imagem: recantodasletras |
Após uma entrevista para o divertido amigo blogueiro
Cristiano, recebi de singular senhor uma crítica corrosiva, comentando que eu falara
muito, brincara muito, e não dissera nada lógico ou bondoso. Estranhei a
franqueza, aceitei-a cabisburra, mas soube depois que trinta mil pessoas haviam
lido integralmente as vinte repostas e apreciado o conteúdo e o estilo. Mais: o
Ibope registrara 95% dos leitores do Facebook solicitando outra, de igual teor
cômico-literário.
Por que houve tanta disparidade nos pensamentos? – pensei. Concluí
que minha escrita demolidora dos padrões anteriores ao Modernismo fora a razão
da divergência. Dentro do contexto atual, qual sentido poderíamos dar ao termo
“Lógica”? Se resolvesse obedecer àquela estória O menino, o burro e o velho,
estaria encontrando algum sinal? “- Ah, vou responder tudo certo e bom,
conforme os manuais.” Aí, coçaria o queixo, porque mulher de barba e bigode nem
o capeta pode. No entanto, diabos, o que é ‘certo’, em se tratando por exemplo
do Bentinho e da Capitu? Se eu descobrir e provar que ela o traiu, ou se foi o
ciúme dele o traidor, acabo com o enigma do D. Casmurro, pois a dúvida é
mais que a temática da obra. Ela é a magistral capacidade do autor em deixar
eternamente a incógnita atrás da zorêia do povo. Eis-me levando o velho de um
lado, e o menino do outro pra cima do asnático leitor. Ai! Você, não. O outro,
o outro! Aquele.
Se for bondosa para com o teatro do absurdo de Samuel Beckett,
Ionesco; ou como filme de terror Maligno – The Prodige, estarei
carregando o burrico nas costas. Afinal, ali, a maldade é que faz o espectador
tremer nas bases. Teria de tornar as bruxas criaturas meio mães com vassouras,
meio fadas, meio humanas em excesso. Funny Games | O filme ganhou o remake Violência Gratuita em
2013, e por isso exatamente estourou as bilheterias.
Então, melhor me tornar sisuda também aqui, nesta escritura
até possível de ser o que “ele” deseja? Tomar conta do vocabulário, evitar
principalmente o palavrão? Ora, pois, pois! Palavrão é mais monte de merda que o
Corona? Vírus é menos cruel que Vacine, sá.Vá tomar no rabo. Que coisa! Eu
deveria dizer, então, Vá tomar LÁ! Tabu linguístico. Eufemismo filho da pulga!
Normalmente, sou cuidadosa na prosa, mas naquela dita cuja
entrevista, usei o registro adequado, um bocado atrapalhado. Quem lê quarenta
perguntas e respostas do Marquês de Sade ou do Rui Barbosa, formuladas por um
especialista neles, adorando, é acadêmico, sexólogo, bi(bli)ógrafo. Perguntaram
ao técnico de futebol: - Por que vivem perdendo no jogo? Ele: Meus atletas não
sabem usar a gramática. Nem se estiver verde e bem marcada.
Trabalhei numa escola
distante, quando estudante de Letras, onde os alunos do segundo grau, mais ou
menos da minha idade, decoravam o Grande Dicionário do Aurélio (não, bobão, era
o GRANDE mesmo!). Orrorizei na hora, engolindo o agá. Era a Lógica do Lente
(=professor). O primeiro ano quase normal declamava toda a obra de A a C: -
Queira antolhar os discípulos carentes de califasia, Maestra. (Era o chefe de
turma me aconselhando.). E eu: Seu frangote de uma figa, me respeite! Sou a
nova professora.
A turma ouriçou por um instante. Depois, levantou o volumaço,
e quis saber se podia, doravante, largar o cartapácio e usar termos como...
(imaginem quais!). Que alegria! Um deles jogou um cordão tipo barbante no lixo,
soluçando: - Não tenho mais de passar este cordão para quem depois de mim errar
no Português? E eu: Nevermore, guy. Herrar é umano!
Pedi que escrevessem cinco expressões ilógicas e de más caras
tal a decoreba e o cordão.
Guerra pelo petróleo; Desmatamento; Sumiço das abelhas; Fome;
Pandemia de Cólera.
Graça Rios
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