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Como professor, entre minhas máximas preferidas está aquela que diz: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. É por acreditar nisso que a gente passa anos e anos “dando murro em ponta de faca”, tentando ‘consertar’ um aluno.
Falando nessa filosofia
de água mole em pedra dura, todo ano, no período de pagamento de IPTU, sinto
necessidade de ‘desopilar o fígado’, falando umas poucas e boas sobre e para a
prefeitura local.
Já disse que, caso haja
reencarnação, na outra vida quero continuar na condição de homem. Construindo
minha casa, ela terá a aparência de um ‘barracão de zinco sem telhado’; na sua
parte subterrânea, terá todo espaço e conforto. Assim, o IPTU será menos
dolorido e menos injusto.
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Este ano, recebi uma
carta da prefeitura dizendo que minha casa foi vítima de uma ‘aerofotografia de
alta resolução’, sendo que as medidas verificadas não conferiam com aquela
cadastrada (eu sabia que esse tal de drone ainda ia aprontar pra cima de mim!).
Conclusão: deveria atualizar o cadastro,
sob pena de sofrer pesadas multas.
Ora, ora – pensei com
meus botões. A gana de arrecadação dos poderes municipal, estadual e federal é
algo assustador. Fazendo as contas na ponta do lápis (pode usar também uma
calculadora, pra quem desaprendeu adicionar 2 + 2 de cabeça), mais da metade do
que ganhamos acaba sendo revertido em impostos. Isso seria até justificável, se
houvesse uma contrapartida de serviços.
Mas eu pergunto: os governos fazem isso? Temos escolas públicas de boa qualidade?
E como fica a saúde? Não precisamos recorrer aos planos privados? O dinheiro
arrecadado com o IPVA é revertido na manutenção das vias, ou elas ficam nas
mãos de empresas particulares e seus pedágios?
A gente só enxerga o que
é de nosso interesse. Ingênuo, achava que a única exceção ficava por conta da
Justiça, que cuidava de enxergar a Verdade, mas, no Brasil, também ela ficou
por conta da regra, só enxergando o que é de interesse de alguns. A prefeitura
de minha cidade também só está vendo o que lhe interessa: os metros quadrados
de telhados. O que está debaixo deles ‘são outros quinhentos’. No meu caso
particular, ela não vê o sacrifício feito para que a casa tivesse uma aparência
decente, como muro e passeio bem cuidados. Não percebe o detalhe de três árvores
floridas no passeio, ali plantadas para alegrar a rua.
No bairro onde moro, por
falta de condição e mais por desmazelo, muitas casas ficam no reboco, são feias
e descuidadas; os muros são lastimáveis, com os passeios sendo verdadeiras
ciladas para os passantes. No entanto, a prefeitura não penaliza tais
moradores. Pelo contrário, são isentos ou pagam impostos reduzidos. Em resumo:
parece que a prefeitura é parceira do desmazelo, quer ver a cidade cada vez
mais feia.
No sul do Brasil, os
moradores recebem incentivos fiscais para manter suas casas e jardins bem
cuidados. Tal não acontece aqui. E não adianta ficar falando, porque ‘é chover
no molhado’. Para a prefeitura, aquele ditado da água e da pedra já não vale na
sua primeira versão, mas nesta: “Água mole em pedra dura tanto bate até que a
água acaba”. A minha acabou.
PS: Estou preocupado com
a casa do Thor, o cãozinho aqui de casa. Senhor prefeito: também ela deve ser
incluída na metragem, para efeito de imposto?
Etelvaldo Vieira
de Melo
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