HISTÓRIA DO TEMPO DO ONÇA

   

 
    Vovó me conta que no tempo em que os bichos falavam, apareceu na floresta um papagaio linguarudo e trapaceiro.

- Vivi séculos na terra dos homens. Trago comigo... Currupaco... os seus mínimos segredos... papaco! Dá o pé, louro?

Quando o rei leão ficou sabendo do novo súdito, quis verificar se lhe era fiel. O pobre, a duras penas, confiou-lhe um negócio da China: vinha montar um “jogo do homem”, tal e qual os homens faziam com o “jogo do bicho”. O leão achou majestosa a manha da loteca, desde que fosse o sócio-mor, com porcentagem de setenta por cento, sem nenhuma papagaiada.

No dia da estreia, bem cedo começaram as apostas. O veado jogou no número 42, dado ao esquimó. O tigre, sinuqueiro por natureza, lançou uma fortuna no número sete, dado ao africano. E assim, sucessivamente, apostavam no inglês, no americano, no francês, no alemão.

Vovó não sabe porque a zebra ganhou no treze. Como o número era brasileiro, e o símio tinha dado palpite, todo mundo ficou falando que aquela marmelada era pura macaquice do leão e do papagaio.

Graça Rios

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