A GENTE SÓ ENXERGA O QUE NOS INTERESSA

Resultado de imagem para imagens de casas simples
Imagem: pt.pntree.com

Como professor, entre minhas máximas preferidas está aquela que diz: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. É por acreditar nisso que a gente passa anos e anos “dando murro em ponta de faca”, tentando ‘consertar’ um aluno.
Falando nessa filosofia de água mole em pedra dura, todo ano, no período de pagamento de IPTU, sinto necessidade de ‘desopilar o fígado’, falando umas poucas e boas sobre e para a prefeitura local.
Já disse que, caso haja reencarnação, na outra vida quero continuar na condição de homem. Construindo minha casa, ela terá a aparência de um ‘barracão de zinco sem telhado’; na sua parte subterrânea, terá todo espaço e conforto. Assim, o IPTU será menos dolorido e menos injusto.
Resultado de imagem para imagens de drones
Imagem: techtudo.com.br
Este ano, recebi uma carta da prefeitura dizendo que minha casa foi vítima de uma ‘aerofotografia de alta resolução’, sendo que as medidas verificadas não conferiam com aquela cadastrada (eu sabia que esse tal de drone ainda ia aprontar pra cima de mim!). Conclusão: deveria atualizar o cadastro, sob pena de sofrer pesadas multas.
Ora, ora – pensei com meus botões. A gana de arrecadação dos poderes municipal, estadual e federal é algo assustador. Fazendo as contas na ponta do lápis (pode usar também uma calculadora, pra quem desaprendeu adicionar 2 + 2 de cabeça), mais da metade do que ganhamos acaba sendo revertido em impostos. Isso seria até justificável, se houvesse uma contrapartida de serviços. Mas eu pergunto: os governos fazem isso? Temos escolas públicas de boa qualidade? E como fica a saúde? Não precisamos recorrer aos planos privados? O dinheiro arrecadado com o IPVA é revertido na manutenção das vias, ou elas ficam nas mãos de empresas particulares e seus pedágios?
A gente só enxerga o que é de nosso interesse. Ingênuo, achava que a única exceção ficava por conta da Justiça, que cuidava de enxergar a Verdade, mas, no Brasil, também ela ficou por conta da regra, só enxergando o que é de interesse de alguns. A prefeitura de minha cidade também só está vendo o que lhe interessa: os metros quadrados de telhados. O que está debaixo deles ‘são outros quinhentos’. No meu caso particular, ela não vê o sacrifício feito para que a casa tivesse uma aparência decente, como muro e passeio bem cuidados. Não percebe o detalhe de três árvores floridas no passeio, ali plantadas para alegrar a rua.
No bairro onde moro, por falta de condição e mais por desmazelo, muitas casas ficam no reboco, são feias e descuidadas; os muros são lastimáveis, com os passeios sendo verdadeiras ciladas para os passantes. No entanto, a prefeitura não penaliza tais moradores. Pelo contrário, são isentos ou pagam impostos reduzidos. Em resumo: parece que a prefeitura é parceira do desmazelo, quer ver a cidade cada vez mais feia.
No sul do Brasil, os moradores recebem incentivos fiscais para manter suas casas e jardins bem cuidados. Tal não acontece aqui. E não adianta ficar falando, porque ‘é chover no molhado’. Para a prefeitura, aquele ditado da água e da pedra já não vale na sua primeira versão, mas nesta: “Água mole em pedra dura tanto bate até que a água acaba”. A minha acabou.
PS: Estou preocupado com a casa do Thor, o cãozinho aqui de casa. Senhor prefeito: também ela deve ser incluída na metragem, para efeito de imposto?

Etelvaldo Vieira de Melo




0 comentários:

Postar um comentário