O CORONA NA CARONA DO VÍRUS DA POLÍTICA

Jabuti – Wikipédia, a enciclopédia livre

Imagem: Wikipédia

Entre os astros de cinema de temperamento difícil, Faye Dunaway figura como destaque. Ninguém gostava dela e todos procuravam manter distância de sua presença, já que estava sempre distribuindo desaforos. A estrela de Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, Chinatown e Rede de Intrigas sempre criou caso com diretores, colegas e equipes de filmagem, com exigências descabidas (como não permitir que usassem roupa branca durante os ensaios, ou querer que seu camarim fosse limpo por serviçal ajoelhada). Em 2015, admitiu sua má reputação, ponderando: “Sim, sou difícil de lidar, mas é assim que vocês prestam atenção em mim”.
Jair Bolsonaro tem um histórico de vida que me faz lembrar Faye Dunaway. Nos tempos de Exército, conseguiu chamar atenção de forma negativa, ao ponto de ser expulso das fileiras. Com poucos anos de carreira, foi aposentado como capitão.
Ao se eleger deputado, e ao longo de quase 30 anos de mandato, constituiu-se um político medíocre, integrando o chamado “baixo clero”, aquela turma opaca, que nunca apresentava projetos, que quase nunca ocupava os microfones, mas que sempre votava unida em favor de seus interesses corporativos. Para se sobressair de alguma maneira, Bolsonaro passou a fazer declarações estapafúrdias e polêmicas. Para tanto, abraçou as causas próprias de uma parcela rancorosa da sociedade. Passou a alardear teses e ofensas contra mulheres, homossexuais, negros, índios, ao tempo em que defendia o uso indiscriminado de armas, fazendo discurso a favor da Ditadura Militar, atuando em defesa das milícias, condecorando seus líderes com medalhas de mérito. Com isso, conseguiu os holofotes da Grande Imprensa e um número cativo de eleitores.
A razão de seu sucesso está justamente aí: Bolsonaro é mais do que Bolsonaro. Iguais a ele existem milhões espalhados pelo Brasil, felizes por encontrar alguém que lhes dê voz e reconhecimento.
Quando da destituição da presidente Dilma Rousseff, percebendo que a mediocridade e a pusilanimidade no país eram generalizadas, Bolsonaro perguntou para si mesmo:
- Por que não posso ser presidente da República?
Uma série de fatores contribuiu para seu sucesso, com destaques para a ação da Lava Jato, com seu juiz Sérgio Moro, a inviabilidade do candidato natural da Direita, Aécio Neves, por seu grau de podridão, a atuação frenética das igrejas evangélicas, a cobertura da imprensa tradicional e uma ocasional facada. Assim, abençoado por generais e ungido pelo Mercado, foi carregado nos ombros por lunáticos a soltarem uivos de guerra.
Agora, está aí Bolsonaro, não somente ferindo as pessoas com sua verborragia irresponsável, mas também tomando atitudes que custam vidas, além de colocar o país na beira do caos, ameaçando de colapso nossa frágil democracia, num momento em que somos assolados pela pandemia do Coronavírus. Ele aposta, tensiona as relações com os outros poderes, achando que falar asneiras pode lhe trazer sempre dividendos de fama, ao tempo que intimida outras autoridades, a maioria constituída de medrosos e covardes.
Aonde tudo vai parar?
Não tenho o dom da premonição, mas de uma coisa tenho certeza: diante da renúncia de Sérgio Moro como ministro da Justiça, uma série de denúncias vem a público, somando-se a tantas outras que ficaram suspensas (por exemplo: o presidente Bolsonaro não disse que as eleições de 2018 foram fraudadas? alguém do Supremo não teria que cobrar as provas?). Está na hora de membros de outros poderes começarem a trabalhar de forma séria e responsável em cima dessas denúncias. Estamos cansados de ver como Bolsonaro é inconsequente em suas falas, dizendo e desdizendo coisas. E parece que as pessoas estão se acostumando a conviver com mentiras, como se elas fossem irrelevantes. Elas não se dão conta de que mentiras são corrosivas, envenenam a vida da nação, tornam a convivência insuportável.
Certa vez, fiz a leitura de uma fábula chamada “O Jabuti e a Coisa”. Sua lembrança vem muito bem a propósito da reflexão acima:
Andava um jabuti calmamente, quando deparou não com uma pedra no meio do caminho, mas a algo parecido com uma maçã. Como gostava de jogar bola, enquanto tomava distância, falou:
   - E lá vai o cágado pela direita. Estica para o jabuti, que se prepara e atira!
Enquanto chutava o objeto, gritou:
   - É gol! Gooolll do jabuti!
Rolando, o objeto parecia ter dobrado o tamanho. O jabuti se aproximou lentamente, mesmo para os padrões de um jabuti. Cauteloso, pegou um pedaço de pau e deu uma porretada na coisa:
   - Plam!
A coisa dobrou de tamanho.
 O jabuti, assustado, desandou a dar porretadas:
   - Plam! Plam! Plam!
A cada cacetada, a coisa dobrava de tamanho.
Foi quando um sabiá falou, lá da copa de uma árvore:
   - Alto lá, jabuti! Se continuar a bater desse jeito, a coisa vai tomar todo o caminho. Se não mexer com ela, vai continuar como era no início.
Moral: Quando deixada em paz, a discórdia não prospera. Quando provocada, ela aumenta e se torna incontrolável.
Faye Dunaway fomentava a discórdia para chamar a atenção. Bolsonaro age da mesma maneira, construiu sua vida pública em cima de agressões e ofensas, foi assim que ele cresceu e se agigantou. Fazer o seu jogo é torná-lo cada vez mais forte. Portanto, não é por aí que vamos dar conta dos graves problemas que afligem a população brasileira, numa troca gratuita de ofensas. Espero que o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e as procuradorias assumam suas responsabilidades diante do caos que vivemos. É preciso dar um basta à contemporização, ao silêncio e às omissões. São elas que alimentam e tornam possível a “Coisa”.
Etelvaldo Vieira de Melo  

