Uma coisa que assusta na doutrina cristã é quando ela manda amar não só as pessoas que nos querem bem, mas os nossos desafetos, aqueles que nos fazem mal e que nos odeiam.
O segredo desse amor incondicional é
revelado pelo próprio Jesus. Quando crucificado, ele disse a Deus:
- Pai, perdoai-lhes porque não sabem o
que fazem.
Quando você se dá conta de que o mal
praticado pelo outro decorre dele não saber o que está fazendo, que é fruto da
ignorância, fica mais fácil o perdão, não é mesmo?
Daí, podemos dizer que o cristianismo só
prega o Amor (quando as pessoas se reuniam para ouvir a homilia, a pregação do
apóstolo João, na esperança de algo extraordinário e diferente, ele repetia
sempre: - Filhinhos, amai-vos uns aos outros). Amar os que nos querem bem e
amar os que nos odeiam, porque são ignorantes.
- Ignorantes de quê? – pode você
perguntar.
A resposta é simples: ignorante de que a
bondade é um valor e a maldade, um contravalor. Quando a pessoa pratica uma
maldade, por ignorância, ela merece perdão. Mas, e quando a pessoa pratica o
mal tendo consciência do que está fazendo, como se o mal fosse um bem? Seria
uma maior ignorância ou uma pura maldade?
Fico pensando: o que é o perdão?
Significa ‘passar pano para o outro’? Jesus, quando perdoava um pecador
arrependido, dizia: - Está bem. Você tem o meu perdão. Mas com uma condição, de
que não volte a pecar. Perdoar, significa, então, não só relevar uma ofensa,
como também, e principalmente, mostrar ao outro o erro que ele cometeu.
Tem um compositor da Música Popular
Brasileira que diz ser a Palavra algo perigoso, como uma navalha. E ele falava
mais: - Eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém.
Não sou exegeta e, por isso, não posso
afirmar com certeza que os tradutores dos Evangelhos tenham errado em suas
versões das falas de Jesus. Só acho que eles poderiam ser mais incisivos, com
as palavras sendo usadas feito navalhas. Traduzindo a passagem do Gólgota
(“Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”), ela poderia ter sido dita
assim:
- Pai, perdoai-lhes porque eles são
estúpidos, cretinos, imbecis, idiotas.
Jesus estaria dizendo a mesma coisa,
usando outros termos. E acredito: estaria sendo mais didático. Pois uma coisa é
alguém dizer que não sei o que estou fazendo; outra coisa é alguém me chamar de
estúpido, ignorante, idiota. A segunda versão pode me machucar, mas irá
provocar uma reflexão e uma possível mudança, enquanto a primeira certamente me
deixará indiferente.
Esta reflexão é feita a propósito do que
anda acontecendo em nosso país, a pátria amada Brasil. Julgo que as pessoas más
prosperam (adquirem fama e seguidores) porque nós outros contemporizamos com
suas maldades, ficamos, como é usual dizer, ‘passando pano’, em vez de falar o
que julgamos ser o Bem e a Verdade.
Santo Agostinho disse que “a medida do
amor é amar sem medida”. Considero esta frase bonita, mas incorreta. Para mim,
a medida do amor é a inteligência; quem ama sem inteligência acaba fazendo mais
estrago do que bem.
Nessa época, em que as notícias circulam
mais pelas redes sociais, acontece de muitas pessoas repassarem notas de
terceiros, movidas por maldade, ignorância ou descuido. Fico indignado quando
recebo algo notoriamente falso. Minha vontade é de falar para a pessoa que me
enviou:
- Deixe de ser estúpido, ignorante ou
cretino. Deixe de propalar mentiras: não vê que sua ação está ajudando a
destruir o país, desunindo as pessoas?
Nessas horas, acontece de alguém próximo
me dizer:
- Deixe para lá, não ligue para o que
ele está dizendo. Você tem que respeitar a opinião dos outros.
Mas será que tem que ser assim? Está
certo eu ficar ‘passando pano’ para as mentiras e os mentirosos? Não é isso que
aconteceu no país, fazendo com que chegássemos a esse estado de decomposição?
Por tudo isso, não querendo ‘passar
pano’ para aqueles que, por ignorância, ingenuidade ou pura maldade, ficam
repassando notícias falsas, eu digo com todas as letras: vocês também são
genocidas, vocês são cúmplices, responsáveis pelas quase 400.000 mortes pela
covid.
Alguém disse que os cretinos vão dominar
o mundo, não por causa de suas capacidades, mas por serem em maior número.
Quando, por ingenuidade, fico repassando notícias falsas ou quando, por ‘boa
educação’, me calo diante das mentiras, estou sendo cúmplice na propagação do
mal. Como bem diz o ditado: “tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à
porta”.
Etelvaldo Vieira de Melo
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