Imagem: Dario Cartillejos in arquer.com.br |
“Não podemos mais tolerar a
esculhambação que é a Política do nosso país” – Marcelo Calero, ex-ministro
da Cultura, em fins de 2016.
Eis que chegamos ao
final dos preparativos para as eleições majoritárias no país. O Superior
Tribunal Eleitoral não mediu esforços e trabalhou arduamente para que tudo
corresse na normalidade, na legalidade e na desopacidade (que quer dizer
transparência). Um seu presidente, do STE, chegou, vejam só, a abrir mão de
treinamentos de judô, tudo para que os requisitos de Ficha Limpa não ficassem
sujos, fossem rigorosamente observados, em especial para um pretenso candidato,
confinado em prisão lá pelas bandas de Curitiba.
Os órgãos de imprensa
também não mediram esforços para cumprir sua missão social de divulgar,
informar e orientar, cedendo seus espaços (mas não vendendo suas opiniões) para
que os rostos sorridentes e algumas mensagens dos candidatos chegassem aos
olhos e aos ouvidos dos estimados leitores, quero dizer, eleitores.
Somando-se a essa
plêiade de patriotas e suas patriotadas, tivemos também:
- Os donos de gráficas,
que produziram os tradicionais “santinhos” e que, como é de costume, foram
abarrotar as caixas dos correios das residências e as tampas das canaletas
pluviais;
- As agências de
publicidade, os institutos de pesquisa (foi entrevistado por um?), os
marqueteiros profissionais e os cabos eleitorais, todos empenhados em convencer
os desprevenidos eleitores a votarem em seus candidatos, chegando ao
despropósito de os convencer, se possível, a comer caco de vidro e arame
farpado (estou exagerando, mas o perigo é por aí mesmo);
- Os chamados “cientistas
políticos”, que tiraram suas “barrigas da miséria”, isto é, ganharam algum
trocado, quando requisitados para darem suas opiniões e pareceres em programas
de entrevistas;
- Os “robôs”,
empregados em redes sociais para ataques, defesas, ofensas, mentiras e mais
mentiras.
Como pode ser
observado, além de excelente negócio – tanto que esse ritual se repete a cada
dois anos – as eleições também são um sinal inequívoco de que o Brasil leva a
sério a democracia: o voto é obrigatório, quem deixa de votar está sujeito a
sofrer pesadas penalidades.
Não obstante essa
avalanche de agentes eleitorais, muitas pessoas passaram em “brancas nuvens” o
período que antecede ao pleito. Tal aconteceu com o amigo Eleutério. Não sendo
usuário nem de TV aberta, nem fechada, consumia ele a TV trancada, também
chamada de Streaming. Lá ele se esbaldava em seriados, cada qual mais viciante
que o outro. Quando se deu conta, a propaganda eleitoral tinha chegado ao fim,
e ele mal sabia quais eram os postulantes aos cargos eletivos.
Angustiado, veio bater
à minha porta, pedindo ajuda. De nossa conversa, destaco alguns pontos.
Quando soube que um dos
candidatos a governador do maior e mais desenvolvido Estado do país é o atual
perfeito de sua capital, perguntou:
- Mas ele não firmou
compromisso em documento que exerceria seu cargo até o fim do mandato? - E
acrescentou: - Isso é uma falta de respeito para com os eleitores que o
escolheram como prefeito! Ele está ridicularizando as pessoas, tratando-as como
se fossem palhaços!
- Falando em palhaço,
aquele que parece uma tiririca é candidato pela terceira vez, corre os risco de
ser o político mais votado.
- Mas ele não havia
desistido da política? – perguntou Eleutério, com os olhos arregalados.
- Desistiu, mas depois
desistiu de desistir. São suas palavras: “Quero dizer que vou desdizer o que eu
disse”. Sendo eleito, pode levar quatro companheiros de partido a se elegerem
com ele. Por causa de um tal “quociente eleitoral”, uma excrecência, uma
aberração: um candidato podendo ter até 1 (hum) voto e se eleger.
- E a Ficha Limpa? –
quis saber meu amigo. – Ela vale para todos os candidatos?
- Eu vejo candidato
dizendo que sua ficha é 100% limpa; daí podemos inferir que o percentual de
limpeza das fichas varia muito, pode chegar a 1%. Se a gente for levar em
consideração aqueles que respondem a processos, mas que estão amparados por um
tal de “foro privilegiado” (outra aberração para acobertar ladrões) podemos
dizer que essa eleição está mais suja do que o Vale do Rio Doce quando do
vazamento da barragem da Samarco.
- No seu ponto de
vista, como é que o eleitor pode contribuir para que a esculhambação falada no
início não seja ainda maior?
- A contribuição do
eleitor é muito restrita, pois esse sistema político que está aí é uma fábrica
de ladrões. No entanto, acho que podemos contribuir não votando naquelas
figurinhas carimbadas que, ao longo de seus mandatos, sempre votaram contra os
interesses da maioria da população. Depois, também não podemos votar em
candidatos de partidos que integram o chamado CENTRÃO. Eles são movidos por
interesses individuais, na base do toma-lá-dá-cá; eles votam em bloco e, quando
se unem ao MDB, tornam-se praticamente imbatíveis.
- Quais são esses
partidos? - quis saber Eleutério.
- Esses partidos são
fisiológicos, dançam conforme a música. Até pouco tempo atrás, o time era assim
formado: PRB (10) – PP (11) – PTB (14) – PSL (17) – PSC (20) – PR (22) – DEM
(25) – PTN (29) – PHS (31) – PEN (51) – PSD (55) – PT do B (70) – SD (77) –
PROS (90).
- Muito obrigado,
Rivaldo – disse Eleutério, enquanto apertava minha mão. – Noto na sua fala um
tom de desalento, de tristeza. Não dá pra ser otimista um pouco, rir, nem que
seja por último?
- Estou pensando feito
o João Antônio, no seu livro Dedo Duro:
“Quem deixa pra rir por último, não ri: derrama lágrima”.
Etelvaldo
Vieira de Melo
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