AO PÉ-DA-LETRA

Este cartum deve valer enquanto durar a recomendação de cuidados especiais de higiene a serem adotados principalmente pelos idosos no dia a dia.
Ivani Cunha

VIVA PLENAMENTE!


O que fazer em tempos de quarentena? - Plenarinho - Câmara dos ...
                    Oh, quão dura quarentena!
 Nunca mais saio de casa. O cabelo ficou branco, o verso até enrugou.
Quanto tempo aqui sozinha! Pode ser é faz de conta, o tal do Fake News.
   Será que a China sabia? A Itália, coitadinha. Nós todos, o filho comenta.
Porqueira, a televisão. Políticos vendidos. O preço do voto subiu? O mundo caiu?
Olha que céu tão azul! Há gente na rua, claro. ‘Nem o pé fora de casa.’ - Eu.
Confinamento rimaria com finados? É.O verso quase rima ‘nados/nada...’.
 ‘A sua idade é de risco. Ponha a máscara. É a comida’. (Chegou o elevador.).
Más caras essas, on-line. Quase caio, fazendo Pilates com cabo de vassoura.
O Salão Requinte fechou. Repara o tamanho das unhas. Celular pode cair.
Nunca mais reabro o Órgão. Poema, o vento levou. Lamento.
Oh, quão dura quarentena...
- Vó, atende. Vó. Vovooooo´!
- Clara? É você, Ana Clara?
- Chamei cem vezes no vídeo.
- Fiz tanta conta... Chamou?
- Você disse: “O que mais amo é ver a sua dancinha.
Escolhi o bory de Coelha. Você estava dormindo?”.
           (Pegou o batom da Karine, os lápis para os bigodes.).
            - Ligou certo o seu Skype? Ouve a música direito?
      (E a China? O Corona vírus? Sonho ou verso de pé quebrado?).
     - Our Crazy Easter Dance! Pop rock de que você gosta. Pop! Pop!
 - Dance, mocinha. Dance muito pra vovó. Ah, ah, ah! Essas orelhas...
- “...Happy Easter!”. Mãos abanando. Assim... Dobre o joelho, vovó...
                   Hoje é domingo de Páscoa. Ovo voa, vó. No Além...”.
                    - Era essa a poesia que eu queria: fantasia...
              - Pois esse é o nosso presente. Viva, viva hoje plenamente.
Profa  Maria da Graça Rios


LENDO NAS ENTRELINHAS

VIDA E MORTE | DIVINO AMIGO - Reflexões
Imagem: divinoamigoreflexoes

Ao ler uma declaração de Nelson Teich em seu primeiro pronunciamento como ministro da Saúde do governo que está aí, no dia 16/04/2020, Eleutério se pôs a cismar, achando que havia qualquer coisa errada, mas sem conseguir atinar com o quê.

