecido das malhas
Com muito vigor.
Rapidamente
Os nós se desmancham.
O leão salta fora
Para ir-se embora.

“Obrigado, ratinho.”
“Obrigado, leão.”

A moral da história
Preste atenção:
A bondade do rei
Recebe, no ato,
A mesma bondade
Do rato.




VAI LÁ!

Num posto de combustível, todos estamos sujeitos a sentir aquele cheiro enjoativo de gasolina e a, ocasionalmente, sujar as mãos ou a roupa de graxa. É sempre assim, mas determinado posto diz, através da propaganda, que lá não é bem assim. Começou falando que seu atendimento era diferenciado; depois, passou a dizer que lá você encontra de tudo e pode resolver qualquer problema.
            - Ô, sô, ‘stou com uma unha encravada que dói pra danar!
            - Pois passa lá no Posto I*, que irão te dar uma solução.
A publicidade procura fixar a imagem do posto por esse viés humorístico.
Imagem: carissimascatrevagens.blogspot.com.br

Seria bom se houvesse de fato tal lugar, onde tudo pudesse ser encontrado e fosse resolvido, desde uma simples ou complexa troca de óleo, até a de oferecer a coleção de figurinhas do antigo sabonete “Eucalol”.
Eu mesmo gostaria de ter uma prestação de serviço assim. Uma das minhas primeiras requisições seria a de entender o quadro político do país. Acho que os políticos até já andam cansados de me tratar como um palhaço.
Agora mesmo estou vendo que eles querem aprontar pra cima do povo, sob a alegação que tudo é culpa do governo passado, que deixou o país em petição de miséria.
            - Vai ser preciso um aumento brutal de impostos, já que o déficit de caixa é imenso.
            - As regras da Previdência vão ser alteradas, e os trabalhadores terão que contribuir ainda mais; caso contrário, a Previdência quebra de vez. Naturalmente, isso é culpa do governo passado.
            - A Petrobrás terá que se desfazer de seus ativos, e a exploração do pré-sal vai ser loteada entre empresas estrangeiras. Isso vai acontecer por culpa do governo passado.
O governo atual e sua base fazem isso com o maior descaramento, rindo da inteligência do povo. Enquanto isso, procuram atender às reivindicações de amigos e cúmplices.
À parte das medidas amargas e impopulares (tais como as reformas trabalhista e previdenciária, além das privatizações – que serão enfiadas goela abaixo da patuleia depois das eleições de outubro), assistimos agora a um “Pacote de Bondades”, concessões governamentais que contradizem as promessas de medidas austeras para equilibrar as contas públicas.
É com o estômago revirando que um funcionário público de baixo escalão, com o salário atrasado e praticamente congelado por vários anos, vê o governo dar um aumento de 37% para delegados da Polícia Federal, um reajuste que pode chegar a 41,47% para os servidores do Judiciário da União, além de renegociar as dívidas dos estados.
Sinceramente, para mim, tudo não passa de outras roupagens para uma velha conhecida chamada “dona Corrupção”. Tal pacote de bondades representa uma forma de cooptar, subornar aqueles setores estratégicos e que tornam possível a governabilidade.
