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Ando meio injuriado com
as coisas que acontecem ao meu redor. Não, não estou me referindo a política,
que isso já se tornou doença crônica. O que me incomoda tem a ver com aquilo
que, até bem pouco, era minha alegria e distração nos momentos de ociosidade:
assistir a filmes pela TV e jogar videogame.
Tenho sérias
desconfianças de que a vida das pessoas esteja sendo monitorada por entidades
secretas para fins que ainda não atinei. Esse monitoramento se dá de maneira
ostensiva, como é o caso das redes sociais – onde ninguém tem pudor em revelar
suas particularidades -, ou de maneira camuflada, como é o caso dos jogos de
videogame.
Minha plataforma de
videogame vive pedindo para que eu lhe acene e me identifique; só fica
satisfeita quando coloco um boné, maneira com que me apresentei pela primeira
vez. Isso me enche o saco – ter que ficar acenando e ter que usar boné (embora
estar usando boné me torne um pessoa mais agradável e simpática). O problema
maior é que não estou achando nenhum atrativo nos jogos.
Aqueles que são
oferecidos através do plano de fidelidade (veja que estou fazendo de tudo para
“não dar nomes aos bois”) são aborrecidos ou extremamente violentos.
Os jogos violentos, de
tiro, sopapos, guerra, parecem ser produzidos para os consumidores americanos
que, parece, têm uma cultura que cultua a violência. Enquanto aderia a esse
tipo de jogo, acabei adquirindo uma lesão por esforço repetitivo (LER), um
baita calo na palma de minha mão direita.
Quanto aos filmes, existe
outro porém: a computação gráfica está matando a graça dos filmes de ação. Eles
ficaram tão exagerados que, nem na fantasia, conseguem ser tragáveis.
Outra coisa que desabona
os filmes e os jogos é a apresentação que fazem de seus heróis. Numa guerra
moderna, seria herói quem se recusasse a entrar nela. Quando vejo o mocinho
matando um tanto de gente, penso com meus botões: esse cara é desequilibrado,
tinha que ser internado numa clínica psiquiátrica. Nos filmes de espionagem, definitivamente
não dá pra ficar torcendo para um agente da CIA (como no tempo da Guerra Fria),
como se ele fosse um mocinho.
Deu para perceber como
estou me tornando um sujeito chato? Eu me pergunto: esse culto da violência
serve pra quê? Se servisse como catarse, meio do adolescente, do jovem e do
velho descarregarem a agressividade, tudo bem. Mas será que é isso mesmo que
acontece? Não estarão os filmes e jogos de videogame banalizando a violência,
fazendo com ela seja considerada normal? Ao fim, acabo achando que tudo está a serviço
daquelas entidades secretas, de quem falei no início, para que as pessoas
pensem que tem de ser assim mesmo, esse mundo de desigualdade, de exploração,
de violência, dominação e injustiça.
Um último reparo. Outro
dia, estava assistindo a um filme (“Missing”, de Costa-Gavras, de 1982), este,
sim, muito bom. No finalzinho, o personagem interpretado por Jack Lemmon, diz
para o cônsul americano em Santiago do Chile:
- Dou graças a Deus por
viver num país onde podemos colocar gente como vocês na cadeia.
Ver aquilo me deu uma inveja danada, especialmente porque aqui no
Brasil nem uma mala abarrotada de dinheiro roubado é suficiente para colocar
determinado tipo de pessoa atrás das grades.
Nota: Para aqueles que, inadvertidamente, sonham com um novo regime militar para
o Brasil: leiam “O Ato e o Fato”, de Carlos Heitor Cony (ele que acaba de nos
deixar – 08/01/2018) e assistam ao filme “Missing” (Desaparecido), de Costa
Gavras.
Etelvaldo
Vieira de Melo
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