Prezado Leiturino:
Caso
se dê ao trabalho de me perguntar: - Qual o valor que você, Eleutério, mais
preza na vida? -, não terei dúvidas em responder: - A Liberdade! Para mim, a
Liberdade é o bem supremo, que subordina todos os demais, inclusive a Saúde.
Tomemos,
por exemplo, o Amor. Dizem que amar é dispor de si, se doar, se dar ao outro.
Ora, para que eu disponha de mim mesmo, é preciso que eu me possua, ou seja,
tenha Liberdade.
A
história do ser humano é a história de sua liberdade, de todo o seu processo de
libertação. E não é que tudo começou quando o homem decidiu contrariar a
vontade de Deus, comendo do “fruto proibido”, aquele que iria lhe dar ciência
do bem e do mal?
O
exercício da Liberdade é sempre algo perigoso, que assusta e provoca medo,
porque significa cortar as amarras que nos prendem e subordinam aos desejos e
às decisões dos outros. Nas relações sociais, muitas vezes consideramos ser
preferível um estado de bem comportado, levando uma vida domesticada de gado,
de gado marcado e feliz.
Mas nossa
vida não é para estar sempre subordinada a um “pai” (ou a uma “mãe”), que vai
decidir sempre por nós o que é certo, o que é errado, o que é permitido e o que
é proibido. Nascemos para a Liberdade. Essa é nossa vocação.
O que me
dá prazer é poder cuidar de mim mesmo, fazer minhas escolhas, tomar minhas
decisões. E não tenho medo de assumir as consequências do que faço, porque é a
Liberdade que me garante a responsabilidade de minhas atitudes.
Quando
alguém tolhe minha Liberdade, ele passa a decidir por mim, como que se torna
responsável por minhas atitudes. O que não deixa de ser uma ilusão, essa de
achar que o outro pode decidir pela minha vida.
Quando
começo a refletir sobre esse tema, também começo a ver como o ser humano, a
troco de uma segurança, psicológica ou moral, abre mão daquilo que é essencial
à verdadeira felicidade. As pessoas, hoje, são infelizes porque não dispõem de
si mesmas, não são livres.
Vivemos,
agora, um momento particularmente doloroso, com as pessoas abrindo mão de suas
liberdades em troca da pseudo segurança proporcionada por um “pai”, que se
propõe a fixar regras do que é permitido, do que é proibido, do que é legal, do
que é imoral, do que é certo, do que é falso e do que é verdadeiro; enfim,
estamos abrindo mão de nós mesmos, porque nos sentimos incompetentes em lidar
com a vida, incapazes de responder por nossos atitudes. Todo esse discurso de
mentiras que se propaga pelo país, no fundo, esconde uma grande verdade:
ESTAMOS RENEGANDO NOSSA CONDIÇÃO DE SERES LIVRES, QUEREMOS VIVER COMO ESCRAVOS.
É isso que o discurso da mentira prega: quanto mais mentimos, mais abrindo mão
da Liberdade estamos.
Chaplin,
em uma cena de O Grande Ditador, disse que não somos máquinas. De fato, nossa
vocação não é de ser máquina, robô. Mais do que isso, não nascemos para uma
vida subordinada a ordens, imposições. Mais do que “Ordem e Progresso”, o
ideário do Brasil é “Liberdade, ainda que tardia”.
Etelvaldo Vieira de Melo
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