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Se eu pudesse absorver as razões e
intenções de tudo que existe, teria uma percepção bem aguçada da vida e estaria
no patamar dos chamados eruditos. No entanto, estaria sendo um sábio,
entendendo como sábio aquele que sabe tirar proveito da vida?
Acredito que não. Veja você: o mundo
natural, o das ciências e das relações humanas todos eles apresentam milhares,
milhões de propósitos, de sentidos a serem desvendados. O erudito é capaz de
dissertar sobre muitos, mas o sábio, quando solicitado a emitir sua opinião,
pouco terá a dizer.
Vivemos num mundo onde
frequentemente somos cobrados. A toda hora, querem saber nosso posicionamento
sobre questões de política, de religião, de tecnologia e de tantas coisas mais.
Se eu quiser ter opinião a respeito de tudo, a minha ideia será pequena e
fragmentada. Em resumo, como estou correndo atrás de tudo, acabo não sabendo de
nada.
Sábio não é bem aquele que nada
sabe, sabendo disso. Sábio é aquele que enxerga a vida sob determinada
perspectiva, não em busca de um conhecimento especializado, mas de um saber que
seja sabor, que dá prazer, alegria, encantamento.
Existem diferentes formas de
sabedoria. Existe sábio que se encanta com a simplicidade, com as coisas
simples, com as manifestações simples. Existe sábio que cuida da beleza; a
beleza de uma paisagem, do sorriso de uma criança, de um olhar, de uma flor, do
som de uma música ou de uma palavra, a beleza de um silêncio, de um pôr do sol.
Cada sábio, à sua maneira, procurar
pelo saber/sabor da vida. Como sábio, não é uma pessoa egoísta, está
disponível, embora nem sempre seja possível compartilhar suas descobertas.
A poesia é uma das formas de
saber/sabor que permite certo compartilhamento. Aliás, a angústia do poeta é
justamente essa busca do compartilhar, muitas vezes sem respostas. Além das
limitações linguísticas, ele encontra falta de compreensão e de sensibilidade.
Um exemplo dessa sabedoria do poeta
pode ser encontrado na imagem de uma semente que brota e se transforma em flor.
Ela está numa calçada, junto ao asfalto; fica ali se oferecendo para as pessoas
que passam, quase todas apressadas e desatentas. Até o dia ou momento em que é
percebida pelos olhos de um poeta. Do encontro, brotam estas palavras:
Uma flor se abriu:
Vida rasga a crescer do
nada.
Vida sob pedra,
por um quinhão de eternidade.
Outro poeta, ao ler tal
encantamento, acrescenta:
No concreto a vida não se
finda...
procura luz onde a sombra
imperava.
Explode sol onde a semente
ingênua se infiltrara.
Finalmente, um terceiro, movido mais
pela sensibilidade do que pela arte poética, chega a dizer:
A semente que se abre em
flor
procura os olhos do poeta
para contar-lhe a beleza.
E o sol explode em alegria
na celebração da vida.
Etelvaldo Vieira de
Melo
3 comentários:
Adorei sua crônica. Uma beleza !
Em nome de todos ops fãs
Etelvaldo, você como sempre nos presenteando com seus belos textos.
reflexão e saber... belo!
Excelente, e a beleza se expressa através do olhar de um sábio...
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