Depois de queimar um tanto de seu minguado estoque de neurônios, resolveu por bem fazer uma consulta on-line com o sobrinho Ingenaldo, recorrendo a um novo recurso disponibilizado pelo Zap-Zap.

Assim que estabeleceu a ligação, viu na tela de seu aparelho a figura de Ingenaldo, com seus óculos de armação azul.

   - Olá, Ingenaldo – falou.

   - Bênção, tio – retrucou Ingenaldo. – A que devo o prazer de sua ligação?

   - Primeiro, quero dizer que você está muito bem, apesar do confinamento. “Bem-zô-Deus”.

   - Obrigado, tio. O senhor também está com muito bom aspecto.

   - Quanto ao motivo de minha ligação – falou Eleutério – é o seguinte: preciso de sua ajuda, como estudante de Lógica, para decodificar, traduzir, ler nas entrelinhas uma declaração do atual ministro da Saúde em pronunciamento através da TV.

   - Qual?

   - É o seguinte: “Existe um alinhamento completo aqui entre mim, o presidente e todo o grupo do ministério. O que a gente está fazendo aqui hoje é trabalhar para que a sociedade tome, cada vez mais rápido, uma vida normal”. Foi o que disse Nelson Teich.

  - Primeiro, noto um erro gramatical muito feio, quando disse “entre mim, o presidente...”.

   - Isto também doeu nos meus “zovidos” ...

   - Outra coisa: na Lógica, a ordem dos fatores altera o produto, sim.

   - Como assim?

   - Veja bem: os atores da fala do ministro são três: mim (eu) – o presidente – o grupo do ministério. A ordem correta para nomeá-los seria: o grupo do ministério – mim – o presidente (em disposição crescente), ou então: o presidente – mim – o grupo do ministério (em ordem decrescente). No entanto, a relação é estabelecida assim: mim – o presidente – o grupo do ministério. Daí, podemos deduzir o seguinte:

   1º) O ministro se distancia dos demais membros do Ministério da Saúde (deveriam estar juntos);

  2º) Eles não são vistos pelo ministro como um time, uma equipe, mas como um grupo, um grupamento (percebe a sutileza da denominação?);

  3º) As conversas que irá ter com o grupo serão filtradas na sua relação com o presidente (que sempre se interpõe entre eles);

   4º) Frente ao presidente, sua postura será de submissão, dependência (uso de “mim” em vez de “eu”);

   5º) Tal dependência, chamada de “alinhamento”, é completa, total.

   - Quer horror! Mas, para que sua análise fique bem clara: qual é a visão do presidente sobre tudo isso?

   - O presidente pensa que a Economia, que os interesses econômicos se sobrepõem a tudo, que eles devem nortear todas as medidas a serem tomadas frente a essa pandemia do coronavírus. Na verdade, a medida que ele tolera no máximo é o isolamento vertical, para as pessoas mais idosas. Como o ministro está alinhado com as ideias do presidente, significa dizer que ele compactua com o isolamento vertical e com a retomada das atividades econômicas. A não ser que você queira acreditar que uma manhã de conversa pode modificar a maneira de pensar de alguém que tem a mesma ideia por mais de 60 anos.

  - Penso que o presidente não quer saber de nenhum tipo de isolamento, seja ele vertical, horizontal, perpendicular, oblíquo ou paralelo. Seguindo as orientações de seu guru americano Steve Bannon, ele quer mais é que tudo se exploda, especialmente os velhos, que tudo seja destruído, para que um novo país seja construído, nos moldes de Olavo de Carvalho, das milícias e do gado bolsominion. Mas eu quero perguntar uma coisa a mais, sobrinho: - quando o ministro faz referência ao “grupo do ministério” não está dando a entender que está falando dos demais ministros?

