VERSO E REVERSO


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Imagem: tvmundomaior.com.br
PARTE 1: O VERSO
    Eu acho que existe uma música que aconselha a gente a desconfiar de quem tem mais de trinta anos, de mulher com mais de trinta vestidos, de pessoa com mais de trinta dinheiros.
    Não é bem assim? Que fique sendo. E tem mais: é bom desconfiar de quem fica dizendo Deus pra cá e Deus pra lá.
    Ontem mesmo, passando à tardezinha pela avenida principal do bairro, e estando transportando uma sacola abarrotada de produtos de mercearia, de repente me vi cercado em um corredor polonês. Eram jovens ostentando camisetas com motivos religiosos. Um deles se dirigiu a mim:
    - Meu senhor, tem um minutinho para Jesus Cristo?
    Fiz um gesto com a mão esquerda, dando a entender que, naquele momento e naquela circunstância, não dava. E pensei comigo: “Jesus há de entender”.
    Muitas coisas andam erradas no país. Uma delas tem a ver com a religião e a maneira como ela aparece na vida das pessoas.
    Um exemplo: pessoas que usam a religião para conseguir cargos políticos. Até que ponto é possível misturar política com religião? Na Câmara Federal em 2016, dos 513 deputados, 90 integravam a chamada Bancada Evangélica, ou da Bíblia. Esses quase 20% poderiam arejar um pouco o ambiente daquela casa com moralidade e decência, mas não é isso que observamos, a começar pelo afastado presidente, que se confessava evangélico, mas vivia atolado em denúncias de corrupção. Está lembrado de suas palavras na votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff? Ele disse: “- Que Deus tenha misericórdia desta Nação!”. Só podia estar blasfemando, pecando contra o 2º mandamento, ele que é tido como um dos maiores corruptos da história recente do país.
    Um colega diz ser um absurdo Deus ser usado para fins comerciais. Ele foge de lojas e de produtos que ostentam os dizeres: “Deus É Fiel”, “Até Aqui Tem Me Ajudado O Senhor”. Considera também uma ofensa notas de dinheiro com a frase: “Deus Seja Louvado”.
    Esta mistura de alhos com bugalhos, de religião e comércio, de religião e política, faz com que as relações entre as pessoas não sejam em clima saudável.
    Já foi o tempo em que eu mesmo dei crédito para gente que anda com a Bíblia debaixo do braço. Pensava: quem anda com esse livro só pode ser alguém íntegro; se for alguém ruim, vai queimar as mãos! Já foi o tempo, pois, hoje, até mesmo essa gente me causa desconfiança.
    Diz o colega em sua fala: - Gente ruim não é tanto quem é tido como tal, mas aqueles que se passam por “bonzinhos”, lobos que se vestem de cordeiros.
    Acabo dando razão para ele. Digo mais: no Brasil, porque não damos “nomes aos bois”, isto é, “nomes aos lobos”, tem vovozinha sendo comida todo dia.
Etelvaldo Vieira de Melo

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