NÃO PERMITA DEUS QUE EU MORRA

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Imagem: conexaolusofona.org
Em 1982, visitei os Açores, visando a fazer um curso de Literatura Portuguesa.
Conheci, então, a rainha da formosura insular. Era, de fato, uma criatura do Éden, sob o camartelo de Aleijadinho. Eu jamais vira uns cabelos tão negros. A pele rósea, o corpo geométrico, confundiam-se com o verde mar e o céu azul e as azáleas (digam azáleas, por favor) e as hortênsias e as fontes termais... Enfim, jamais imaginara tamanha perfeição em detalhes de silhueta.
Na época, faleceram lá cerca de sete dezenas de ilhéus e quatrocentos se feriram, vítimas do Sismo d’Oitenta. Graciosa, Terceira, São Jorge, três das nove encantadoras ilhas, viram destruídas quinze mil casas locais. Os heróis do tempo de minha estada eram pescadores, viúvas trajadas de negro pelos entes mortos na guerra ultramarina, condutores de ovelhas nas ruas. A ilha Terceira reconstruía à noite habitações derrubadas pelo tremor marítimo da manhã, quando escrevi o texto O Açor Emigrante.
Aluna da Universidade de São Miguel, constatei que a flama e a saga histórica do povo consistiram sempre em movimentar-se pela libertação da maior Zona econômica da Europa: seu próprio oceano. Quanta luta me foi relatada nas aldeias: confiança na exportação de tinta do Pastel, folclore incomum, influência estrangeira no lugar.
Em 1982, vislumbrei céu e terra explodindo dos olhos daquela linda Miss. Neles, a profundidade dolorida dos vulcões entornava lavas candentes sobre o Universo. As fumarolas, os estames de mágoa da Flores, a comida sensual cozida debaixo do solo da Faial, tudo se revelou  força para meu brasileiro coração. Em minha Pátria, naquela e nas vindouras datas, o penar também enfurnar-se-ia na roubalheira de colarinho branco, nos crimes, nas miseráveis favelas do Brasil.
A seguir, os anos 2003/2016 seriam o retrocesso fatal dos sonhos nacionais. Comecei a terminar certa escrita fervorosa contra os males que Lobato mencionara em minha gente. Ó quão semelhante ao meu, o antigo estado daquela mulher esplendorosa.
Pobres e mor tristes nós. Duas criaturas, antes contemplativas do cenário belíssimo, ora caótico e amargo, do país ilhado na corrupção política de hoje.
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Graça/19

3 comentários:

Unknown disse...

A saudade que se vai conosco,nunca se acaba pra aquele que de nós sentem saudade

Unknown disse...

Enqto você mana , se vislumbrava com tanta perfeição de natureza tao bela , daquela natureza,eu me vislumbro com tamanha sensibilidade nas suas belas palavras,pra "pintarcom um pincel mágico", uma tela tão rica em detalhes e que nos faz vagar por lugares ,hoje história,mas vivos nas suas lembranças!Como sempre,vc brilhou! Amei,lindo texto!

Unknown disse...

Enqto você mana , se vislumbrava com tanta perfeição de natureza tao bela , daquela natureza,eu me vislumbro com tamanha sensibilidade nas suas belas palavras,pra "pintarcom um pincel mágico", uma tela tão rica em detalhes e que nos faz vagar por lugares ,hoje história,mas vivos nas suas lembranças!Como sempre,vc brilhou! Amei,lindo texto!

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