  - Também pensei nessa possibilidade. Considerando que o conjunto de ministros forma um grupo, ou grupamento, e que o conjunto das pessoas que integram um ministério forma uma equipe, ou time, quando o ministro fala “grupo”, ele pode estar, sim, se referindo aos demais ministros. Ele pode estar se referindo, notadamente, ao da Economia e, em especial, aos ministros militares.

  - Sendo assim, a leitura possível do fala do ministro é esta: - Quem dá a última palavra nessa pandemia são os ministros militares. Então, a frase que pode ser lida nas entrelinhas é: - Estou alinhado com o presidente, que se sustenta graças ao respaldo dos ministros militares.


  - Exatamente. É por esta e por outras que eu digo: estão os militares, há muito tempo, segurando a escada para Bolsonaro. O que acontecer daqui para a frente com o Covid-19 será sobretudo responsabilidade deles.

   - E a frase final da declaração: “O que a gente está fazendo aqui hoje é trabalhar para que a sociedade tome, cada vez mais rápido, uma vida normal”, como você avalia?

  - Bom, completou Ingenaldo. – Eu penso que falta modéstia, humildade para esse novo ministro. E também falta consideração, respeito, educação para com seu antecessor. Ele poderia dizer (e estaria ganhando dividendos): - O que a gente vai fazer a partir de hoje é dar continuidade ao brilhante trabalho desenvolvido pelo Dr. Mandetta e sua equipe, para que a sociedade tome, o mais rápido possível – dentro dos parâmetros da Ciência – uma vida normal”.

   - Nesses tempos difíceis, onde muitos pensam que o dinheiro vale mais do que vidas humanas, lembro a declaração da filha do presidente do Banco Santander em Portugal, Vieira Monteiro, morto com Covid-19: “Somos uma família milionária, mas o meu papai morreu sozinho e sufocado, buscando algo que é grátis, O... AR. O dinheiro ficou em casa”. Ao tomar posse no dia 17, o ministro Nelson Teich declarou: “Não importa se é saúde ou economia, não importa o que você fala, o final é sempre gente”. Importa sim, ministro, tudo precisa ser bem explicado, essa mistura de saúde com economia é venenosa, principalmente na boca e no coração de quem trata o dinheiro como se fosse deus e o ser humano como um produto descartável.  
 Etelvaldo Vieira de Melo

SIMPLES ASSIM

Algumas encruzilhadas obrigam o encontro do real com o imaginário, bem como de outras esquisitices...
Ivani Cunha

PÁSCOA EM QUARENTENA

Jade

Pueri hebraeorum
Portantes ramos olivarum
Obviaverunt Domino
Clamantes et dicentes
Husanna in excelsis

In illo tempore, quando estudava em internato, esta música era cantada na celebração do Domingo de Ramos.
Semana antes, esta e outras eram ensaiadas exaustivamente, sob a regência de José Hilário, um capixaba de corpo avantajado e óculos enormes. Como achávamos os ensaios maçantes, assim que avistávamos o José se aproximando, resmungávamos:
- Iii..., lá vem o Zé Breorum!

A Páscoa talvez seja aquela celebração que mais deixou marcas em minha infância e adolescência. Sem contar que sempre me seduziu seu simbolismo, o de significar passagem, mudança, travessia. Refletindo sobre o tema, costumava avaliar:
- Ressuscitando, Jesus Cristo vem nos dizer que a Vida vence a Morte, que a Vida é maior do que a Morte. No entanto, a vida passa pela morte, a vida é feita de mortes. Então, para que alguma coisa viva é preciso que morra um pouco: a semente, lançada à terra, precisa morrer para poder brotar e florescer, para que haja primavera é preciso passar pelos rigores do inverno. E, assim como a noite que prepara o dia, em nossas vidas, a dor prepara a alegria, a lágrima prepara o sorriso, o sofrimento prepara o prazer, a morte prepara a vida.
E adiantava a reflexão:
- Vivemos numa sociedade que só valoriza o lado bom da vida: os momentos de alegria, de prazer. Quando passamos por dificuldades, quando experimentamos dor e angústia, geralmente nos sentimos mal. E é por isso que as pessoas vivem manquitolando pela vida afora, porque não sabem se sustentar nos momentos difíceis.
Concluindo a reflexão, costumava dizer:
- É preciso saber “morrer”; quem não sabe morrer também não saber viver.
Orquidário

