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Já o disse minha parceira de blog: a
função do cronista é olhar e descrever o que está ao seu redor. E tudo bem se o
objeto olhado for interessante e a descrição convincente.
Para
atender a tal preceito, o bairro onde moro, Barmeiras
– em Belozonte, já está ficando mais
repetitivo que o seriado Chaves, do SBT. E não adianta eu falar que foi “sem
querer, querendo”, já que meus leitores são aborrecidos e impacientes.
Conclusão: a audiência do blog anda mais em baixa do que prestígio de político.
Eu
poderia usar da psicologia, falar do que observo na pista de caminhada que
frequento uma vez ou outra. Para os leitores masculinos não adeptos do MBL,
poderia descrever as bundas femininas que abundam na minha frente durante as
caminhadas, algumas desprezíveis e outras abundantes. Para as mulheres, poderia
falar sobre os looks com que desfilam, dos lançamentos em blusas, calças de
moletom e tênis. Mas tenho dúvida se vai adiantar alguma coisa falar dessas
coisas.
Estando
na iminência de não ter o que dizer esta semana, fui salvo na última volta do
ponteiro: fazendo compras num supermercado após a caminhada, ouvi um cliente
comentar:
-
Você viu o que aconteceu em Santa Catarina?
-
Não, não estou sabendo de nada.
-
O mar invadiu o continente em cerca de 500 metros; no Uruguai, a invasão foi de
um quilômetro. O pastor da minha igreja falou que neste final de semana, dia
16, vai acontecer uma tragédia no Brasil.
-
Ora – falei com ironia; - em Brasília, acontecem tragédias todos os dias.
Estava
me referindo ao caos político e de corrupção em que o país vive mergulhado. O
evangélico parece não ter gostado de minha intervenção: olhou para mim com cara
de poucos amigos.
“Também
pudera” – pensei. – “Não é a bancada evangélica um dos pilares do congresso
corrupto?”
Aí
está, eu me indispondo com mais gente. Mas não posso deixar passar a
oportunidade de alfinetar aquilo que me incomoda; no caso, pessoas sem
escrúpulos que usam a religião para obterem cargos políticos. A carapuça vai
servir naquelas que agem assim.
Estou
fechando este texto às vésperas do dia 16, o dia do Armagedão? Se a tragédia
acontecer, estarei transcrevendo uma premonição; caso contrário, será um blefe,
e deixo por conta dos pastores as desculpas e justificativas.
Anos
atrás, nos tempos doloridos da ditadura, quando a grande imprensa queria abafar
algo perigoso, inventava reportagens sobre OVNIs e ETs. Noan Chomsky, em Mídia
– Propaganda Política e Manipulação, mostra qual o cuidado que o povo, chamado
de rebanho desorientado, necessita.
Diz ele: “O rebanho desorientado sempre representa um problema. Temos que
impedir que saia por aí urrando e pisoteando tudo. Temos de distraí-lo. Ele
deve assistir aos jogos de futebol, às séries cômicas ou aos filmes violentos.
Você tem que mantê-lo bem assustado, porque, se não estiver bem assustado, ele
pode começar a pensar, o que é muito perigoso, porque ele não é preparado para
pensar. Portanto, é importante distraí-lo e marginalizá-lo”.
Esta
citação do Chomsky é um brinde para os pacientes leitores, com o pedido de
desculpas pela brincadeira com que iniciei o texto. Falando seriamente, espero
que esse anúncio de tragédia que pode desabar sobre o país agora, neste sábado
16, não seja mais um artifício para anestesiar a população, esse rebanho
desorientado, diante de graves denúncias que envolvem as “otoridades”,
notadamente a “quadrilha mais perigosa do país”. Aquelas malas com mais de R$50
milhões, por exemplo, estão atravessadas na minha garganta, são mais uma
bofetada na cara das pessoas honestas desse Brasil.
Etelvaldo Vieira de Melo
1 comentários:
Apareci com o Chomsky na sua crônica. Parabéns! Pena que estamos em baixa.
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