Eu sei, Freddy Krueger é o nome de um personagem de filmes de terror
que, “após ser queimado por pais vingativos, passa a atacar adolescentes em
seus sonhos, matando-os no mundo real por tabela” (informações da Dra. Wikipédia).
Ao longo de horripilante série de 9 filmes, foi responsável pela perda de sono
de muita gente. Inspirados na sua frase “é
melhor você não dormir e dirigir”, publicitários brasileiros criaram esta
outra: “se beber, não dirija”.
(Como se vê, no mundo na fantasia, nada se perde, tudo se copia).
Pois bem, longe de Springwood, Ohio, em plena selva amazônica, teve um
bebê que, mais tarde, também iria receber o nome de Freddy Krueger. Já em seus
primeiros dias de vida, foi esse Freddy tupiniquim arrancado dos pais e levado
em cativeiro, junto com mais seis irmãos. Sua mãe reagiu bravamente, avançando
contra os saqueadores, mas um tiro na cabeça a deixou arrebentada no chão.
Depois disso, as lembranças de Freddy se tornam imprecisas. Acha que
foi jogado numa espécie de gaiola junto com os irmãos; em seguida, foram parar
num lugar escuro. Ali, começou a sentir enjoo, com a sensação de que estavam
num barco, com ondas balançando de lá para cá, de cá para lá.
Quando o balanço parou, viu a gaiola ser tampada por uma espécie de saco
de aniagem. Daí para a frente, o sentimento que experimentou é que estavam
rodando por estradas, ora de chão, ora de asfalto. Aí, perdeu a noção de tudo.
Quando voltou a si, viu que estava na cozinha de uma casa. Estava só,
nem sinal de seus irmãos. Pessoas falavam aos gritos, com palavrões e risos. Um
homem se aproximou de Freddy, seu hálito fedendo a cachaça.
- E aí, seu bebê chorão, espero que me devolva cada centavo que gastei
com você – falou, enquanto jogava um prato de comida dentro da gaiola.
Freddy olhou para o prato com nojo. Era uma espécie de canjica. Mesmo
com o estômago embrulhando, comeu aquela gororoba, pois se sentia faminto.
A partir desse dia, a vida de Freddy virou uma rotina de muitos
sobressaltos. Seu “padrasto”, de nome Jasão, além de beberrão, traficava
drogas. A casa era frequentada por toda espécie de gente: viciados, “mulas”,
prostitutas. Ali o dia começava tarde, mas não tinha hora para acabar. Freddy,
com uma corrente presa no tornozelo, ficava mais na área em frente à casa, ouvindo
as conversas, os gritos, as risadas. Jasão tinha o costume de embriagá-lo para
que ele “soltasse a língua”. E o que Freddy falava era só palavrão, o que fazia
todo mundo rir. No entanto, de vez em quando o clima ficava alterado, com
sopapos e até tiros.
Numa das frequentes confusões, apareceu a polícia. Houve intensa troca
de tiros, um deles resvalando no rosto de Freddy. O resultado ele ficou sabendo
depois: cego do olho direito e nariz deformado. Depois da batida, ele foi
levado pela polícia até uma instituição.
Ali sua vida mudou para melhor. Mas as sequelas de sua história ainda o
marcavam. Freddy continuou agressivo e violento. Só falava palavrão, quase
igual aquele astrólogo, tido como guru de muitos políticos, como é o nome dele
mesmo?
Em conversas, o diretor da instituição, que gosta muito de Freddy,
costuma dizer:
- Esse aí é muito vida louca. Com tudo o que lhe aconteceu, não sei se
é muito azarado ou muito sortudo.
O diretor começou a falar isso depois que a instituição foi invadida no
dia 16 de abril, numa plena terça-feira. Três pessoas armadas “adentraram ao
local” (segundo relato policial), renderam o guarda e sequestraram Freddy e um
seu companheiro, além de roubarem um botijão de gás. Semana antes do roubo,
Freddy havia apresentado um ferimento na perna. Ele não falou nada, mas
funcionários da instituição desconfiaram que podia ter sido por uma mordida de
cobra pequena, não peçonhenta.
Com tantas desavenças, não é que Freddy Krueger acabou voltando dois
dias depois do sequestro?
Ao fim e ao cabo desta narrativa, é preciso dizer:
- Freddy Krueger é apelido; o nome verdadeiro do adolescente é Lourival
Pittuco – o apelido decorre de seu gênio truculento, agressivo.
- Apesar da deformação no rosto - consequência do tiro, que o deixou
cego do olho direito e lhe tirou um pedaço do nariz - Freddy se alimenta bem,
“tem uma saúde de ferro”, comenta Ilair Dettoni, o tal diretor da “instituição”.
- Este texto se baseia em fatos, relatados pela Folha de São Paulo, do
dia 29/04/2019. A reportagem é assinada por Raphael Hernandes. O título: “Papagaio que leva tiro, mordida de cobra e
foi roubado volta sozinho para zoológico”.
- O zoológico é da cidade de Cascavel, na região Oeste do Paraná.
Fiquei sabendo mais: Em 2014, no mesmo
zoológico, uma criança teve o braço arrancado por um tigre quando o pôs para
dentro da grade - o pai do menino filmava a cena. Do mesmo zoológico já
roubaram dois jacarés e araras. No último assalto, levaram um botijão de gás e
dois papagaios - entre eles Freddy. Então, estou sabendo, com essa falta de
assunto que anda me assaltando, é bom ficar bem atento às notícias do zoológico
de Cascavel. Ali é um lugar de fortes emoções, Pittuco que o diga.
Etelvaldo Vieira de Melo
0 comentários:
Postar um comentário