PICNICANDO NO RESTAURANTE



- Dia sete tem aniversário dos anjim davó. Os presentes são surpresa.
- Não quero. Nought. Nothing much.
- Vó sabe que NÃO da Clarinha quer dizer SIM.
- Então, me dá eles logo, vó.
- Negativo.
- Família...
- ...palavra não. Sim, a sua...
- Cale o bico, marido. Estou alimentando o neném.
- Mãe, ele já comeu três prato. Esse é o quarto!
- Repare no seu, filha do macarrão. Gosta tanto do tal que descreveu a Branca de Neve recebendo macarronada envenenada da bruxa.
- Minha neta é tão criativa!
- Lá na Vale, a gente também aprecia comida.
- Ah, ah. O tio Danilo gosta é de mulher, por isso fala Eu apreSSSEIO.
- Hora do almoço é preciso respeito, principalmente com o purê da Cláudia.
- ...resPEITO, vó. Dá um jeito no vosso, porque está caindo. Piadinha: Ia a vó com a neta. A menina viu um chocolate. “A gente não pega o que cai no chão!”. Aí, a Ana vê uma nota de dez. “Nada de apanhar dinheiro sujo no asfalto imundo!”. De novo, três figurinhas da Mônica. “Deixa elas caídas aí! Não cata de jeito nenhum.”. Coitada da velha! Pisa na casca de banana, escorrega, e se esborracha no piche. “Me puxa, levanta, me acode, Clara, porque machuquei!”. Not on your life! Nohow, no way. Você disse que eu não devo nunquinhas apanhar o que cai no chão.
- Olha, não dou os presentes!
- A grande surpresa vão ser duas meias pro David; e pra mim, um flip-flop chinês de Kumê no couro.
- Comer, filha. Comer. A propósito, quede a Cláudia?
- Não, no, papai. Nem estou aí para o Português.
- Cuidado com as gírias!
- O garçom levou os prato faz uma hora, e o David ainda está traçando o arroz derramado na mesa, mãe.     
- (Beijo no cabelo). É por isso que o povo da Escolinha tá cheio de gripe, e ele na maior saúde, certo, dona Graça?
- Nem tanto ao céu. O neto pode adoecer da barriga, Karine.
- Se fosse eu, era falta de educação.
- Ciumenta, heim, Ana? Mamãe e papai são loucos com vocês dois.
- Não vamos aluir do restaurante, Ró. Igualzim ao caso do penico.
- Ora, Maria, daqui a pouco, o primo Ted chega. Ele é dono deste lugar.
- Nada de Maria. Sou sua mãe! Mamãe.
- Não é que é mesmo, Maria?
- O David agora tá bebendo o resto de refrigerante dos copos.
- Pediu a sobremesa, husband?
- Está quase.
- O guloso ouviu a conversa. Tá ligadão no garçom. My God, vai querer o meu brownie. Você paga, se eu comprar doces pra levar, vovó?
- Vamos lá, escolher. “Quanto é?”. Cento e noventa reais, senhora.
- Cento e noventa conto de réis? Isso é doce ou ouro, neta? Vovó fazia antigamente uns... Está bem, pra que discutir sofrendo?
- Engoliu o S de contos, Maria. Capricha no P...
- Palavrão, ora.
- O David AAA...MA! chocolate.
- Esconde o saco, vó!
- Ó, olha o avião do Come-come! Prove os sorvetes, enquanto seu lobo não vem.
- Mas, mãe, o seu leãozão devorou acabou com a torta de chocolate, o petit gateau duplo, quatro canudinhos grande... E depois tem o cappuccino que ele manja bem. Vamos à China ver se a babá vem e trava esse boca de forno. Mas acho que não e nunca de nãos!
- Niilista, a neta. Cláudia, socorro. Os pastéis.
- Faz três horas, para além da penicagem, que espero o fim do...
- ...mundo, gente. Apocalipse now! O menino explode feito bomba nuclear com tanta comilança!
- Chega, David. The end. C’est fini.
- Buaaaaá. Papá, telo telo telo papá. Dá, papá?
- Tá compondo a rima do Musical’ly em Mi..M dele, pai. O seu son ataca de novo.
- Hoje sou eu quem toca. Fora todo mundo. Preciso treinar, filho. Chá, Clau.
- Pois não, dona Maria.
- E bicoitos fritos.
- O bebê vai dormir até amanhã. Calma, dona Graça. Agora, falta só ele beber um bocado do licor Baileys e umas três mamadeiras d’água.
- Baleia ele, mamãe. Baleia o vosso preferido. Uma baleia devia à outra baleia. A segunda baleia baleIou a primeira baleia. Saiu no jornal: Baleia baleia baleia.
- Baleou, menina. Eta, Flor do Lácio, inculta e bela.
Graça Rios

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