SINGELO PEDIDO NATALINO

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U
m ex-amigo não se cansava de dizer (e eu não me canso de repetir): por trás de toda ação há uma oculta razão.
Estou (“é eu” – o Rivaldo) chegando à terceira e decisiva postagem, de uma série de três, sobre as comemorações de fim de ano. Nesta, quero revelar a oculta razão que me levou a encarar tal empreitada: fazer um pedido.
Calma, não precisa sair correndo feito cachorro vira-lata, em plena praia de Copacabana na noite de Réveillon, com medo de que possa sobrar pra você!
Na verdade, são três os pedidos. Entretanto, aceito a ideia de que constituam uma lista tríplice; se for atendido em um deles, vou me dar por “sastifeito”. Satisfeito vou ficar se Papai Noel me presentear com todos eles.
O primeiro pedido tem a ver com a Grande Imprensa (você sabe: esse grupo que controla a mídia no país). Sei que ela sabe de tudo que anda acontecendo; sei que ela fala o que lhe é conveniente falar e se cala, quando seu interesse e o interesse do grupo que representa podem ser contrariados. Meu pedido, meu desejo, é que essa Grande Imprensa seja uma das primeiras, senão a primeira, a firmar compromisso com aquela Verdade, que não me cansei de falar nas postagens anteriores. Pode ser? Podemos contar com a Senhora na construção de um país justo, onde, nós e nossos filhos, poderemos viver em paz e harmonia? Sem tanta violência, sem tanta corrupção, safadeza, mentira e hipocrisia? Sei que é difícil defender essa ideia de uma sociedade mais justa, sem tanta desigualdade. Mas pense um pouco: não é mil vezes melhor que o maior número de pessoas esteja contente e feliz? Não estaremos, com isso, também diminuindo a violência, a criminalidade, os conflitos?
Segundo pedido: tem a ver com aquela Operação chamada de Lava Jato. Como não faço parte da elite intelectual, aquela capaz de entender e de traduzir tudo que acontece no país, fazendo minhas conjecturas, sinto-me no direito de crer ser verdade o que penso, mesmo que venha a ser uma grande besteira. Deste modo, chego a pensar que a Lava Jato: ou foi inventada para acabar com os PonTos sujos e seu entorno, ou a máquina de lavagem estragou logo de cara e só aponta numa direção, ou o jato d’água não tem pressão suficiente para lavar outras sujeiras. De qualquer modo, mesmo sob o risco de estar projetando uma visão míope, meu pedido é para que essa Lava Jato lave direito. Se existe uma coisa que me deixa injuriado é ver injustiça. Tenho comigo o seguinte princípio: - Tem que dar no Chico? Dá, sem dó ou piedade, dá mesmo. Agora, se tem que dar no Francisco também, não pode ficar sem dar. Tem que dar, sem dó ou piedade, igual faz com o Chico. Este é um ditado popular, maneira simples de descrever uma ação justa. Se der no Chico e não der no Francisco, está errado; se não for dar no Chico com medo de ter que dar no Francisco, está errado também.
O terceiro e último pedido é endereçado à classe política. Não vou incomodar o pessoal lá de Brasília que, coitado, trabalhou tanto nos últimos dias, votando e aprovando uma tal de PEC 55, aquela que vai condenar os pobres a uma vida mais miserável pelos próximos 20 anos, segundo palavras de um relator da ONU. Meu pedido vai para um personagem e precisa ser historiado:
Se não fosse pelo descrédito completo para com o sistema político, que é uma porcaria; se não fosse pelo crédito para com as palavras bíblicas de que não se coloca remendo novo em tecido velho; se não fosse pela conjunção desses dois antecedentes, eu até olharia com bons olhos para a candidatura de um fulano à prefeitura de minha cidade, só pela promessa de que seríamos bem tratados pelos funcionários públicos. Estas foram as suas palavras:
            - Podem ficar tranquilos. Quando forem a uma repartição, ou a um posto de saúde, ou a uma escola, tenham certeza de que serão bem tratados. Os funcionários estarão felizes, porque serão bem remunerados. E quem está feliz trata os outros bem.
Eu não votei neste fulano e nem em outro sicrano (e nem no beltrano), mas este acabou ganhando a eleição, talvez porque os eleitores se sentissem assim como eu, desprotegidos e carentes.
Se formos dar crédito às suas promessas, a perspectiva é que teremos um futuro bem razoável. Como acredito na força do ditado que diz: Se as palavras comovem, os exemplos arrastam, o bom exemplo dos funcionários da prefeitura irá se espalhar pela cidade toda. Expressões como “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” passarão a ser frequente no vocabulário das pessoas. “Muito obrigado” será outra usual, ao ponto de causar ciumeiras na turma da Seicho-No-Ie.
Bom demais, não é mesmo? Minha cidade, que já tem um belo horizonte (mas que, de repente, ficou poluída, suja e malcuidada) vai se tornar também a cidade do sorriso e da alegria. Meu terceiro é último pedido é para que esse político cumpra sua promessa de campanha.
Como dá para perceber, imbuído do espírito natalino, estou oferecendo a esses três mentores da mutreta (veja bem que não estou empregando a palavra “golpe”) aplicada no país a chance de se redimirem de seu lamentável erro (como já disse, meu “achismo” não tem nada de científico, que é um atributo da elite intelectual).
Para completar o espetáculo circense, ficou faltando aquela parcela rancorosa da população, que se sentia incomodada, vendo os mais pobres “fungando em seu cangote”. Como foi tão somente usada como massa de manobra, fica suspensa deste singelo pedido natalino.
PS: Fiz todo o possível para produzir um texto leve e bem-humorado, como é de meu feitio. Também procurei falar sério, como também é de meu feitio. Dizem que o Brasil é o país da piada pronta. Pode até ser. Meu receio é que, enquanto rimos de tristeza e fazemos piadas tristes com tanta desgraça (falta de graça), outros é que estejam rindo de verdade, enquanto esfregam as mãos de contentamento.

Etelvaldo Vieira de Melo

1 comentários:

Unknown disse...

Prezado 'Eltelvaldo': as livrarias não falem, ficam encantadas.

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