Imagem: pedrodaveiga.blogspot.com |
Os corruptos são encontrados em várias partes do mundo,
quase todas no Brasil – Millôr Fernandes.
Ao contrário de seu
parente Rivaldo – que já chegou a um ponto da vida em que ri de tudo,
principalmente de si mesmo -, Ingenaldo é de levar as coisas a sério, ele que
mal saiu de uma atribulada adolescência. Em sua testa, logo acima dos óculos de
armação azul, é destaque uma incipiente ruga. Ela, a ruga, parece que se
acentuou nos últimos tempos por causa, creio eu, dos momentos conturbados
vividos pelo país.
Agora mesmo, está
preocupado nosso amigo em ajudar um tal juiz e sua turma de procuradores na
árdua mas profícua missão de exterminar corruptos. (Nota do redator deste
texto: para acabar com a corrupção, você cria leis e as faz cumprir; para
tentar acabar com os corruptos, você cria prisões e institui a delação
premiada, ou alcaguetagem.)
Ingenaldo já tem como
certos dois pontos sobre corrupção:
1º) a maioria
absoluta da população está sujeita a ela (98% das pessoas possuem um senso de
honestidade que varia de acordo com as circunstâncias – segundo estudo
científico);
2º) onde se pratica
justiça social, as pessoas não veem motivos para ser desonestas.
Perguntei ao
Ingenaldo como vai seu estudo sobre corrupção no meio político. Ele disse que
ainda não chegou a uma conclusão definitiva. O que consegue fazer é adiantar
algumas considerações provisórias. Ei-las:
J Estudo psicológico revela que o político tradicional
apresenta um perfil extremamente volúvel, qual folha de bananeira: vira pra
onde o vento sopra. Alguns pulam de um partido para outro como se fossem milho
em frigideira quente. Como são muitos a dançar conforme a dança, houveram por
bem fazer as mudanças em massa; agora, são os partidos que dançam conforme a
música: uma hora é situação, outra é oposição.
J Além de volúveis, os políticos são também muito
influenciáveis. Qualquer coisa que entra na moda, eles vão atrás. Pode ser até
uma coisa boba que passa na televisão. Eu mesmo sou testemunha disso. Estive
assistindo a uma série chamada “Outlander”. Nunca cena, o mocinho comenta com
um bandido:
- Roubar não é uma
profissão totalmente honrada.
Ao que respondeu o
bandido:
- Dinheiro roubado é
duas vezes melhor do que dinheiro conquistado.
Pra quê! Logo depois
que esta cena foi ao ar, o índice de corrupção no Congresso aumentou
assustadoramente.
J Carência afetiva. Foi o que me disse um amigo
jornalista, descrevendo o perfil psicológico dos políticos:
- Eles são muito
carentes, necessitam demais de afagos.
Talvez seja por isso mesmo
que os atuais parlamentares estejam aprontando os maiores desatinos: como estão
sendo execrados pela população, votam e aprovam leis absurdas contra os
trabalhadores, entregam a preço de banana (caturra) nossos recursos naturais
para a sanha predatória de empresas estrangeiras. Se estivessem se sentindo
amados, não fariam essas loucuras.
J Por estes e por outros motivos, estou pensando em
sugerir uma reforma do sistema político, instituindo aulas de Moral e de
Civismo para os parlamentares. Paulo Maluf já disse que ser político é fácil:
basta fingir que trabalha. Com as aulas, o tempo será melhor aproveitado. A
princípio, pensei que os professores poderiam ser um juiz do Supremo Tribunal,
cuidando da Moral (sua aula inaugural: “Como tornar moral a ação ilegal do
auxílio-moradia para magistrados”, proferida por sua excelência ministro Luiz
Fux); um militar de alta patente cuidaria das aulas de Civismo (tema de
palestra: “Como preservar o patriotismo lambendo as botas dos Estados Unidos”).
Você acha que estou deixando em boas mãos essa tarefa: Moral para juiz e
Civismo para militar?
Colocando um desfecho
nestas considerações, lembro a figura de FHC, que é tido como exemplo de
político (para uma parcela da população). Comentando sobre seus colegas de
partido, o PSDB, Eduardo Azeredo e Geraldo Alckmin, disse:
- Eduardo é ingênuo e
Alckmin é muito certinho.
Confesso que fiquei
abismado por ninguém ter dado uma resposta à altura para tal disparate. Quer
dizer, então, que o político não pode agir com boa fé, que precisa ser esperto,
de muita artimanha; pior: é preciso também que não tenha escrúpulos para fazer
coisas erradas, não pode ser correto, “santo” (por coincidência, o apelido de
Alckmin nas planilhas de propina da Odebrecht).
Depois que li isto,
ficou comigo o receio de que a política entre nós não tem jeito: ela só vai ser
ocupada por pessoas que, no estudo científico, estão no percentual dos 1%
daqueles desonestos por natureza.
Etelvaldo Vieira de Melo
0 comentários:
Postar um comentário