Desde que começou a cultivar orquídeas, Percilina Predillecta logo se deu conta de que cada espécie pedia um tratamento diferente. Havia aquelas que podiam ser plantadas no chão, enquanto que outras se adaptavam em vasos, cachepots, troncos de árvores e até em toquinhos, E eram de muitas espécies: Catleyas, Phalaenopsis, Vanda, Dendrobium, Paphiopedilum, Arundina... Entre as epífitas, tinha aquelas que não se sustentavam em nada. Todas pediam adubagem, luminosidade e regras diferenciadas. Percilina, com paciência e persistência, foi aprendendo tudo isso por mais de cinco anos. Agora, as orquídeas (e a jade e tantas flores mais) respondem ao seu cuidado com suas flores delicadas e belas.
Quando vejo Percilina cuidando das plantas, muitos pensamentos me ocorrem. Às vezes, comparo aquilo aos cuidados de uma mãe com seu filho; quando Percilina alisa a folha de uma orquídea para ver se está tudo bem, relembro cenas de minha mãe me cobrindo com cobertores nas noites frias dos invernos de minha infância.
Outra lembrança me ocorre, esta mais atual: o pensamento de que o Mundo está em Páscoa, vivendo agora momentos de dor, incertezas, angústia, ansiedade e medo. As orquídeas, as jades e tantas flores do jardim de casa florindo são sacramentos, sinais de Esperança de que a Natureza e todos os seres humanos estão se renovando para um Amanhã de Paz, Harmonia e Solidariedade.
Etelvaldo Vieira de Melo

POR QUE NÃO?

O gato do vizinho sabe que o cartunista foi escoteiro. Informação é poder.

Ivani Cunha

LENDA DA LÓGICA BONDOSA

FÁBULA "O VELHO, O MENINO E O BURRO"
imagem: recantodasletras
Após uma entrevista para o divertido amigo blogueiro Cristiano, recebi de singular senhor uma crítica corrosiva, comentando que eu falara muito, brincara muito, e não dissera nada lógico ou bondoso. Estranhei a franqueza, aceitei-a cabisburra, mas soube depois que trinta mil pessoas haviam lido integralmente as vinte repostas e apreciado o conteúdo e o estilo. Mais: o Ibope registrara 95% dos leitores do Facebook solicitando outra, de igual teor cômico-literário.

Por que houve tanta disparidade nos pensamentos? – pensei. Concluí que minha escrita demolidora dos padrões anteriores ao Modernismo fora a razão da divergência. Dentro do contexto atual, qual sentido poderíamos dar ao termo “Lógica”? Se resolvesse obedecer àquela estória O menino, o burro e o velho, estaria encontrando algum sinal? “- Ah, vou responder tudo certo e bom, conforme os manuais.” Aí, coçaria o queixo, porque mulher de barba e bigode nem o capeta pode. No entanto, diabos, o que é ‘certo’, em se tratando por exemplo do Bentinho e da Capitu? Se eu descobrir e provar que ela o traiu, ou se foi o ciúme dele o traidor, acabo com o enigma do D. Casmurro, pois a dúvida é mais que a temática da obra. Ela é a magistral capacidade do autor em deixar eternamente a incógnita atrás da zorêia do povo. Eis-me levando o velho de um lado, e o menino do outro pra cima do asnático leitor. Ai! Você, não. O outro, o outro! Aquele.

Se for bondosa para com o teatro do absurdo de Samuel Beckett, Ionesco; ou como filme de terror Maligno – The Prodige, estarei carregando o burrico nas costas. Afinal, ali, a maldade é que faz o espectador tremer nas bases. Teria de tornar as bruxas criaturas meio mães com vassouras, meio fadas, meio humanas em excesso.  Funny GamesO filme ganhou o remake Violência Gratuita em 2013, e por isso exatamente estourou as bilheterias.