O cinismo da classe política do país é sem tamanho. Vejam vocês o que disse o presidente da Câmara Federal: a votação do processo de cassação do ex-presidente da casa está marcada para o dia 12 de setembro, às vésperas das eleições municipais, quando o Congresso fica vazio, jogado às moscas e, o pior, numa segunda-feira, dia em que nunca foi votado nada. Isto não é rir da inteligência das pessoas?
Se esse ex-presidente tivesse sido julgado há mais tempo, certamente teria sido cassado, e a história do país, sem dúvida, seria outra: ele estaria possivelmente preso, quem sabe fazendo delações premiadas e mudando a cara do país. A pergunta é: e a classe política quer isso?
Nessa enxurrada de denúncias a que assistimos, tem um empresário que defende a tese de certos homens públicos serem preservados, sob a alegação de que o país pode desmanchar. Estou sendo ingênuo ao defender simplesmente a verdade e a justiça verdadeira? Não está na hora de se acabar com o famoso JEITINHO BRASILEIRO, essa mania de colocar panos quentes em coisas erradas?
Esses mesmos políticos, cheios de escrúpulos para com um colega, se assanham com a possibilidade de conceder um aumento de 16,38% para os juízes do STF; sabem eles que, agindo assim, estará uma mão lavando a outro, pois serão eles mesmos beneficiários desse aumento, por causa do chamado “efeito cascata”.
Quando é de conveniência, mangueiras de um lava jato são apontadas em direção a um ex-presidente da coisa pública, de forma a intimidá-lo e a seu partido, tratando-o como massa de manobra e moeda de troca. Logo depois, os bem-te-vis de plantão saem gritando, esganiçados: “Bem-que-te-vi! Bem-que-te-vi!”. É a senha para aqueles insatisfeitos com o governo passado gritarem e saírem às ruas em protesto. Como terceiro desdobramento, o Congresso Nacional vai e vota o que está previamente acertado. Tem sido assim nos últimos tempos, essa orquestração com sua regência (o Lava Jato), suas partituras (espalhadas pelos bem-te-vis de plantão), o coral (as manifestações) e os instrumentos (deputados e senadores). A música não faz sucesso nacional porque é do gosto só de uma minoria, os plutocratas.  
Definitivamente, não quis, ao longo do texto, navegar nas águas barrentas de estatísticas e cifras (depois de R$10.000,00 meu cérebro entra em parafuso). O que quero é chamar a atenção para as semelhanças entre o discurso do governo e o da publicidade do posto de combustível. No entanto, é preciso fazer um reparo: enquanto um recorre ao humor para vender seu produto, o outro dá mostras de pouco caso para com o povo e para com as reais necessidades do país. Se para um, tudo pode ser encontrado no Posto I*; para outro, o governo passado é o único culpado pelas mazelas pretéritas, presentes e futuras, o legítimo e conveniente “boi de piranha”.
            - Puxa vida, este país tá uma porcaria!
            - Claro, e você sabe bem de quem é a culpa.
PS: Toda verdade possui diferentes facetas. Nesta em questão, creio estar expressando, se não o seu todo, pelo menos uma parte bem significativa. Isso não me conforta em nada. Seria mil vezes preferível se alguém chegasse e me dissesse como estou redondamente enganado. Então, eu poderia olhar pra realidade com olhos menos doloridos, sorrindo de alegria, podendo retornar aos temas bem-humorados que têm pontilhado essa minha caminhada aqui ao longo de mais de três anos.
Etelvaldo Vieira de Melo

