Recordo aos
leitores uma história de Rubem Alves. O coelho se matriculou no Curso Intensivo
de Férias para o Reino da Bicharada. Queria aperfeiçoar certas habilidades coelhais
meio deficitárias. Aliás, encontrava-se entusiasmadíssimo com as possibilidades
de êxito. O Curriculum da escola oferecia vasta aprendizagem de voo, mergulho,
escalada. Marquem um X na opção correta: 1. O roedor aprendeu tudo rapidamente.
2. Teve um poucochito de dificuldade ao voar. 3. Gostou mais das aulas de nado Crawl
Nele. 4. Teve duas faltas na escalagem de tronco de árvore.
Durante
este ano, estive às voltas com o doutorado em Literatura Comparada. O último
problema tratou de uma prova sobre Tradução (meu projeto entra nessa linha de
pesquisa). Li três tristes tigres-textículos onde os autores falavam da atual
radical mudança tradutória. Nesse caso, o escrevente se apresentaria hoje
participante daquele processo com suas próprias ideias, vocábulos, elocução.
Bastante cunicular,
iniciei o discurso. Convoquei Jorge Luis Borges ao suado serviço de capina com Pierre Menard, Autor do Quixote. Irônico,
Luisinho ali nos conta que Pipi copiou ipsis litteris o texto de Cervantes em
glória: Sou o autor do Quixote. Não resistindo ao tentador apelo do sim, pus-me
a inventar um estilo diferente do antigo Ensaio. Bancando a coelheira, desfiei
as diferenças de tempo, espaço, costumes, tipo de tradução lá e cá. Perguntei: O
que faz o novo texto tão diverso dudu século XV? Arrebatada, pedi ao maestro
que tocasse um tango argentino dedicado a Borges. Quick quick slow slow, falei
aos bailarinos vermelhos de tanga (tonga tonga na milonga!) sobre nunca pisar
nos calos das damas, jamais anulá-las nos passos, inventar modos de expressão
tipo Carlos Gardel, cruzar gentis pés e coxas, ouvindo Por una Cabeza. Os amigos do blog sabem que a tradução volteia
feliz no Frenetic Dancing Days. Não se deve anular o traduzido - auribus teneo
lupum! Apareceu por perto Heráclito ensinando: Quem mergulha nas torrentes do
rio por duas vezes, forever and never será o mesmo. Citei Camões: Mudam-se os
tempos /mudam-se as vontades. /Só a mudança não muda mais como soía. Relacionei
A lógica do Sentido em Deleuze, O Demônio da Teoria em Compagnion, A Tarefa do Tradutor em Benjamin etc. Ri
sozinha ao falar do maníaco depressivo de Foucault, assíduo leitor de Freud,
discutindo com Lacan o processo kafkiano da semântica menardiana. Concluí
citando in La Recherche du Temps Perdu,
a personagem Oddete de Crécy, depois Madamme de Swann, seduzindo Proust num
déshabileé de crepe chinês dos tempos de cortesã. Ora, quem traduziu quem: a
criatura ou o criador? Aí, agradeci aos escritores propostos no teste pelo
grande apoio no show. The End: Gerem uma pergunta
para esta resposta: O orientador considerou-me mamaluca de jogar pedra.
Uai, Fai no sistema. Achei que era para
estabelecer mudanças no gênero Ensaio.
Graça Rios
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