Então, melhor me tornar sisuda também aqui, nesta escritura até possível de ser o que “ele” deseja? Tomar conta do vocabulário, evitar principalmente o palavrão? Ora, pois, pois! Palavrão é mais monte de merda que o Corona? Vírus é menos cruel que Vacine, sá.Vá tomar no rabo. Que coisa! Eu deveria dizer, então, Vá tomar LÁ! Tabu linguístico. Eufemismo filho da pulga!

Normalmente, sou cuidadosa na prosa, mas naquela dita cuja entrevista, usei o registro adequado, um bocado atrapalhado. Quem lê quarenta perguntas e respostas do Marquês de Sade ou do Rui Barbosa, formuladas por um especialista neles, adorando, é acadêmico, sexólogo, bi(bli)ógrafo. Perguntaram ao técnico de futebol: - Por que vivem perdendo no jogo? Ele: Meus atletas não sabem usar a gramática. Nem se estiver verde e bem marcada.

Trabalhei numa escola distante, quando estudante de Letras, onde os alunos do segundo grau, mais ou menos da minha idade, decoravam o Grande Dicionário do Aurélio (não, bobão, era o GRANDE mesmo!). Orrorizei na hora, engolindo o agá. Era a Lógica do Lente (=professor). O primeiro ano quase normal declamava toda a obra de A a C: - Queira antolhar os discípulos carentes de califasia, Maestra. (Era o chefe de turma me aconselhando.). E eu: Seu frangote de uma figa, me respeite! Sou a nova professora.

A turma ouriçou por um instante. Depois, levantou o volumaço, e quis saber se podia, doravante, largar o cartapácio e usar termos como... (imaginem quais!). Que alegria! Um deles jogou um cordão tipo barbante no lixo, soluçando: - Não tenho mais de passar este cordão para quem depois de mim errar no Português? E eu: Nevermore, guy.  Herrar é umano!

Pedi que escrevessem cinco expressões ilógicas e de más caras tal a decoreba e o cordão.

Guerra pelo petróleo; Desmatamento; Sumiço das abelhas; Fome; Pandemia de Cólera.

Graça Rios

DIÁRIO DE UM SETENTENADO

Acho por bem seguir o conselho da amiga Gláucia (“Nesse momento não tem nada melhor que rir! É a melhor terapia! Estamos todos sufocados e atordoados, mas rindo muito”). Quando não der conta de produzir algo novo e divertido, irei revisitar textos postados neste blog ao longo de mais de sete anos, todos bem-humorados (e inéditos para a maioria dos Leiturinos). O primeiro explica o que vem a ser PFC, por que a “ficha” de Eleutério custa a cair.

Anel de Formatura em Ouro 18KL750 - AN14562
QUEM ROUBOU MEU ANEL DE FORMATURA?

