Imagem: Wikipédia |
Fabiane Maria de Jesus, aos 3 de maio de 2014, vinha
bicicletando ao encontro dos parentes. Retornou a casa para buscar a Bíblia de
capa preta utilizada na Igreja onde era assídua, em Morrinhos IV, periferia do
luxuoso bairro Guarujá, São Paulo, onde residia.
Parou num boteco, pois tinha sede. Um menino lhe pediu comida,
recebendo por resposta uma banana.
Ora, circulava nos meios de comunicação a notícia sobre uma
feiticeira que sequestrava crianças, arrancando-lhes o coração e os olhos em
rituais de magia negra. Nesses canais, a imagem surgia acompanhada de promessas
de estupro, dilaceramento etc etc.
De acordo com o boato nas redes sociais, sob retrato falado,
Fabiane, mãe de duas filhas de um e doze anos, casada, correspondia à imagem.
Alguém passou pelo local da fruta oferecida, vendo o gesto de
“sedução infantil” com o livro negro entre os dedos. Chamou a população, cerca
de duzentas pessoas, e a moça de trinta e dois anos foi sumariamente linchada a
pau e pedra. Ainda viva, jogaram-na num colchão, impedindo que fosse levada ao
hospital até a chegada da Reportagem.
Dois anos depois de morta Inês, a verdadeira bruxa foi presa.
A jovem torturada nada tinha a ver com o fato, ótima dona de casa, mãe, esposa
que fora. Somente quatro envolvidos no crime sofreram processo. Um deles
passara inúmeras vezes de bicicleta sobre a cabeça de Fabiane.
Pesquisando no Google histórias de mulheres, conforme Pablo
Neruda, confesso que chorei. Coloco hoje em pauta a trágica ocorrência,
esperançosa de que os autos da justiça ressuscitem de seu falecimento nas
gavetas da Lei. Peço vênia aos leitores do texto.
Graça Rios
1 comentários:
Graça Rios a cada texto vc se supera. Parabéns!
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