Imagem: westerncinemania.blogspot.com |
Coisa chata é você “bater o pé”, defendendo uma
ideia que tem como certa, mas que, depois, descobre ser errada, tendo que “dar
o braço a torcer”. Isso dói.
Quando surgiram os Beatles, eu achava que o Paul era o John e o John era o Paul,
simplesmente porque o Paul tinha cara redonda de John e o John tinha o rosto
afilado de Paul. Foi duro casar Paul MacCartney e John Lennon com suas
respectivas identidades físicas.
Foi
por esta época dos Beatles, mais ou menos, que surgiu o chamado western
spaghetti, ou bangue-bangue à italiana, com destaque para “Um Dólar Furado”,
com Guilliano Gemma, que tinha cara de tudo – menos de cowboy americano. Nesta
trilha, apareceram Sergio Leone em dobradinha com Clint Eastwood, Franco Nero e
outros. Franco Nero foi protagonista do clássico “Django” (o que inspirou
Quentin Tarantino na criação de “Django Livre”) e que rendeu sequências com
outros atores, entre eles, Anthony Steffen, um brasileiro. Cismei que Steffen
era o Django genuíno; chegava a ter discussões homéricas com um colega, que
defendia o nome de Franco Nero (discussão homérica = aquela em que você, perdendo
o controle, manda o outro “tomar na odisseia”). Nessa discussão, eu não dava o
“braço a torcer”. Mais tarde é que descobri meu engano. Peço desculpas, Ivani.
Se
em questões menores incomoda o sectarismo, imagina como deve ser naquelas
maiores, que envolvem questões religiosas, ideológicas ou políticas. Acho que o
sectarismo só vale mesmo no futebol, pois futebol sem fanatismo é o mesmo que amor
sem paixão, tutu sem feijão, banho sem sabão.
O
sectarismo religioso, ou pseudo religioso, está levando o mundo à beira de uma
guerra mundial. São de um absurdo inominável as atrocidades cometidas em nome
da fé. É esta mesma fé que permite consciências ingênuas e fanáticas serem
manipuladas por líderes religiosos aproveitadores que, em nome de Deus,
surrupiam dinheiro dos incautos.
E
adianta você discutir com esses pobres coitados? Escoimados (saiu sem querer)
em textos bíblicos, provam por a+b que estão certos e você está condenado.
É
no plano ideológico que o sectarismo aparece de forma mais sutil e letal. Como
somos bombardeados por informações e deformações de toda natureza, temos que
usar filtro para decantar tudo e formar nossa opinião. A opinião sedimentada é
o que se chama de ideologia, o que vem a ser aqueles princípios que orientam
nosso agir. Esses princípios devem ser flexíveis o suficiente para que uma
pessoa possa aceitar críticas, questionar e rever seus conceitos, admitir os
erros.
Os
sectários ideológicos se fecham em suas crenças e princípios, se arvoram como
donos da verdade, destilam suas críticas e seus dogmas contra qualquer opinião
que não seja a sua.
Quer
saber como identificar um sectário ideológico? Quando não usa da agressão
verbal, esconde-se atrás da ironia. A ironia é a principal arma do fanático
ideológico. Contra ela não há argumento, pois não está fundada em bases racionais.
Eu corro desse tipo de gente, os cínicos.
Estive
lendo livro de um desses, e foi difícil passar por páginas de puro pedantismo,
com o autor se achando o tal, com direito de atirar pedras de ofensa moral em
seus desafetos. O mesmo acontece com um analista de noticiário de TV. Fica
difícil aceitar suas críticas, pois elas sempre vêm acompanhadas de um sorriso
cínico. Para mim, o sorriso cínico destrói qualquer opinião, por mais sensata
que seja.
O
acesso às redes de comunicação dá direito a qualquer um de expor suas opiniões.
Entretanto, elas não podem vir na forma de agressão gratuita. O ideal seria que
viessem em forma de argumentação: premissas (fundamentos) > conclusão (aonde você quer chegar).
O
país está vivendo momentos de turbulência, com opiniões sendo atiradas para
todos os lados. Seria ótimo, caso estivessem fundadas em argumentos. A
população teria oportunidade para um rico aprendizado político. Infelizmente,
tal não acontece: a maioria do que é dito nas redes e na imprensa não é
argumentação, mas achismo, não vale um dólar furado. Além disso, quem tem
compromisso com a verdade?
Etelvaldo Vieira de Melo
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