Se acreditasse em metempsicose, creio que em outras encarnações teria sido um bicho de preguiça ou uma tartaruga. Tudo porque, comigo, as reações demoram a ocorrer, custo a acompanhar o ritmo das pessoas; nas conversas, tenho sempre que pedir para repetirem o que andam dizendo; não entendo nada o que falam na TV, a não ser que haja uma legenda. Está bem que o otorrino, médico muito distinto e que me inspirou a mais pura simpatia, disse que tenho uma pequena perda auditiva, coisa insignificante, que só preciso ter o cuidado de olhar para os lábios da pessoa enquanto ela fala. Esse médico tem até uma teoria interessante a respeito do casamento, que eu gostaria de comentar, ainda que superficialmente. Segundo ele, o casamento tende a dar mais certo quanto mais afastados estiverem marido e mulher, em camas separadas, em quartos ou andares diferentes, em cidades ou – melhor – países diferentes! Muito divertido esse médico, mas eu não sei se ele falou sério ou fazia troça de mim, quando elogiou a calça esportiva que eu estava usando. Aí, eu disse pra ele: “O senhor está gozando a minha cara, doutor?” E ele: “Não, absolutamente. Achei muito chique, deveras.” Então, como estava dizendo, agora me servindo de atestado médico, minha lentidão para entender as coisas é uma herança genética. Sou parecido com um italiano que conheci no meu tempo de adolescência. As pessoas contavam uma piada para ele e sua reação, de momento, era ficar sério; daí a três, quatro horas, ele se dava conta da graça e ria até chorar. Para muitas coisas, eu me vejo assim também. Não quero que pensem que sou um retardado mental, fico ofendido quando me tratam dessa maneira. Já captei, através de olhares, pessoas me considerando como lerdo, débil mental, e não gostei nem um pouco. Existem pessoas que, por conveniência, se deixam passar por surdas, distraídas. É o caso do colega Marízio, que se fazia de ouvidos moucos, quando lhe solicitavam um favor, mas respondia com presteza quando se tratava de um agrado. Estou explicando essas coisas em sinal de minha sinceridade, uma vez que até existe um nome científico para designar meu problema: PFC, “prolapso de fim de curso”, uma denominação esquisita, mistura de termo médico com de eletrônica, desses usados em portões e cercas elétricas. Mas traduzindo para um português bem traduzido, com direito à nova regra ortográfica, o termo significa que apresento uma demora, às vezes mediana, às vezes acentuada, para dar uma resposta aos estímulos externos. Se você está tendo dificuldade em entender o assunto, vou me servir de fatos acontecidos, como exemplos. Já faz bastante tempo que concluí os estudos de oitava série. Tenho uma foto da formatura, onde apareço fazendo o discurso. Eu quero dizer que fui o orador da turma! 
Eleutério fazendo discurso de formatura

Na foto, lá estou eu lendo tranquilamente o meu discurso; anos depois, com essa mesma foto nas mãos, fui tomado pela síndrome do pânico, com direito a taquicardia, calafrios, tremedeira, dando início a um quadro de hipertensão do qual trato até hoje. Isso é que vem a ser prolapso de fim de curso, ou efeito retardado. Estou me lembrando que, durante minha adolescência, fiz parte de um coral, com direito, inclusive, a apresentações em TV! Fico pensando como foi possível uma coisa assim, pois se fosse agora, ao abrir a boca para cantar, iria desencadear a maior tempestade da história! Sem contar que uma câmera de TV na minha frente iria, no mínimo, me ocasionar um desmaio. Como pode ser observado, esse retardo neuropsíquico-motor até que tem suas compensações. Pena que ele não se faz presente em todas as situações estressantes pelas quais passo. O maior vexame pelo qual passei se deu quando a cidade ainda não era tão povoada por automóveis. Altas horas (da noite) e lá ia eu como carona de um amigo em seu carro, quando, por fatalidade, um dos pneus fura. Estávamos na descida em reta de uma avenida praticamente deserta e, por coincidência, relativamente pertos de onde esse amigo morava. Ele foi, então, até a sua casa e trouxe um pneu reserva em outro carro. Assim que terminou o conserto, ele me falou: “Olha, estou colocando o carro em ponto morto, você só terá o trabalho de ir soltando o freio e mantendo a direção.” Por favor, não ria de mim, mas quem diz que eu consegui fazer aquilo? Arranjei uma tremedeira nos pés e nem consegui tirar o carro do lugar. Meu amigo é que teve que ir se revezando entre os dois veículos, levando um até certo ponto para, depois, seguir com o outro e, assim, por quase um quilômetro, até chegar em casa. Mas estou contando essas coisas porque minha filha, dia desses, me perguntou em que ano eu havia me formado e se lembrava de um colega chamado Marcos, nome do pai de sua amiga. Não me lembro direito do ano de minha formatura e conheci muitos Marcos, mas não sei se algum deles atende aos requisitos. A pergunta, entretanto, resgatou a lembrança daquela época. Lembrei-me de que fui chamado à sala do diretor da Faculdade. Eu havia sido seu aluno, embora ele nem soubesse o meu nome. Mas tratava-se de uma figura extraordinária, um tipo bonachão e de grande sabedoria. Dentro de minha insignificância e mediocridade, eu o admirava. Suas palavras: “Olha, tenho aqui comigo um anel de formatura de um professor, morto recentemente. Era seu desejo que fosse doado para um formando de pouca condição financeira, isto é, que seja pobre. Decidimos que esse alguém seja você. Portanto, não se preocupe com seu anel de formatura, pois você já tem o seu.” Por causa de meu distúrbio neuropsíquico-motor ou prolapso de fim de curso, confesso que não sei descrever qual foi minha reação no momento e o que aconteceu logo depois. Mas A-G-O-R-A, passados já tantos séculos, eu me dou conta que não vi nem sombra do dito anel. Estou ficando nervoso, começo a ter palpitação, estou suando frio, sofro de vertigem, meu estômago embrulha, ameaço ter uma crise de hipertensão, quero saber quem me passou a perna, quero, preciso saber: QUEM ROUBOU MEU ANEL DE FORMATURA? (08.12.2012)
Eleutério é o primeiro à esquerda

