Imagem: exame.abril.com.br |
No
prefácio da peça “Os Pais Abstratos”, de 1966, Pedro Bloch já dizia, mais ou
menos, o seguinte: “vai chegar o momento
em que o ser humano, profundo conhecedor de máquinas, só terá linguagem... para
as máquinas”.
Passados
mais de cinquenta anos, estamos vivenciando hoje essa triste e assustadora realidade.
O texto de Denys Pereira, a seguir, mais do que desabafo, é um apelo para que
cada um reflita sobre o que é óbvio, mas que ninguém parece enxergar: como as
relações com as máquinas estão roubando, matando as relações humanas. Para quem
pensa que não é bem assim, uma simples pergunta: quanto tempo você dedicou
ontem ao seu smartphone e quanto tempo dedicou a conversar com outras pessoas?
A cena que presenciei
hoje dentro de um ônibus, ao voltar para casa, e que atualmente já faz parte do
nosso cotidiano, me fez lembrar das palavras recentes de Stephen Hawking.
Grande físico, vencedor de vários prêmios, inclusive o Nobel de Física, criador
da "teoria do tudo". Famoso por apresentar de forma fácil informações
extremamente complexas do universo e que faleceu dia 14/3/18, aos 76 anos.
Em uma entrevista, ao
ser questionado sobre a inteligência artificial, dizia Stephen que a tecnologia
empregada nas máquinas chegaria a tal ponto que o ser humano seria dominado
pelas próprias criações.
Refletindo sobre essas
palavras, e diante da cena que vi, o futuro será apenas o ápice dessa dominação
que já se faz presente entre nós.
Vamos à cena:
Estava eu dentro do
ônibus e, em uma parada no sinal, me deparo com um silêncio inusitado a chamar
minha atenção. Procurei entender o motivo de tanto silêncio. Percebi, então,
que não havia sequer uma pessoa no ônibus que estivesse sem a sua máquina nas
mãos, o venerado smartphone.
Nem precisei gastar
fosfato para descobrir o causador de tanto silêncio.
Estamos ou não já dominados
pelas máquinas? E esse é o tipo de dominação que a pessoa não percebe e se
julga dominante e não a dominada.
Tenho apenas 40 anos e
sou do tempo em que não existia essa maquininha. Quando pegávamos ônibus para
trabalhar, o que realmente não havia no interior do veículo era silêncio.
Construíamos amizades,
conhecíamos novas pessoas. A comunicação fluía. Paquerávamos e, quando faltava
alguém, percebíamos.
Tinha a turma do
"fundão", onde conversávamos sobre tudo. E era a maior zoeira.
Futebol era o melhor assunto, e, quando meu time perdia, a zoeira era fatal;
quando ganhava, era o melhor momento do dia.
Bons tempos aqueles.
Será que percebi tudo
isso apenas porque meu celular estava sem bateria?
Denys F
Gomes Pereira
1 comentários:
Vivenciar bons momentos, compartilhar alegrias e tantas outras emoções com pessoas, se tornam tesouros valiosos no decorrer da vida. Algo que máquinas não podem substituir...Pena que os smarts estão apagando este aprendizado...
Há um tempo atrás perguntei ao meu filho, porque ele não ia a casa dos amigos ou vice versa. A resposta:
_Pra que ir na casa de alguém, se eu posso conversar pelo watsap.
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