CABRA-COBRA


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Certo homem belo homem
Ia vindo pelo caminho.
Que caminho?
Um caminho de dez caminhos.
O que houve com esse homem?
Que homem?
O do caminho.
Ah, o homem viu a cobra.
O homem-cobra?
Que mané-cobra!
O homem viu o quêêêeeé?
O Q é É?
A COBRA!
Grande ou média? A Cobra-Grande?
Quero contar...
Contar o quê?  Arroz ou feijão?
O caso do homem com a cobra.
Coisa esquisita!
O Q?
O homem maluco e a SUA cobra!
É o homem... Deixe pra lá.
Conta o caso!!!
Qual dos casos?
Certo homem viu a cobra.
Matou a peçonha?
Colocou-a pra dentro da camisa.
XXXXiiii! Danou-se.
O Q?
Então a cobra mordeu o homem.
Com a dentadura?
NÃ~~! A cobra PICOU o homem.
Coisa feia! Ingratidão.
Não é não.
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Imagem: bruxinhaalegre.blogspot.com
Claro que Não só pode ser não.
Enrola não.
Muito difice enrolar um não.
E a Moral da História?
Sei ela não.
Vamos deixar
Para o leitor
A adivinhação.



ALGUÉM ESPECIAL


                                              Para Aloísio, Loló, pelo aniversário.
Tenho um sobrinho de apelido tão afetuoso que não merece reparo: Loló. Reparo mesmo quem tem que fazer sou eu. Em conversa com sua esposa e filha, andei falando asneiras que precisam ser consertadas com urgência.
O que andei falando de tão medonho? Falei que os políticos, neste sistema que está aí, são todos corruptos, que não tem jeito: entrou na política, fica sujo, mela tudo.
Foi então que a esposa falou:
            - Quer dizer que o Loló está melado...
Não fiquei vermelho na hora porque havia tomado um tanto de cerveja. Eu havia me esquecido completamente que Loló ocupa um cargo político lá em sua cidade.
Pego assim no contrapé, somado ao meu retardo mental, não apelei para a famosa frase de que “toda regra tem exceção”, e o Loló era uma honrosa exceção para a regra da safadeza no mundo político. O que me ocorreu no momento foi dizer que Loló continua com a cara limpa, que seus olhos continuam puros, sem sombras de dúvidas e desconfianças.
Estávamos numa festa de aniversário. Um cego cantava o tocava um teclado.
Para arrematar o remendo que tentava fazer no estrago de minha língua trelosa, falei:
            - Vejam vocês o entusiasmo com que Loló acompanha a exibição do artista cego. Ele é o único aqui que manifestou de público interesse pela apresentação musical. Alguém de tamanha sensibilidade não tem como se tornar um corrupto.
De fato, pouco antes, Loló havia me chamado para ver de perto a performance do artista cego.
            - Veja, tio – dizia ele todo emocionado – como, entre tantas teclas, o cego aperta aquela certa.
Eu ia escrever: entre tantos botões, ele vai com o dedo no botão certo. Seria a maneira correta de dizer as coisas, já que o teclado possuía um infindável número de botões. Entretanto, faço esta observação em segundo plano, pois sei que ela dá margem a interpretações maldosas.
Loló vive com emoção cada momento de sua vida. É por isso que, apesar de novo, seu coração já sofreu reparos. Lá em sua casa, vive colecionando singelas lembranças. Outro dia estava me mostrando um pedaço do antigo piso da igreja matriz da cidade.
Outra de suas características, herança dos parentes maternos, eu inclusive, é ser um chorão de marca maior. É capaz, por exemplo, de chorar até pelo seu time favorito. Diante de derrotas, jura, solene:
            - Nunca mais eu torço para este time.
A promessa dura só até a próxima partida.
Como sabe dar valor para tudo, é uma pessoa fácil de agradar. Se quiser deixá-lo morrendo de alegria, dê-lhe de presente um passarinho de madeira, tipo desses papagaios que ficam dependurados em cipós. Pode ter certeza que ele vai guardar a lembrança com carinho, mostrando-a para todas as visitas.
Loló é filho de minha irmã, que eu chamei de Terebentina, em texto onde descrevo a odisseia da visita que faz à outra irmã, Abrilina. Seu pai foi um honrado soldado, muito querido por todos que o conheciam. Apesar de termos tido pouco contato, havia uma admiração mútua entre nós. É por isso que ele registrou outro filho com o meu nome. Só que teve cuidado de fazer a coisa certa, dispensando o “l” em que antigo escrivão, por causa de doses etílicas exageradas, teimara em anotar no meu registro.
            A exemplo de seu primo Madurino Cruz, Loló pode me salvar de uma crise de produção de textos. Já andei reclamando das mulheres que falam ao telefone, enquanto faço minhas viagens ao centro da cidade em lotações (justo quando minhas inspirações afloram). Falei da perspectiva de me mandar pra minha terra natal e ir até um tal de Iguaçu com o Madurino. Pensei na ideia de convidar o Edu, aquele ex-senador que havia perdido o Norte. Faço agora um reparo. Estaremos, na pedreira: Madurino, conversando com a vaca Mimosa; Edu, olhando pro céu em busca de seu Norte; eu estarei não mais pescando ideias do riacho, mas em animada conversa com Loló. Irei voltar do passeio com o balaio cheinho de tramas saborosas para milhares de crônicas. Que coisa mais danada de boa, sô!
Etelvaldo Vieira de Melo