Gracioso alinhavo no bordado de Cris
Assentado
próximo ao tear, um analista ponto cruza certa cambraia literária. Que formas puras
cria tão gentil poeta? Onde fita sinhaninhas, malgrado informe bastidor? Através
da peça de tule machadiana, rasga a bainha de todo infame verbo. Máquina
afinada, corta com lâmina o feitio dos sectários de Lúcifer. Alfineta a gaze
fina com a qual belzebu enrola inocentes, pregueados na sedução, roubo, ignomínia.
O amigo sabe: Diabo chuleia, borda, ali, uma Igreja Única, Totalitária, Global.
Por isso, utiliza ferrugens na bobina d’outras sés. Convence-se pintor manual dum
cós de caimento livresco, sob as Leis do Tártaro. Estampa figuras em carreteis,
ante divinos aviamentos, ao desforrar direitos humanos. Molda por baixo esperança,
amor, paz. Por cima, moldura sevícia, orgulho, truculência. Ignora o designer
de moda, Joaquim Maria, que tece trama de atar leitor. Cristiano emenda-se às malhas
da Letra. Mestre realista fia, confia: Desalinha, desconserta, cose as patas do
coisa-ruim, filho! Desfia a arquetípica franja de Lucius. Vanitas vanitatum
omnia vanitas? Satã perde o fio da meada, misturando fuxicos contra o paradigma
dos profetas e reformadores. Alfaiate fogoso, sonha enlaçar a nó górdio toda
hegemonia das religiões e doutrinas. Sob véu de cinzas plumas, tudo julga, perverte,
vende. Pai da negação, aperta alarga estreita qualquer plataforma alta ou
arremate terreno. ‘Por trás da virtude, o vício’, ziguezagueia o tinhoso. Mira,
pois, estilista crisântemo! O Sujo, ora traveste-se de tons aristotélicos: ‘O
bom é sempre mau’. Sobre matrizes e telas, lantejoula Grande Ordem Nova e
Insana das coisas a que denomina Legião. Blasfema aos pés do Onipotente: ‘Encorpado
de purpurina carnaval vidrilho, seguidor nenhum terá sede de Ti. Plissará grinaldas
em favor da noiva barbárie. Confeccionará panfletos acerca de maniqueísmos políticos...
Eis que nesse instante, Lopes al’Cançado trança no bilro fios de renda: ‘Veludo
ou seda, diacho, propendem-se a repuxos encolhimentos buracos. Representam o enviesado
manto terrestre. Alvo macio hipoalérgênico, nosso terno algodão agasalha rebanhos
celestes. Modelas o nada, Anjo da treva.
Desenha-te no abismo. Salve o Senhor Rei do bem costurado Universo’. Ah! Parece-me que algum monge da Ordem de São
Bento frisou a ferro de brasa esse babado: Éden versus Inferno. CristiAMO colcheteia-se.
Traspassa no dedo seu áureo dedal. Após,
sutura definitivamente fibras soltas do manuscrito.
Graça
Rios
2 comentários:
[Apaixonante nosso diálogo. Diálogo inter-geracional, inter-estilos individuais, inter-estilos de época. Machado escreveu sempre pensando em futuros ouvintes, futuros falantes, obrigado pela partilha, minha amiga,tão de ouvidos sempre abertos, com carinhosa atenção para conosco. Tuas obras, tuas ações, teus esforços, tuas palavras são o mais somatório do que já há de belo em nossos apreciações em comum. Obrigado, obrigado, muito mesmo obrigado. Guardarei com carinho e mostrarei ao mundo com humilde orgulho o que fazes por nossa literatura, pelos autores, pelos leitores, por nós.]
Postar um comentário