   Etelvaldo Vieira de Melo

BONS MOTIVOS

Taí um cartum pra qualquer época. A abordagem está mais relacionada com o período de proteção da saúde de cada um e de todos. Mas vale, inclusive a atenção ao "psirê", para todos. Abraço!!!!
Ivani Cunha



CORONA DE ESPINHOS OU COROA DE FLORES?

Vírus, Isolado, Corona, Coronavírus


O mundo está sofrendo com tantos problemas que nem mesmo os cientistas, os grandes estudiosos conseguem explicar como surgiu à toa outro tamanho flagelo. Tampouco os maiores fabricantes de bombas nucleares podem criar algo que mate o vírus potente a se espalhar no planeta, destruindo vidas. A terra inteira está gritando por SOCORRO! Conforme previa em melodia um dos grandes artistas brasileiros, Raul Seixas, vivemos "O Dia em que a TERRA parou". E pensar que naquela época foi chamado de LOUCO!

Loucos são os atuais tempos difíceis, momentos de preocupação, apreensivos, diante do surto que nos atinge. A maioria das pessoas já vivia, antes do Corona Vírus, num mundo individualizado pelo zap e tantas outras tecnologias nacionais e estrangeiras. Daí, o surgimento da alienação geral, ocasionando endemias, epidemias, surtos, pandemias. Recentemente, lutamos contra o Aedes Aegypty, o Zica Vírus, o Chicungunha. Desde o Brasil Colônia, fomos assaltados por doenças terríveis, derivadas do mal causado pelo homem à Natureza. Salve os heróis do passado.

Com tudo isso, precisamos aprender a ser mais conectados como Divino. Somente assim, Jesus, Autor da vida, ouvirá as orações e atenderá aos humanos pedidos. Creiamos que Ele virá prontamente ao auxílio daqueles que o esperam e clamam por sua presença com fé, atitude, serviço.

O que podemos aproveitar da malfadada espécie a nos atacar os pulmões?

Será que as famílias percebem hoje que existe algo muito bom e necessário neste acontecimento? Os pais que têm filhos ainda crianças aproveitarão a oportunidade em casa para conversar, ensinar e brincar com eles? Ou apesar do que sucede, continuarão com o celular nas mãos, o fone nos ouvidos, solitários pelos cômodos de suas próprias casas? Filhos adultos, jovens e adolescentes, ouvirão, em diálogo, seus pais e avós? Ou estarão enganando-os e os deixando de lado, sem lhes dar atenção e carinho por serem pessoas mais idosas?

Valorizemos mais a vida e as pessoas, independentes da questão da idade, raça ou posição social. As coisas mais valiosas não custam dinheiro: a alegria, a amizade, a flor, a música. Essas delícias, sim, são capazes de nos dar lucro. Em dinheiro? Para que dinheiro, ante uma pandemia, sem comida, água, eletricidade, pelo simples motivo de ninguém poder trazê-las?

Tratamos aqui, amigos, do lucro salutar, da fartura de grãos, frutos, rios, gentilezas gratuitas do Senhor. Convidamos a todos para o encontro, ainda neste lugar, com o perdido e eternamente tão procurado Amor fraterno, a dois, a Deus.

Aceitam?
Alessandro e Íris