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Já conjecturei, eu que sou muito
chegado a conjecturas: Quem sabe foi a minha deficiência visual que aumentou?
Quem sabe o glaucoma se acentuou e meu campo de visão se estreitou ainda mais?
Não é possível tanto desentendimento com as pessoas!
Marquei consulta com o médico oftalmo,
que é um respeitado professor de muitos títulos, pessoa de bom coração,
atencioso e de muitos cuidados.
Ele foi logo me acalmando, depois de
analisar um exame chamado Campo Visual Computadorizado (CVC).
-
Rivaldo, tenho uma ótima notícia pra você: sua vista está melhorando, em vista
do que era!
Senti-me um pouco aliviado, sabendo,
agora, que a natureza de minha disfunção não era física. Foi o próprio médico
quem trouxe um pouco de luz para aclarar a situação, quando lhe perguntei como
se sentia, se estava animado para as festas de final de ano.
-
Que nada! – falou ele, com um tom de melancolia. – Sinto-me triste e
desencantado com tanta notícia ruim. Cada dia é uma notícia pior que aparece, sempre
envolvendo políticos e dirigentes. Mais do que uma crise econômica, nosso país
sofre de crise moral, de falta de princípios.
Sei: esta é uma tirada que já estamos
ficando carecas de tanto ouvir. Minhas considerações podem também parecer
óbvias, mas como as pessoas hoje se assemelham a burros conduzidos por
cabrestos, elas nem sempre são percebidas.
E tudo tem a ver com
essa estreiteza de visão. Estando num campo de futebol, por exemplo, sua visão
do jogo irá depender da posição em que estiver. Evidente que, se a posição for
boa, sua visibilidade será melhor.
De forma semelhante, diante da vida e
dos acontecimentos, nossas chances de entendimento serão melhoradas se
soubermos nos posicionar de maneira correta diante dos fatos.
É isto que me falta no momento, é
isto que também falta às pessoas, em geral. Não estamos sabendo nos situar
diante dos acontecimentos. Nossa visão se tornou estreita, como se fôssemos
burros puxando carroças!
Estamos todos assim, como burros de
carga, mal enxergando um palmo à frente do nariz, mas cobertos de arrogância,
como se fôssemos donos da verdade.
Sinto que ela, a Verdade, se
fragmentou em muitos pedaços. Quem está com um pedaço, pensa que está com a
Verdade inteira, ou então acredita que aquela parte lhe dá o direito de
criticar todos os que ficaram com partes diferentes.
As pessoas hoje se parecem com os
moradores cegos de uma aldeia, colocados frente a um elefante. Quando foram
solicitados para descrever o animal, o que havia tocado a orelha do elefante
disse:
-
É uma coisa grande, rugosa, larga e grossa como um tapete felpudo!
Já aquele que apalpara a tromba
falou:
-
Eu conheço a realidade dos fatos, trata-se de um tubo reto e oco, horrível e
destruidor!
Um outro, que tocara as patas do
animal, declarou:
-
É algo poderoso e firme como uma pilastra!
E, assim, cada um foi dizendo uma
coisa diferente, sem que pudessem chegar a um acordo.
É isto que está acontecendo agora no
país, com as pessoas só enxergando partes da Verdade, mas achando que estão com
toda a Verdade. Pior: por lhes faltar a
visão crítica, acabam aceitando e repassando um tanto de mentiras.
O Natal se aproxima, trazendo uma
mensagem de esperança, independente de nossa coloração religiosa. Minha
esperança é a de que eu venha a aprender essa lição de saber olhar para as
coisas, deixar de lado essa ideia de que a verdade não passa de meu interesse.
Existe uma verdade além do que penso ou do que acho.
Como bem diz uma passagem bíblica: “-
Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará”. É isso: só a Verdade pode me
ajudar a ser um sujeito livre; a mentira me torna um ser medíocre, menor,
incompleto.
Não precisamos temer a Verdade. Que
seja, a Verdade – não o temer, aquela luz a nos guiar na construção de um país
de Justiça e de Paz para todos.
Etelvaldo Vieira de Melo
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