PREVIDENTE COM A PREVIDÊNCIA

Tchu Thuca
Imagem: humorpolitico.com.br
O presente texto passava por uma necessária hibernação de, no mínimo, sete dias, quando foi violentamente despertado por uma dupla denominada “Tigrão e Tchutchuca”. É tão somente por esse motivo que ele está aqui, antecipando-se a outro, “Reconstruindo o Puxa-Saquismo”, que promete estar com vocês na próxima semana. Pedimos desculpas por essa alteração de programa.

Todas as pessoas que dizem entender do assunto, inclusive as aparentemente sérias e honestas, falam que o Brasil quebra de vez se não fizer a reforma da Previdência.
Diante de tanto alarido, sou tomado pela angústia e pelo sentimento de culpa por pensar diferente, por considerar que uma simples reforma nos moldes propostos não será capaz de consertar os rumos do país, evitando a quebradeira.
Ignorante desse e de tantos outros assuntos, sei, no entanto, que a Previdência, na sua configuração atual, é um sistema solidário, dispondo de financiamentos que vão além da contribuição de patrões e empregados. Na conjuntura dos últimos tempos, tem acontecido desses outros financiamentos serem desviados para outros insondáveis, tenebrosos fins. Daí, a conta não fechar; daí, o meu desassossego vendo pessoas alardearem uma coisa que não corresponde à realidade dos fatos.
Eu, leigo em Economia, que não consigo enxergar valores acima de 50 mil, pressinto que, mesmo ocorrendo uma reforma da Previdência nos moldes propostos por esse governo ultraliberal, se não for precedida de uma reforma tributária, vamos assistir a uma contenção de um lado, enquanto que, de outro lado, continuará existindo um rombo colossal.
Todos sabemos: sonegar é a regra neste país; até o presidente da República disse ser adepto de tal prática ("Sonego tudo o que for possível", disse ele em 1999). Sendo assim, não quero acusar ninguém, muito menos aqueles “peixes” pequenos, mesmo porque os grandes sonegadores, os “tubarões”, estão aí, todos os dias, aprontando das suas, sonegando bilhões, além de serem frequentemente premiados com exoneração fiscal. Sem querer dar razão aos lambaris e aos tubarões, é preciso reconhecer que o Estado brasileiro tem uma fome voraz para arrecadar, enquanto sua prestação de serviço é medíocre. Com isso, todos fogem, enquanto podem, de seus serviços de educação e de saúde.
Se não acuso ninguém, por outro lado não posso concordar com uma reforma da Previdência que, pelo visto, irá penalizar ainda mais os menos favorecidos. Cem reais que você tira de um assalariado representa muito mais do que cem reais tirados de um empresário, de um político, de um juiz ou de um general do Exército. Se todos deverão dar sua cota de sacrifício para a reforma, não tem sentido, por exemplo, os militares ficarem isentos, mesmo que eles usem fardas e disponham de poderosas armas. São palavras do cientista político Luciano Dias: “Se patriotismo decidisse alguma coisa, militares não estariam contribuindo só com 7% da reforma da Previdência”.
O ministro da Economia conclama todos ao sacrifício. Sabemos que a aposentadoria se dará pelo sistema de capitalização, através da contribuição do empregado (com Estado e empregadores sendo desonerados). Toda pessoa de bom senso não aceita essa ideia. Até mesmo o presidente do Congresso, Rodrigo Maia, pondera: “Duvido que ele (o regime de capitalização individual da previdência) consiga assegurar o sustento do trabalhador, porque a renda do brasileiro é baixa”.  Diante disso, também pergunto: - Quem irá administrar esse fundo financeiro, essa capitalização?
Você está me dizendo que serão os Bancos privados? Coitados! Eu não sabia que eles seriam convocados para mais esse sacrifício, eles que sempre abrem mão do lucro em favor de nossa pátria amada, idolatrada, salve, salve! O amor desses banqueiros pelo Brasil é tamanho, o interesse deles em salvar a pátria é tanto que, estou sabendo, estão fazendo lobby no Congresso para que a reforma saia logo. Estão impacientes para darem sua cota de sacrifício!
No desfecho destas considerações, resta dizer o seguinte:  - Se a reforma da Previdência é a panaceia que irá nos salvar, que ela venha em termos justos e que não seja um simples remendo num tecido já de todo corrompido e podre.
E outra coisa, digo mais: - Os pobres deste país estão cansados de promessas mentirosas. Tempos atrás, diziam, por exemplo, que era preciso deixar o bolo do progresso crescer para que, depois, ele fosse dividido entre todos. O que parece é que esse bolo cresceu, cresceu, alguém comeu, comeu, e ninguém viu.
Etelvaldo Vieira de Melo

1 comentários:

Fátima Fonseca disse...

É isso aí cronista. Sou pessimista!

Postar um comentário